TRIBO FORTE #071 – DIFICULDADES E POSSIBILIDADES DE LOW CARB NA PRÁTICA

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No Episódio De Hoje:

Neste podcast contamos com a participação especial da nutricionista Djulye Marcato, quem estará também junto com a gente palestrando no evento Tribo Forte Ao Vivo 2017 (ingressos aqui: http://triboforte.com.br/aovivo)

Trocamos idéias sobre dificuldades típicas de pessoas que iniciam um estilo de vida alimentar correto, como o da Alimentação Forte, seja mais lowcarb ou não.

  • Quais os hábitos mais difíceis de mudar?
  • Dá pra comer bem na “realidade brasileira”?
  • Qual a maior dificuldade que nutricionistas competentes enfrentam hoje em auxiliar as pessoas?
  • Diabetes e pré-diabetes, o caminho da solução está no prato.
  • Carne causa diabetes?

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Ouça o Episódio De Hoje:

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Referências

Artigo do Robb Wolf sobre o documentário What The Health

 

Transcrição do Episódio

Rodrigo Polesso: Olá. Bom dia, boa tarde ou boa noite para você. Você está ouvindo o podcast número 71 da Tribo Forte – o podcast número 1 em saúde no Brasil, como você já sabe. O podcast de hoje tem mais gente. Estamos em três hoje. Eu sou o Rodrigo Polesso. O Dr. Souto vocês já estão acostumados a ouvirem. Hoje nós temos a participação especial da nutricionista Djulye, de Blumenau. O podcast será mais dinâmico com esse trio. Recentemente, eu a Djulye tivemos a oportunidade de jantar em São Paulo. Falamos sobre bastante tempo sobre quão errado é a prática corrente de saúde no Brasil e no mundo. A gente podia discutir isso enquanto comíamos um baita de um filé mignon. Estava bastante legal. Inclusive a Djulye estará estreando como palestrante no evento Tribo Forte Ao Vivo 2017. Se você ainda não pegou o seu ingresso, ainda tem tempo. Estou segurando o primeiro lote o máximo possível. Logo logo isso tudo mudará. Vá lá em TriboForte.com.br/aovivo para garantir o seu ingresso e ficar de consciência tranquila. Você já pode ver todos os palestrantes que estão confirmados lá. Será o maior evento do nicho no Brasil. Será nos dias 21 e 22 de outubro. Sala cheia. Energia positiva. Será bacana. Você poderá encontrar a Djulye que está participando hoje. Boa noite, Dr. Souto e Djulye. Tudo bem com vocês?

Djulye Marcato: Boa noite. Tudo certo.

Dr. Souto: Tudo certíssimo. Boa noite, ou boa tarde para os ouvintes e para ti, Rodrigo.

Rodrigo Polesso: O Dr. Souto e a Djulye estão juntos na mesma sala. Agora que eles foram para Blumenau fazer um evento lá. Disseminar essa boa prática da ciência, de hábitos alimentares. Dr. Souto estava me falando antes de começar que a maioria do pessoal que estava lá era profissionais de saúde. Isso foi inusitado e talvez um pouco surpreendente. Eu acho bastante positivo. Acho que na visão de vocês também.

Dr. Souto: É um negócio fantástico. É uma tendência que estamos vendo. A cada ano que passa, tem mais profissionais de saúde participando. Vários nutricionistas. Alguns médicos, inclusive endocrinologistas. Acho que a mensagem está permeando. Cada um daqueles profissionais que está ali é um multiplicador.

Djulye Marcato: Com certeza. É muito bom ver mais profissionais participando disso.

Rodrigo Polesso: Para começarmos nossa discussão, veja só que interessante. Recentemente eu postei no YouTube um vídeo com 32 exemplos de alimentação forte, com fotos dos meus pratos. Algumas pessoas comentaram o seguinte. “Rodrigo, mas você podia postar mais exemplos de acordo com a realidade brasileira.” Como se bife e ovo não fosse, mas tudo bem. Tem uma pergunta no ar, vamos responder para o pessoal. Dá para ter uma alimentação forte, baseada em alimentos de verdade, mais low carb, na nossa “realidade brasileira”?

Djulye Marcato: Sim, com certeza. Sem dúvidas.

Rodrigo Polesso: A minha pergunta é assim… Qual é a realidade brasileira? Qual é a dificuldade das pessoas entenderem o que são alimentos de verdade? Qual você acha que é o problema que acaba gerando na cabeça das pessoas essa pergunta? “Dá para ter uma alimentação saudável nessa realidade brasileira?” O que acaba gerando essa objeção imediata das pessoas?

Djulye Marcato: Principalmente a falta de informação de entender o que, de verdade, é um alimento. O que é um alimento de verdade, o que não é um alimento processado. Mas você falar para a pessoa que pão não seja tão indicado já dê um branco na cabeça e não sabem o que substituir e colocar no lugar. Mas tem aquela questão. Não conseguem olhar fora da caixa. Não conseguem imaginar um ovo como opção para colocar no lugar de um pão.

Dr. Souto: Repete aquilo que você falou na palestra hoje. A pessoa diz, “Vou comer ovo com tanta frequência?”

Djulye Marcato: Exatamente. Quando a gente comenta… Vamos tirar esses processados, reduzir isso… Trocando o pão por ovos pela manhã… A primeira objeção é aquela: “Mas vou comer ovo todos os dias?” Eu falo, “Mas você come pão todos os dias sem reclamar.”

Dr. Souto: Acho que isso é perfeito. As pessoas, na realidade, quando não estavam pensando em alimentação, não queriam fazer nenhuma mudança no estilo de vida alimentar, comiam basicamente a mesma coisa quase todos os dias, e isso não era um problema. Então, de certa forma, passa a ser um problema quando a pessoa está pensando sobre o assunto. Antes era automático.

Djulye Marcato: Antes no automático era sempre a mesma coisa, aí você passa a incluir ovos, brincar com ovos… Colocar vegetais. Acaba aumentando muito a parte nutricional, que tanto se preocupa e fica nada restritiva. Fica cada vez mais variada. Não tem como ser melhor.

Dr. Souto: O pão com manteiga e o café com leite todos os dias não era restritivo. E era variado? Às vezes é uma questão de perspectiva. A pessoa simplesmente não estava pensando sobre isso.

Djulye Marcato: Exato. E tem a questão do custo. Não sei se você estava se referindo a isso também.

Rodrigo Polesso: Acho que esse era o maior ponto.

Djulye Marcato: Muito se fala da questão do custo. “Vai ser caro fazer dieta.” Eu diria que uma alimentação reduzida em carboidratos talvez seja a opção alimentar mais barata de todas. Você não vai depender de comprar alimentos mágicos com benefícios milagrosos que são prometidos. Você não vai gastar dinheiro demais com isso. Se você, no fim das contas, for olhar para o preço, um ovo te deixa muito mais satisfeito, saciado, sustentado… Com o mesmo preço de um pão francês.

Rodrigo Polesso: A gente fala sempre para comerem o melhor que podem. Se você puder comer uma carne de pasto, super orgânica e tudo mais… Ótimo! Só que existem alternativa para isso. Se a pessoa está comendo o pão e quer trocar pelo ovo, não precisa pegar o ovo mais caro. A gente fala que o ótimo não é inimigo do bom. Acho que as pessoas têm dificuldade em ver isso. É muito fácil ter alternativas baratas e muito mais saudáveis. Um bife, uma carne moída, fígado, coxa de frango. Todas essas opções são muito mais baratas. Acho que em sociedade nenhuma do mundo desenvolvido isso teria um impacto tão grande no orçamento a ponto de fazer uma diferença grande. As pessoas parecem ter dificuldade em ver esse tipo de coisa.

Djulye Marcato: Tem também a dificuldade em olhar em longo prazo. Porque você acaba economizando também. Você não vai precisar de tantos medicamentos, exames médicos e até nutricionistas. No fim você faz uma alimentação sustentável tanto na parte econômica quanto para sua saúde.

Dr. Souto: Tem esse lado. O que você vai economizar depois em termos de saúde, termos de medicação… Tudo isso precisa ser contabilizado. Eu concordo com a Djulye. Mais uma vez é questão de perspectiva. A pessoa começa a pensar no custo do que ela passou a comprar, mas não pensa no custo do que ela deixou de comprar. O pão de sanduíche também custa dinheiro. O iogurte de morango também custa dinheiro. O Sucrilhos também custa dinheiro – e não é pouco. A gente precisa fazer esse pensamento. Mas essa é uma questão mais psicológica. Assim como a pessoa comia pão com manteiga e geleia e tomava café com leite todos os dias de manhã… Era monótono, mas a pessoa não pensava nessa monotonia. Agora ela está passando a comer ovos mexidos na maior parte das suas manhãs, mas aquilo passa a ser monótono. Embora o ovo pode ter cebola hoje, tomate amanhã, queijo depois de amanhã. Ovo é muito mais versátil. Ela até falou na palestra que não dá para colocar brócolis dentro do pão. Não combina. Mas dá para botar na omelete. É a questão psicológica. A pessoa pensa no custo que terá ao comprar frango, mas não pensa no custo que deixa de ter por não estar comprando biscoito recheado, Sucrilhos e pão integral doze grãos.

Rodrigo Polesso: Outra coisa é aumentar a densidade nutricional dos alimentos, partindo para uma alimentação forte, por exemplo. Outra coisa que as pessoas não prestam atenção é que você tende a comer menos volume de coisas. Esses farináceos… Essas porcarias que as pessoas estão acostumadas a comer e ficar doentes… As pessoas têm que comer mais. Aquela história de comer de 3 em 3 horas. Sim, você precisa comer de 3 em 3 horas, só se você não comer comida e comer substâncias comestíveis. Em volume acho que a gente acaba consumindo menos, automaticamente.

Djulye Marcato: Automaticamente. Pelo ponto de economia, o que a gente não sabe é que essa moda de comer de três em três horas é mais um apelo à indústria para você comer os snacks que eles vão te oferecer para os lanchinhos. É fato.

Dr. Souto: Estou com esse dado na ponta da língua. Eu mostrei esse estudo no nosso evento há pouco. Em uma dia dieta low carb, pessoas em que antes se monitorou quanto elas comiam no seu dia a dia e depois foram colocadas em low carb. Só por restringir os carboidratos, sem que ninguém dissesse para fazerem isso, elas reduziram em cerca de incríveis mil calorias o seu consumo diário. Como você disse, a pessoa simplesmente come menos. Então, eu acho que parte disso é impressão. É psicológico. É a pessoa que passa a prestar atenção no que comia de manhã, porque antes não prestava. Ela passa a prestar atenção no que está gastando, porque antes não prestava. Mas não presta atenção nem no que deixou de gastar e nem na monotonia que tinha antes e ela não achava monótono. É mais psicológico. É a minha impressão.

Djulye Marcato: Essa preocupação de ser ovo caipira, ovo orgânico… Sal que seja o Himalaia, enfim. Açúcar que tenha sido plantado por mulheres virgens… Coisas desse tipo… Você não precisa se preocupar com isso. Se você está trocando sua alimentação, esse é só o início. Você não precisa do ovo caipira para ser melhor. O bom não pode ser inimigo do ótimo. Ovo é muito melhor do que pão. Independentemente de ser de granja. Depois de um tempo, ao estar adaptado à alimentação, e puder financeiramente, talvez, se estiver disponível, vale. Mas não é uma preocupação que deva gerar estresse.

Rodrigo Polesso: Acho que esse ponto é muito importante que você falou. As pessoas acham que para dar o primeiro passo é necessário ir o mais longo possível. Começar a gastar toneladas de dinheiro na melhor carne, no melhor ovo. É o oito ou oitenta. Tem muitos números entre o oito e o oitenta. Até o nove é melhor que o oito. Se você parou de comer o pão e colocou o ovo no lugar já deu um passo na direção certa. Como você trabalha diariamente ajudando pessoas na prática, mudando quadros de doença… Eu queria te perguntar quais hábitos que instigam a maior resistência nas pessoas neste início? Assumindo que seja uma pessoa nova na filosofia alimentar que chega até você com um quadro de obesidade ou talvez diabetes. Com quais primeiros hábitos as pessoas têm mais ceticismo ou maior resistência quando elas os escutam?

Djulye Marcato: Dentro do que a gente fala, fica até difícil. Com relação à alimentação o medo da gordura é básico.

Rodrigo Polesso: Sim. Forte, não é?

Djulye Marcato: Não sei se eu entendi sua pergunta. Mas é basicamente isso. “Vou comer o ovo, mas ele não tem muita gordura? Não vai aumentar meu colesterol?”

Rodrigo Polesso: Isso.

Dr. Souto: Até por isso que às vezes a gente aqui salienta tanto nos podcast, no blog e em palestras como essa que dei hoje. Eu falo muito tempo sobre a gordura e às vezes fico com medo de isso ser interpretado pelas pessoas como se eu quisesse que elas consumissem grandes quantidades de gordura… Quanto mais gordura, melhor. Não é isso. A Djulye falou bem. Enquanto a gente não desmontar o medo… E é um verdadeiro pânico no que diz respeito na gordura da dieta. As pessoas têm medo da comida de verdade. A comida de verdade frequentemente contém uma certa quantidade de gordura. E se eu acho que a gordura é uma coisa que a natureza colocou lá com o objetivo de matar os seres humanos precocemente, aí eu digo… Não tem como seguir esse estilo de vida. Acaba sendo um tempo grande de conversa com as pessoas em consultório para tentar desmontar essa ideia de que a gordura faz mal para simplesmente a pessoa aceitar que pode comer comida de verdade.

Djulye Marcato: Dizer “cozinhe com banha de porco”. A pessoa quase vira uma cambalhota para trás. Ela nunca teve contato com isso.

Dr. Souto: Eu dou uma folha para as pessoas com as gorduras que são ok para cozinhar. Eu acabei tirando a banha de porco de lá para não provocar crises. As pessoas se assustam muito bom isso. Eu botei azeite de oliva, manteiga, óleo de coco e a banha eu não escrevi. Às vezes eu coloco à mão depois que eu já amaciei um pouco a pessoa para ela não se chocar. O azeite de oliva muitas vezes serve como uma espécie de ponte. Como ele é uma espécie de unanimidade… Todo mundo hoje em dia considera que é bom… A própria Associação Americana de Cardiologia que odeia tanto o óleo de coco acha que o azeite de oliva é bom. “Com esse aqui ninguém vai brigar.” Às vezes a gente tem que usar alguns truques para vencer as resistências que foram construídas culturalmente por muitas décadas.

Rodrigo Polesso: Talvez não tão forte quanto essa objeção da gordura… Que eu concordo que seja uma das mais difíceis no começo… Tem uma outra que eu vejo o pessoal se expressar nesse sentido nos canais na internet, que é basicamente a ilusão da necessidade do carboidrato. Você vai recomendar que ela retire carboidratos refinados, processados e etc… O pão, o arroz, batata e etc… Ela vem com uma base, acho que por culpa de outros profissionais… Dá a impressão errada de que esses carboidratos são necessários. Eu acho que o efeito placebo pode até funcionar. As pessoas tiram isso por dois dias e se sentem fracas por qualquer motivo. Isso acaba só fortalecendo essa crença falsa. Não sei se vocês escutam muito isso de o carboidrato ser necessário… “Como vou ter energia sem me alimentar de eles?”

Djulye Marcato: Sim. Direto. E até de nutricionistas, infelizmente.

Rodrigo Polesso: Esse que é o pior.

Djulye Marcato: Esse que é o pior.

Dr. Souto: Eu tenho um bom argumento para os nutricionistas. Um dos motivos pelos quais os nutricionistas querem que se evite a gordura é porque a gordura tem nove calorias por grama e o carboidrato tem quatro calorias por grama. Então, essa afirmação, que é verdadeira, é incompatível com a primeira… Que é: “de onde a pessoas vai tirar energia?” Mas você não acabou de dizer que a gordura tem mais do que o dobro da energia? Calorias são energia. É a mesma coisa. São sinônimos. É simples.

Djulye Marcato: Essa crença de que o carboidrato é essencial. Mas qual carboidrato mesmo é essencial?

Dr. Souto: Não me contaram ainda.

Djulye Marcato: Também não conheço nenhum. Muito que falam é… “Mas meu cérebro não vai parar de funcionar? O cérebro precisa de glicose. Eu li em algum lugar que ele precisa. Se eu não comer, não tenho mais jeito.

Dr. Souto: É justamente porque o cérebro precisa de glicose que a glicose é opcional na dieta humana. Vou explicar. Se o cérebro não precisasse de glicose, seria diferente. Como ele precisa e se o cérebro parar a gente morre… Obviamente, como não havia glicose disponível o tempo todo, o corpo dá um jeito. É justamente porque o cérebro precisa de glicose que o nosso corpo é capaz de fabricar toda a glicose que o cérebro precisa. É simples.

Djulye Marcato: A gente aprende isso em bioquímica.

Dr. Souto: É. E depois, de algum jeito, esquece.

Djulye Marcato: Some. O corpo não consegue mais produzir, parece.

Dr. Souto: Eu tenho uma teoria. A gente entra muito jovem na faculdade. Naquele momento da bioquímica, o foco é passar na prova. Depois, na realidade, o que a gente quer… O nutricionista quer fazer a parte da nutrição mesmo. O estágio. Aprender. O médico quer fazer a parte da medicina clínica. Lidar com pacientes. Quando finalmente chega na fase em que aquela bioquímica ia ser útil no pensamento, a gente já esqueceu.

Djulye Marcato: Sim. A gente desenvolveu como lidar com pessoas, e não com o corpo humano.

Rodrigo Polesso: Pois é. Agora tenho uma pergunta capciosa. É uma coisa que me preocupa bastante. É o seguinte. A gente conversou sobre isso, Djulye, quando estávamos jantando. Qual é a maior dificuldade que você, como nutricionista, como pessoa capacitada e autorizada pelo governo e pela sociedade a ajudar pessoas que estão com problemas alimentares… Problemas de doença que podem ser ajudadas pela alimentação… Qual é a dificuldade que você ironicamente enfrenta ao sugerir, ao aplicar a boa ciência nutricional para ajudar essas pessoas quando essa ciência nutricional é diferente do censo comum praticado pelos outros profissionais da área? Em outras palavras… Você como nutricionista tenta ajudar as pessoas com uma filosofia low carb simplesmente porque a evidência científica é muito grande para ser ignorada… E como isso infelizmente é diferente do que a maioria dos nutricionistas pratica? Como você se sente por praticar de uma forma diferente do resto? Talvez um pouco de opressão? Talvez um pouco de falta de liberdade e paz mental por ser uma ovelha negra nesse mar de ovelhas brancas? O que você nota nisso te perguntando como nutricionista no seu meio da nutrição.

Djulye Marcato: Literalmente eu sou a ovelha negra. É uma grande dificuldade. Quando a gente aceita trabalhar com isso a gente está aceitando o ônus de lidar com esse problema. Se você vai contra… Na verdade você vai a favor do que se fala. Se a gente for realmente pegar no fundo, a parte ética do código de nutrição… Eu não posso mentir sobre o que sei a respeito. Então, eu preciso falar sobre boa nutrição. Infelizmente, vai contra o consenso. E esse consenso, por mais que exista muitas evidências… Ele sempre ganha. A gente tem um pouco de medo de trabalhar com isso por conta dessa opressão. Afinal, se você falar e colocar um pouco mais de gorduras na dieta… Mais do que 7% de gorduras saturadas… Você provavelmente está colocando uma corda no pescoço, porque de acordo com as “evidências” a gordura saturada mata. Então, você está fazendo a pessoa se alimentar de forma negativa. Só que eu sei que não é isso. Realmente, é difícil. Mas enquanto tiver muitas pessoas pensando nesse sentido, a gente ainda estará nadando contra a maré. É um risco, Rodrigo. A gente só tem que falar o que é certo. Comer comida de verdade não faz mal a ninguém. Não estou pregando comer muita gordura saturada. Mas, por exemplo… Se um conselho regional da vida ler “bacon” escrito num plano alimentar, vai me chamar para conversar, me dar uma advertência, pagar uma multa. Posso ir a julgamento.

Dr. Souto: Por outro lado, tem algumas coisas boas. Esse próprio evento de hoje tinha tantos nutricionistas, médicos. Então, está começando a mudas um pouco o consenso. Aquilo que nós comentamos há alguns episódios atrás. O Conselho Regional de Medicina da Terceira Região de São Paulo, que era um dos conselhos mais rígidos nesse aspecto, publicou em sua revista de circulação interna para os nutricionistas uma entrevista bastante favorável a abordagem low carb, colocando que funciona, tem evidência científica. Eu não seu, Djulye. Acho que há um ou dois anos atrás isso seria impensável. Acho que está mudando.

Djulye Marcato: Talvez esteja mudando. Procuro olhar por esse lado também. Mas eu penso no que de fato eles estão protegendo. Se não é algum apelo governamental ou algo assim. Alguma fonte. Não sei qual é a ferida que a gente aperta. Não sei se é necessariamente a gordura saturada. Ela é o que aparece. Por exemplo, eu falei com o Rodrigo que eu não poderia colocar no meu plano alimentar… Isso é uma coisa que… Vamos falar… Eu não poderia colocar “não se alimente de soja”. Isso já me geraria um problema. Por que? Qual é o problema disso? O que eles estão querendo proteger? Até que esta proteção não seja quebrada, eu não sei como as coisas vão mudar. Também tenho esperanças. Eu concordo.

Dr. Souto: Eu acho que a gente vai devagar, mas vai. Estou vendo que alguns que vieram conversar conosco depois do evento eram estudantes de medicina e nutrição. Esse pessoal está cursando agora uma faculdade, mas terá uma visão completamente diferente. Algumas dessas pessoas cursarão carreira universitária. Algumas dessas pessoas ainda serão professores universitários e quem sabe estarão responsáveis pela revisão das diretrizes ali adiante.

Djulye Marcato: Sim. Sou uma pessoa muito positiva. Não quero ser negativa. Mas, é aquela coisa… Indústria farmacêutica… Até mesmo o governo… Têm certos interesses no sentido… Pessoas saudáveis não vão depender tanto assim do governo e muito menos da indústria farmacêutica. É dessa proteção que eu falo. Mas eu tenho muita fé nesses estudantes. Por isso fico tão feliz de ver um público… Novos médicos, nutricionistas e profissionais da saúde muito interessados, engajados nisso. Com certeza eles influenciam os colegas.

Rodrigo Polesso: Como um exemplo prático dessa situação de como essa situação é grave… Eu sou bastante otimista também. Acho que isso aí vai mudar. Não tem como segurar a verdade. Mas agora falando um pouco de diabetes e pré-diabetes. Diabetes tipo 2, principalmente. A gente sabe que é uma epidemia mundial. Eu sei também que você, Djulye tem um interesse especial em ajudar pessoas nessa situação. Enquanto diabetes ainda é, no senso comum, considerada, erroneamente progressiva e “incurável”… A gente sabe que, na prática, atacando-se de fato a causa do problema, a história é bem diferente. Imagine a paciente ouvir de um profissional, “Desculpe, você está com diabetes. Isso nunca será curado. Será progressivo. Vai piorar com o tempo.” Ou ouvir, “Vamos atacar a causa disso? Tem muitas quadros anteriores que conseguiram reverter esse quadro.” Esse é um exemplo prático do que pode ser interessante do que fazer. Nada melhor do que ver pacientes seus obtendo resultados, apesar do senso comum considerar isso uma coisa progressiva, incurável e triste no geral.

Djulye Marcato: Sim, é fantástico. Não tem som melhor do que ouvir o paciente falando, “Eu pensei que teria que usar um medicamento pelo resto da minha vida, porque foi a primeira coisa que ouvi do meu médico quando descobrimos o diabetes.”

Dr. Souto: É claro que a doença será progressiva se continuarmos agredindo o organismo do paciente por tempo indeterminado. Se o sujeito tem um pouco de enfisema e fuma… Se ele continuar fumando, a enfisema será crônica, progressiva e não terá o que fazer. É isso que fazemos com o diabetes. Eles têm uma intolerância à glicose. A doença se define por intolerância à glicose. O diagnóstico é feito por uma curva de tolerância à glicose. O teste que se faz prova que o corpo não lida bem com glicose. E a solução é dar pão integral. Aumenta o pão integral e diminui a carne. O que a carne tem a ver com o assunto?

Rodrigo Polesso: O cornerstone do diabetes é a resistência à insulina. Tem insulina demais. Podemos fazer uma analogia com o cigarro. É perfeito o que você comentou. O fumante está com problemas no pulmão por causa do fumo. Se ele continua fumando o cigarro dele e a cada seis meses ele aumenta o número de cigarros por dia, como tratamento do próprio problema causado pelo cigarro, é óbvio que ele nunca ficará bom. É a mesma coisa com a diabetes. Se a pessoa está com resistência à insulina, o que você faz? Você aumenta o nível da insulina até um certo ponto e depois de um tempo você aumenta a dose? É óbvio que isso nunca vai se reverter. Como uma coisa óbvia como essa pode não ser aceita ainda?

Dr. Souto: No fundo nós voltamos a mesma coisa. É o medo da gordura.

Djulye Marcato: E da proteína também.

Dr. Souto: Da gordura e da proteína. O diabético morre do que? Do coração e dos rins. O que causa o problema do coração? “A gordura.” Não é! Mas é o senso comum. O que causa o problema nos rins? “A proteína.” Definitivamente não é! O que causa problemas nos rins á a própria diabetes. Glicose elevada. Aliás, tem um monte de estudos mostrando que uma dieta com mais proteína ajuda a reverter o diabetes, sem piorar a função renal. O fato é que isso está na cabeça da maioria das pessoas. “Se eu tenho que restringir proteína e restringir gordura, vou botar o que?” Vai encher de pão integral. Aí as pessoas pioram. É incrível. Mais uma vez, os estudos estão pintando. São estudos de alto nível. Ainda hoje eu mostrei lá uma metanálise de ensaios clínicos randomizados. Estudo de 2017. Mostrando que low carb é a melhor intervenção para diabetes e não só isso. Quanto mais low carb, melhor para o diabetes. Então, é evidência inquestionável. Não é opinião. Não é que a Djulye acha isso, eu acho isso. Não. É alto nível de evidência. Tem alguma metanálise mostrando o contrário? Não tem. Tem algum ensaio clínico randomizado mostrando que não é assim? Não tem.

Djulye Marcato: Até no consultório. Suponhamos que não tivesse nenhuma evidência. Ainda assim, os resultados que a gente tem, a melhora da hemoglobina glicada, a redução da insulina, a retirada do medicamento. Não tem prova melhor do que isso.

Dr. Souto: Falam por si. Essa semana… Eu comentei com você mais cedo, Djulye. Eu tive o retorno de uma paciente. Carol. Se ela está me ouvindo, saberá quem é. Ela fez o diagnóstico jovem, com menos de trinta anos. Ela fez um diagnóstico de diabetes tipo 2 com níveis muito elevados de glicose. Quase 400. Começou a utilizar insulina direto no posto de saúde, para manejar aquilo. Com low agora ela está sem insulina, com hemoglobina glicada de 5,5 (para quem não sabe, é normal). A glicemia de jejum dela estava 107. É um nível não diabético. Está usando exclusivamente metformina oral. E de lambuja perdeu 15 quilos.

Rodrigo Polesso: Mesmo com toda essa evidência, com tudo isso… Está na cara a verdade… A gente vê coisas como aconteceu recentemente. Todo mundo vem comentar da porcaria desse documentário chamado “What the Health”. Já fizemos um podcast sobre isso. Se você está interessado em saber os bastidores desse documentário, você pode ver dois ou três episódios atrás. É só procurar por “What the Health Tribo Forte”. Nesse bendito desse documentário eles falam o absurdo que carne causa diabetes. Estamos falando antes de começar o episódio sobre um fato interessante a respeito da Índia. “A carne causa diabetes.”

Dr. Souto: Qual é o país em que se come menos carne no mundo per capita? É a Índia. Quarenta por cento da população é vegetariana. Qual é o país no mundo que tem mais diabete, Rodrigo?

Rodrigo Polesso: A capital mundial do diabete tipo 2 é a bendita Índia também. Mais de 50 milhões de casos.

Dr. Souto: Eu tenho limitações intelectuais. Como é possível que carne causa diabetes e que o país com o maior número de vegetarianos (40% da população) seja a capital mundial do diabetes?

Rodrigo Polesso: Exatamente. Está na Netflix, então é verdade. O pessoal continua achando isso.

Dr. Souto: Pessoal, Netflix é para ver séries. Não é para ciência. Ciência vocês têm aqui no podcast Tribo Forte.

Rodrigo Polesso: Exatamente. Lá é para entretenimento. Nesse caso não é nem legal de assistir o documentário. Djulye você me contou que tentou assistir.

Djulye Marcato: Tentei. Eu sempre tento assistir. Eu ficava rindo até os oito minutos, porque eu achava super engraçado as alegações. Nos 12 minutos eu já comecei a passar raiva. Eles deram exemplo deum homem diabético com dificuldade, confuso com a dieta. Quem é diabético sabe quão complicado isso é, quão doloroso é lidar com isso. Comecei a passar raiva. Não consegui mais assistir. Mas eu gosto de assistir. A gente tem que abrir a cabeça. Não dá para dizer que só eu estou certa. Mas foi impossível. Vou tentar de novo. Ou talvez não.

Dr. Souto: Aliás, o Robb Wolf, autor do livro The Paleo Solution fez no blog dele uma crítica do documentário com as referências em minutos e segundos. Quem tiver o interesse mórbido em dissecar esse cadáver pode ler a postagem. Depois a gente bota o link no podcast. É divertido. Ele tem um certo humor sarcástico. Mas ele vai botando os links para os estudos que mostram que aquilo é balela. É para quem quiser e gosta desse tipo de coisa.

Rodrigo Polesso: Eu recomendo que o pessoal fique longe disso. Para quem não sabe do que estamos falando, esse documentário foi elaborado com a filosofia vegana, patrocinado por pessoas veganas. O objetivo desse documentário não é provar ciência. Não é ajudar ninguém. É justamente disseminar uma filosofia, quase uma religião. É bom ficar alerta, sempre cético. É aquele ceticismo inteligente do qual sempre falamos aqui. Continue tendo entretenimento na Netflix, mas se você quer ter acesso à ciência, você pode vir aqui na Tribo Forte ou ler fontes confiáveis sobre esse assunto. Vamos fechando. Acho que foi muito legal nosso papo mais leve de hoje falando sobre as dificuldades de disseminar a boa ciência. Mas acho que isso está mudando. Acho que esse evento de hoje foi mais um sinal disso. Muito mais profissionais de saúde interessados. A gente sabe que cada profissional da saúde que se converte para a ciência boa vai disseminar isso para os pacientes. Isso tem um efeito cascata. Acho que logo logo, a partir do momento em que essa bola de neve tomar momento… Como já está criando esse momento… Acho que a mudança será muito mais rápida do que imaginamos.

Djulye Marcato: Trabalho de formiguinha.

Rodrigo Polesso: Com certeza. Com certeza. É isso aí, pessoal. Obrigado pela participação. Dr. Souto, Djulye, vou um prazer ter vocês aqui hoje. Pessoal que não é membro da Tribo Forte ainda pode acessar TriboForte.com.br/aovivo. Você pode ver lá os palestrantes confirmados. A Djulye vai estar lá. O Dr. Souto também. Eu estarei lá também, claro. Uma boa noite para vocês. A gente se vê no próximo episódio.

Dr. Souto: Obrigado. Boa noite. Até semana que vem.

Djulye Marcato: Obrigada. Boa noite.