TRIBO FORTE #043 – AÇÚCAR AÇUCARADO COM AÇÚCAR (AMIGO OU INIMIGO?)

Bem vindo(a) hoje a mais um episódio do podcast oficial da Tribo Forte!

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No Episódio De Hoje:

Parece que nós não conseguimos fechar esse tópico porque mais e mais coisas continuam acontecendo.

Está rolando uma batalha de foice nos bastidores na nutrição em relação a toda essa questão do açúcar.

Seria ele tão terrível e tóxico ao nosso corpo mesmo ou talvez não tão ruim assim?

Acho que você vai gostar deste episódio.

Além disso, outra novidade que falamos no episódio: pizza agora é um vegetal!

Escute o podcast e desvende esse mistério 🙂

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Ouça o Episódio De Hoje:

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Referências do Episódio

 

Estudo do Robert Lustig com crianças fazendo substituição de açúcar por amido

Artigo do New York Times sobre a guerra do açúcar

A fatídica review atacando as diretrizes que sugerem a redução no consumo do açúcar

Pizza é um vegetal

Transcrição do Episódio

Rodrigo Polesso: Esse é um podcast especial, porque estou tomando uma coisa diferente. Estou tomando caldo de osso em pó. Tem um produto novo de uma empresa chamada Ancient Nutrition. Eles pegaram o caldo de osso e tentaram deixar de uma forma mais prática para as pessoas. É quase um Whey Protein, mas é a proteína do caldo de osso em pó. Você pode colocar na caneca e degustar. O meu é de sabor açafrão… Muito gostoso, bastante interessante. É uma coisa nova para esse podcast aí. Você está ouvindo o podcast oficial da Tribo Forte, com o Rodrigo Polesso e o Dr. José Carlos Souto. Assuntos como emagrecimento, saúde, alimentação e estilo de vida são tratados de forma imparcial doa a quem doer. Para se tornar um membro da Tribo Forte, entre em TriboForte.com.br. Bem-vindo! Você está ouvindo o podcast oficial da Tribo Forte, de número 43. Estamos no final do ano… Estamos gravando logo antes do Natal. Dr. Souto, bem-vindo ao podcast. Tudo bem?

Dr. Souto: Tudo bem, Rodrigo? Boa tarde. Boa tarde aos ouvintes.

Rodrigo Polesso: Ótimo. O pessoal está no ânimo natalino. O pessoal não quer nem ouvir falar em perder peso ou em comer pouco. Eu noto isso todos os anos, na verdade… O movimento do site, o movimento dos produtos, dos programas… Tudo fica baixo nessa época do ano. Mas adivinha o que acontece depois da virada? Obviamente aumenta bastante. O comportamento humano é dessa forma. Eu concordo… Durante a ceia de Natal não é o dia do ano para se pensar em emagrecer. Tem que aproveitar também essas situações. O assunto de hoje… Não conseguimos fugir desse assunto. Ele está o tempo todo nos perseguindo. Ele é muito importante: o açúcar. Vamos falar de novo sobre açúcar. Se não me engano, esse é o terceiro podcast em que falamos sobre açúcar. Tem coisa nova sobre açúcar nesse podcast. Acho que você precisa ouvir, afinal, o açúcar está se revelando como um dos maiores vilões da nutrição, um dos grandes inimigos da nossa saúde (da saúde pública também). Falaremos sobre dois assuntos novos sobre esse tópico. Teremos a pergunta da comunidade… É um assunto em que o pessoal vai ter interesse também, que um assunto diferente do açúcar. Antes de pular para esse assunto, vale o lembrete: todo o evento da Tribo Forte 2016 e todas as palestras editadas estão dentro do portal Tribo Forte. Lá também tem mais de 200 receitas… Mais receitas continuam sendo adicionadas diariamente, além de muitas outras coisas. Quem ainda não é membro, convido vocês a participar em TriboForte.com.br. Lá você pode se tornar membro, ser um assinante e fazer parte dessa família sensacional. Tenha acesso a esse universo de informação que te ajuda a implantar, implementar e manter o estilo de vida saudável para o resto da sua vida. Vamos para a pergunta da comunidade de hoje. A pergunta vem da Alessandra. Eu acho que muita gente quer saber essa resposta. Ela fala o seguinte: “Muito bom acompanhar esses podcasts! E o jejum intermitente para quem tem hipotireoidismo? Pode, não pode? Tem restrições?” Vou passar a bola para o Dr. Souto dar o pitaco dele.

Dr. Souto: Nós abordamos certa vez especificamente a restrição de carboidratos e a tireoide. O mesmo se aplica ao jejum. O raciocínio é o mesmo. A grande maioria das pessoas que tem hipotireoidismo, é por causa de tireoidite (doença de Hashimoto). É uma doença autoimune na qual existe um ataque ao sistema imunológico da pessoa à sua tireoide. Quando finalmente a pessoa chega a desenvolver hipotireoidismo é porque uma boa parte da tiroide já foi destruída. O tratamento para isso é a reposição de hormônio tiroideu, geralmente para o resto da vida (porque já houve um destruição da tiroide). Nós também tratamos em algum outro podcast sobre isso… Um estudo com cento e tantos pacientes em que uma dieta low carb (com restrição de uma série de coisas que os autores achavam que poderiam afetar a permeabilidade intestinal como laticínio, sementes e glúten) mostrou um melhora no que diz respeito à doença de Hashimoto – ou seja diminuiu o ataque autoimune à tiroide. Mas, a maioria das vezes… Uma pessoa que tem hipotireoidismo… O Hashimoto já destruiu boa parte da tiroide dessa pessoa… Ela já está usando reposição hormonal para sua tiroide. Se ela fizer jejum ou não… Se ela fizer low carb ou não… Não muda nada. Ela já está repondo o hormônio tiroideu. Ela já está usando na forma de um comprimido. A pergunta surge todo santo dia lá no blog… O motivo é que uma única blogueira paleo postulou a ideia de que low carb pode levar a uma disfunção da tireoide. O Jason Fung também comentou sobre essa mesma blogueira. Ele disse que as pessoas que falam sobre isso não usam referências bibliográficas de estudos científicos, mas sim ao blog dessa pessoa. Aparentemente, o que vemos na prática é que pessoas com restrição alimentar muito grande (que estão fazendo uma dieta cetogênica com uma diminuição significativa das calorias) é uma resposta adaptativa do organismo diminuir um pouco o metabolismo. A pessoa está comendo muito pouco. Parte disso significa que a tireoide dá um regulation… A tireoide funciona um pouco menos porque o corpo está desacelerando, já que a pessoa está numa dieta muito restrita. Uma pessoa que faça jejuns prolongados muito seguidos (e coma pouco entre esses jejuns), com uma dieta muito restritiva, pode ter uma redução da função da tireoide, assim como terá uma redução da temperatura corporal e uma redução da taxa metabólica basal. Isso é uma resposta adaptativa.

Rodrigo Polesso: Isso seria diagnosticado como hipotireoidismo pelo médico (essa baixa no metabolismo)?

Dr. Souto: Eu vejo que não. Eventualmente poderia ser diagnosticado por um médico que não tem experiência com isso… Um paciente chega lá e não coloca esse contexto para o médico. O médico pede os exames e vê que o TSH está elevado e o T3 está baixo. Mas isso é uma resposta adaptativa que muda no momento em que a pessoa volta a comer mais comida, mais calorias ou aumentar um pouco os carboidratos. Isso não é uma coisa definitiva. A pessoa não desenvolve Hashimoto, que é uma doença autoimune, porque fez jejum. A grande confusão que as pessoas fazem é: esta blogueira americana colocou medo nas pessoas de que elas vão criar uma disfunção permanente na sua tireoide por fazer low carb, cetogênica ou jejum. Aí, um monte de pessoas que têm disfunção na tireoide porque tem doença de Hashimoto… que não tem nenhuma ligação com essas coisas… é uma doença autoimune… São pessoas que já têm hipotireoidismo já tratado e corrigido pela reposição diária de hormônio tiroideu e ficam com medo de fazer jejum ou uma dieta de baixo carboidrato. Essa é a confusão. Para tentar resumir tudo isso que eu falei: a dieta não vai piorar o hipotireoidismo da grande maioria das pessoas, porque a grande maioria das pessoas têm hipotireoidismo por uma doença autoimune – isso não tem nada a ver com carboidrato na dieta, com cetogênica ou com jejum. Para aquelas pessoas que estão fazendo uma dieta muito restritiva, comendo poucas calorias, fazendo uma dieta muito severa, e por isso têm uma depressão da função da tiroide… Se elas além disso começarem a fazer jejuns prolongados, talvez deprima anda mais a função da tiroide. Mas essa, geralmente, é uma pessoa que já está a caminho de um transtorno alimentar.

Rodrigo Polesso: Já está fazendo a coisa errada.

Dr. Souto: Veja bem, nada disso é irreversível. Basta comer mais. Basta fazer uma dieta menos restritiva. Assim como todo o resto vai normalizar, a função da tiroide também vai. Não é uma disfunção tiroideia, é uma regulagem adaptativa da tiroide. Como na época em que os carros tinham carburador… As pessoas diziam “tem que regular a marcha lenta”. Quando a pessoa fazem uma dieta muito restritiva, o carro regula a marcha lenta para baixo. Mas isso é adaptativo, isso não é uma doença. O Hashimoto é uma doença autoimune.

Rodrigo Polesso: Acho que uma palavra-chave para adicionar nesse assunto é: autoimune. Quase toda doença autoimune pode ter a atenção voltada para o intestino… que é quando seu sistema imunológico está reagindo contra tecidos do seu corpo. Isso sempre volta para a questão do intestino, porque 70% ou 80% (ou até mais) do seus sistema imunológico está no seu intestino. Se ele não estiver bom, ele pode deixar passar coisas que vão reagir com o sistema imunológico. Isso vai piorando e acaba reagindo com tireoide e outras glândulas do corpo.

Dr. Souto: Naquela série de casos o tipo de dieta utilizada que estava associada à melhora da função tiroideia em pessoas com tireoidite Hashimoto era uma dieta bem low carb… Mostrando que, naquele estudo, a restrição de carboidratos não leva ao problema da tiroide. Por que a tiroide melhorou naquelas pessoas? Porque eles tiraram coisas que alterar a permeabilidade intestinal e podem piorar doenças autoimunes. Quando tiramos glúten, especialmente, existe a possibilidade de doenças autoimunes melhorarem. Se uma dieta low carb fosse realmente piorar a função da tiroide das pessoas, naquele estudo elas teriam piorado e não melhorado. Eles estavam fazendo uma dieta pobre em grãos, mas pobre em carboidratos também.

Rodrigo Polesso: Não faria sentido evolutivo se uma dieta baixa em carboidrato causasse problemas na tiroide. Tem várias coisas que apontam para o lado contrário, mas o mar de informação suporta o ado bom disso. Basta uma pessoa falar o contrário que toda a atenção cai nessa pessoa. Mas o blog não conta como evidência. Ótimo, fechamos esse assunto. Dr. Souto, vamos partir para o primeiro tópico. É um estudo que o Robert Lustig falou… O Robert Lusting fez aquele vídeo “Sugar, the Bitter Truth” que mais de 1 milhão de pessoas já viu no YouTube. Ele é um grande advogado contra o açúcar. Ele é a favor de regular o açúcar. Ele fez um estudo bastante interessante que abre a porta para o nosso segundo assunto, que também tem a ver com açúcar. Vou ler um resumo sobre esse estudo que ele fez. É um estudo publicado e outubro de 2015, então é novo. O estudo foi conduzido por ele, Robert Lustig. Ele analisou 27 crianças latinas e 16 afro-americanas. Todas elas tinham obesidade e síndrome metabólica. O objetivo do estudo era saber se a redução do consumo de açúcar poderia ter benefícios nos marcadores de saúde mesmo sem se reduzir as calorias da dieta. O que eles fizeram foi: reduzir o consumo de açúcar dessas crianças de 28% (que era o normal que elas estavam consumindo) para 10% na dieta, mantendo as calorias iguais.

Dr. Souto: Olha que coisa absurda: 28% das calorias dessas crianças eram oriundas de açúcar! Quase um terço das calorias totais consumidas em 24 horas por essas crianças eram açúcar.

Rodrigo Polesso: Não é um mistério porque elas eram obesas e com síndrome metabólica. Eles diminuíram de 28% para 10%, mantendo o mesmo número de calorias. Eles substituíram esse açúcar por amido… Não sugerimos isso, mas não era açúcar refinado, mas sim amido como batata. Essa intervenção durou 10 dias. Vamos ver alguns resultados. A glicose em jejum dessas crianças diminui 6%. Não é tanto assim, mas diminuiu um pouco – afinal, eles estavam comendo amido e outros carboidratos, então a glicose não vai baixar tanto. O LDL já diminuiu em 13% em 10 dias. A insulina em jejum diminuiu 53%. Os triglicerídeos caíram 46% em 10 dias. Esse estudo sugere que os efeitos danosos do açúcar e frutose (especificamente) são independentes dos seus valores calóricos ou efeitos que ele tem no peso. Ou seja, o açúcar é tóxico por si só. Quando falamos de açúcar, estamos falando de açúcar refinado (metade glicose e metade frutose). Apesar de simples, é um estudo que coloca a pulga atrás da orelha.

Dr. Souto: É um estudo fascinante por vários motivos. Um deles é que o primeiro (que eu conheço) que realmente testou a hipótese de se o problema era o açúcar, dos carboidratos ou das calorias. O Lustig fez questão de manter as calorias iguais. Ele também fez questão de manter a quantidade total de carboidratos. Então, esse não é um estudo de dieta low carb. Ele é um estudo de dieta high carb. Ele simplesmente substituiu o açúcar por amido. Não é o que a gente faria e nem é o que ele (Lustig) propõe. Isso é um estudo científico para isolar o efeito do açúcar. Ele há muito tempo propõe que o açúcar é especialmente tóxico… que o açúcar é mais tóxico do que o amido. O açúcar é sacarose – 50% glicose 50% frutose. Das 28% de calorias que essas crianças consumiam na forma de açúcar, metade é frutose pura. Quando comemos amido, mesmo que seja farinha de trigo, batata ou arroz, aquilo é 100% glicose. O amido é só glicose. A genialidade do estudo é isolar a questão açúcar versus amido. A única diferença entre o açúcar e o amido é a frutose. Será que a frutose em si é pior do que a glicose em geral? A resposta parece ser um inequívoco “sim”. Comer essa quantidade de carboidrato é ruim, mas quando essa quantidade de carboidrato é de açúcar, é muito pior. Então, simplesmente diminuir a quantidade de açúcar na dieta… mesmo que não seja uma dieta low carb, ou mesmo que esse açúcar seja substituído por amido… É evidente que se ele tivesse substituído os carboidratos por proteínas, gorduras e vegetais, o resultado teria sido infinitamente melhor. Mas até as pedras sabem disso em 2016. O Lustig não tem dúvida de que uma dieta low carb é a melhor solução. O objetivo desse estudo não era esse. O objetivo era mostrar que o açúcar é pior do que o simples carboidrato, do que o simples amido. O açúcar realmente é um negócio do demônio.

Rodrigo Polesso: É para mostrar que o açúcar, independente de todo o resto é uma toxina por si só. Independente do resto que você faz, se você tirar o açúcar da sua dieta você estará fazendo bem para seu corpo. Acho que essa é a mensagem mais forte desse estudo. Ele vem há muito tempo falando da frutose especificamente… do high fructose corn syrup (o xarope de milho). Ele é 55% frutose 45% glicose, então é pior ainda. Ele veio para mostrar que independente de todos os aspectos o açúcar em si é tóxico para o corpo. Isso é muito bom de se saber. Mas não é todo mundo que aceita uma mensagem dessas de braços abertos. É disso que vamos falar agora. O segundo assunto é um ótimo artigo postado no New York Times no dia 19 de dezembro. Está rolando uma guerra de faca entre o pessoal pró açúcar, o pessoal contra o açúcar e o pessoal que não quem nem falar em açúcar. Eu vou ler alguns pontos para sumarizar o que está acontecendo. Depois podemos discutir um pouco mais sobre isso. Um jornal proeminente, o Annals of Medicine publicou na segunda-feira um ataque às diretrizes mundiais de se consumir menos açúcar. Segundo uma revisão publicada nesse jornal, os avisos para se cortar o açúcar são baseados em evidências fracas e não são confiáveis. O New York Times fala: “Essa revisão foi paga pelo International Life Sciences Institute, um grupo científico baseado em Washington patrocinado por corporações multinacionais de alimentos e agrotóxicos incluindo a Coca-Cola, General Mills, Hershey’s, Kellog’s, Kraft e Monsanto. Um dos autores dessa revisão é membro do conselho científico da Tate & Lyle um dos maiores fornecedores de high fructose corn syrup do mundo”. “Um reporte de setembro passado mostrou que esses esforços da indústria em desbancar a boa ciência começou na década de 60, quando a indústria do açúcar pagou cientistas para criarem dúvidas sobre a ligação entre o açúcar e doenças cardíacas, promovendo a gordura saturada como culpada. Mais recentemente, o New York Times viu que a Coca-Cola tem patrocinado cientistas que também estão subestimando a conexão entre açúcar e obesidade. A The Associated Press reportou em junho desse ano que a indústria alimentícia pagou por estudos que diziam que crianças que comem doces pesam menos. No ano passado, a Organização Mundial da Saúde disse que adultos e crianças devem restringir o consumo de açúcar para 10% das suas calorias diárias. A Organização Mundial da Saúde disse que se apoiou nas mais novas evidências científicas que mostram que adultos e crianças que consomem bastante açúcar são mais propensos ao ganho de peso e a se tornarem obesos. O Perry Popkin, que é professor de nutrição na Universidade da Carolina do Norte, disse que ficou chocado com essa revisão contra essas diretrizes foi até publicada, já que seus autores ignoraram centenas de ensaios clínicos randomizados que documentam os perigos do açúcar. Ele diz que eles ignoraram dados reais, criaram falsas medidas e, de alguma forma, conseguiram passar pelo processo de revisão.” O coordenador da revisão diz que: “Essa revisão questiona as recomendações sobre o açúcar, mas não deve ser usada para justificar o aumento do consumo de açúcar e alimentos açucarados e bebidas adoçadas.” Para complementar, o Darius Mosafian, um cardiologista americano, diz o seguinte: “É injusto apontar somente o açúcar e não os carboidratos refinados. Eu gostaria de ver recomendações para se limitar tanto o açúcar quanto carboidratos refinados. Porém, ambos constituem metade das calorias nos alimentos de hoje.” Você acha que a indústria vai facilitar isso? Resumindo… Uma revisão nova postada num jornal conceituado vem dizer que essas novas recomendações que sugerem que as pessoas cortem o açúcar um pouco é infundada em evidência científica. É a indústria do açúcar tentando pressionar e criar dúvidas nas mentes das pessoas de que açúcar faz mal. Eles têm muito poder de mídia, poder de persuasão. O que você acha que está acontecendo… Quais são os pontos positivos e negativos dessa briga?

Dr. Souto: A indústria já faz esse tipo de coisa há décadas. Foi publicado esse estudo com cartas que foram descobertas mostrando que a indústria pagou em cash diretamente para pesquisadores da Escola de Saúde Pública de Harvard para publicar uma revisão dizendo que o açúcar não tinha problema e que o problema era a gordura saturada (nos anos 60). É preciso que as pessoas entendam que isso é uma coisa continuada. Estamos em 2016 e a mesma coisa está acontecendo. O positivo é que, pelo menos essa mídia mais diferenciada, como o New York Times, o Washington Post, a revista Time está abordando isso com um senso crítico que não existia há décadas atrás. Nos anos 60 era “Sugar Institute”… agora é o “International Life Sciences Institute” – é um nome completamente neutro. Quem é que dá fundo para eles? Coca-Cola, General Mills, Hershey’s, Kellog’s, Kraft, Monsanto… só peso pesado com todo interesse nesse tipo de coisa. Eles estão mais sutis, mudaram o nome, mas devem estar se arrependendo de terem feito isso dessa vez. Essa reportagem do New York Time botou como uma evidência negativa. Eles mostraram que é um absurdo que foi patrocinado, as conclusões e os ensaios clínicos randomizados vão contra. Eu imagine que há dez anos traz a notícia teriam saído assim: “Novo estudo mostra que o açúcar não está relacionado com a obesidade.” Agora eu acho que o tiro saiu pela culatra. Mas as coisas não são tão simples. Essa reportagem atual fala que mais recentemente o New York Times viu que a Coca-Cola estava dando fundos para cientistas. A Coca-Cola fez outro instituto chamado Global Energy Balance Network. “Energy Balance” significa balanço energético, ou seja, o balanço calórico. Eles fizeram uma organização global para dizer que tudo o que importa é o balanço calórico (quantas calorias entram e quantas saem). Se as pessoas acreditarem nisso, isso faz sentido: “Não interessa se é açúcar o que estou comendo, o que importa é o número de calorias. Desde que eu coma açúcar, mas faça exercícios, está tudo resolvido.” Veem como a indústria se sofisticou na sua mensagem? Esse mesmo Global Energy Balance Network conseguiu convencer a Michelle Obama a tentar parar de mudar a dieta das pessoas e se focar no exercício. Então, ela aparece em campanhas para que as crianças façam mais exercícios, para que hajam mais playgrounds para que as crianças possas se mover mais. Nada contra, acho um espetáculo as crianças se moverem mais. Mas isso não terá absolutamente nenhum efeito sobre a obesidade infantil. Todo mundo sabe disso… Tudo mundo que estuda sabe disso. Todo mundo que não acredita na Coca-Cola sabe disso. A criança gordinha faz tanto ou mais exercício do que as crianças que não são, porque ela está tentando emagrecer. Só que ela não consegue porque come 28% das suas calorias em açúcar. Mas é açúcar “saudável”, suco de fruta… Leite achocolatado com açúcar, mas desnatado e como não tem gordura é “saudável”. Nos Estados Unidos tem uma legislação que considera que pizza é um vegetal. Eles têm uma regulação que regula a merenda escolar. É a mesma legislação que impede leite integral (porque tem gordura) e permite leite achocolatado com açúcar (porque é desnatado). A mesma legislação diz que todas as refeições das crianças na escola precisam ter um vegetal, mas aceita pizza como um vegetal. Não é piada. Tem molho de tomate e tomate é um vegetal.

Rodrigo Polesso: Trigo é uma semente, é um vegetal…

Dr. Souto: Isso aí. A indústria faz o que pode… É importante as pessoas terem um senso crítico.

Rodrigo Polesso: Se formos falar mal do açúcar e dos carboidratos refinados, eles são metade das calorias dos alimentos de hoje. Quanto do supermercado constituem esses alimentos? Você acha que é fácil ser um cientista e enfrentar a fúria desses titãs da indústria? Não é.

Dr. Souto: Não é nem um pouco fácil. Eles não vão cair sem lutar.

Rodrigo Polesso: Não mesmo, mesmo que seja ridícula a luta deles como nesse caso. Só faltava a Time Magazine vir com um pirulito na capa falando: “É permitido”. Como fizeram com a manteiga e com os ovos no passado. Ainda bem que estão virando o jogo e ficando um pouco mais céticos. Eles ignoraram centenas de ensaios clínicos randomizados, que provam relação de causa e efeito dos danos do açúcar. Como uma revisão dessa diz que as diretrizes não são embasadas em evidências científicas? É por isso que a fúria está contra a revisão e contra o jornal por ter publicado isso.

Dr. Souto: Veja como nossos leitores estão adiantados na formação crítica. Nossos ouvintes e leitores já sabem muito bem o que é um ensaio clínico randomizado e o que é um estudo observacional. Como o pessoal da indústria alimentícia consegue fazer um estudo e publicar no Annals of Internal Medicine dizendo que o açúcar não é o problema? Porque eles usam estudos observacionais! Estudo observacional você encontra um para aquilo que quiser. Como a indústria conseguiu fazer um estudo mostrando que crianças que comem doces são mais magras? É simples: isso se chama causalidade reversa. Se eu tenho uma criança geneticamente magra… Provavelmente os pais dessa criança não vão se importar se ela comer chocolate ou doces por serem magras, fazem exercício e etc. Já uma criança gordinha, que vai no médico, que tem pressão alta… A família estará fazendo de tudo para a criança mudar os hábitos, não comer doce, fazer mais exercícios. Então, se eu pegar e ver quanto doce come a criança gordinha e quanto doce come a magrinha, a magrinha vai comer mais doce. Obviamente, isso não significa que doces não engordam ou que doces emagrecem! Estudos observacionais não estabelecem causa e efeito. Estamos mantendo a promessa de falar isso a cada podcast.

Rodrigo Polesso: Têm três tipos de mentira, Dr. Souto. A mentira, a mentira brava e estatística.

Dr. Souto: Perfeito.

Rodrigo Polesso: Com estudos observacionais, você monta o resultado que quiser de acordo com o design que você escolher. É isso que a indústria faz.

Dr. Souto: O que o artigo do New York Times fala é que existem um monte de ensaios clínicos randomizados – aqueles que podem estabelecer causa e efeito – que mostram que o açúcar é uma coisa ruim. Um deles nós acabamos de citar (o do Robert Lustig). É um ensaio clínico randomizado. Não há o que questionar. O que eles fazem é apostar na ignorância estatística tanto do público geral quanto dos médicos. Tem muito médico que não sabe estatística. O pessoal vê que saiu numa revista importante (no Annals of Internal Medicine)… “está falando que açúcar não é o problema, açúcar é gostoso.” É complicado.

Rodrigo Polesso: O pessoal só lê a conclusão. O médico está muito ocupado no dia a dia. Esse é um grande problema para os praticantes de medicina e você pode falar muito mais sobre isso. O médico está tão ocupado hoje que eu duvido que a maioria dos médicos abram os jornais e vão ler os artigos em detalhes. Eles provavelmente sejam mais focados em coisas específicas das áreas deles. Duvido que tenham essa visão mais holística e gastem tempo investigando esse tipo de coisa a fundo.

Dr. Souto: Com certeza. Como você estava incrédulo, Rodrigo, estou te mandando pelo WhatsApp a reportagem que diz: “Pizza is a vegetable? Congress says yes”. Não é novo, é de 2011. O congresso passou uma lei para dizer que batata frita e pizza são vegetais, portanto devem ser mantidas como alimentação saudável da Michelle Obama.

Rodrigo Polesso: Eles dão um jeito de incluir, mudando até mesmo a definição do grupo de alimentos. “Já que não dá para dizer que óleo vegetal é bom, vamos incluir batata frita e pizza como vegetal.”

Dr. Souto: Parece coisa de site de piada, mas não é. É da NBC News. É para as pessoas entenderem até que ponto chega o lobby da indústria no congresso. E o lobby da indústria influenciando os artigos científicos que são publicados. Por sorte, agora em 2016, a impressa começa a ter um pouco mais de crítica ao relatar isso. O artigo do New York Time está baixando o pau nesse estudo.

Rodrigo Polesso: É um total absurdo. Vou colocar todos os links, inclusive esse da pizza, no artigo desse podcast. Você encontra toda a transcrição e todos os links no EmagrecerDeVez.com. É só procurar pelo podcast lá. Dr. Souto, para fechar vamos falar sobre o que comemos na última refeição?

Dr. Souto: Vamos. Tenho que pensar. Sempre que eu tenho que dar uma pensada eu penso como é ridículo basear estudos observacionais em questionários. Estou tentando dizer o que comi há algumas horas atrás… Uma hora podemos pegar um exemplo de questionário para discutirmos no podcast. São questionários que perguntam assim: “Em média, nos últimos 6 meses, você consome, por semana quantas porções de:” Aí vem uma quantidade infinita de coisas. Alguém acha realmente que aquilo tem uma fidedignidade?

Rodrigo Polesso: Exato.

Dr. Souto: Hoje no almoço eu comi um hamburguês caseiro. O bife de hambúrguer, não o pão. Caseiro porque é feito com carne moída, tempero, um pouco de ovo para dar a liga. Faz aquele bife de hambúrguer na chapa. Comi aquilo com ovos. Mais uma vez meu paciente que me fornece ovos me trouxe uns 80 ovos. Então o ovo está sendo consumido em todas as refeições. Salada. E foi isso aí.

Rodrigo Polesso: Eu comi um baita filé de salmão selvagem. Ele é muito vermelho.

Dr. Souto: O salmão era tão selvagem que ele quase comeu você.

Rodrigo Polesso: Exatamente. Tem que comer com cuidado para não ser mordido. Se vocês acharem um salmão de verdade, tente reparar na diferença de cor dele. Não só na cor, mas no perfil lipídico, na qualidade das gorduras. Ele é muito mais concentrado em omega-3, que não estamos tão hábitos a consumir do que omega-6. E também uma salada com azeite de oliva e um abacate. Uma salada grande e um file de salmão de 300 gramas. O pessoal fala que como pouco… Não! Acredite, não como pouco. Esse é o último podcast antes do natal, espero que tenha sido útil para vocês. Não sei se vamos gravar na semana que vem ou não. Mas depois a gente volta com certeza, você vai ficar sabendo. Dr. Souto, obrigado pelo seu tempo aqui. Feliz Natal para todo mundo. Um incrível ano novo… 2017 mais saudável do que nunca e vamo que vamo porque tem muita coisa para ser feita.

Dr. Souto: Isso aí. Um abraço. Feliz natal. Vou deixar mais uma dica para o pessoal. Quem quiser, está engajado e quer continuar perdendo peso, pode fazer sua ceia de Natal e comer coisas que não sejam low carb, desde que isso não se prolongue pela semana inteira. Come naquela noite do dia 24 e depois faz low carb durante a semana. Depois come o que quiser na noite de ano novo e entra no ano novo fazendo low carb de novo. Dá para fazer e continuar. Atingindo seu objetivo.

Rodrigo Polesso: Com toda certeza. O que você faz o ano inteiro que importa, não o que você faz na ceia de natal.

Dr. Souto: Exatamente.

Rodrigo Polesso: Um grande abraço, então, pessoal. Até mais!

Dr. Souto: Abraço.

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