TRIBO FORTE #146 – PEDRAS NA VESÍCULA E NOVO ESTUDO SOBRE CARNE VERMELHA

Bem vindo(a) hoje a mais um episódio do podcast oficial da Tribo Forte!

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Neste podcast:

  • Novo estudo sobre a carne vermelha
  • Pedra na vesícula

Escute e passe adiante!!?

Saúde é importante!

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Caso de Sucesso do Dia

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Referências

Artigo Publicado no European Heart Journal Sobre Estudo da Carne Vermelha

Estudo Publicado no New England Journal of Medicine Sobre TMAO

Outro Estudo de 2016 Publicado no Jornal do Colégio Americano de Cardiologia Também viu que o Grupo com Maiores Níveis de TMAO era Também os Que Mais Tinham Diabetes, Hipertensão e Mais Idade

Ainda, Outro Estudo de 2016 Publicado no Jornal da Associação Americana do Coração que Tentou Analisar a Associação Entre TMAO e Calcificação das Artérias

Artigo no DietDoctor Ainda Sobre TMAO

 

Transcrição do Episódio

Rodrigo Polesso: Olá, olá! Bem-vindo a mais um podcast da Tribo Forte. Esse é o episódio número 146 da sua pílula semanal de saúde, estilo de vida saudável, tudo baseado em ciência. Eu sou o Rodrigo Polesso e hoje tem assunto polêmico no nosso podcast. Hoje a gente vai falar de pedra na vesícula e vamos falar também de um novo estudo sobre carne vermelha. Será que dessa vez a coisa ferrou? Será que dessa vez ferrou? Olha, parece… A gente vai falar mais sobre isso, com certeza. Deixa eu dar as boas-vindas ao Dr. Souto. Dr. Souto, como está aí? Bom dia.

Dr. Souto: Tudo bem, Rodrigo? Bom dia e bom dia aos ouvintes.

Rodrigo Polesso: Bom dia a todo mundo. Então, pessoal, não sei se vocês viram por aí na mídia… Mas a gente sempre tem assunto, porque sempre saem coisas que a gente precisa discutir com vocês e se você já escuta nosso podcast desde o começo, você já tem um certo escudo que você desenvolveu contra essa chuva de balelas. Muita gente não tem. E hoje a gente vai falar dessa questão nova que saiu da carne vermelha. Mas para a gente aquecer isso aí, aquecer esse assunto, vamos responder uma pergunta da comunidade aqui que eu vi algumas pessoas ao longo do tempo perguntando sobre isso, Dr. Souto. Você pode dar sua pitadinha clínica sobre esse assunto. Quem pergunta hoje é a Angela Silva. A Angela Silva diz o seguinte. “Boa tarde. Eu gostaria de saber se a pessoa com pedra na vesícula pode fazer essa dieta low carb. Eu estou acima do peso e preciso muito emagrecer.” Talvez você tenha ouvido falar já… Ouvido essa dúvida por aí. O que você costuma dizer para esse pessoal?

Dr. Souto: Eu já ouvi o suficiente para até ter uma postagem específica lá no blog. Quem quiser, bota aí no Google: “Souto dieta vesícula”. Vai encontrar essa postagem. Postagem até já antiguinha. Então, vamos entender. Acho que vamos dividir por partes. Para que serve a vesícula? O fígado produz bile que é aquele negócio de cor escura cuja função é servir de detergente. A bile emulsifica as gorduras da nossa dieta que, afinal, como todo mundo sabe, o óleo, a gordura e água não se misturam bem. Mas se a gente colocar um detergente, aí mistura. Então, a bile cumpre essa função no nosso aparelho digestivo. Mas veja bem. O fígado produz bile o tempo todo, independente de estar comendo ou não estar comendo. Então o corpo criou a vesícula para armazenar bile enquanto nós não estamos comendo, quando nós estamos em jejum, por exemplo, ou quando nós estamos comendo alimento que não contêm gordura. Então, a bile em vez de ficar indo continuamente para o intestino, ela vai sendo produzida e armazenada na vesícula. E a vesícula também tem outra função. Ela vai concentrando essa bile. Ou seja, ela vai absorvendo a água que está contida na bile de modo que essa bile fica mais concentrada. Dr. José Neto, que participa dos eventos da Tribo Forte, faz uma analogia que eu acho bem boa. Ele diz assim… É como se a bile fosse o detergente, o Omo. E aquela que sai da vesícula é o detergente concentrado. É aquele Omo pequeninho, que é mais concentrado. Bom, então para isso serve a bile. Por que se formam pedras na vesícula? Da onde que vem isso? Normalmente é porque a bile ficou muito tempo na vesícula, não estava sendo usada, foi sendo progressivamente concentrada e chega uma hora que ela literalmente começa a empedrar. Ela foi tão concentrada, tão desidratada dentro da vesícula, por ficar muito tempo lá dentro, que ela começa a formar cálculos. De modo que se a nossa ouvinte tivesse fazendo a seguinte pergunta… “Eu não tenho nenhum problema na vesícula. O que eu posso fazer para evitar de ter pedras na vesícula no futuro?” A resposta seria: coma alimentos com a gordura natural dos alimentos presente. Não fuja das gorduras, porque aí sua vesícula vai trabalhar. Periodicamente a sua vesícula vai se esvaziar, botar aquela bile concentrada para fora e vai ter que receber bile nova, fresquinha do fígado e começar a concentrar essa bile de novo. Então, o normal, o natural, é que periodicamente a nossa vesícula se esvazie. E isso acontece cada vez que a gente come alimentos que contêm a gordura natural. Isso não é só uma coisa teórica, viu? Existe um estudo… Ele é citado nessa postagem minha… No qual pacientes que foram submetidos a emagrecimento muito rápido… Pacientes, por exemplo, que fazem bariátrica… Uma grande quantidade deles desenvolve pedras na vesícula… Por quê? Porque eles passam períodos grandes comendo muito pouco. Então, essa vesícula trabalha pouco.

Rodrigo Polesso: E provavelmente com baixa gordura também.

Dr. Souto: E com baixa gordura. Mas… E aí é interessante… É um ensaio clínico no qual foram randomizados… E um grupo foi randomizado para consumir uma dieta com mais gordura. E estes que consumiram a dieta com mais gordura, zero porcento deles desenvolveram cálculos na vesícula.

Rodrigo Polesso: Que beleza, hein?

Dr. Souto: Então, a primeira parte é o seguinte. Uma dieta com comida de verdade, com a gordura natural dos alimentos, não apenas não tem problemas para a vesícula como na verdade ela evita que a pessoa venha a ter problemas na vesícula. Mas a pergunta dela não é essa. A pergunta dela é… “Agora eu tenho pedras na vesícula. Eu já tenho.” Porque ela tem pedras na vesícula? Provavelmente porque ela passou a vida inteira tentando cuidar para não comer gorduras. E agora, o que fazer? É uma resposta complexa que depende de caso a caso. Sim, pode seguir qualquer estilo de vida alimentar. Mas uma dieta que tem um pouco mais de gordura, como eu disse, vai fazer a vesícula trabalhar. E isso pode fazer com que uma pedra que esteja na vesícula tranque na saída da vesícula. Tem um canalzinho que conecta a vesícula no outro canal que desemboca no intestino. Então, se um cálculo trancar ali, ela vai ter a cólica biliar. A famosa cólica. Aquela dor do lado direito com enjoo, às vezes ânsia de vômito. Pode ter até uma inflamação aguda da vesícula, que é uma colecistite. Às vezes tem que ir para o hospital. Então, se a pessoa tem cálculos, pedras maiores na vesícula, isso é um problema menor, porque pedra grande dificilmente vai trancar no canal estreito. O problema são aquelas pessoas que têm múltiplas pedrinhas pequeninhas na vesícula que podem não apenas trancar nesse canalzinho estreito, como elas podem conseguir passar por esse canalzinho estreito e ir para o canal principal da bile, chamado colédoco. E esse canal é um canal que junta a bile e o canal do pâncreas. Então, se um cálculo de vesícula pequeno conseguir entrar no colédoco nesse canal principal, ele pode produzir uma pancreatite biliar, que é um quadro grave, quadro que normalmente requer hospitalização. Então, isso é um conselho genérico. Não é para ela especificamente. Ela tem que tratar com o seu médico, com seu gastro. Mas normalmente, se é uma pessoa assintomática que nunca teve cólica biliar, que tem uma ou duas pedras grandes na vesícula, pode comer o que quiser, não vai mudar muita coisa. Mas se é uma pessoa que tem múltiplos cálculos pequenos na vesícula, a sugestão é: opere, tire essa vesícula. Porque aí você reduz o risco não só de cólica biliar, mas das coisas mais graves, que é colecistite e a pancreatite. E aí ela vai fazer uma nova pergunta para nós, né, Rodrigo? Agora que eu não tenho mais vesícula, eu posso? Sim, pessoas sem vesícula podem e fazem todo tipo de alimentação, inclusive uma alimentação low carb, uma alimentação forte. Eventualmente requer um período inicial de adaptação, porque se uma pessoa come uma… Vamos dizer, via e comer um frango com pele que tem um pouco mais de gordura. Se exagerar um pouquinho na quantidade de gordura numa refeição, pode às vezes ter até uma diarréia, porque não teve uma quantidade de bile suficiente. Normalmente o corpo se adapta e também a pessoa pode fracionar um pouco durante o dia o consumo das suas gorduras. Então, uma explicação comprida para dizer o seguinte. Sim, pode, pode seguir. Mas é interessante ela conversar com seu médico e ver se ela está numa situação, por exemplo, múltiplos pequenos cálculos, em que seja conveniente operar logo, ou se ela está numa situação em que ela pode seguir observando.

Rodrigo Polesso: Ótimo. Muito bom, muito bom. Acho que foi legal cobrir esse assunto em mais detalhes. O pessoal que tem pedra e que não tem pedra vai entender melhor como isso tudo funciona. Pessoal, claro, sempre… Principalmente se você tem alguma situação de condição de saúde, você sabe que a recomendação é sempre consultar alguém competente da área para acompanhar, já que a nossa saúde é tão importante assim. A gente precisa ser responsável à respeito disso. Ótimo. Olha só. Eu falei da carne vermelha. Preparei um sumário bacana para vocês entenderem aqui qual que é esse bafafá. Publicado no dia 10 de dezembro agora no European Heart Journal, o Jornal do Coração Europeu… Jornal Europeu do Coração… Um novo estudo que fez manchete por aí como por exemplo no Huffpost Brasil que postou a seguinte manchete: “Cortar carne vermelha reduz risco de ataque cardíaco já no primeiro mês”. Olha só que promessa grande, pessoal. Imagina só. Agora lascou tudo, né? Mas vamos lá. Você está na Tribo Forte, você merece entender mais sobre isso. Como foi esse estudo afinal? Será que a gente precisa se preocupar? Olha só. Foi um ensaio clínico randomizado, crossover, de dois braços, um alto em gordura saturadas e um baixo. Mas o estudo contou, na verdade, com 113 voluntários que seguiram três dietas diferentes isocalóricas, ou seja, de mesma quantidade calórica e com duração de 4 semanas cada uma, com período de adaptação entre elas. O estudo proveu todas as refeições. Muito bom. E, pelo o que eu vi, o estudo em si foi bem conduzido. O objetivo do estudo em si foi medir o impacto do consumo de carne vermelha, carne branca ou proteína de origem vegetal nos níveis de TMAO. TMAO é trimetilamina n-óxido. É um metabólito criado pela microbiota intestinal que é associado… Está em negrito aqui… Associado com aterosclerose, que é a formação de placas no sistema cardiovascular. Ok, desde já a gente sabe que esse é um estudo de mecanismo… Pessoal que escuta aqui bastante a gente. Ou seja, estão focando em um desfecho substituto que a gente fala e não no desfecho final. Isso é importante. A premissa de todo estudo é que existe… Desse estudo todo… É que existe uma associação entre esse TMAO e o risco cardíaco e que isso significa alguma coisa de fato. A conclusão do estudo foi que o consumo crônico de carne vermelha aumenta os níveis de TMAO no sangue, e que esses níveis caem depois de 4 semanas sem consumo de carne vermelha. Ainda, não notou-se nenhuma associação entre gordura saturada e níveis de TMAO. Interessantemente, o estudo não incluiu peixe, que é a maior fonte alimentar de TMAO e nem ovos, que também são uma grande fonte desse componente. Agora, será que a gente deve se preocupar, já que o estudo foi bem feito e mostrou que carne vermelha eleva o TMAO? Bom, o elefante no meio da sala é o seguinte. Ok, vocês mostraram que consumir carne vermelha todo dia aumenta mais os níveis de TMAO no sangue do que carne branca ou proteína vegetal. Mas isso importa? TMAO de fato causa alguma coisa? Em outras palavras, o estudo não mostrou que essas pessoas tiveram problemas cardíacos, marcadores de risco reconhecidos alterados ou nada. Simplesmente mostrou que o TMAO aumentou. Interessantemente, um dos estudos mais referenciados sobre TMAO e risco cardíaco publicado no New England Journal of Medicine mostrou que somente aquelas pessoas no quartil mais alto de níveis de TMAO foram associadas a um aumento significante de risco cardíaco, enquanto elevações mais baixas não mostraram relação significativa nenhuma. Isso é estranho, porque quantidades significativas de TMAO deveriam ser associadas a risco se fossem importante de alguma forma. E ainda, aqueles com TMAO aumentado e maiores riscos cardíacos também eram aquelas pessoas que tinham diabetes, hipertensão e ataques cardíacos anteriores. Ainda, essas pessoas também eram tipicamente mais velhas e com marcadores inflamatórios maiores. Será que o TMAO que realmente causa o aumento do risco cardíaco ou todos esses fatores? A gente vai colocar a referência na transcrição desse episódio. Outro estudo de 2016 publicado no Jornal do Colégio Americano de Cardiologia também viu que o grupo com maiores níveis de TMAO era também o que mais tinha diabetes, hipertensão e mais idade. Será que o TMAO causa problemas cardíacos ou o fato de você ser mais velho, diabético, hipertenso e inflamado que causa isso? O que é mais importante? Ainda, outro estudo de 2016, publicado no jornal da Associação Americana do Coração, que tentou analizar a associação entre o TMAO e a calcificação das artérias, que é a arteriosclerose, concluiu que o TMAO não foi associado com nenhuma medida de arteriosclerose e ainda disse que o TMAO pode não ser um bom marcador de indício de problemas cardíacos. E para colocar em perspectiva vários estudos que analisaram o desfecho final, ou seja, morte de todas as causas, morte por problemas cardíacos, não encontraram nenhuma associação entre consumo de carne vermelhas e mortes, desfecho final ruim. Será que o TMAO é mais importante? E olha só, pessoal… Por fim, uma rápida observação aqui. Como mencionado no artigo do Diet Doctor, sobre esse estudo a NBC News reportou que o investigador líder desse estudo também está trabalhando para desenvolver uma droga que abaixa os níveis de TMAO no sangue.

Dr. Souto: Não diga!

Rodrigo Polesso: Então, pessoal, tem que manter isso em mente. Afinal, é de interesse do líder desse estudo pintar a pior imagem possível deste TMAO. Pense na seguinte analogia. O risco de quebrar a perna está associado a uma maior incidência de resgate de gatinhos presos em árvores. Quanto maior o número de gatinhos presos em árvores, maior o número de pernas quebradas no hospital. No entanto, essa associação só existe em pessoas mais velhas, diabéticas, obesas e hipertensas. Ok. Então, será que o problema são os gatinhos nas árvores ou o risco de uma pessoa doente ficar subindo em árvore? O gatinho da história é a carne e o TMAO é a árvore. Os dois não têm nada a ver com pernas quebradas quando pessoas inaptas a subir em árvores não se atrevem a fazer isso. É basicamente isso que esse estudo mostrou. Mas, então, como que o pessoal escreve uma manchete dessa, Dr. Souto, prometendo que o risco cardíaco diminui já com um mês sem comer carne vermelha? O que a gente fala sobre isso?

Dr. Souto: Bom, a melhor coisa desse artigo do Huffpost Brasil é a foto. É a foto de uma carne que se eu conseguisse fazer a carne como está nessa foto, eu ia me sentir um Masterchef. Sensacional. É incrível como se escrevem manchetes assim. Ninguém nesse estudo, nesse ensaio clínico randomizado… Ninguém, absolutamente ninguém teve um ataque cardíaco. Ou seja, eu não posso dizer que nada reduziu o risco de nada.

Rodrigo Polesso: Exato.

Dr. Souto: Deixa eu repetir para as pessoas entenderem. Se eu tivesse um ensaio clínico randomizado como o Women’s Health Initiative, que foi aquele ensaio clínico com 48 mil mulheres, que foram randomizadas para um dieta de baixa gordura versus a dieta tradicional e acompanhadas por 8,1 anos. Ali teve gente que morreu. Ali teve gente que teve infarto, ataque cardíaco nos dois grupos. E… Spoiler… Detalhe, pessoal… A dieta de baixa gordura não impediu ninguém de ter ataque cardíaco. Mas aquele estudo pode falar sobre o que reduz ou não reduz a chance de você ter um ataque cardíaco porque pessoas naquele estudo tiveram ataques cardíacos. Então, essa manchete já é inepta de começo porque esse estudo não estudou ataques cardíacos. Então, como eles podem dizer que cortar a carne vermelha reduz o risco de ataque cardíaco já no primeiro mês? Aliás, para fazer um estudo deste tipo, eu acho que deveria ter um milhão de pacientes randomizados, porque qual é a chance de eu pegar um grupo X de pessoas e eu ter um número suficiente de ataques cardíacos no primeiro mês? Ou essas pessoas teriam que ser muito doentes, ou eu teria que ter milhões de pessoas. Então, quer dizer, a manchete é grotesca, é ridícula, já para começo de conversa.

Rodrigo Polesso: Irresponsável.

Dr. Souto: Bom, então cortar carne vermelha reduz o risco de ataque cardíaco já no primeiro mês… Na realidade, o que o estudo mostrou é que um mês após tirar a carne vermelha da dieta os níveis no sangue de TMAO… Não vou nem tentar ler o que essa abreviatura significa. O Rodrigo já tentou.

Rodrigo Polesso: É trimetilamina n-óxido, pessoal.

Dr. Souto: Parabéns! Então, reduz os níveis disso no sangue. E a pergunta é: e daí? E o queco? Qual é a relevância da redução dos níveis sanguíneos disso aí? “Mas é que os níveis sanguíneos disso então associados em alguns estudos observacionais com um risco maior de doença cardiovascular.” Ah sim… E aí a gente começa a ver e é aquilo que o Rodrigo estava lendo agora. As pessoas que têm níveis mais elevados de TMAO no sangue em geral têm uma incidência maior de doença cardíaca, mas elas também são pessoas mais velhas, são pessoas que têm mais problemas de saúde outros. Então, será que TMAO é causa ou é um marcador? E aí, veja bem, tinha um braço aqui com carne vermelha e outro braço com carne branca. Só que a carne branca aqui era peixe… Desculpa, era frango. Por que que não era peixe? Vou dizer para vocês porque que não era peixe. Porque peixe é a maior fonte alimentar de TMAO. Vamos fazer uma pausa dramática, como diz o Reinaldo Azevedo.

Rodrigo Polesso: E outra, ele é universalmente aceito como uma coisa saudável.

Dr. Souto: Exatamente. Então, aí nós temos um dilema. Se comer peixe é bom, é saudável, e parece ser uma das poucas unanimidades na nutrição… Quer dizer, não importa se você é alguém que adota uma dieta mediterrânea, se você é alguém que defende uma dieta low carb, se você é o Walter Willet lá de Harvard… Não importa… Se você é professor de nutrição na universidade aqui no Brasil. Uma das poucas unanimidades na nutrição é que peixe e frutos do mar são saudáveis. Pois bem… Peixe é o alimento que contém as maiores concentrações deste metabólito TMAO. Então, porque eles não incluíram um braço com peixe no estudo? Porque aí ia furar o estudo, pessoal.

Rodrigo Polesso: O foco ia sair da carne.

Dr. Souto: Claro. O braço com peixe ia ser o que ia ter os níveis maiores de TMAO. E quanto reduzisse, trocasse o peixe, tirasse o peixe ia ter uma queda significativa dos níveis de TMAO em até 4 semanas, mas aí a manchete ia estragar, porque se eu colocar ali que cortar peixe reduz o risco de ataque cardíaco…

Rodrigo Polesso: Aí é sacanagem…

Dr. Souto: Não ia colar. Esse para mim é o ponto mais fascinante desse estudo. É absolutamente evidente que os autores do estudo começaram o estudo com a conclusão pronta.

Rodrigo Polesso: Com certeza.

Dr. Souto: A conclusão é… Um, carne vermelha faz mal.

Rodrigo Polesso: Vamos mostrar isso de alguma forma.

Dr. Souto: É. Vamos linkar isso com o TMAO. Por quê? Porque eu, líder do estudo, estou estudando uma droga que é capaz de baixar esses níveis dessa substância. Se eu pegar e botar um braço com peixe, estraga tudo! Porque eu não vou mais conseguir dizer que o TMAO é uma coisa ruim na medida que peixe que é bom aumenta o TMAO. Ao mesmo tempo, eu já liquido a minha droga, porque todo mundo vai, por óbvio, concluir que o TMAO não é o problema, já que ele aumenta com peixe e peixe reduz os riscos de doença cardiovascular.

Rodrigo Polesso: Exato. Exatamente. Que cilada, hein?

Dr. Souto: Deixa eu chamar atenção ainda na manchete, porque essa manchete é primorosa. Tem uma sub-manchete que diz assim. “Nunca é tarde para repensar sobre seus hábitos alimentares”. Bom… “Cortar carne vermelha reduz”… Reduz… O verbo neste tempo, presente do indicativo… Ele implica causa e efeito. Quando eu digo “cortar carne vermelha reduz o risco de ataque cardíaco”… Se fosse uma aula de português de análise sintática… Lembra lá ensino médio…

Rodrigo Polesso: O pessoal teve agora uma pontada no rim quando você falou isso.

Dr. Souto: O professor ia chegar e ia dizer assim… Que esta frase está implicando o quê? Que cortar carne vermelha é a causa da redução do risco de ataque cardíaco, porque senão teria que estar escrito diferente. Teria que estar escrito “cortar carne vermelha está associado a um menor risco”. Continuaria sendo mentira, mas pelo menos seria uma mentira menos forte, menos agressiva. Tem formas e formas de mentir. No fundo, o grande valor disso é o quê? É ir treinando, vocês que estão nos ouvindo. Vamos treinando o cacoete. O estudo é observacional ou é um ensaio clínico? Olha a pegadinha, pessoal. Nesse caso, é um ensaio clínico. O problema aqui não é o desenho do estudo. O Rodrigo falou bem. O estudo é muito bem conduzido. Olha só… As refeições foram todas fornecidas pelos pesquisadores de modo que não houvesse esse viés de confusão. As pessoas foram sorteadas para uma dieta, depois para outra. Elas foram seus próprios controles. Quer dizer, elas fizeram uma dieta e depois trocaram para a dieta subsequente, e comparadas com elas mesmas antes e depois. O desenho do estudo não é ruim. O problema é o desfecho. E daí que o TMAO sobe ou o TMAO desce? Alguém realmente sabe se o TMAO tem alguma importância? E, se tiver, qual é a conclusão? Eu devo parar de comer peixe? Vocês entenderam que se eu provar que o TMAO é ruim, eu vou ter que ir para a televisão e dizer, pessoal, foi mal, sabe esses anos todos que eu fiquei falando que peixe faz bem? Foi mal, pessoal. Não pode comer peixe, porque ele aumenta muito o TMAO no sangue.

Rodrigo Polesso: É um ótimo estudo feito sobre algo irrelevante.

Dr. Souto: Isso. Nós estávamos conversando antes de começar a gravar e o Rodrigo me lembrou daquela postagem que eu tenho no blog sobre a fada do dente. Para quem nunca leu, a historinha, que não é minha… Originalmente é da Doutora Herriet Hall. Se não me engano, é esse o nome dela. E ela diz assim… Imagina que você faça um estudo científico analisando a fada do dente. Então, a criança perde o dentinho, coloca o dentinho de baixo do travesseiro. Aí no dia seguinte acorda e tem lá no lugar do dente uma moedinha. Quem deixou a moedinha é a fada do dente. Então, ela começa a anotar. Vamos ver… Será que o tamanho da moeda, o valor do dinheiro deixado ali tem a ver com o tamanho do dente? Se ele for um molar ou um pré-molar, será que é mais dinheiro do que um incisivo ou um canino? Então, ela vai fazendo tabelas… Pode inclusive fazer, se for uma criança super esperta… Entra na internet… Tem software gratuitos de análise estatística para ver se tem significância estatística. Quem sabe ela possa dizer assim… Dentes maiores e devidamente limpos e acondicionados dentro de um frasco estão estatisticamente significativos associados com uma quantidade maior de dinheiro deixado pela fada do dente. Qual é o problema disso tudo? É a pessoa nunca se perguntar… Mas, afinal, a fada do dente existe ou não?

Rodrigo Polesso: Exatamente.

Dr. Souto: Nós podemos sim fazer um estudo científico detalhado, uma análise estatística primorosa sobre algo irrelevante ou inexistente, que é o que esse estudo fez. Na realidade, ninguém sabe… Ninguém sequer sabe se o tal TMAO importa ou não. Talvez o TMAO seja a fada do dente.

Rodrigo Polesso: E aparentemente parece ser.

Dr. Souto: Ele diminui quando tira a carne vermelha… Bom, eu já disse para vocês, ele aumenta com peixe também. E diminui quando tira o peixe. E daí, será que isso tem alguma importância? Então, esse estudo, que é um estudo de um desfecho substituto… Porque desfecho concreto seria o ataque cardíaco. E ninguém mediu isso. Ninguém morreu nesse estudo. Esse estudo que mediu um desfecho substituto por um mês vira a seguinte a manchete: “Cortar carne vermelha reduz o risco de ataque cardíaco já no primeiro mês.” Vocês entendem o quão grotesco é isso?

Rodrigo Polesso: É grotesco. É irresponsável. Irresponsável, irresponsável. Mas é isso, Dr. Souto. Acho que o pessoal, agora que está sabendo disso, vai entender um pouco mais, vai entender um pouco melhor como que pode aberrações como essas serem disseminadas para a população geral nesses meios de comunicação. A gente está ferrado se a gente não se proteger. Ninguém se importa mais com a gente do que nós mesmos. Então, vamos ficar espertos aí. E agora, para saber se a gente… Se o Dr. Souto e eu estamos seguindo a manchete do Huffpost na nossa alimentação, a gente vai comentar o que a gente degustou na última refeição. Mas antes de passar para a refeição, deixa eu contar para vocês o caso de sucesso do podcast de hoje que foi enviado pela Mariana. Ela falou: “Gente, eu terminei a primeira fase hoje. Foram 9,2 kg eliminados em um mês. Ontem eu vesti todas as minhas calças jeans e todas me couberam.” Sensacional, Mariana! Parabéns para você! Trinta dias seguindo uma alimentação forte para emagrecimento que sim, inclui carne vermelha se assim você quiser, é recomendado por sinal. Ela emagreceu 9,2 kg, está vestindo novamente suas calças jeans e mais saudável, eu arrisco dizer também.

Dr. Souto: Mas e o TMAO dela? E o TMAO?

Rodrigo Polesso: É! O TMAO dela é melhor a gente nem comentar sobre! Eu espero que tenha subido, como deveria ter subido. Enfim, ela está ficando saudável ao mesmo tempo.

Dr. Souto: Viva o TMAO!

Rodrigo Polesso: É fogo, não é? Mas então, Mariana, obrigado por ter enviado. O pessoal que quer seguir a alimentação priorizando o emagrecimento com hábitos baseados em ciência, no que a gente conhece de ciência e não em balelas e achismos e contos de fada por aí, entre em CódigoEmagrecerDeVez.com.br e faça parte lá. Dr. Souto, você me mandou uma foto antes da gente começar a gravar do que você estava degustando no seu café da manhã. Você pode compartilhar com o pessoal, que isso sim estava alinhado com a manchete do HuffPost.

Dr. Souto: Sim, porque eu estava consumindo TMAO. Já acordei e a primeira coisa de manhã foi a minha dose diária de TMAO.

Rodrigo Polesso: Precisa de um TMAO urgente.

Dr. Souto: Assim, é uma dica tão boba, mas às vezes essas coisas facilitam para as pessoas. Qual é a coisa mais fácil que existe de preparar? Claro, não estou considerando lixo. Não estou falando de miojo. Se bem, que o que eu vou falar agora é tão fácil quanto miojo, faz menos sujeira. Ovos cozidos! Pega lá meia dúzia de ovos, bota na panelinha e ferve. Vai fazer outra coisa, bota um timerzinho no telefone e volta ali e tá pronto. E aí a gente pode botar eles na geladeira. Eles duram até 5 dias na geladeira com segurança. O que significa que você acordou, está sem tempo, não tem saco de fazer… Que nem agora, eu acordei… O Rodrigo, vocês sabem, ele está sempre em algum lugar do mundo diferente, em fusos horários complicados e tal. Então nós temos que gravar cedo da manhã, horários bizarros. Então pego aquele ovinho cozido, corto com uma faca no meio, boto umas fatias de queijo por cima, boto no micro-ondas, derrete aquele queijo em cima do ovinho e pronto, está feito. Levou quanto tempo? Porque o ovo já estava cozido. Para fazer isso aí levou 45 segundos de micro-ondas. E aí você já consome a sua dose diária de TMAO, porque o ovo também tem. Não é só a carne vermelha, pessoal! O ovo, o peixe e tem uns vegetais aí que eu sei que também tem esse negócio.

Rodrigo Polesso: Exatamente! E você mostrou a foto…

Dr. Souto: Brincadeiras à parte… Sim, eu mostrei a foto. Tenho provas, não é, Rodrigo? De que eu estava comendo.

Rodrigo Polesso: Tem! E, pessoal, é bonito. Você pega o ovo cozido como o dr. Souto fez, corta na metade, bota um queijo por cima, põe no micro-ondas para derreter e fica uma coisa deliciosa! É uma forma bastante prazerosa de ingerir TMAO.

Dr. Souto: Corta na metade, tá? Se vocês não ouviram essa parte do corta na metade, veja bem, eles explodem.

Rodrigo Polesso: Ah, sim! Exatamente! Tem que ter cuidado.

Dr. Souto: A gema aquece mais rápido que a clara e o troço explode. Corta no meio, pega uma faca e corta na metade.

Rodrigo Polesso: Muito, muito fácil! E fiz um almoço hoje visando suplementar TMAO, porque eu estava preocupado que eu não estava ingerindo TMAO suficiente e hoje eu resolvi esse problema. Eu peguei carne moída e comi meio quilo de carne moída no almoço só com óleo de coco e queijo brie de sobremesa. Estou muito forrado e tem um TMAO aí no meu estoque por um bom período de tempo, graças à Deus.

Dr. Souto: Acho que vai levar umas 4 semanas para o teu risco de doença cardíaca…

Rodrigo Polesso: Exatamente! E outra, pessoal, a gente fala em comer barato e não sei o que… Eu postei um vídeo agora no YouTube do Emagrecer de Vez essa semana sobre exatamente isso: ideias baratas para você comer bem. A gente acabou de dar mais duas. Eu comi carne moída e o dr. Souto comeu ovo com queijo por cima. Pessoal, não tem desculpa. A alternativa ao filé mignon não é o biscoito recheado. Existem infinitas alternativas que você pode fazer. Essas foram as nossas degustações do dia. Esse foi o meu almoço, não foi o café da manhã, porque eu não como tudo isso no café da manhã. Na verdade, não como nada no café da manhã. Mas, enfim, foi isso, esse foi o assunto. E lembre-se de você se rodear de pessoas alinhadas com o seu objetivo, com positividade, pessoas que tenham um pouco de consciência para não ficar disseminando essas porcarias, pessoas alinhadas com os seus objetivos. Por isso siga aí no Instagram o dr. Souto: @jcsouto e me siga: @rodrigopolesso. E é isso, pessoal, a gente se mantém junto nessa família unida que nós somos. A gente continua firmes e fortes para a semana que vem mais um episódio da Tribo Forte. Com isso eu fico por aqui. Dr. Souto, obrigado e a gente se fala na semana que vem.

Dr. Souto: Obrigado, Rodrigo, um abraço. Um abraço aos ouvintes e até a próxima semana!