TRIBO FORTE #123 – GENGIBRE, FALCATRUAS, BALELAS E PRATO FORTE

Bem vindo(a) hoje a mais um episódio do podcast oficial da Tribo Forte!

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Neste Podcast:

  • Hoje falamos de GENGIBRE, pode ou não pode?
  • Falamos de falcatruas da indústria e corrupção da ciência.
  • Falamos de balelas que a mídia dissemina sobre alimentação e também exemplos de pratos de Alimentação Forte turbinados em nutrientes.

Escute, aproveite e espalheee!!!?

OBS: O podcast está disponível no iTunes, no Spotify e também no emagrecerdevez.com e triboforte.com.br

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Ouça o Episódio De Hoje:

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Casos de Sucesso do Dia

Reginaldo (1)

 

 

Referências

Matéria na Folha Sobre Patrocínio da Indústria Farmacêutica

 

 

Transcrição do Episódio

Rodrigo Polesso: Olá, olá, bom dia para você… Boa tarde, boa noite. Bem-vindo a mais um episódio da Tribo Forte… Do podcast oficinal da Tribo Forte, sua dose semanal de saúde e um pouco de diversão também, porque não? Estilo de vida saudável no final. Hoje a gente tem dois assuntos principais para discutir e também tem uma pergunta da comunidade para aquecer. Aquecer devagarzinho, pegar no ritmo, pegar no tranco. Primeiro a gente vai falar da influência… A gente já discutiu isso antigamente, antes nos podcasts… A influência da indústria, etc., do dinheiro, enfim… Na ciência, que é uma coisa bastante grave principalmente na área da saúde. E também, a pedidos de muita gente a gente vai comentar um pouco o que o pessoal do programa Bem Estar falou… Foram falar sobre dietas e tal e a gente vai falar um pouco sobre isso também, porque muita gente acabou questionando… “Por favor, fale sobre isso.” Então, vamos falar sobre isso também. No mais é isso aí. Acho que vai ser bacana esse podcast novamente aqui. Uma lembrança… Na verdade, estou gravando esse podcast um pouco antes. Não sei quantos ingressos têm sobrando para o evento Tribo Forte Ao Vivo 2018, mas sugiro que você corra para o site para dar uma olhadinha. Se tem ingresso para você garantir o seu ainda, é TriboForte.com.br/AoVivo. Já estou fechando com várias empresas bem legais que vão estar lá mostrando os quitutes… A criatividade da culinária deles para você ver que opção não falta nesse estilo de vida. Ficar de fora é o maior sacrifício do que ficar dentro desse estilo de vida. Sem contar 12 palestrantes, cada um com uma palestra. Dois dias sensacionais. Vai ser incrível. TriboForte.com.br/AoVivo. Vá lá e garanta o seu ingresso. Boa tarde, Dr. Souto, tudo bem?

Dr. Souto: Boa tarde, quase boa noite.

Rodrigo Polesso: Quase boa noite. Boa tarde. Maravilha. Vamos para a pergunta. Eu coloquei essa pergunta aqui, mas nem ia colocar nenhuma pergunta, na verdade. Mas eu estava olhando os comentários no YouTube e pergunta nesse sentido e particularmente essa específica… Não sei se é alguma onda que está acontecendo, alguma moda, mas está ocorrendo demais. Não sei se você tem ouvido muito isso. É o seguinte. O Rodrigo Tevez que pergunta. Ele pergunta: “Gengibre na água pode?” Eu não sei o que está acontecendo, se o pessoal do gengibre resolveu descobrir que existe essa raiz. Eu não sei, mas tem muita gente perguntando sobre gengibre. Gengibre com limão, gengibre com não sei o quê… Na água, pode? Na minha opinião, é óbvio que pode. É um chá. Se você coloca gengibre na água… Você retira os sabores do gengibre… Você tem o sabor dele e tudo mais… Agora, eu não quero que o pessoal caia nas armadilhas de achar que esse bendito gengibre via mudar sua boa forma, vai trazer o six pack para você, vai fazer você fazer um jejum de 48 horas. Não tem nada a ver. A pessoa começa a falar que gengibre é termogênico, que ajuda nisso, ajuda naquilo. Sim, a gente sabe que todos os alimentos têm seus benefícios, mas a gente sabe que eles não são a solução única. Então, não se engane. Se você adora o gosto de gengibre… Eu gosto de gengibre… Você pode degustar uma água com gengibre, por que não? Agora, Dr. Souto, qual é o seu input sobre isso?

Dr. Souto: Bom… A resposta rápida é: sim, pode. A resposta um pouco mais longa é como você disse, é um chá. Em princípio, pode qualquer chá. Quando a gente faz uma infusão, a gente empresta um pouco do gosto daquilo que a gente está colocando na água quente… Mas, assim, não muda sobremaneira a composição daquela água quente. Eu quero dizer o seguinte… Eu vou fazer um chá com folha de bergamota… Bom, mesmo que folha de bergamota tivesse uma quantidade X de carboidrato, a quantidade que vai ir para a água é mínima. É diferente de eu pegar, bater uma coisa no liquidificador e fazer um suco. Bom, aí, finalmente eu entendo, Rodrigo. O problema é o seguinte. Deve ser a nova moda. A moda deve estar mudando do limão em jejum para o gengibre em jejum.

Rodrigo Polesso: Pode ser.

Dr. Souto: Então, assim… É a busca da superfood. É a busca de um efeito mágico, de alguma coisa. Não sei se alguém ainda tem ilusão, das pessoas que nos escutam… Mas se tem, vamos quebrar a ilusão. É sempre quebrar as ilusões logo do que deixar elas persistirem demais. Não existe superalimento. Não existe nenhuma coisa que você vai comer e isso que você comer vai fazer você emagrecer. É o que você deixa de comer que tem este efeito. E outra… Consumir determinada coisa em jejum ou não em jejum realmente não faz muita diferença. Consumir puro ou diluído realmente não faz muita diferença. Então, se você gosta de limão puro, está bem. Mas se não gosta e quer tomar o limão, mistura com água, bota gelo… Vira uma limonada, fica uma coisa refrescante. Então, se você gosta do gengibre na água… Sei lá, se isso é uma coisa que lhe traz prazer… Consuma. De resto, bom… Se a pessoa for comer uma raiz inteira de gengibre, talvez seja interessante olhar os macronutrientes. Mas eu acho pouco provável que alguém vá fazer isso.

Rodrigo Polesso: Sim, com certeza.

Dr. Souto: Eu suponho que a pessoa esteja ralando um pouco o gengibre para botar na água.

Rodrigo Polesso: Exato. Eu concordo em 95% com o que você disse, mas eu discordo veementemente de uma coisa que você disse, que não existe superalimento. A gente sabe, obviamente, que existe fígado. Está aí para todo mundo. O superalimento já foi achado. Não precisa continuar buscando. Então, mas, enfim… Eu lembrei disso porque recebi uma mensagem recentemente no Instagram falando: “De tanto vocês falarem em fígado, estou começando a adicionar na minha dieta.” Nossa, eu não acredito que a luta está tendo um progresso. Então, a pessoa fez lá, temperou bonitinho e disse que ficou ok. Ela não gostava de fígado. Não ficou uma delícia, mas ficou ok. Então, é um avanço. Tem muita gente que acha uma delícia. Eu acho uma delícia. Mas, enfim, cada um com a sua. O importante é mover-se para frente. Então, beleza. Então, pessoal superfood é fígado. Enfim… Vamos lá, então. Depois desse aquecimento… Saiu uma matéria na Folha nesses últimos dias agora bastante bacana, mas não é nada de novidade em si. É um assunto que a gente já discutiu anteriormente nesse podcast e um assunto sério para a gente ter sempre em mente. A manchete é a seguinte. “Patrocínio da indústria farmacêutica faz a FIFA parecer anjo, diz médico.” O médico em questão é o Dr. Assem Malhotra, que a gente já falou milhões de vezes aqui. É o cardiologista britânico. Ele fala que o patrocínio da indústria farmacêutica… Ou seja, a influência dela na ciência nesse caso, faz a FIFA parecer um anjo… No sentido de corrupção, como a gente já ouviu falar da FIFA… Mas a FIFA não é o assunto aqui. O subtítulo é o seguinte. “Cardiologista critica fato de que decisões médicas sejam baseadas em estudos patrocinados.” Isso é seríssimo, não é verdade? Isso é seríssimo. Uma das partes que eles falam nesse artigo da Folha é que os erros de medicação são a terceira causa mais comum de morte após doença cardíaca e câncer. A medicina moderna é hoje uma grande ameaça à saúde pública. Olha isso que está escrito lá. Olha que frase poderosa, Dr. Souto.

Dr. Souto: O Assem não mede palavras.

Rodrigo Polesso: Exatamente.

Dr. Souto: É forte.

Rodrigo Polesso: E sobre essa questão de medicina baseada em evidência, o primeiro passo é a gente entender que existem evidências. O segundo passo é enfrentar todos os problemas que acontecem quando você dá esse primeiro passo. Então, tem problemas em cada nível. E ele continua aqui. “O problema é que a gente não sabe definir o que é evidência de fato e o que não é.” Ele diz, “A influência comercial criou uma epidemia de médicos mal informados e pacientes desinformados e prejudicados. Isso está enraizado no financiamento tendencioso da pesquisa baseada no provável lucro e não em ser uma opção benéfica aos pacientes. Hoje temos relatórios tendenciosos em revistas médicas, reportagens tendenciosas na mídia…” Quase não falamos disso no podcast… “Conflitos de interesses comerciais e uma incapacidade dos médicos de entender e comunicar estatísticas de saúde. Em essência, estamos tomando decisões clínicas sobre informações tendenciosas. Isso não só nos leva a obter resultados ruins, como também é antiético.” Bem sério, Dr. Souto. O que você tem a dizer sobre isso… Sendo médico, o que você vê de dentro?

Dr. Souto: Eu acho que talvez um dos trechos mais importantes dessa frase dele é a incapacidade de compreender e comunicar a estatística por parte dos médicos. Eu acho que ele tem muita razão disso. A gente às vezes conversa muito aqui sobre risco absoluto, risco relativo… A gente conversa sobre a questão do NNT… Quantas pessoas eu preciso tratar para beneficiar uma pessoa… São coisas que a gente fala tanto no podcast que quem está nos ouvindo deve imaginar que para os médicos isso é uma coisa comum, é o dia a dia, eles conversam disso… E a realidade, não. A maioria, infelizmente, não tem domínio desses conceitos básicos. Então, o pessoal simplesmente cai na falácia do risco relativo. Lembrando, para quem não ouviu ou não lembra, é assim… Se eu tenho um tratamento… Digamos que uma pessoa tenha uma chance de 1% de ter um ataque cardíaco nos próximos cinco anos. E se a pessoa usar meu tratamento…

Rodrigo Polesso: Gengibre.

Dr. Souto: Gengibre. Se ela usar gengibre ela vai diminuir de 1% seu risco para 0,7% de risco. E aí a gente diz assim… Houve uma redução de 30% de risco cardiovascular com gengibre! E a pessoa diz assim… “30% é um monte! 30% é quase 1 em 3.” E ela está interpretando errado, porque está falando em risco relativo. Quer dizer, caiu de 1% para 0,7%. A redução foi de 0,3% em termos absolutos – o que significa que precisaria tratar umas 300 pessoas para beneficiar uma e as outras 299 iam estar tomando esse gengibre que eu acho horroroso, especialmente misturado com água, invés de na comida… De graça. Então, esse é um dos aspectos. O NNT é esse outro aí. E o pessoal realmente não domina isso. Se eu não domino nem para compreender corretamente, como é que vou ensinar, explicar para o paciente algo que eu não compreendo? Hoje, Rodrigo, eu tive uma experiência assim no consultório. Eu estava atendendo um paciente médico. O sujeito é professor universitário. Mais velho que eu, já na faixa dos 70 anos, se aposentando. E ele é um paciente… Eu atendo ele da parte de urologia. Ele veio consultar comigo para ver seus aspectos urológicos. Conversando, lá pelas tantas… Ele é diabético, ele usa vários medicamentos… Ele usa uma estatina… Aí ele me disse assim, “Minha memória está muito ruim. De 1 ano para cá, a memória está muito ruim.” Aí, ele, paciente, falou… Aí ajudou o fato dele ser médico… Ele disse, “E eu suspeito que tem a ver com a rosuvastatina. Faz 2 anos que estou usando e de 1 ano para cá minha memória está muito ruim.” Eu disse para ele, “O senhor levantou essa hipótese, acho que o senhor tem razão. Tem literatura apara isso. Está até na bula do remédio. Eventualmente pode acontecer.” Aí eu disse assim, “Eu não quero mexer nessa sua prescrição.” Afinal, lembrem, ele não veio consultar comigo sobre isso. “Mas quem sabe o senhor fala com seu cardiologista e questiona para ele qual é a redução de risco absoluto que o senhor vai ter com essa droga.” E ele ficou me olhando com uma cara de paisagem… Aí eu disse, “Deixa eu lhe dizer assim… Na realidade, quando a gente houve que diminui em 25% ou 30% o risco cardiovascular, isso aí é risco relativo. Mas daqui a pouco o senhor está reduzindo o risco absoluto numa proporção que precisaria tratar 50 pessoas para beneficiar 1. E se tem o potencial de prejudicar sua memória, talvez o senhor ache que não valha a pena essa redução de risco. Quem sabe o senhor tenha essa discussão com seu cardiologista.” Juro, Rodrigo… Ele nunca tinha pensado nisso e nenhum médico tinha falado isso para ele. Então, o Dr. Malhotra nessa entrevista… Você vai provavelmente ler aí adiante… Ele vai falar dessa questão da decisão compartilhada em que… Para que o paciente possa ter uma discussão com sue médico no sentido de decidir se ele deve ou não tomar uma medicação, a primeira coisa é que ele tem que estar informado. Para o paciente estar informado, o médico tem que estar informado. Tem que saber discutir estatística. Aí, se o médico está informado, vai colocar para o paciente… Daqui a pouco o sujeito vai dizer, “Não, eu prefiro tomar um remédio do que ter uma chance em 50 de ter um evento.” Mas isso é uma opção do paciente, baseado em informação. Mas segue o baile aí.

Rodrigo Polesso: Perfeita essa colocação. Muito importante. Até mencionei antigamente… Antigamente não, recentemente, aqui no podcast. Minha própria mãe tinha o LDL 240… Os exames dela estão absolutamente incríveis. Só que o médico viu 200 e alguma coisa o LDL… Ele imediatamente receitou estatina para ela. Falei, “Você está maluco.” LDL, para começar, não tem nenhum corpo de evidência bom para indicar que tem a ver com nenhum risco. Ainda mais analisando tudo em contexto… Você está querendo tomar estatina. É muito fácil você recomendar estatina. Não é por nada que é um dos medicamentos mais usados do mundo. Então, você troca um risco bem longínquo – digamos – de algum benefício… Porque é isso que a gente vê na evidência… Por uma chance bem grande de vários tipos de efeitos colaterais, como esse que seu paciente acabou relatando.

Dr. Souto: No mínimo… Acho que é Sackett… É o autor da medicina baseada em evidência moderna… Ele coloca que há uma intersecção de 3 coisas importantes para que a gente possa praticar medicina baseada em evidência. Uma delas é a evidência científica. Então, vamos pegar lá em pacientes diabéticos… O uso de estatina vai diminuir em X% o risco cardiovascular. Evidência. Aí depois tem a experiência do profissional. O profissional vai ver… “Eu já vi casos semelhantes em que a pessoa estava usando essa droga e daqui a pouco teve uma alteração de memória. Parou, melhorou. Isso é uma experiência do médico. Mas tem uma coisa ali que está todo mundo esquecendo, Rodrigo, e que o David Sackett colocou desde o início. É a evidência científica, a experiência do médico e tem lá uma terceira bolinha que faz a intersecção com as outras duas que são as expectativas e os valores do paciente. Daqui a pouco… Eu li um artigo esses dias, achei muito bem colocado… Aliás, eu acho que é nesse artigo do Malhotra. Eu acho que é sim. Lá pelas tantas ele diz… Me confirma aí… Para alguns pacientes, se você disser que ele vai viver um ano a mais, mas ele tem que usar um remédio todos os dias, ele prefere que não. E para outros, se você disser que ele vai viver uma semana a mais, ele quer usar o remédio. Esse é o valor e a preferência do paciente. Tem que levar em conta isso também. Mas ninguém perguntou para esse doutor que estava consultando comigo se ele queria usar o remédio ou não. Ninguém colocou para ele os prós e contras de ele tomar o remédio. Uma das perguntas da medicina baseada em evidência é: o que vai acontecer comigo se eu não fizer isso? Essa é uma das perguntas. “Acho que o senhor tem que tomar esse remédio.” “Doutor, o que vai acontecer comigo se eu não tomar esse remédio?” Não responde assim: “Você vai morrer!” Não é para mentir para o paciente. É para responder baseado em evidência. “A literatura diz que de cada 50 pessoas como você que não usarem esse remédio, 1 a mais vai ter um desfecho cardiovascular adverso.” Esta é a resposta correta.

Rodrigo Polesso: É verdade. Como a máfia já dizia… O que vai acontecer comigo se eu não pagar esse aluguel esse mês? Vamos lá. Olha só. Continuando. “Por décadas, os médicos aceitaram dados publicados como verdade absoluta, mas isso está mudando. Uma recente pesquisa no Reino Unido revelou que 80% dos médicos de família e 2/3 do público não confiam nos dados patrocinados pela indústria farmacêutica.” Ótimo. “Isso é irônico, porque a maioria das decisões clínicas sobre prescrição de remédios são baseadas em pesquisas patrocinadas comercialmente. O governo tem a responsabilidade de proteger o cidadão das manipulações e excessos da indústria, mas o verdadeiro escândalo é que aqueles com responsabilidade para com os pacientes e integridade científica, como instituições acadêmicas, revistas médicas e médicos influentes são coniventes com a indústria para obter ganhos financeiros. A American Heart Association e a European Society of Cardiology, por exemplo, que recebe enormes somas de patrocínio da indústria, fazem a FIFA parecer um anjo.” Aí saiu a manchete. Então, se até mesmo as organizações que são responsáveis por cuidar da gente… Pela integridade do corpo científico… Se elas são corruptas no sentido de serem patrocinadas por indústrias farmacêuticas… Fica difícil colocar a raposa e a galinha na mesma jaula.

Dr. Souto: É. E o fato é o seguinte. A gente às vezes pensa que o simples patrocínio pela indústria não tem grande influência. Mas isso foi estudado, viu, Rodrigo? A gente já conversou aqui. Tem um estudo, inclusive sobre o qual eu fiz uma postagem uma vez no meu blog, que comparava o resultado de ensaios clínicos randomizados patrocinados pela indústria quando comparados com ensaios clínicos randomizados das mesmas drogas, dos mesmos remédios, só que patrocinados com fundos do governo. Seria como no Brasil patrocinado pelo CNPq, nos Estados Unidos pelo NIH. E o resultado é completamente diferente. Chega a ter diferenças de até 20 vezes… Mais favorável à medicação quando o estudo é patrocinado pela indústria do que quando ele tem fundos públicos. Então, isso não é apenas aquela corrupção clássica no sentindo assim… “Vou pagar um dinheiro para o autor dos estudos falsificar os dados.” Não, não é. É uma coisa muito mais sutil. É desenhar o estudo do ponto de vista metodológico de forma a que esse estudo dê um resultado mais favorável. Eu vou fazer uma analogia que acho que vai facilitar para quem está nos escutando. Pensem em pesquisa eleitoral. Agora pensem que quem encomendou a pesquisa foi um partido político X. Vocês acham que essa pesquisa tem uma chance maior de ser tendenciosa para o candidato do partido político X que encomendou e pagou pela pesquisa? Sim. Isso não significa que a pesquisa foi falsa. Conforme se faz as perguntas… Por exemplo, se colocar como primeira opção o candidato que eu quero… Se ele for o primeiro da lista, estatisticamente ele tem uma chance maior de ser mais escolhido pelas pessoas. Por isso que nas pesquisas sérias encomendadas, por exemplo… Se a Folha de São Paulo encomenda lá a pesquisa, a técnica é fazer aleatório. Eles têm os nomes dos candidatos num negócio redondo que gira para que nenhum seja sistematicamente em cima e outro por último. Então, os pesquisadores sabem que conforme a pergunta for feita… Se a pergunta for feita no positivo ou no negativo… A gente consegue manipular o resultado da pesquisa, dependendo da forma que a gente estrutura a pesquisa. Isso vale para a pesquisa eleitoral e isso vale para a pesquisa médica também.

Rodrigo Polesso: Com certeza. Você consegue induzir respostas de acordo com sua preferência.

Dr. Souto: Por exemplo, como é que… Já que nós estávamos falando das estatinas… Como é que a gente vê… Um em cada 10 pacientes que tomam estatinas têm dor muscular… Mas quando vai ver os ensaios clínicos randomizados patrocinados pela indústria, é 1 em cada 10 mil. Sabe qual é a mágica? Vou explicar para vocês. É assim… A indústria recruta pessoas para participar do estudo. Aí, o sujeito, para entrar no estudo, ele tem que usar o remédio por, digamos, 6 semanas ou 8 semanas. Se ele tiver qualquer efeito colateral, ele cai fora, ele não entra no estudo.

Rodrigo Polesso: Que legal.

Dr. Souto: Ou seja, entram no estudo só as pessoas que foram pré-selecionadas porque quando elas usam, elas não têm efeitos colaterais. Aí, quando sai o resultado do estudo, aparece o quê? Quase ninguém tem efeitos colaterais, porque os que tinham não entraram no estudo. Então, assim… Isso que estou falando não é especulação minha. Isso é fato sabido. Está na letra miúda do material e método do estudo. Então, assim… Existem formas bem espertinhas de conseguir o resultado que a gente quer quando a gente patrocina o estudo.

Rodrigo Polesso: Com certeza. Uma parte chocante desse artigo que eu separei para ler é a seguinte. “Quando falei recentemente…” Quem falou foi o Assem Malhotra. “Quando falei recentemente no parlamento europeu, eu afirmei que a situação se tornou tão terrível, que os médicos honestos não podem mais praticar a medicina honesta.” Isso é bombástico. Diga-se de passagem o Noakes e vários profissionais brasileiros são processados pelas próprias associações por praticar medicina baseada em evidência… É a realidade.

Dr. Souto: Uma das coisas às quais ele está se referindo… Nos Estados Unidos e na Inglaterra é muito comum que as diretrizes… As famosas diretrizes… Aquelas que são redigidas pelas sociedades médicas… Acabem determinando como que a medicina deve ter praticada. Isso da seguinte forma. Se uma pessoa tiver determinado exame alterado, ela deverá prescrever determinado remédio. E a remuneração do profissional médico ela é variável de acordo com o quanto ele se enquadra nessas diretrizes ou quanto ele se desvia dessas diretrizes. Então, o que ele está querendo dizer inclui esse fato. Se o sujeito honestamente chega numa conclusão… Numa conversa como essa que nós falamos… Quer dizer, de medicina baseada em evidência onde se leva em conta os valores do paciente… O paciente diz, “Dadas essas estatísticas, eu prefiro não usar essa medicação. Mas se o médico não prescrever essa medicação, ele vai ter dinheiro deduzido do que ele vai ganhar. Então, é uma situação muito complicada. E aí entra um pouco essa corrupção que ele falou, porque quem escreve essas diretrizes tem conflito de interesses. Então, as diretrizes são diretrizes que favorecem… É muito interessante, cada nova diretrizes que faz parece que torna mais fácil a prescrição de medicamentos. Vamos pegar o exemplo recente da redefinição da hipertensão. No momento que se define que valores ainda mais baixos passam a ser considerados pressão alta, muito mais gente vai ser obrigada a tomar remédio.

Rodrigo Polesso: É dureza. É muita dureza. Ele fala aqui. Como a gente já mencionou… O pai do movimento baseado em evidências, o falecido Professor David Sackett, disse que 50% do que você aprende na faculdade de medicina acabará sendo desatualizado ou completamente errado dentro de 5 anos da sua graduação. O problema é que ninguém pode lhe dizer qual metade está errada. Então, você que tem que aprender sozinho. Agora, médicos do dia a dia… Quem tem tanto tempo assim para se atualizar e se certificar de qual metade está errada.

Dr. Souto: Para a gente não falar só em lamentações e lamúrias, existe pelo menos uma instituição que no mais das vezes é extremamente séria e que nos fornece evidências e que recusa dinheiro da indústria. Essa instituição se chama Cochrane. Escreve C-O-C-H-R-A-N-E. A Cochrane tem revisões sistemáticas baseadas em evidência sobre quase tudo que vocês possam imaginar. E ali a gente encontra coisas que às vezes são diferentes do que as diretrizes das sociedades, o que causa espécie. Eu desafio as pessoas a darem uma comparada nas diretrizes das sociedades médicas e comparar com o que diz a revisão sistemática da Cochrane. Vocês vão ver que muitas vezes há divergências. Essas divergências basicamente deixam claro a influência da indústria sobre as diretrizes das sociedades médicas.

Rodrigo Polesso: Realmente. Bom, movendo para a parte final desse artigo, para a gente fechar com chave de ouro, ele fala o seguinte. Eu sou um dos maiores entusiastas e defensores da medicina baseada em evidência. Com base na totalidade das evidências, reduzir o consumo de carboidratos de alto índice glicêmico é a maneira mais eficaz de melhorar a glicemia e melhorar os fatores de risco cardiovascular. Qualquer um que diga que não há muito apoio para isso na medicina baseada em evidências, está simplesmente errado e espalhando informações incorretas. Que beleza.

Dr. Souto: Pegou forte. É porque ela fez uma pergunta meio cretina também. Ela chegou e perguntou… Não estou com o artigo na frente, mas eu me lembro… “O senhor defende uma dieta low carb, fala em medicina baseada em evidência… Mas low carb não tem tanta evidência assim.” Aí ele ficou bravo e deu essa resposta.

Rodrigo Polesso: Exatamente. Ela também perguntou… “O senhor é entusiasta de dieta pobre em carboidratos? Isso também não encontra muito apoio na medicina baseada em evidência.” Ela está totalmente fora da caixinha perguntando assim.

Dr. Souto: O que acontece… Esses dias eu estava tendo uma conversa, um debate online com leitores do blog. O pessoal estava perguntando porque em um determinado artigo que saiu na UOL falava tanta bobagem, era tão idiota o artigo. Aí eu digo assim, olha, na realidade, o que que acontece… Esses agregadores de notícia não têm uma linha editorial. Eles buscam cliques. Para eles é interessante dizer uma coisa num dia, dizer o oposto no dia seguinte… Porque a pessoa vai dizer, “O quê? Mas mudou tudo?” Vai lá e clica. E ao mesmo tempo… Aí eu coloquei o seguinte… Nós não temos a tradição do jornalista científico aqui no Brasil. Às vezes a gente lê artigos que saem no Washington Post, no New York Times, no The Guardian… Artigos que são escritos com uma linguagem científica de alto nível. Quer dizer, é um jornalista, mas ele tem uma alta formação em ciência. No Brasil a gente vê muito pouco isso. Aí o que que acontece… Como o jornalista não tem uma visão crítica, ele se baseia na opinião de quem ele entrevista. E ele entrevista aquilo que ele considera uma figura de autoridade. Aí ele vai perguntar para alguém que não sabe nada do assunto, porque médico não sabe coisa nenhuma de nutrição em geral, não aprende nada na faculdade… E o sujeito vai falar senso comum. “Esse negócio de low carb é modismo. Cuidem com isso. O importante é comer uma dieta balanceada. Comer de tudo um pouco.” Aí vem aquele papo… Qual é o problema de comer de tudo um pouco? Porque tem muita coisa que você não devia estar comendo nem um pouco. Por que não diz assim, “Fumar de tudo um pouco”? Vai fumar tabaco só? Não, fuma uma maconhazinha, uma cocaína, fuma um crack. A gente não deve fumar de tudo um pouco. A gente não deve comer de tudo um pouco. A gente não deve nem assistir TV de tudo um pouco.

Rodrigo Polesso: É verdade. Não se aplica em nenhuma circunstância isso.

Dr. Souto: O tal do Bem Estar, esse que você disse que vai falar depois, é uma dessas coisas que você não devia fazer nem em moderação. Assistir Bem Estar.

Rodrigo Polesso: Exatamente. Não é feito para instruir. Olha só. Vou falar do Bem Estar já já. Dando o break aqui para celebrar o caso de sucesso do dia, que quem mandou foi o Reginaldo. Ele falou, “Muito feliz… Comecei o desafio com 105,6 quilos e finalizei hoje com 97,6. Eliminei 8 quilos sem fazer exercício. Agora partiu fase 2.” Então, 8 quilos em 30 dias. O desafio são 4 semanas somente. Ele mandou a foto de perfil antes e depois. É impressionante como 8 quilos para ela, uma pessoa de 105 quilos, fez bastante diferença. Dá para ver a diferença. Trinta dias apenas. Fase 1. Oito quilos. Ele está preparado para engajar na fase 2 aqui. O total de fases são 3 fases no programa Código Emagrecer de Vez, onde você começa com esse desafio e depois vai otimizando até chegar na fase 3, que é a fase estilo de vida, onde você vai aprender o que você precisa fazer para manter esse peso e esse estilo de vida pelo resto da vida. Se você tem interesse no programa Código Emagrecer de Vez, é muito fácil. Entre em CodigoEmagrecerDeVez.com.br e veja lá se conecta com você. Maravilha. Olha só. Falando em incompetência… Hoje o assunto é incompetência da indústria farmacêutica, incompetência científica…

Dr. Souto: Deixa eu te corrigir, Rodrigo. Acho que a indústria farmacêutica é bem competente.

Rodrigo Polesso: É verdade. Não do jeito que deveria, mas realmente.

Dr. Souto: Competente eles são. Não sei se são éticos.

Rodrigo Polesso: Competentes nos interesses. Exatamente. Talvez não éticos, mas competentes sim. Falando nesse assunto, o programa Bem Estar novamente vem causando um mal-estar com desinformação sobre low carb. Não foi tão terrível dessa vez. Poderia ter sido pior, tendo em vista o que a gente já viu antigamente. Eu recebi várias mensagens, como eu disse, no Instagram, de pessoas que assistiram e ficaram abismadas com o que viram. Eu fui ver esperando descer o cacete… Poderia ser muito pior. Tudo bem. Eu fui assistir depois e foi parte de um quadro onde eles estavam meio comentando sobre várias dietas comuns no momento e até umas que eu não ouvi falar na vida… Eles falaram na dieta do astronauta… Já ouviu falar nisso aí? A dieta do astronauta, que segundo a nutricionista lá que estava explicando tudo, é baseada em retirar todos alimentos da dieta e substitui tudo por pó. Tudo pó. Imagina que delícia. Emagrece que é uma beleza isso aí.

Dr. Souto: Isso aí é mais ou menos… É comida de verdade na menos 1. Eleva na menos 1. É o inverso da comida de verdade.

Rodrigo Polesso: Menos 1. Exatamente isso. Retira tudo e come pó, porque isso é o mais natural a se fazer. Mas existe. Dieta do astronauta.

Dr. Souto: Bem sustentável no longo prazo.

Rodrigo Polesso: Muito sustentável, exatamente. Tinha várias dietas. Dieta mind, que eu nunca tinha ouvido falar. Dieta mediterrânea. Tinha a low carb também. Dia dos 30 dias, que também nunca ouvi falar. Mas enfim… Algumas pérolas que eles disseram foram as seguintes. Uma parte interessante é a seguinte. Eles falam exatamente isso. “Não é o jejum que fará perder peso. É simplesmente a baixa ingestão de calorias.” E jejum é o quê?

Dr. Souto: Sim, jejum é o quê?

Rodrigo Polesso: Jejum é o quê? Exatamente. Não é o zero que não é nada… É a falta de alguma coisa.

Dr. Souto: Não é respirar que é importante para a vida. É a entrada e saída do ar do pulmão.

Rodrigo Polesso: Exatamente. Não vamos nem criticar. Só coloquei aqui porque é engraçado. Mas é óbvio que o jejum acaba incentivando o emagrecimento também pela baixa ingestão de calorias que acontece como consequência disso. Mas falando isso a gente ignora toda a parte metabólica que é um outro assunto. Eles insistem em não entrar muito. Quando eles migraram para a mesinha da low carb… Inclusive, o cidadão do Bem Estar disse que ele mesmo seguiu low carb e falou, “Não é muito fácil de seguir.” Ele mesmo seguiu. Ele não criticou, ele só comentou. Mas como eles têm a bendita autoridade lá no programa… O nutricionista estava comentando sobre tudo… Ele pede sempre a opinião dela. Sobre carboidratos foi muito curto o que eles falaram. Mas basicamente ela disse o seguinte. “A low carb faz uma restrição importante dos alimentos fonte de energia… Nossa principal fonte de energia, os carboidratos.” Bom, já começou errado. A gente sabe que isso não é verdade, né, Dr. Souto? Senão os esquimós estariam mortos há muito tempo.

Dr. Souto: Não, e outra… Veja bem… Eu sempre digo isso. Isso me deixa pasmo. Porque os nutricionistas costumam recomendar diminuição da gordura na dieta? Por 2 motivos. Porque eles acreditam falsamente que gordura na dieta é causa de doença cardiovascular. Isso já está refutado por incontáveis estudos. Não vou nem perder meu tempo aqui falando sobre isso. E segundo, porque gordura é calórica. Um grama de gordura tem 9 calorias, enquanto 1 grama de carboidrato tem 4 calorias. Isso é indiscutível… Que a gordura tem bem mais calorias do que o carboidrato. Então, se a gordura tem bem mais calorias do que o carboidrato e se estou comendo menos carboidrato e mais gordura numa dieta low carb, eu estou tirando, cortando, o alimento mais energético que tem?

Rodrigo Polesso: Não.

Dr. Souto: Não. Quer dizer… Eles acham que tirando a gordura a pessoa vai emagrecer porque a gordura tem mais calorias. Então, nesse momento eles admitem que gordura é calórico. Na hora que a gente tira o carboidrato, diz que está tirando a principal fonte de energia do corpo. Mas vocês não estavam criticando a gordura porque ela tem mais energia do que o carboidrato?

Rodrigo Polesso: Pois é. Essa é uma crença que eles têm da donde? Na universidade provavelmente também… Que o carboidrato é essencial.

Dr. Souto: O que eles confundem é o seguinte… Que a glicose é sim uma fonte de energia preferencial no corpo. Quer dizer, o corpo dispondo de glicose e de gordura para oxidar, sempre vai oxidar a glicose primeiro. E é justamente por isso que low carb ajuda. Porque quando a gente tira a glicose, em não tendo glicose para oxidar, o corpo vai oxidar gordura, que é o que a gente quer. Então, se eu não quero queimar gordura, encher o corpo de carboidrato (de preferência de 3 em 3 horas) é uma excelente estratégia. Porque dai o corpo vai estar queimando glicose direto. A gordura vai ficar só sendo acumulada. Agora, se eu tiro a glicose, o corpo tem que viver de alguma coisa. Bom, então queima gordura. Bom, queimar a gordura não é o que a gente quer? O objetivo não é emagrecer? “Mas o cérebro precisa de glicose.” Bom, aí é aquela história de sempre. Pessoal, sim, tem órgãos no corpo que precisam de glicose, mas ninguém disse que essa glicose tem que vir da dieta. O fígado existe para isso. É uma das principais funções dele: secretar glicose na ausência de glicose na dieta.

Rodrigo Polesso: Exatamente… A glicose é essencial. É por isso, exatamente, que nosso corpo consegue fabricá-la. É exatamente isso que você falou. Sobre os carboidratos, só para deixar claro que você falou que o corpo preferencialmente queima… Correto, mas para o pessoal não sair por aí falando que o carboidrato é o combustível favorito do corpo e por isso tem que colocar sempre carboidrato porque ele não gosta de queimar gordura… Não, a glicose tem prioridade na queima por motivos metabólicos. Não é a preferência.

Dr. Souto: Vou dar um outro exemplo que acho que vai deixar bem claro para quem está nos ouvindo. O álcool, o etanol… Álcool… Aquilo que tem na bebida… No whisky, na cerveja, no vinho… Etanol. Ele tem prioridade metabólica sobre a gordura e sobre o carboidrato. Então, se eu beber uma vodca, meu corpo vai queimar, vai oxidar nas mitocôndrias primeiro o etanol, antes mesmo da glicose e da gordura. Isso significa que etanol é a fonte da vida? Que álcool é a coisa mais importante? Que a gente devia encher a cara todos os dias porque é o principal combustível do corpo? Vocês entenderam que prioridade metabólica não é a mesma coisa do que ser aquilo que você deveria estar comendo? O corpo se livra do etanol primeiro porque o etanol é uma toxina. O corpo se livra do etanol primeiro porque não tem onde armazenar. Nós não temos, dentro do nosso corpo, um órgão ou um tecido cuja função é armazenar álcool. O ser humano não evoluiu ainda para este patamar. Nós conseguimos armazenar gordura e nós conseguimos armazenar carboidrato. Agora, eu pergunto, caro ouvinte. O que que a gente consegue armazenar em quantidade maior? Gordura ou carboidrato?

Rodrigo Polesso: Pois é, muito mais.

Dr. Souto: É muito mais gordura, porque o tecido adiposo é expansível. Ele pode crescer. A gente pode armazenar dezenas de quilos de gordura. Agora, carboidrato não. Carboidrato nós temos algumas centenas de gramas no fígado, algumas centenas de gramas nos músculos. Dá uns 350, 400 gramas de glicose armazenada no corpo ao todo, dependendo do tamanho do indivíduo. Então, é evidente que se eu tenho carboidrato e gordura ambos disponíveis, o corpo obviamente vai usar o carboidrato primeiro porque não tem onde enviar o carboidrato. Já a gordura… Essa sempre pode ficar para depois, porque o depósito de gordura, que é o tecido adiposo, é grande e expansível. Então, é justamente porque a glicose é mais tóxica e menos fácil de armazenar (digamos assim)… O espaço disponível é pouco… É por isso que ela vai ser oxidada primeiro. Não é porque a gente deva comer glicose o tempo todo porque é a fonte principal de energia. Não. Um outro exemplo… Vamos dar bastante exemplo para o pessoal lembrar. Pensa que eu tenho eu almoxarifado. E lá dentro eu tenho alguns itens que são perecíveis. E tem outros itens que são não-perecíveis. Qual que eu vou usar primeiro? Os perecíveis. Isso não é um julgamento de valor, se o perecível é melhorou se o não-perecível é melhor. É uma questão de economia energética do corpo. É lógico que ele vai usar o carboidrato primeiro porque não tem muito onde armazenar. Já a gordura… Essa aí tem onde armazenar por anos, se for o caso. Simples assim. Quando disserem assim, “Precisa do carboidrato porque é a principal fonte de energia”, diz assim, “Se fosse a principal a gente acumularia amido na barriga ao invés de gordura.” Seríamos grandes batatas ambulantes.

Rodrigo Polesso: Exato. Seríamos todos batatas ambulantes.

Dr. Souto: O fato de que o ser humano e qualquer outro animal acumula… Qualquer outro animal… Sem ser insetos… Mas o fato de que o ser humano acumula gordura como energia extra… Se a gente tem caloria sobrando no corpo, a gente acumula como gordura e não como amido, já diz tudo o que a gente precisa saber sobre qual é a principal fonte de energia do corpo. É a gordura. Açúcar pode ser usado como fonte de energia? Pode. Mas ele é opcional. Se a gente consumir zero carboidrato, o corpo fica muito bem, obrigado. Aliás, fica magrinho… Daqui a pouco até um tanquinho.

Rodrigo Polesso: Exato. Passe esse podcast para sua nutricionista se ela ainda insiste nessa questão. Depois ela pode fazer as próprias pesquisas dela para ela se elucidar e embasar tudo isso. Precisa mudar isso tudo. Continuando aqui sobre o Bem Estar… Acho que eles proibiram, no começo dessa reportagem… Deve ter proibido ela ou o médico que estava lá, não sei… De falar de gordura. Eles não falaram de gordura em ponto nenhum. Ela falou da low carb mais uma vez dizendo o seguinte. “Se a gente for pensar na dieta low carb verdadeira, ela permite o consumo de carboidratos integrais, por exemplo. Ela acaba incentivando o maior consumo de frutas, legumes, verduras e alimentos proteicos.” Nunca mencionou a gordura. Agora, outra coisa que ela mencionou. “Dieta low carb verdadeira”. Como assim? Low carb significa baixo em carboidrato. Não significa sem carboidratos. Então, ela demonstrou que não entende muito bem o que significa “low carb”. Porque ela falou que permite o consumo de carboidratos. Só que infelizmente ela citou os integrais. São os grãos benditos. Por que não… Se quiser um pouco de abóbora, um pouco de fruta selvagem como opção de carboidrato. Mas, enfim… Low carb é chamada de low carb porque é baixa, não porque é zero. Então, é uma diferença que o pessoal tende a confundir bastante.

Dr. Souto: Integrais… Para duas pessoas eu tive que explicar em detalhes assim e até criei mais uma analogia. Vocês gostam de analogia, vai mais uma para vocês. Imagina que eu pegasse uma maçã e cortasse ela em 6 fatias. Isso eu consideraria como uma maçã integral. Eu cortei ela em seis fatias, mas ela continua tendo uma estrutura que qualquer um vai olhar para aquilo e dizer, “É uma maçã fatiada.” As células vegetais estão íntegras. A gente tem a casca por fora daquela fatia… Aquilo é uma maçã. Agora imagina o seguinte… Que eu pegasse essa maçã e extraísse o suco da maçã. Aquele suco translúcido, que é basicamente… Água, açúcar e sabor maçã. E depois pegasse o resto que sobrou da máquina que extraiu o suco… Vai ficar uma mistura lá de casca esmagada, fibra, semente e cabinho. Aí eu pego, depois que eu fiz isso, e misturo aquela coisa que sobrou de novo no suco e digo, “Esse é um suco integral de maçã”. É isso que o pessoal chama de farinha integral para vocês entenderem. O que seria um grão integral… Eu prefiro não consumir grão nenhum. Mas se fosse um grão, imagine assim aquilo que eles chamam de wheat berry. Quer dizer, o grão inteiro do trigo. Aquela bolotinha. E aquilo fosse cortado ao meio com uma lâmina ou cortado em 4 pedaços e a pessoa comesse. Bom, isso é uma coisa. Fosse moído numa moagem grossa em que os pedaços fossem pedaços grandes como aquele trigo do quibe, por exemplo. Agora, o que se faz é… Moer a farinha até ela virar amido pulverizado. Até os grânulos microscópicos do amido… Porque o amido ocorre em grânulos… Aqueles grânulos são explodidos nos moinhos modernos e transformado num pó de amido pulverizado. É um negócio que tem o índice glicêmico mais alto possível. Aí eu pego o que sobrou da moagem do trigo, que é aquele monte de casca e tal e misturo e chamo de farinha integral. Entendeu que não é a mesma coisa do que eu pegar uma maçã e cortar em seis pedaços, fazer um suco dela, pegar o que sobrou da casca e misturar outra vez? Já não é a mesma coisa. Agora que o troço foi destruído, pulverizado e ultra refinado, misturar a casca de novo é simplesmente eu batizar aquilo com casca, para dizer que é integral. Mas não é. A farinha integral que você, ouvinte, compra no supermercado, o pão integral que você compra no supermercado… Você que está nos ouvindo não devia comprar pão. Se está comprando, está ouvindo o podcast errado. Mas se compra tem que ter a noção de como é que ele é feito. Ele é feito com tipo 51% de uma farinha integral que é uma integral fake, feita dessa forma que eu descrevi e 49% de farinha refinada mesmo, essa não fake refinada de verdade.

Rodrigo Polesso: É dureza.

Dr. Souto: Então, é isso. O próprio conceito de integral foi desvirtuado pela indústria alimentícia. Se ainda fosse integral de verdade não era tão ruim. Nós já falamos alguma vez no podcast sobre o Weston Price, aquele dentista no início do século XX que pesquisou povos primitivos e tal. Bom, o Weston Price depois de ter visto que quanto mais refinado era o alimento das pessoas pior era a saúde delas, fez um experimento com ratinhos. Ele pegou trigo Ele deu trigo não moído para um grupo de ratinhos… Não adianta dar trigo não moído para pessoas, porque pessoas não são roedores. Se a pessoa comer trigo não moído, o efeito é o mesmo do que comer semente de uvas. Dai tudo inteiro do outro lado. As comparações entre roedores e seres humanos não são perfeitas. Mas se você der trigo mesmo, inteirinho para o roedor, ele se desenvolve bem. Se você der trigo moído grosso… E como que o Weston Price fez isso? Ele moeu num moedor de café na casa dele e deu para os ratinhos. Aí eles se desenvolviam razoavelmente bem, mas tinham algumas falhas na pelagem. Já não era a mesma coisa. Mas quando ele comprou farinha integral no mercado e alimentou os animais… E tem a foto no livro… Tem grandes áreas de falta de pelo. Nitidamente os bichos estão doentes. Então, quando mais a gente refina, pior fica. E ele comprou farinha integral para dar para eles. Mas era integral de loja. E era integral de loja em 1900 e poucos. Hoje em dia com certeza está pior.

Rodrigo Polesso: Muito pior. Com certeza. Que maravilha. Muito conteúdo bacana, pessoal. Para fechar com chave de ouro, vamos comentar o que a gente degustou na última refeição. Dr. Souto, quer começar aí?

Dr. Souto: Picadinho de frango refogado com molho de tomate pelado e cebola.

Rodrigo Polesso: E cebola. Simples, bom, gostoso, leve.

Dr. Souto: E foi só isso. “Não teve arroz?” Não teve arroz. Arroz é um troço que não tem graça. O que a gente faz é o seguinte. Em vez de comer uma colher de picadinho com uma colher de arroz, a gente come duas colheres de picadinho. Com isso a gente aumenta a densidade nutricional da nossa alimentação. Eu vou estar comendo mais proteína, mais nutrientes que estão presentes no tomate e na cebola… Ao invés de deslocar essa densidade nutricional por um troço que é amido puro sem nutriente nenhum, arroz.

Rodrigo Polesso: Perfeito. Recentemente alguém comentou no vídeo meu no YouTube… “Mas não pode comer mais arroz? Então, vou comer o quê?” Daí eu respondi: “Você consegue pensar em outro alimento que não seja arroz?” Caramba… A vida do cara se limita a arroz.

Dr. Souto: Eu consigo imaginar um urso panda fazendo essa pergunta. “Vou comer o que se não posso comer bambu?”

Rodrigo Polesso: Aí faria sentido.

Dr. Souto: Para o urso panda faz sentido. Qual é o novo daquele outro bicho bonitinho que tem na Austrália? Coala. Tu diz para o coala, “Olha, não dá para comer folhas de eucalipto.” O coala vai dizer, “E agora? Vou comer o quê?” Agora, se você não é um coala nem um panda, pense um pouquinho. Use a imaginação.

Rodrigo Polesso: Vai ver é uma espécie de mamífero que a gente não conhece ainda que resolveu escrever o comentário. Vai saber. Enfim… Maravilha. Hoje eu montei um prato que estou me sentindo automaticamente mais forte. Devo ter crescido uns 2 centímetros de bíceps só de ter comido esse prato. Pensa num prato grande. Coloquei 200 gramas de filé de salmão selvagem, que tem uma cor linda. É um alaranjado lindo. Dá vontade de ficar olhando e tirar foto. Daí, do lado desse filé eu coloquei uma porção generosa de coraçãozinho de galinha que eu fiz na frigideira com óleo de coco. E se não bastasse, de sobremesa junto com esse prato do lado eu coloquei uma porção generosa de fígado de galinha. Ai meu Deus do céu. Estou falando. Eu devia ter tirado foto antes e depois do prato.

Dr. Souto: É muito nutriente para um prato só.

Rodrigo Polesso: É uma overdose de nutriente num prato só. Nossa senhora. Com certeza, nem se eu quisesse, eu conseguiria comer de 3 em 3 horas comendo dessa forma. Eu teria que ir no banheiro fazer bulimia. Não ia conseguir jamais. Você só consegue comer de 3 em 3 horas ou de 2 em 2 horas… Duas coisas, se você comer muito pouco em cada refeição ou se a qualidade do que você come for muito baixa. Como você disse, se a densidade nutricional for muito baixa. É só assim que você vai ter fome de 2 em 2 horas ou 3 em 3 horas. Enfim…

Dr. Souto: Fora o absurdo que é imaginar que a pessoa deva comer de 3 em 3 horas para emagrecer. Como hoje eu estou inspirado nas analogias, vai mais uma. Imagina que a gordura que a gente tem no corpo é como uma bateria. Ela serve para armazenar energia para a gente usar quando precisar. Então, imagina que seu celular também tem uma bateria e que você tenha como objetivo gastar a bateria do seu celular. Quando a gente quer emagrecer, a gente não quer gastar nossa bateria de gordura? Então, eu quero gastar a bateria do meu celular, mas vou ligar ele na tomada a cada 3 horas. Ele não vai descarregar nunca! Se eu botar para carregar a cada 3 horas, ele vai estar sempre coma bateria cheia, 100%. Se eu comer a cada 3 horas, eu vou estar facilitando o armazenamento de gordura. Assim como se eu ligar o celular na parede a cada 3 horas eu vou estar facilitando o armazenamento de carga elétrica. Não é óbvio?

Rodrigo Polesso: É óbvio. Deveria ser, pelo menos.

Dr. Souto: O que me espanta é o seguinte… A eficácia da propaganda. Propaganda no sentido de publicidade. Como se consegue convencer adultos, inteligentes, profissionais que estudaram medicina ou nutrição de que algo tão absurdo como o que eu acabei de anunciar possa ser verdade, porque as pessoas simplesmente aquiescem à autoridade. O professor, que é pós-graduado, é professor da USP ou da Unicamp sei lá, disse isso. Então, é verdade. Então, se o cara disser que se você enxugar o gelo com uma toalha ele vai ficar seco, você acredita porque o cara é pós-graduado?

Rodrigo Polesso: Muitos eu acho que sim. Mas é duro. É dureza. É verdade, mas é dureza. Segue a gente no Instagram lá. O Instagram está crescendo. Todo mundo usa Instagram, porque não seguir a gente também lá para você aliar esse estilo de vida. Dr. Souto é @jcsouto. Eu sou @rodrigopolesso. Por sinal, postei ontem uma foto das fontes proteicas da minha semana. Tinha coraçãozinho, fígado, dois tipos de fígado, fígado de frango, salmão, truta, carne moída, porco, um monte de coisa lá na foto. Vocês podem ir lá dar uma comentada. Perguntei inclusive qual é sua favorita. É @rodrigopolesso e @jcsouto. Está chegando no final desse podcast. Está ficando longo para caramba já. Mas eu lembrei dessa coisa e acho que vou falar. Alguém viu a foto e falou, “Rodrigo, essa foto dessas proteínas que vocês comem numa semana alimentaria uma família aqui no Brasil por um mês.” Daí eu fiquei pensando… Sim. Proteínas de qualidade realmente não são os alimentos mais baratos. Mas acho que na vida tudo é questão de prioridade. Se você decide priorizar a sua alimentação, eu tenho certeza que você consegue cortar um custo aqui e ali, talvez um telefone celular, um plano mais baixo de banda larga ou talvez uma menor mensalidade daquele carrão que você comprou que você não conseguia pagar… Alguma coisa, menos roupa, um cafezinho. Você consegue atender o que você prioriza. E infelizmente, desculpas são gratuitas. Infelizmente desculpas são gratuitas. Então, todo mundo usa. Acho que é bom pensar nessa questão também antes… Salvo às pessoas que realmente estão em dificuldade. Obviamente que existem essas pessoas. Mas talvez a maioria delas acaba usando essas desculpas para justificarem o fato de elas não fazerem esforço para tentar se aproximar um pouco mais dessa forma de se alimentar.

Dr. Souto: E, Rodrigo, como a gente já falou várias vezes aqui, você também está colocando um negócio que é para ser bonito, para estimular as pessoas. Olha, tem coisa gostosa para comer! Mas se a pessoa que está nos ouvindo está numa situação mais complicada do ponto de vista financeiro, daqui a pouco está desempregado, uma coisa assim… Não precisa comer um salmão selvagem. Pega uma carne de agulha, pega uma carne de segunda, pega uma carne com osso, uma carne mais dura, faz uma carne de panela, bota numa panela de pressão, faz uma carne assada. Ovo é barato para caramba. É proteína de altíssimo valor biológico. Não precisa comer peito de frango. Pode comer moela.

Rodrigo Polesso: É até preferível que não coma, na verdade.

Dr. Souto: Veja bem… Não é querer desfazer a situação financeira das pessoas, mas eu tenho que concordar com você, Rodrigo. Existem formas caras e formas baratas. Formas sofisticadas e formas simples da gente fazer low carb. Cada um vai adaptar à sua realidade. Agora, insulina também custa caro para caramba. E quando você precisar da insulina, talvez você esteja tão doente, cego, ou fazendo hemodiálise que trabalhar seja difícil. Aí vai ter que estar vivendo do INSS, do auxílio doença, aí comer bem vai custar mais caro. Então, poxa vida, a gente pode evitar esse tipo de desfecho, doença, gasto com remédio, apostando um pouco mais na comida.

Rodrigo Polesso: Realmente a coisa pode ser feia mesmo. Tem muita opção barata. Carne moída é muito barato. Porco. Até como eu falei, coraçãozinho se você gostar… Fígado de gado ou de frango… Enfim… Tem opção bem barata de carne, a gente sabe que tem. A gente faz o melhor que a gente pode. Não precisa ser perfeito. Faz o melhor que você pode na situação atual que você vai estar bem posicionado. Maravilha. Esse podcast ficou longo. Espero que você tenha curtido, que ficou até o final. E é isso. A gente se vê no próximo episódio. Lembre-se, se você quiser fazer parte da Tribo Forte, e ver as coleções de receitas, das gravações dos eventos ao vivo anteriores, você pode entrar em TriboForte.com.br e fazer parte. E para o evento ao vivo, TriboForte.com.br/AoVivo. Tudo bem? Maravilha. Dr. Souto, obrigado pelo papo nosso de hoje. A gente se vê na próxima semana. Até lá.

Dr. Souto: Obrigado, Rodrigo. Um abraço aos ouvintes e até a próxima.