TRIBO FORTE #034 – HDL, GORD. SATURADAS E CÂNCER E EXISTE UMA DIETA IDEAL A TODOS?

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No Episódio De Hoje:

No episódio de hoje falaremos de 3 temas centrais e mais:

  • Primeiro: Colesterol HDL. Como aumentá-lo?
  • Será que existe uma dieta universalmente saudável e igual para todo mundo?
  • Existe conexão entre gordura saturada e câncer de próstata?
  • Fatos curiosos sobre bacon e azeite de oliva.
  • O que comemos na última refeição.

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Referências do Episódio

 

Estudo onde refeições igual geram respostas diferentes em diferentes pessoas.

Estudo simplista relacionando gorduras saturadas e câncer de próstata.

Grande revisão de estudos mostrando que NÃO existe associação entre gorduras saturadas e câncer de próstata.

Transcrição do Episódio

Rodrigo Polesso: Bom dia, boa tarde e boa noite para você que está ouvindo esse episódio de número 34 do podcast oficial da Tribo Forte. Você está ouvindo o podcast oficial da Tribo Forte, com o Rodrigo Polesso e o Dr. José Carlos Souto. Assuntos como emagrecimento, saúde, alimentação e estilo de vida são tratados de forma imparcial doa a quem doer. Para se tornar um membro da Tribo Forte, entre em TriboForte.com.br. Olá, pessoal, você está ouvindo o podcast número 34 da Tribo Forte. É o podcast número 1 do Brasil em saúde. É um prazer estar com você novamente para mais um bate-papo comigo e com o Dr. Souto. Os highlights de hoje são o seguinte: vamos enfatizar que não existe uma dieta alimentar que funcione para todo mundo – temos prova disso. Também temos um fato curioso sobre o azeite de oliva e o bacon, que eu acho que a galera vai gostar de saber. Além disso, falaremos mais um exemplo de um estudo mal interpretado e perigoso, quando divulgado de forma errada. Ele é sobre gordura saturada e câncer de próstata. É um estudo bastante novo que foi recém publicado. Desde o começo do podcast, vemos falando sobre a qualidade da ciência. Nós viemos desbancando estudos de má qualidade para enfatizar a importância de estudos de boa qualidade. Dr. Souto, tudo bem? Boa tarde.

Dr. Souto: Tudo bom, Rodrigo. Boa tarde e boa tarde aos ouvintes.

Rodrigo Polesso: Ótimo. Como de costume, vamos fazer a primeira pergunta da comunidade. É sobre um tema que muita gente tem curiosidade, tenho certeza. A pergunta vem da Bianca, do Distrito Federal: “Fala Rodrigo e Dr. Souto. Sobre o colesterol total e HDL. A divisão deste por aquele deve ser saudável. Qual seria a média saudável? Estou preocupada porque meu HDL não sobe de jeito nenhum. Eu tenho algumas restrições para exercícios físicos, e sei que o exercício aeróbico ajuda a elevar o HDL. Meu colesterol total é 225 e o HDL 45. Não está bom, não é? Faço somente pilates e não consigo fazer hidroginástica.” Então, a primeira pergunta é sobre os parâmetros da conta do total, e a segunda é sobre como aumentar o HDL.

Dr. Souto: Embora no laboratório tenha um valor de referência para o colesterol total, que vai até 200, a maioria dos cardiologistas concorda que o colesterol total como ferramenta de previsão risco cardiovascular é muito ruim. Na verdade, ele quase não diferencia pessoas que terão e não terão eventos cardiovasculares. Isso se descobri há várias décadas quando se descobriu as frações. LDL e HDL são frações. Haviam descoberto que as frações têm um poder preditivo maior. Na realidade, o HDL, quanto mais alto, tende a estar relacionado a um risco menor de doença cardiovascular – por isso, se criou um índice no qual se divide o colesterol total pelo HDL. Quanto menor for esse índice, melhor. Se o HDL é uma coisa que diminui o risco e o HDL é o denominador, quanto maior o HDL, menor o índice e menor o risco. A comparação que eu costumo fazer é: uma pessoa de 70 quilos é gorda ou magra? Obviamente, depende da altura. Se for uma mulher de 1 metro e 50, ela estará com sobrepeso. Se for um homem de 1 metro e 80 com 70 quilos, ele é muito magro. Então, o colesterol 225 da nossa leitora, é alto ou baixo? Não adianta olhar para o valor de referência do laboratório. Depende. Como é o HDL? Como são os triglicerídeos? Como é a glicose? Como é o resto? Mas, falando só sobre esse índice, como é o HDL?

Rodrigo Polesso: Ela falou que o HDL dela é 45.

Dr. Souto: Para quem nos ouve, saibam que não ensaiamos essas perguntas. O Rodrigo sempre pega de surpresa. Estou abrindo a calculadora no telefone. Vamos fazer 225 dividido por 45. Deu 5. O ideal é um índice menor do que 4,5. Abaixo de 5 não é péssimo. Vou fazer uma comparação. Vou pegar os 225 de colesterol total dela e ver quanto daria se o HDL fosse 52. Daria 4,3, menos do que 4,5. Então, ela tem razão. Aumentar o HDL é um objetivo mais interessante do que diminuir o colesterol total. Normalmente, uma dieta low carb tende a produzir um aumento de HDL. A atividade física também tende a produzir um aumento de HDL. Mas, talvez o maior determinante dos níveis de HDL seja a genética. Eu não sei quanto era o HDL dela antes dela começar a se preocupar com a saúde. Eu tenho pacientes que tinham HDL de 30 ou menos, que, após adotar um estilo de vida com atividade física, cuidado do excesso de carboidratos, o HDL subiu para 40 ou 45. Isso poderia ser melhor, mas 45 é muito melhor do que 30 ou 28. Então, o que podemos sugerir é que ela siga nessa linha de atividade física e cuidando da alimentação. Mas ela precisa saber que às vezes existem limites que a genética impõe nos níveis de HDL. O principal é que os fatores de risco devem ser vistos como um todo. Se a pessoa perdeu peso, ela diminui o risco. Se ela perdeu centímetros da cintura, diminuiu ainda mais o risco do que em todas as outras coisas que falamos até agora. Se ela faz atividades físicas, ela diminuiu o risco em comparação com uma pessoa sedentária. Se ela está fazendo tudo certo e o HDL não passar de 45, deixe-o em 45 e vamos focar naquilo que ainda pode ser melhorado.

Rodrigo Polesso: Perfeito. O LDL é a outra parte da soma. Mesmo sabendo o valor dele, sabemos que é algo muito mais complicado do que isso. Aqui na América do Norte está ficando mais popular a medição das partículas de LDL para ver quais você tem e quais você não tem. Tem o tipo perigoso, o VLDL. Até esse detalhe importa. Mas eu acho que o importante é saber que o consumo de açúcar refinado vai levar a um aumento de colesterol no sangue. Não é o consumo do colesterol que vai aumentar o colesterol no sangue. Sabemos que o consumo desses refinados impacta nisso. Isso é algo que está totalmente sobre o controle dela. Mesmo sem o acesso a essa tecnologia de diversificação do LDL, ela consegue controlar a comida e com isso aumentar as chances de ter um perfil legal.

Dr. Souto: Isso aí. A variação do número de particular, do tamanho das partículas… são coisas que não temos disponível no nossos meio ainda. Mas existe outro índice que é triglicerídeos divididos pelo HDL. Esse índice, quando dá um valor baixo, de preferência inferior a 2, é altamente sugestivo de que as partículas de LDL da pessoa sejam as grandes e pouco densas – ou seja, aquelas menos associadas com o risco cardiovascular. Por isso que eu disse que os fatores de risco não devem ser associados isoladamente.

Rodrigo Polesso: O erro da medicina moderna é justamente esse de tentar entender o corpo humano como uma mecânica de motor. A medicina holística é algo em falta. Respondemos essa questão do HDL. Espero que tenha sido útil para o pessoal. Agora vamos falar de um estudo publicado no ano passado no jornal Cell. O nome do estudo é Personalized Nutrition by Prediction of Glycemic Responses. Ou seja, uma nutrição personalizada como resultado de uma predição da resposta glicêmica dos alimentos. Que confusão é essa? O que isso quer dizer é que não existe uma intervenção alimentar que funcione para todo mundo. Essa é a conclusão. Vou ler dois parágrafos rapidamente, vai ser bem interessante. O estudo fala assim: Esse estudo monitorou continuamente a glicose no sangue de 800 pessoas. Eles mediram os dados de 46 mil refeições e acharam uma grande variação na resposta glicêmica mesmo em refeições idênticas. Isso sugere que uma orientação universal de dieta não será muito abrangente. Essa resposta glicêmica varia muito de pessoa para pessoa. Isso depende muito de características químicas da pessoa e fatores relacionados à microbiota (folha intestinal). Apesar disso, várias mudanças constantes foram identificadas ao se alterar a dieta alimentar. Ou seja, as pessoas se diferem de mil e uma maneiras – inclusive pela flora intestinal – mas quando as pessoas arrumam a alimentação, algumas mudanças constantes nessa microbiota intestinal acontecem em todas as pessoas. O mesmo alimento tem respostas diferentes em diferentes pessoas. O índice glicêmico de um pão não será igual em todas as pessoas. Isso depende de várias coisas, inclusive da flora intestinal, que é um assunto quente e que a ciência conhece muito pouco. Isso reforça a ideia de que não existe uma recomendação que funcione para todo mundo. Você tem que testar, ser flexível, na tentativa e erro. Você tem que achar o estilo de vida alimentar que funciona para você para atingir os seus objetivos particulares.

Dr. Souto: Esse artigo é muito interessante e muito bem feito. Ele gerou bastante mídia na época, mas ele precede nossos podcasts. É interessante retomar esse assunto. As pessoas às vezes comentam: “Vi em um determinado site que o índice glicêmico da maçã era tanto. No outro site o índice glicêmico da maçã é outro. Qual está certo?” O que esse estudo está mostrando é que não existe certo. Varia de uma pessoa para outra. Como é feito esses estudos de índice glicêmico? Se pega alguns voluntários sadios, se dá uma quantidade padronizada de um alimento e medem a glicemia, a curva glicêmica e depois fazer a área sobre a curva para calcular o índice glicêmico. Então, se eu pego 10 pessoas sadias, eu vou ter uma média, que será o índice glicêmico do meu estudo. Mas outra pessoa, em outra universidade, pode pegar outro grupo de 10 pessoas e obter uma média diferente. Às vezes as pessoas acham que as coisas são muito precisas: “O índice glicêmico do pão é 72. Mas outro site diz que é 68. Qual deles está certo?” O certo talvez seria 72 mais ou menos 7. Então, depende. Depende não somente porque dois pães não são iguais, mas também porque as respostas das pessoas são individualizadas – e esse estudo é fascinante nesse sentido. Esse estudo afetou minha prática clínica. Hoje, quando eu atendo um paciente diabético no consultório, se ele diz que não faz uso do glicosímetro, eu mando comprar. Mas se ele já usa, eu digo que ele já sabe que alguns alimentos não vão afetar a glicose dele. Queijo, salmão… não vão afetar a glicose. Outros alimentos esse paciente já sabe que afetarão muito a glicose, como suco de uva e pão. Mas também existem alimentos que são intermediários. Com esses, eu sugiro que o paciente meça o efeito nele. Comecei a fazer isso depois desse estudo. Talvez a castanha de caju eleve a glicemia em um paciente diabético e não ter esse efeito em outro. A flora intestinal deles é diferente, e isso interfere na velocidade com a qual eles vão digerir e absorver esses carboidratos. Então, é um artigo muito interessante.

Rodrigo Polesso: É muito fascinante. Ele é de Israel. As pessoas não precisam saber se o índice glicêmico do pão de 72 ou 68. Elas só precisam saber que o pão vai estimular mais a glicose do que o salmão. Com isso, você faz suas escolhas.

Dr. Souto: Exatamente. As vezes as pessoas começam uma discussão bizantina sobre qual tabela está mais correta, porque um site fala que o índice do morango é um e no outro site fala diferente. Mas a noção básica é o que interessa. Morango tem pouco carboidrato e pão tem muito. Não precisa ficar se detendo em números. Mas para as pessoas diabéticas ou para aquelas que gostam de fazer autoexperimentação, pode ser interessante saber o efeito de uma fatia de mamão se medirem o efeito da glicose em jejum, comer a fatia de mamão e medir uma hora depois. Se subiu pouco, talvez a fatia de mamão possa entrar bem numa dieta low carb. Talvez, na pessoa que sai de 90 e vai para 140 com uma fatia de mamão, obviamente não será a melhor alternativa.

Rodrigo Polesso: Varia de pessoa para pessoa. Nada funciona para todo mundo. Tenho dois fatos curiosos sobre dois alimentos aqui. O primeiro deles é o azeite de oliva. O segundo é o nosso querido bacon. Se você pegar 100 gramas de bacon e de azeite de oliva, a quantidade de gordura saturada em ambos é idêntica: 14 gramas de gordura saturada no azeite de oliva e no bacon. O azeite de oliva também tem 11 gramas de poliinsaturada e a grande maioria é de monoinsaturada com 73 gramas. O bacon tem 14 gramas de saturadas, 4,5 de poliinsaturadas e só 19 de mono insaturada. Ou seja, o bacon tem bastante gordura monoinsaturada, que é a mesma do azeite de oliva. E todo mundo defende as monoinsaturadas. Elas são aceitas como saudáveis por todos. De 100 gramas de bacon, 19% é de gordura monoinsaturada e 14% de gorduras saturadas. Você gosta desses dois alimentos, Dr. Souto?

Dr. Souto: Einstein tem várias frases atribuídas a ele, mas parece que essa é verdade: “As coisas devem ser tornadas o mais simples possível. Mas não mais simples. Tão simples quanto o possível, mas não mais simples do que o possível.” Algumas pessoas falam para não comermos bacon porque é gordura saturada, ou para comer azeite de oliva porque é gordura monoinsaturada. O pior é que em alguns estudos, o pessoal olha para um hambúrguer e dizem assim: isso é gordura saturada. Vamos combinar que o que mais tem no hambúrguer é amido! Não existe nenhum alimento na face da Terra que tenha algum tipo de gordura. Todos os alimentos têm uma combinação dos três tipos: saturada, monoinsaturada e poliinsaturada. Quando as pessoas falam essas coisas, normalmente elas querem dizer que há um predomínio daquele tipo de gordura naquele alimento – mesmo assim, em geral elas estão erradas. Por exemplo, ovo é uma gordura saturada? Não. O que predomina no ovo é a gordura insaturada. E a pele do frango? Ela é cerca de 70% insaturada. E o bacon? O bacon tem mais gordura insaturada do que saturada. Talvez as pessoas queiram dizer que em número de gramas tenha muita gordura saturada em um alimento. Mas aí vem o que você falou: o bacon e o azeite de oliva têm a mesma quantidade de gordura saturada.

Rodrigo Polesso: O óleo de como também. A maioria dele é gordura saturada e o pessoal defende com a alma.

Dr. Souto: Eu posso estar errado e talvez alguém nos corrija nos comentários. Mas só conheço duas classes de alimentos que têm mais gordura saturada do que insaturada. Uma são os lacticínios e o coco. Praticamente qualquer comida que vocês pensarem… carne gorda… terá mais gordura insaturada do que saturada. Então, a ideia de que qualquer quantidade de gordura saturada faz mal… de que toda gordura animal é saturada e toda gordura vegetal é insaturada… está tudo errado. A coisa que mais tem gordura saturada na natureza é o coco, que é um vegetal. Todos os alimentos animais que não são laticínios têm mais insaturadas do que saturadas. O Michael Pollan e as novas diretrizes do Ministério da Saúde falam que está na hora de falam menos em componentes da comida e mais em alimentos. Não quero saber se gordura saturada ou insaturada é o ideal para mim. Quero saber se coco é uma coisa boa para mim, ou não. Não quero saber se gordura poliinsaturada é boa para mim ou não… Se essa poliinsaturada for óleo de milho, não é boa, já que existe ensaio clínico randomizado mostrando que a mortalidade cardiovascular é maior com óleo de milho. Se é para comer poliinsaturada, eu prefiro comer peixe. Então, ao invés de falar de gordura poliinsaturada, vamos falar de peixe. É melhor falar de comidas e não de componentes, e também se essas comidas são in natura ou processadas. Nisso, eu acho que as diretrizes nutricionais do Brasil fizeram um gol. Acertaram na mosca. É muito mais importante que as pessoas saibam a diferença entre alimentos não processados, alimentos processados e alimentos ultra processados. Ultra processados devem ser um mínimo, de preferência não comer. Processados… se forem minimamente processados como iogurte, está ok. Esse tipo de diferenciação é muito mais importante do que saber quantos gramas de cada tipo químico de gordura as coisas têm. A gente não come as gorduras de forma isolada. A gente come comida. Um pedaço de peixe é muito mais do que X gramas de gordura insaturada e Omega 3 de cadeia longa.

Rodrigo Polesso: Exato. Não vamos no mercado comprar gordura insaturada. Não colocamos um pedaço de gordura insaturada no prato, nem um pedaço de macronutrientes. Colocamos alimentos. Esse chute acertado das diretrizes brasileiras é algo reconhecido internacionalmente. O pessoal olha com bons olhos para essa decisão do Brasil. Já que estamos falando em comida, vamos falar o que comemos na última refeição. Depois, vamos partir para um estudo mal interpretado e também falaremos sobre câncer de próstata.

Dr. Souto: Ontem eu comi um bife de frango feito com banha. A banha dá um gosto especial. O peito de frango não tem gosto. É só fazer ele na manteiga ou com banha que ele se transforma numa iguaria. Comi também um ovo frito, salada e um pedaço de moranga. No Brasil, cada lugar se fala diferente. Moranga é aquele meio verde por fora laranja por dentro. Alguém pode dizer que ela tem carboidrato demais. Primeiro que eu estou numa fase de manutenção, então não preciso ficar restringindo tanto meus carboidratos. Segundo que 100 gramas de moranga tem mais ou menos 7 gramas de carboidrato (descontando a fibra). Não é muito não.

Rodrigo Polesso: As pessoas não precisam ter tanto medo do carboidrato. Para as pessoas normais, ele não faz mal a saúde – tanto é a que a natureza criou a batata, moranga, abobrinha… são todos carboidratos. Tem populações no mundo todo que ingerem a maioria das suas calorias vindas de carboidratos. O carboidrato não é inimigo de uma pessoa normal, o problema é o carboidrato refinado. Sabemos disso e repetimos isso sempre. Muitas pessoas que começam o low carb começam a ficar “carbofóbicos”. Mas esse medo não é embasado em ciência. Mas tem pessoas que reagem muito mais rapidamente ao carboidrato. Essas pessoas aprendem a tomar mais cuidado com a alimentação. Mas se for comer um carboidrato, coma um de qualidade… uma moranga talvez. Assim você ingere os nutrientes ao invés de só aquele amido refinado como na farinha ou como outras coisas cancerígenas como o glúten.

Dr. Souto: E a moranga foi feita para se juntar com camarão.

Rodrigo Polesso: Perfeitamente. É uma dança perfeita. Veja que interessante: comi um peixe frito na gordura de pato. O caçador acabou virando gordura para fritar a presa. A gordura de pato está relacionada à prevenção de câncer de próstata. Achei para vender aqui e resolvi experimentar. Não tem muito gosto. Mas é legal. É saudável.

Dr. Souto: Acho que isso é propaganda de quem vende a gordura do pato.

Rodrigo Polesso: Pode ser, vai saber! “Associado” não significa nada. Enfim, comi peixe com aspargos e kimchi – que é um repolho fermentado pelos coreanos. É muito bom. Agora falaremos sobre esse estudo publicado ontem. Você encontra todos esses links no EmagrecerDeVez.com no artigo do podcast. Todas esses referências que citamos aqui estarão lá, inclusive a transcrição. As gorduras saturadas vindas através da alimentação estão ligadas a câncer agressivo de próstata – esse é o título. Eles continuam assim: “Nossos achados sugerem que limitar a ingestão de gordura saturada é claramente importante para a prevenção de doenças cardiovasculares, mas também pode ter um papel na prevenção do câncer de próstata agressivo.” Quem falou isso foi a Dra. Emma Ellot, que foi uma das pessoas que liderou o estudo. O primeiro erro foi falar da prevenção de doenças cardiovasculares com a limitação de gorduras saturadas. Mas eles pediram opinião de outra pessoa, que é um Professor da Duke University. Ele falou o seguinte: “Concordo com o papel da gordura saturada em relação à progressão do câncer de próstata.” Porém, a única coisa inteligente que ele falou foi a seguinte: “Entretanto, esse estudo ainda é observacional. Isso não prova nenhuma conclusão definitiva.” Foi a única coisa inteligente que eu vi nesse artigo, Dr. Souto.

Dr. Souto: Às vezes tenho medo de ser repetitivo, mas acho importante. Assim nós vamos fomentando o pensamento crítico das pessoas. Algumas pessoas já me falaram: “De tanto ouvir vocês falarem isso, eu sempre verifico se um artigo é sobre um estudo observacional ou sobre um ensaio clínico randomizado.” Esse estudo usa um desenho de estudo mais fracos que existem. Já sabemos que o estudo mais forte é o ensaio clínico randomizado. Para que esse estudo fosse um ensaio clínico randomizado, eu teria que ter milhares de homens que são sorteados entre dois grupos. Um grupo restringe a gordura saturada na dieta e o outro grupo não. Após uma observação de vários anos, eu vejo se isso afeta a incidência de câncer de próstata. Esse seria um estudo poderoso. Nesse caso seria interessante pensar sobre esse nutriente e a incidência do câncer de próstata. Existe outro tipo de estudo, que é observacional, que é o estudo de coorte. Nos estudos de coorte, os cientistas pegam um grupo grande de pessoas e as observam em diferentes momentos no tempo. A palavra-chave aqui é “observar”. Os cientistas pegam 20 mil pessoas, aplicam questionários, 5 anos depois eles reaplicam questionários… eles vão aplicando questionários, analisando os hábitos… obviamente, não dá para se estabelecer causa e efeito, já que o número de variáveis são infinitas – mas pelo menos dá para se levantar hipóteses. Esse estudo aqui não é desse tipo. Ele não é nem um ensaio clínico randomizado, nem um estudo de coorte. Ele é um estudo de caso-controle. No estudo de caso controle, os cientistas podem pegar 100 pessoas com câncer de próstata, por exemplo. Aí, eles perguntam para essas pessoas o que elas comeram durante a vida. Aí eles pegam outras 100 pessoas, tentando selecionar pessoas da mesma idade, mesma etnia, mas sem câncer de próstata. Aí, eles aplicam o mesmo questionário. Esse é um desenho muito fraco. Os cientistas nem se quer comparam pessoas da mesma coorte, já que eles comparam um grupo com outro grupo aleatório que não tem câncer de próstata. Esse é um estudo fraco que só serviria para levantar uma curiosidade. Vou fazer um breve atalho e falar de câncer de mama. O câncer de mama passou por isso. Existiram estudos observacionais que sugeriam que a gordura total e gordura saturada eram fatores de risco para câncer de mama. No entanto, quando foi feito o ensaio clínico randomizado, o Women’s Health Iniciative, o que se mostrou foi que não havia nenhuma relação entre o consumo de gordura (saturada ou total) e câncer de mama. Esse foi um ensaio clínico randomizado com quase 50 mil mulheres. Nele, um grupo foi sorteado para restringir a gordura na dieta, enquanto o outro grupo só foi observado. Isso mostra que, mesmo que vários estudos de coorte sugerissem que a gordura tinha relação com o câncer de mama, quando isso foi testado no ensaio clínico randomizado, isso não existia. Por que isso pode acontecer? São as famosas variáveis de confusão. Num mundo onde 100% das pessoas acreditam que gordura faz mal, quem é que come mais gordura? É quem fuma mais, é quem bebe mais, é quem pratica menos exercícios… são pessoas menos informadas e, portanto, com menos renda… portanto com menos escolaridade… São coisas que, de forma independente, são fatores de risco para doenças. Então, num estudo observacional, não é possível isolar uma variável. Essa variável pode ir de mãos dadas com outras variáveis de confusão. No caso da próstata, nós não temos esse ensaio clínico randomizado, mas nós temos estudos de coorte. E os estudos de coorte foram analisados em metanálise. A metanálise é pegar o resultado de vários estudos e combiná-los. Quando o Rodrigo me falou sobre esses estudo, eu disse que já tínhamos uma metanálise sobre esse assunto.

Rodrigo Polesso: Deixe-me ler duas linhas sobre esse assunto.

Dr. Souto: Foi uma análise publicada pelo PLOS1 em 2015.

Rodrigo Polesso: Acabamos de falar desse estudo de controle muito mal elaborado. Daí essa metanálise diz o seguinte: “Nós identificamos 14 estudos coorte que incluíram 37349 casos.”

Dr. Souto: Quantos estudos, Rodrigo?

Rodrigo Polesso: Catorze.

Dr. Souto: Quantos pacientes?

Rodrigo Polesso: 751030 participantes. A conclusão foi a seguinte: “Nós não achamos nenhuma evidência de uma associação entre o consumo de gorduras e o risco de câncer de próstata.

Dr. Souto: Então, a interpretação correta não é dizer: “Desisto! Um dia dizem uma coisa e outro dia dizem outra.” Não façam isso! Existe uma hierarquia do nível de evidência. Essa é uma metanálise de estudos de coorte. São estudos observacionais… Mas estudos de coorte são muito superiores no sentido de delineamento metodológico do que 1 estudo de caso-controle. Aqui são 14 estudos de coorte com um total de 751030 participantes. E o estudo não mostrou nenhuma associação com nenhum tipo de gordura; total, saturada, poliinsaturada. Alguém pode dizer que sempre falamos que estudos observacionais não são importantes. Mas damos valor para esse pelo seguinte… Vamos supor que a gordura saturada efetivamente causasse câncer de próstata. Então, uma metanálise com 700 mil pacientes deveria detectar isso. Nem tudo que aparece num estudo observacional é real – pode ser devido a fatores de confusão. Mas se algo é real, essa coisa tem que aparecer no estudo observacional. Quando eu tenho um estudo observacional com 700 mil pacientes que mostra não haver relação entre o consumo de gordura (saturada ou não) e câncer de próstata, isso torna muito improvável que a gordura saturada seja uma das causas do câncer de próstata. Se ela é uma causa, como poderia não estar associada?

Rodrigo Polesso: Você viu se essa metanálise teve uma divulgação na mídia na época?

Dr. Souto: Na época teve, mas foi muito menos do que essa aqui. Vivemos numa época em que a mídia busca cliques. A maior parte da mídia é ele eletrônica. O que mais chama atenção?

Rodrigo Polesso: O medo chama atenção.

Dr. Souto: “Aquele filé que você come pode te dar câncer na próstata.” Você vai querer clicar nisso. Agora, uma notícia que diz “A gordura saturada da dieta em um estudo observacional não está relacionada com o câncer de próstata.” Coisas negativas não atraem tanta atenção. “O seu filé vai te matar” atrai muito mais cliques.

Rodrigo Polesso: Com certeza!

Dr. Souto: Quando vemos uma notícia, temos que ver se o estudo é um ensaio clínico randomizado ou se é observacional. Se é um ensaio clínico randomizado, é bom ler o artigo original para ler com calma. Se não for, vale a pena ver o delineamento. Se for um estudo de coorte grande, ele pelo menos pode levantar hipóteses. Aí é importante ver se essas hipóteses não contradizem ensaios clínicos randomizados… é importante ver o que as metanálise dizem… Mas esse que fez manchete é um único estudo e de caso-controle. Os autores colocam todos os seus vieses, falando que “já é sabido que a gordura saturada faz mal para o coração, e agora está ficando claro que também faz mal para próstata.” Mas já é sabido por quem, cara pálida?

Rodrigo Polesso: Ela disse que é “claramente sabido”.

Dr. Souto: Existe um grande número de metanálises mostrando que não parece haver nenhuma relação. No podcast passado comentamos o editorial do Dr. David Ludwig no JAMA (Revista da Associação Médica Americana). Nesse editorial ele comenta justamente que não há evidência nesse sentido. A pessoa já começa a entrevista dizendo que já sabia que a gordura saturada e total estão envolvidas com doenças cardiovasculares… O que as pessoas estão fazendo com esses estudos é simplesmente encontrar vieses nas cabeças dos entrevistados.

Rodrigo Polesso: Exatamente, falou muito bem.

Dr. Souto: Se eu tenho 1000 pacientes e 990 deles estão convencidos de que gordura faz mal… Eu vou encontrar “evidências” de que ela faz mal se eu entrevistar essas 1000 pessoas. É uma profecia autorrealizada. Por isso que os estudos observacionais são mais fracos do que os estudos experimentais. Quando eu sorteio as pessoas, eu vou ter o mesmo número de pessoas que acreditam e não acreditam num grupo e no outro. Assim, eu tiro as variáveis de confusão.

Rodrigo Polesso: Nós, não profissionais de saúde, Estamos andando em um campo minado de informações sobre saúde. Por isso que as pessoas dizem que cada hora uma coisa faz mal ou bem. É um campo minado. A primeira coisa é aumentar o senso crítico. Se você nos acompanha, já está careca de saber disso. Se um artigo fala uma mensagem forte, do tipo “carne dá câncer”, a primeira coisa é pesquisar quem está dizendo isso. Você basearia a decisão de não comer carne sua vida inteira baseando-se em um profissional?

Dr. Souto: Dá câncer em qual espécie?

Rodrigo Polesso: Primeiramente, avalie a fonte. Existem artigos por aí que não falam nem a fonte. Eles simplesmente colocam a informação. Você pode descartar isso ou pesquisar em outro lugar para se aprofundar. Também analise se a base do artigo é um estudo observacional ou um ensaio clínico randomizado. Esse ceticismo te ajudará a se proteger, como um escudo. É um escudo para sua saúde. Temos que ter uma pula atrás da orelha com a maioria dos artigos por aí. Temos que entender qual é a fonte do que está sendo dito. Isso é muito importante, já que estamos falando da nossa saúde. Isso embasa decisões que tomamos no dia a dia sobre o que pomos no nosso prato. E se você descobrir que o correto é o contrário e que por muito tempo vem causando danos à sua saúde? Então, tenha senso crítico.

Dr. Souto: É isso aí.

Rodrigo Polesso: Dr. Souto, vamos fechar o podcast de hoje. Quem ainda não é assinante da Tribo Forte pode ir em TriboForte.com.br. Faça parte desse grupo. Assine para ter acesso a um mar de informação, documentários legendados, artigos diários, receitas praticamente diárias… Tem muita coisa boa lá dentro. Também tem o fórum, onde todo mundo interage. Esses são benefícios especiais que os membros da Tribo Forte tem. Depois do evento ao vivo teremos uma surpresa somente para os membros dentro do portal. Essa é uma ótima hora para você entrar lá. Esse é o seu “seguro saúde”. Compartilhamos as melhores informações com você no portal da Tribo Forte. É só entrar agora no TriboForte.com.br e fazer parte desse grupo. Continue nos seguindo aqui também. Nos falamos no próximo episódio. Um grande abraço. Obrigado, Dr. Souto. Até o próximo.

Dr. Souto: Até o próximo. Um grande abraço.

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