TRIBO FORTE #082 – INCOMPETÊNCIA CIENTÍFICA, REFEIÇÕES BALANCEADAS

Bem vindo(a) hoje a mais um episódio do podcast oficial da Tribo Forte!

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No Episódio De Hoje:

No podcast de hoje falamos de algo muito sério::

  • Como cientistas extrapolam idéias e conclusões de forma irresponsável e acabam causando mais mal do que bem.
  • Uma rápida discussão sobre refeições balanceadas. Low carb é necessariamente high fat? Como entender essa questão?
  • O que comemos na última refeição.

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Ouça o Episódio De Hoje:

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Referências

Estudo Permite Traçar Roteiro da Obesidade (Unicamp)

Artigo do Dr. Souto em 2015 Sobre o Caminho Para a Obesidade

Artigo do Pesquisador Norte-Americano Andrew Benson

Transcrição do Episódio

Rodrigo Polesso: Olá, olá. Bem-vindo ao episódio número 82 do podcast oficial da Tribo Forte. A sua dose semanal de saúde, estilo de vida saudável e verdades sobre nutrição. Toda terça-feira de manhã. É legal ver gente falando assim, “Terça-feira é o dia do podcast. Já acordo com vontade de ouvir o podcast.” Muito legal saber que o pessoal está incluindo nossa conversa semanal na rotina. É muito bacana estar com vocês semanalmente compartilhando mais sobre esses assuntos e tentando te proteger, como sempre, das balelas que aterrorizam o nosso mundo hoje em dia. Estamos falando de saúde, viver bem, viver em forma. A gente precisa ter acesso às informações corretas sobre isso. A gente espera continuar fazendo o melhor que a gente pode aqui para atingir esse objetivo. Hoje a gente vai começar com uma pergunta da comunidade. A gente vai bater um papo rápido sobre low carb, macronutrientes e equilíbrio. A questão da dieta balanceada e macronutrientes. Um grande ponto que a gente vai comentar hoje é o roteiro da incompetência. O roteiro da obesidade. Vamos ver como o meio acadêmico acaba extrapolando e causando mais mal do que bem às vezes. Esse é o caso que a gente vai falar hoje. Antes da gente começar… Está chegando a hora. Eu estou super animado. Em poucas semanas irá acontecer o congresso Tribo Forte Ao Vivo 2017. Dias 21 e 22 de outubro em São Paulo capital. O maior congresso do gênero da América Latina. Serão 11 palestrantes. Dois dias completos. Teremos expositores e mais ou menos 600 pessoas mudando suas vidas com os conhecimentos que serão passados durante esses dois dias. Se você deixou para decidir em cima da hora, ainda dá tempo. Anote o link para você entrar depois do podcast, para você garantir seu ingresso. Convide sua mãe, seu irmão, amigos. Leve alguém junto. Vá lá participar desses dois dias. Você vai ficar grato que foi participar e fazer história com a gente. O link é TriboForte.com.br/AoVivo. Entre lá, garanta o seu ingresso. A gente vai se encontrar lá logo logo ao vivo para tirar foto, dar um abraço, absorver todas essas informações. Vai ser muito bacana. Vai ser legendário. Dr. Souto, tudo bem por aí?

Dr. Souto: Tudo bem, Rodrigo? Bom dia a você e aos ouvintes.

Rodrigo Polesso: Isso aí, maravilha. Esse podcast quero começar com uma pergunta da comunidade para inspirar uma pequena discussão nossa. A pergunta vem da Julie Hort. “Rodrigo, gostaria de entender de uma forma fisiológica porque low carb… Ou até normal carb, só pelo fato de tirar junk food… É necessariamente high fat? Ou seja, por que o equilíbrio entre os três macronutrientes não é o ideal? Não sei se deu para entender a pergunta. Por que gorduras precisam estar altas nesse caso? O que corre no organismo para isso dar certo?” Achei uma pergunta interessante da nossa amiga Julie. Vou passar a bola para você dar uma luz para ela, Dr. Souto.

Dr. Souto: Acho uma pergunta muito interessante e abre a possibilidade de a gente discutir algumas coisas relevantes. Na realidade, nós vivemos num mundo onde se apregou como saudável o low fat. Por algum motivo, quem apregou a low fat como sendo saudável diz que defende uma dieta balanceada. Vou usar a expressão que nossa leitora colocou. Low fat também não é uma coisa balanceada. Se eu recomendo 60% de carboidratos, 30% de gordura ou menos e o resto de proteínas, eu tenho uma dieta de baixa proteína, baixa gordura e alto carboidrato. De que forma isso é balanceado? Balanceado vem de balanço, que vem da mesma raiz da palavra equilíbrio. Na realidade, eu não vejo que esse conceito faça nenhum sentido do ponto de vista nutricional. Se nós quiséssemos usar de forma correta… Etimologicamente correta… A expressão “balanceado” a gente deveria ser contra uma dieta de 60% carboidratos. Na realidade, se nós formos pegar um leão… Ele não come uma dieta balanceada. Ele come só carne e vísceras. Agora, essa é a dieta evolutivamente adequada para o leão. Se nós formos pegar um bovino, ou uma ovelha, um ovino… Eles comem somente capim e grama. Agora, isso é evolutivamente adequado para esses animais. Não faria nenhum sentido nós oferecermos para esses animais uma dieta balanceada… Eu fazer uma ovelha comer 30% de proteína e 30% de gordura. Acho que temos que abandonar esse conceito de balanceado, porque cada um chama de balanceado aquilo que considera certo. Vamos abandonar isso porque é uma bobagem, uma hipocrisia. Acho que o correto é falar de dietas evolutivamente adequadas. Esse é o primeiro ponto. Ela nos pergunta assim: “Por que low carb high fat?” Qualquer dieta low carb tenderá a ser high fat em comparação com o padrão low fat vigente. A hora que não estou utilizando laticínio desnatado… A hora que eu estou utilizando azeite de oliva na salada… A hora que eu não tiro a pele do frango… Essa dieta já passou a ter mais gordura do que aquela dieta apregoada tradicionalmente pelas diretrizes de baixa gordura. Mas eu não preciso forçar a gordura. Entendo a pergunta dela: “Eu tenho que cuidar para acrescentar mais gordura? Isso é um perigo.” Não, não é. Eu vi uma postagem no Twitter do Ted Naiman. É um autor que gosto muito. Ele colocou que qualquer dieta que produza perda de peso por definição é high fat. Aí eu pensei: “O que ele quer dizer com isso?” O corpo vai estar utilizando gordura como fonte de energia, caso contrário a pessoa não estaria perdendo peso. Ele diz que até mesmo o jejum não deixa de ser uma abordagem, para o corpo… Meio interno do corpo… High fat. Se você está em jejum, você está basicamente queimando gordura para sobreviver. A gente não precisa aumentar sobremaneira a gordura na dieta para que a gente esteja utilizando, fundamentalmente, gordura como fonte de energia. No momento que diminuirmos a quantidade excessiva de carboidratos, o corpo vai estar usando, fundamentalmente, gordura – seja essa gordura da dieta, seja a nossa. Se a pessoa consumir quantidades muito grandes de gordura, isso prejudica o objetivo de perda de peso, porque o corpo vai queimar só a gordura da dieta. Existe versões de dietas de baixo carboidrato e com mais proteína. A gente sempre brinca que low carb não é a dieta da proteína, mas ela até pode ser. É possível a gente fazer uma dieta low carb com mais proteína e gordura mantida num nível bem mais moderado. Nós comentamos há vários podcasts atrás sobre um estudo piloto prospectivo randomizado que pegou só pacientes com pré-diabetes e randomizou para dieta tradicional da Associação Americana de Diabetes versus uma dieta low carb high protein. Naquele estudo houve uma reversão de 100% dos pacientes no grupo que foi designado para essa low carb com mais proteína. Depende muito de caso a caso. Tem pessoas que introduzindo uma quantidade maior de gordura na dieta se sentem extremamente saciadas, satisfeitas. Para elas isso é muito importante para conseguirem manter o estilo de vida… Para resistir às tentações dos alimentos processados. A pessoa se recompensa podendo comer uma comida com um pouco mais de gordura que ela gosta. Tem outras pessoas que não se dão muito bem com uma quantidade maior de gordura na dieta. E têm, inclusive, sintomas digestivos. Têm diarreia porque não conseguem digerir aquela quantidade maior de gordura. Ou simplesmente não aprecia tanto. Essa pessoa pode optar por uma estratégia com um pouco mais de proteínas magras. Mesmo essas pessoas que optam por uma estratégia com baixo carboidrato e um pouco mais de proteínas magras… Se elas botarem na ponta do lápis… Pegarem um aplicativo… Elas vão estar consumindo mais gordura, provavelmente, do que elas consumiam antes. Não é um high fat no sentido “eu preciso buscar comer mais gordura”. O objetivo não é acrescentar mais gordura. Esse aumento proporcional da quantidade de gordura ocorre naturalmente quando nós passamos a comer comida de verdade com baixo carboidrato.

Rodrigo Polesso: Perfeito. Não tenho para adicionar. Acho que eu concordo plenamente com o que você disse. Essa questão evolutiva… Acho que tem que ser esse o foco. A questão de ser high fat tem que deixar de ser o foco. O foco não é high fat. O foco é a redução das substâncias comestíveis. Quando você tira os processados, refinados e etc., você tem que adicionar outras coisas à sua dieta alimentar. Uma consequência natural disso é que você começa a ter uma alimentação mais generosa em gorduras naturais, como até parte desses alimentos integrais. É uma coisa natural, realmente. Acho que foi uma ótima explanação desse assunto. Acho que foi útil para a Julie e para outras pessoas que talvez tivessem a mesma dúvida. É claro que a questão de refeição balanceada, equilibrada… É uma coisa muito discutível. É legal colocar essa pulga atrás da orelha para levar em consideração. O assunto principal que a gente vai ver hoje aqui vai ser interessante. Saiu no site da Unicamp, Universidade de Campinas… Todo mundo já ouviu falar. Uma universidade conceituada. O título é o seguinte. “Estudo permite traçar o roteiro da obesidade.” Entender como que surge… Entendemos todo o processo. O subtítulo é o seguinte: “Pesquisadores da Unicamp mostram que a dieta rica em gordura saturada danifica o sistema cerebral de controle da fome” Caramba! Agora ferrou tudo. Agora vai chover comentário… “Rodrigo, o que você tem a dizer sobre isso? Dr. Souto?” Bom, vamos lá. A ideia deles é muito simples. Tem uma ilustração bem bacana lá. A ideia é a seguinte. Você come frequentemente alimentos com gordura saturada. Essas moléculas de gordura caem na corrente se sanguínea e são levadas ao cérebro. O aparente excesso dessa gordura no cérebro engatilha inflamação. Essa inflamação, por sua vez, causa problemas nos seus neurônios. Inflamação relacionada nos neurônios que são relacionados ao controle do apetite e gasto energético. Isso leva a uma disbiose intestinal que faz você engordar cada vez mais. Pronto. Fecha o livro. Entendemos a obesidade no mundo. Porém, só depois desse artigo mostrar de forma tão simples… Com essa linda ilustração que eles colocaram nesse artigo… Só depois de fazer isso que o grande… O enorme… O voluminoso problema começa a aparecer. Eles dizem o seguinte. “O grupo realizou nos tecidos de camundongos submetidos à dieta rica em gordura saturada uma série de análises temporais – que ao todo durou quatro meses, tempo suficiente para o animal ficar obeso. Em vários momentos ao longo do período experimental, uma parte da colônia era sacrificada e tinha o cérebro e o intestino analisados pelos pesquisadores.” Eles continuam. “Começamos a detectar alterações hipotalâmicas logo no primeiro dia da dieta obesogênica. Já as alterações na microbiota intestinal demoraram entre duas e três semanas para aparecer. É uma diferença temporal relativamente grande – considerando que são camundongos, explicou Velloso.” Souto, dá para acreditar num negócio desse? Aliás, não é a primeira vez que eles falam sobre isso. Você já escreveu sobre essa lambança em 2015. Para o pessoal que não pegou minha ironia ao ler o texto, eles estão fazendo essa teoria linda baseada em estudos que entopem os coitados dos camundongos com gordura saturada, que nem faz parte da dieta natural do camundongo. Eles percebem que essa alimentação tóxica para o camundongo acaba gerando inflamação no cérebro… Todos esses problemas… Eles engordam e etc… E eles concluem imediatamente que o mesmo vai acontecer com nós, seres humanos. Dr. Souto, manda ver.

Dr. Souto: Não se trata a uma crítica à condução da pesquisa. Aliás, como você bem disse, Unicamp é uma instituição respeitada. Esse grupo de pesquisa produz muito, publica muito. É legal porque a gente vê eles publicando em revistas peer review indexadas fora do Brasil. São publicações de impacto. O problema todo começa quando as pessoas começam a fazer extrapolações por ser humano como se isso tivesse definido e comprovado. A bem da verdade, vou dar um desconto… Se você olha ali, está escrito que o texto é da Fulana, Agência Fapesp. É um texto escrito por um jornalista. Quem sabe o jornalista quis ser muito enfático nesse sentido. Eu não sei. Mas temos que discutir o que está escrito ali. Eu vou pedir licença para o Rodrigo para ler o que eu escrevi em 2015 quando o mesmo grupo apareceu na imprensa discutindo a mesma coisa.

Rodrigo Polesso: Isso, isso. Lê que vai ser muito legal. Só um comentário. Você comentou que talvez tenha sido escrito por jornalista. Eu concordo plenamente. Só que se você analisar esse artigo, muito do conteúdo é entre aspas. Ou seja, são falas do Velloso, que foi quem controlou esse estudo.

Dr. Souto: Está bem, vamos lá. Vamos fazer uma analogia. Vamos pensar o seguinte. Em vez de eu dizer “é sabido que uma dieta rica em gordura saturada causa obesidade em humanos”… Vou fazer uma paródia. “É sabido que uma dieta rica em alface, espinafre e couve e outras hortaliças folhosas promovem o ganho de peso. Vamos lá, aguardem um pouco. Um novo estudo em bodes indica que o consumo desses alimentos provoca ganho acelerado de peso nesses animais.     O controle do consumo de folhosas ajudou a manter os bodes mais magros.” Qual é o problema dessa afirmação? O problema não é a parte dos bodes. Essa é verdade. De fato, bodes engordam quando comem bastante folhas. Se eu quiser deixar um bode bem gordinho, eu tenho que dar bastante folhosas para ele. O problema é a primeira frase. Existe alguma evidência de que ” uma dieta rica em alface, espinafre e couve e outras hortaliças folhosas promovem o ganho de peso” em humanos? Com certeza não, muito pelo contrário. Assim, repito, não importa quantos estudos mostrem que o excesso de alface provoque o ganho de peso em bodes. Isso continua sendo pouco relevante para humanos, pois, como eu disse no início da postagem, “Estudos em animais são pouco relevantes quando estudos em humanos já demonstraram que o fenômeno em questão ocorre de forma diversa.” Vamos desmembrar essa analogia. Vamos dizer que é sabido que uma dieta rica em gordura saturada promova a obesidade. É sabido por quem, cara pálida? Onde estão os ensaios clínicos randomizados em humanos que mostram isso? Eu posso elencar dezenas que mostram o oposto.

Rodrigo Polesso: É sabido em camundongos, isso sim.

Dr. Souto: Exatamente. Sim, o Rodrigo tem toda a razão. É sabido que em roedores, uma dieta de alta gordura produz ganho de peso. O que significa, meus ouvintes, que se vocês tiverem em casa um hamster, um camundongo branquinho… Como pet… Não deem uma dieta rica em gordura para ele. Não é bom para o camundongo isso.

Rodrigo Polesso: Deveria ser óbvio. O pessoal que cria camundongo já deve saber disso, de tão óbvio que é.

Dr. Souto: Possivelmente já devem saber. É um pouco complexo a gente extrapolar demais estudos de dietas interespécies. O coração do camundongo não é muito diferente do nosso. O fígado do camundongo não é muito diferente do nosso. Mas um aparelho digestivo como um todo deste animal. Um camundongo tem um monte de intestino grosso e um pouco de intestino delgado. Nós temos um monte de intestino delgado e um pouco de intestino grosso. Camundongo tem um apêndice gigantesco, que ocupa um bom espaço dentro da sua barriga. Nós temos um apêndice que é um órgão vestigial… Porque nós somos evolutivamente dispostos a digerir dietas completamente diferentes. Por isso eu fiz aquela brincadeira. Quem duvida que vá olhar numa fazenda. Como a gente engorda um bode? Não é com uma dieta rica em gordura. Não é com carne. A gente engorda um bode com vegetais. Ele tem um sistema digestivo no qual bactérias quebram a celulose presente nas folhas e transforma essa celulose em ácidos graxos de cadeira curta que são absorvidos através da parede do intestino. Servem como fonte de energia. O bicho simplesmente consegue extrair energia de celulose. Por isso que o bode pode comer papel. Pode comer palha. E isso produz energia para ele. Se a gente comer papel ou palha, não produz para nós. Então, eu não posso usar o bode como modelo para o ser humano. Pasmem, eu também não posso usar o camundongo como modelo perfeito para o ser humano. A forma correta de interpretar é a seguinte uma dieta obesogênica para aquela determinada espécie tenderá a produzir inflamação no hipotálamo. Essa seria uma hipótese interessante de explorar. Se eu der muita grama e vegetais para um bode, talvez isso inflame o hipotálamo dele. Se eu der uma dieta rica em gordura que é uma dieta obesogênica para camundongos, isso inflama o hipotálamo do camundongo. Se eu der uma dieta rica em carboidratos refinados para um ser humano, isso provavelmente também vai inflamar o hipotálamo do ser humano. Eles trocam os pés pelas mãos completamente quando eles fazem… E aí falta aquela humildade científica. Quando eu escrevi a postagem no meu blog, eu citei uma coisa para sair fora do assunto dieta, mas para dar um exemplo do que a gente espera de um cientista. Eu citei assim… Houve um grande cientista chamado Judah Folkman. Ele foi o pai da teoria da angiogênese do câncer. É o seguinte… A história de que o tumor, para crescer, ele precisa produzir novos vasos sanguíneos que o alimentem. O Dr. Folkman estava estudando o seguinte… Se nós conseguíssemos bloquear esses vasos, a gente poderia matar o câncer de fome. Em camundongos essa estratégia teve muito sucesso. Aí, certa vez, ele sendo entrevistado… Perguntaram para ele, “Dr. Folkman, quais as implicações da sua pesquisa para o futuro do câncer?” Ele poderia ter dito “descobrimos uma forma de acabar com essa terrível doença”, ou “em 10 anos, o câncer deixará de ser uma doença fatal” ou ainda, “essa descoberta abre as portas para o desenvolvimento de novas drogas que serão para o câncer aquilo que os antibióticos foram para as infecções bacterianas”. Mas o que o Dr. Folkman disse? “Se você for um camundongo, e tiver câncer, eu posso curá-lo”.

Rodrigo Polesso: Esse é o verdadeiro cientista.

Dr. Souto: Ele não foi além do que os dados dizem. E graças a Deus ele não fez isso. Porque depois essas drogas foram desenvolvidas, houve uma grande hype… O pessoal achou que isso era o fim do câncer… E hoje a gente vê que elas têm um efeito muito discreto. Um efeito muito pequeno, no máximo adjuvante… Em um pequeno número de doenças. Na maior parte dos tumores não fez diferença nenhuma. Chegou a ser aprovada para uns, mas novamente foi desaprovada, porque se viu que o efeito era praticamente nulo. Mas o descobridor, o Dr. Folkman, agiu como um verdadeiro cientista. “Se você for um camundongo, e tiver câncer, eu posso curá-lo”. O que esse estudo da Unicamp mostra? Se você for um camundongo e comer uma dieta rica em gordura, pode ser que isso prejudique seu hipotálamo.

Rodrigo Polesso: E se você for um camundongo e comer uma dieta rica em gordura, você é um camundongo muito louco. É como a gente, como seres humanos, começar a comer papel e grama. O camundongo jamais vai fazer isso.

Dr. Souto: A dieta natural desse tipo de roedor é basicamente vegetais e grãos. Eles são roedores. Eles têm aqueles dentinhos especiais. Eles não têm esse nome por acaso. Para comer gordura não precisa ter aquele dente. Gordura é uma coisa mole. Ele tem aquilo para roer sementes, nozes, grãos. Essa é a dieta natural de um camundongo. Sem entrar em outros detalhes… Eu não me dei ao trabalho de ir no estudo original ver exatamente a composição das dietas. Mas há alguns meses atrás um colega médico me mandou um estudo no qual estavam comparando e roedores uma dieta rica em gordura versus uma dieta pobre em gordura e câncer. Quando eu fui ver, a dieta ria em gordura era rica em gordura e em açúcar. A dieta rica em gordura era uma dieta elementar. Ela tinha sido construída colocando-se os elementos um a um. Eles botavam banha, óleo de milho, maltodextrina, sacarose e as diferentes vitaminas e minerais. Era uma coisa construída em laboratório como você vai na farmácia de manipulação e formula uma coisa. O grupo controle… Os camundongos que não estavam comendo a dieta de alta gordura, que agora a gente já sabe que é uma dieta sintética de alta gordura e alto açúcar… Era camundongos que comiam a dieta normal de camundongos, que é feita com grãos e folhas. Na realidade, estavam comparando coisas completamente diferentes. O grupo controle consumia uma dieta natural, feita com vegetais. O outro construiu uma coisa química, feita em laboratório e que, além de gordura, tinha açúcar. É muito complicado quando a gente vê esse tipo de estudo. O simples fato de que em seres humanos é o contrário já invalida a conclusão. Mas é muito possível que, se a gente for se dar ao trabalho de ver a composição das dietas… Que elas variem em outras coisas. Eu não sei neste estudo específico. Confesso para vocês que não fui atrás desse detalhe. Por que não fui? Porque é irrelevante. Porque já existem dezenas de ensaios clínicos randomizados que mostram que uma dieta pode em carboidrato e com mais gordura produz perda de peso em humanos. Ou seja, seria a mesma coisa que eu usar um estudo de bodes para dizer para as pessoas não comerem alface, porque bode engorda com alface.

Rodrigo Polesso: Exatamente. Enquanto a gente fala de boa ciência por um lado… Você citou o exemplo do câncer nos roedores… Vou continuar com dois trechos do Licio Augusto Velloso, que é o coordenador do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades da Unicamp. Ele fala o seguinte nesse mesmo artigo. ” Segundo Velloso, estudos de outros grupos mostraram que uma dieta rica em carboidratos simples, como os presentes no açúcar e na farinha branca, também podem elevar os níveis de lípideos no sangue e, de forma indireta, promover inflamação no cérebro.” Que bacana. Ele continua para o desespero de todo mundo. “Ao comparar os dois tipos de dieta, porém, os pesquisadores concluíram que os resultados são piores quando há consumo excessivo de gordura saturada, disse Velloso.” Que chance de falar uma coisa certa… Perdida, infelizmente.

Dr. Souto: Nessa minha postagem que fiz em 2015 também botei uma foto bonita de um coala. Imagine na sua cabeça um coala. É um bicho gordinho. Parece um ursinho de pelúcia. Ele fica gordinho assim comendo exclusivamente folhas de eucalipto. Se nosso pesquisador da Unicamp, em vez de pesquisar roedores pesquisasse eucalipto, talvez ele chegasse à conclusão de que muitas folhas de eucalipto fazem você engorda. Pelo menos, coala engorda. Por que eu botei o coala na postagem? Porque eucalipto é tóxico para praticamente qualquer animal. Na Austrália, onde as árvores são nativas e o animal também, o gado, que não é nativo de lá… Foi introduzido pelos europeus… O gado quando pasta e acaba consumindo folhas de eucalipto que caíram das árvores, às vezes se intoxicam e até morrem. Porque o gado não evoluiu comendo folhas de eucalipto. Como o coala consegue comer folhas de eucalipto, não adoece e ficar muito bem, saudável? Porque o coala evoluiu comendo folhas de eucalipto. A pergunta é: roedores evoluíram comendo banha de porco?

Rodrigo Polesso: Já viu roedores matando porco na fazenda?

Dr. Souto: É constrangedoramente simples. Se você der uma banha de porco para roedor, ele vai comer, porque roedores são onívoros oportunistas. Comem qualquer coisa. Mas eles evoluíram comendo oportunisticamente comendo aquilo que a natureza lhes dava de oportunidade. Como eles têm dificuldade de matar grandes animais, porque eles são pequenos, normalmente o que eles comem é aquilo que tem no chão. Pequenos insetos, sementes, vegetais. Se você der uma dieta de gente para um camundongo, daqui a pouco ele adoece. Se você der a dieta de um coala para uma pessoa, ela adoece. Se você der a dieta do bode para uma pessoa, ela vai morrer de fome, porque não consegue digerir celulose. Parece óbvio, mas não custa salientar. É preciso ter um pouco de cuidado quando a gente extrapola… Não apenas estudos em animais para a fisiologia humana… Mas especificamente estudos de alimentação animal, porque os bichos evoluíram comendo coisas completamente diferentes. O coração do coala não é tão diferente do nosso coração. Mas o aparelho digestivo do coala é completamente diferente do nosso. Estudar a dieta do coala para chegar a conclusões humanas, é bizarro. Mas aí vem a surpresa. A do camundongo também não pode ser diretamente extrapolada. A prova disso… Eles provaram na Unicamp que uma dieta rica em gordura saturada prejudica o hipotálamo do camundongo e o camundongo engorda… É provado em seres humanos que uma dieta pobre em carboidrato rica em gordura produz o contrário em seres humanos. Emagrecimento. Por que estamos discutindo esse estudo? Porque saiu na mídia e eu recebi de vários leitores. Parece que não importa quantos ensaios clínicos randomizados em seres humanos mostrem uma coisa, cada vez que sai um estudo em camundongos mostrando o contrário bate um desespero nas pessoas e aí vem aquele negócio… “Viu? Eu sabia que era uma loucura isso que eu estava fazendo.”

Rodrigo Polesso: Exato. O problema é quando o pessoal começa a extrapolar e seguir adiante com essas extrapolações com novas conclusões. Nesse mesmo artigo eles mencionaram uma coisa interessante que eu acho legal falar aqui para vocês terem uma ideia do que está acontecendo no mundo nesse sentido. O treco lê da seguinte forma. “Na manhã de hoje, logo antes da palestra de Velloso, o pesquisador norte-americano Andrew Benson apresentou o escopo do The Nebraska Food for Health Center, criado há cerca de um ano com o objetivo de desenvolver novos alimentos capazes de promover saúde agindo principalmente sobre o microbioma intestinal.” Eu começo a ter calafrio quando ele fala em ” desenvolver novos alimentos”. Ele continua. “A ideia, segundo o pesquisador…” Lembrando que o novo escopo da iniciativa é “food for health” (comida para saúde). “A ideia, segundo o pesquisador, é estudar a diversidade genética de culturas locais, principalmente soja, feijão e outros grãos, para identificar componentes presentes nesses alimentos que são capazes de influenciar de forma benéfica o perfil de bactérias do intestino. No futuro, os compostos mais promissores poderão ser isolados e acrescentados a outros tipos de alimentos industrializados.” Meu Jesus Cristo na Terra. Pelo amor de Deus.

Dr. Souto: Como a gente não tem vídeo, as pessoas não podem ver, mas estou encolhido em posição fetal nesse momento.

Rodrigo Polesso: Isso é horrível.

Dr. Souto: Se quero promover a saúde das pessoas, uma microbiota saudável, que tal deixar as pessoas comerem alimentos in natura? De preferência aqueles que estavam presentes durante a maior parte do tempo na qual seres humanos e sua microbiota coevoluíram. Não seria o mais simples?

Rodrigo Polesso: Deixa o coala comer o eucalipto dele. Deixe o ser humano comer as carnes nossas.

Dr. Souto: Não, vamos desenvolver um alimento baseado em soja, mas acrescentar um pouco de essência de eucalipto para ver se faz para o coala. É tudo tão bizarro… Por isso que os gringos ficam tão fascinados com as diretrizes brasileiras do guia alimentar de 2014. Ele simplesmente fala para evitar alimentos processador e ultraprocessados… Tentar comer alimentos mais in natura… É uma heurística simples. Que quiser não entrar em tantos detalhes, se simplesmente for por aí, já está indo num caminho melhor. Que, obviamente, é o caminho oposto que você acabou de ler, que me deixou em posição fetal.

Rodrigo Polesso: Fiquei com calafrios só de ler. Foi até difícil de ler isso. Se você acompanha a gente há um bom tempo, também tenha sentido um mal-estar grande. É isso que está acontecendo no mundo e espero que cada pessoa que escute possas se tornar uma semente de mudança, uma semente de ceticismo, uma semente de boa informação. Para passar a frente esse tipo de coisa e proteger as pessoas desse tipo de aberração. Dr. Souto, antes de fechar esse podcast… A gente está gravando esse podcast excepcionalmente de manhã cedo. Não sei se você comeu café da manhã. Eu não costumo comer café da manhã. Mas o que você degustou nessa última refeição, seja janta ou café?

Dr. Souto: E também não costumo comer café da manhã quando estou em casa. Quando estou viajando sim. Eu tomo um café preto com uma colher de chá de nata. Essa é a minha rotina. É rápido, é fácil, é gostoso. Ontem de noite… Também é atípico para mim… Muitas vezes eu só janto uma coisa que sobrou do almoço… Minha refeição principal é o almoço. Mas ontem de noite eu comprei vagem, cebola… E fiz um refogado de vagem e cebola e misturei com alguma carne que tinha sobrado do almoço. Mas o principal foi a vagem. Eu gosto de vagem.

Rodrigo Polesso: Nada de eucalipto para turbinar?

Dr. Souto: Nada de eucalipto, mas eu acho que meu hipotálamo deve estar bem inflamado, porque eu refoguei essas coisas em banha.

Rodrigo Polesso: Que perigo. Preciso confessar. Ontem à noite eu comi um alimento processado. Foi uma descoberta interessante. Foi mais por curiosidade do que por outra coisa. Eu estava andando no mercado… Passei por aqueles medonhos corredores do meio do mercado. É sempre um perigo passar lá. Todos os alimentos são processados. Pulou na minha cara esse macarrão. Tinha o Nupasta. É um macarrão feito de uma raiz conhecida como konjac. É muito interessante. Ele é igual macarrão no estilo espaguete… De diferente texturas… Ele é praticamente zero em tudo. Ele é uma fibra com água. Num pacote inteiro de quase 200 gramas, tem 25 calorias. Tem 6 gramas de fibras, zero carboidrato. Só o que tem. Água e fibra… Feito a partir dessa raiz que eu mencionei. O pessoal que gosta de espaguete… Eu penso que possa ser uma alternativa. Nunca vi estudo sobre konjac, sobre essas fibras. É uma coisa basicamente inútil do ponto nutricional, mas será uma forme de comer macarrão quando der saudade. Fiz um molho de carne moída, bolonhesa, com um molho natural de tomate orgânico e coloquei esse macarrão. Ficou muito boa a textura. É muito interessante. Se chama Nupasta. Tem várias opções. É basicamente água e um pouco de fibra. A textura parece com um macarrão. É basicamente negligível na quantidade calórica. Foi uma experiência interessante para quem quer ter essa textura de macarrão, mas sem prejudicar a saúde.

Dr. Souto: Nunca experimentei isso, mas algumas pessoas perguntaram no blog. Sempre fico conhecendo essas coisas com as perguntas pessoas. Eu sou uma pessoa de hábitos muito repetitivos. Não me dou ao trabalho de ir numa loja essa para descobrir coisas. Como minha carne com salada, vegetais refogados. O pessoal perguntou e fui estudar. Tem um artigo no site Authority Nutrition, que é um site bom. Agora eles mudaram de nome.

Rodrigo Polesso: Healthline agora.

Dr. Souto: Esse artigo era de um tempo em que o site era até melhor. Realmente, é isso que você falou. Ele é um bom veículo para outras coisas. A pessoa tem uma experiência culinária de um macarrão… Aquela coisa filamentar… O macarrão serve para colocar coisas gostosas em cima. Daqui a pouco é uma alternativa interessante. É que nem a história do macarrão de abobrinha. O zucchini nasceu para levar coisas gostosas para sua boca. Ele é só um coadjuvante.

Rodrigo Polesso: Exato. Como o arroz. Ninguém come um prato cheio de arroz branco. O pessoal coloca coisas gostosas em cima.

Dr. Souto: “Que saudade eu tenho do arroz.” Tem saudade do arroz com feijão, com molho, carne moída, risoto… O risoto é gosto pelo queijo, cogumelo… É bom ter umas opções interessantes. Agora que você falou, talvez eu experimente.

Rodrigo Polesso: Eu achei bastante inusitado e interessante. Não haveria motivo por substituir um macarrão de verdade, tendo em mente todos os danos que você poderia causar com aquilo, tendo uma opção como essa. Macarrão zero calorias, que você pode achar, talvez… Acho que tem variações, inclusive… Vale pesquisar. Maravilha. Vamos fechando nosso podcast de hoje. Se você quer garantir seu ingresso para ver a gente ao vivo agora em outubro, é TriboForte.com.br/AoVivo. A gente se vê lá, se não a gente se vê nessa próxima semana com um novo episódio do podcast. Obrigado, Dr. Souto. Grande abraço para você. A gente se vê. Até mais.

Dr. Souto: Obrigado. Até mais.