TRIBO FORTE #161 – MÍDIA, CARBOIDRATOS, VEGETARIANISMO EM CRIANÇAS

Bem vindo(a) hoje a mais um episódio do podcast oficial da Tribo Forte!

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Neste podcast:

  • Falaremos sobre vegetarianismo;
  • A luta contra a mídia continua;
  • Carboidratos;
  • Doença cardíaca;

Escute e passe adiante!!

Saúde é importante!

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Caso de Sucesso do Dia

Referências

Texto de Aseem Malhotra

Vegetarianismo e Veganismo em crianças

Ensaio Clínico Randomizado Sobre Doença Cardíaca Coronária e Carboidrato na Dieta

Transcrição do Episódio

Rodrigo Polesso: Olá, olá! Bom dia para você. Bem-vindo ao episódio número 161 do seu podcast semanal da Tribo Forte, a sua dose semanal de saúde e estilo de vida, tudo baseado na melhor evidência que a gente tem disponível para te ajudar a chegar na melhor forma e manter a melhor saúde possível. Hoje a gente vai comentar… Vamos falar sobre vegetarianismo em crianças, luta contra a mídia (para variar) e também consumo de carboidratos e doenças cardíacas. Um show! Está cheio de coisas para a gente comentar hoje aqui. E vale uma lembrança, eu acabei de olhar na Amazon que o livro Este Não é Mais um Livro de Dieta está como o livro na versão Kindle mais vendido da categoria saúde e dieta lá. O pessoal que mora fora do Brasil, ou que mora no Brasil e não quer a versão física, quer a versão eletrônica, você pode ir na Amazon e pegar a versão eletrônica. Obrigado a todos que estão adquirindo também a versão eletrônica, deixando a gente lá em primeiro lugar dos mais vendidos na categoria na versão Kindle. De novo, o nome do livro é Este Não é Mais um Livro de Dieta. Eu acho que pode ser um bom influenciador positivo para quem precisa da liberdade alimentar e, enfim, quebrar esses mitos todos. Maravilha! Dr. Souto, bem-vindo a este episódio. Como está por aí?

Dr. Souto: Bom dia, Rodrigo. Bom dia aos ouvintes. Parabéns pela colocação do livro na Amazon! Acho que isso significa que nós estamos ajudando aos poucos a mudar o mundo, não é?

Rodrigo Polesso: Com certeza! Acho que cada um de nós fazendo a sua parte, a gente consegue ter um efeito sinérgico bem legal. E a gente precisa muito disso, como vocês vão ver também no episódio de hoje. Começando já com a primeira coisa: como todos nós sabemos, é uma grande infelicidade quando a mídia usa seu poder para construir opiniões na população baseada em argumentos vindos de somente um dos lados. Em outubro do ano passado o jornal The Guardian na Inglaterra publicou um artigo falando mal do colesterol, falando mal de quem diz que o colesterol não importa, com a manchete: “Besteiras sobre manteiga, a aparição dos negadores do colesterol”. Onde, em particular, eles fazem um esforço para atacar a credibilidade de alguns profissionais, como o dr. Aseem Malhotra, cardiologista inglês, que já comentamos aqui várias vezes. O dr. Malhotra escreveu uma carta bastante longa à chefia de edição do jornal pedindo a retratação da matéria e argumentando brilhantemente porque a matéria não tem fundo em verdades, mas sim em interesses (principalmente farmacêuticos). Várias pessoas de alto cacife apoiaram o pedido dele de retratação da matéria, mas até agora a matéria continua no ar, mesmo pessoas como até o chefe editorial do British Medical Journal concordando com ele. Só que a matéria continua lá. Claro que a matéria fala também de estatinas. Quando fala de colesterol tem que falar de estatina. E pior, alega que muito mais gente é salva pelas estatinas do que tem efeitos colaterais. Quando, ao mesmo tempo, a gente tem boas evidências e já falamos disso várias vezes aqui, que uma enorme quantidade de pessoas tem… Quer dizer, muito mais pessoas tem efeito colateral. Alega-se mais de 29%, pelo menos, das pessoas que tem efeitos colaterais. Em contrapartida, quase ninguém tem benefícios de fato. Enfim, a indústria das estatinas não vai ficar sentada esperando passivamente enquanto as verdades, digamos assim, sobre o colesterol e a eficácia dessas drogas é destruída pouco a pouco. Isso foi um exemplo, dr. Souto, da resistência de se tirar uma matéria dessa do jornal, sendo que foi escrita por uma mulher lá que tem contato com um professor de Oxford que obviamente sempre se demonstrou favorável ao uso das estatinas e tal, e acabou tentando destruir a reputação.

Dr. Souto: Professor Rory Collins.

Rodrigo Polesso: Esse cara!

Dr. Souto: Esse cara!

Rodrigo Polesso: Então, como é que a gente se protege desse tipo de coisa?

Dr. Souto: Pois é… O Rory Collins, esse é um sujeito interessante. Ele, como você disse, é professor de Oxford. Ele é o chefe de um grupo que faz os estudos e as metanálises sobre colesterol, reunindo resultados dos ensaios clínicos produzidos pela indústria. O Rory Collins e o seu grupo são os únicos que têm acesso aos dados crus desses estudos.

Rodrigo Polesso: Conveniente!

Dr. Souto: É, então! Várias vezes instituições de alta respeitabilidade, como a Cochrane, que é uma Fundação sem fins lucrativos, que faz revisões sistemáticas e metanálises, já tentou colocar as mãos nos dados originais, nos chamados dados crus, nas tabelas originais desses estudos para fazer a sua própria análise. No entanto, a indústria nega, dizendo que aquilo ali é informação proprietária. Quer dizer, que existe ali segredo industrial, digamos. E acontece que o Rory Collins e o seu grupo assinaram um contrato de confidencialidade. De modo que eles podem ter acesso aos dados originais, mas eles só podem publicar aquilo que a indústria quer, porque eles assinaram um contrato de confidencialidade.

Rodrigo Polesso: Mas não de veracidade, né?

Dr. Souto: Não necessariamente! E já os pesquisadores independentes querem acesso aos dados, mas se recusam, obviamente, a assinar um contrato de confidencialidade. Porque seria mais ou menos como eu dizer assim: Rodrigo, eu vou te dizer toda a verdade sobre determinado assunto, mas eu quero que você assine aqui esse papel dizendo que você vai saber dessa verdade, mas não vai contar para ninguém.

Rodrigo Polesso: Pois é.

Dr. Souto: Então o que adianta? Eu vou te falar, mas eu legalmente ao mesmo tempo estou te proibindo de contar qualquer coisa que para mim não seja interessante.

Rodrigo Polesso: Conveniente.

Dr. Souto: Bom, o Rory Collins é um sujeito que alega que o número de pessoas que tem dano muscular, que sofrem miosite pelo uso das estatinas, dores musculares e tal, é um em cada 10 mil pessoas.

Rodrigo Polesso: Um absurdo isso!

Dr. Souto: Por que eu estou rindo? Porque eu atendo bastante gente todas as semanas, mas certamente são muitos anos na vida para atender 10 mil pacientes. Então, eu devo ser um ponto fora da curva.

Rodrigo Polesso: Sortudo!

Dr. Souto: Porque o número de pessoas que eu vejo que não conseguem usar a medicação porque está com dores musculares às vezes incapacitantes… Gente que diz assim: “Olha, você está me dizendo para fazer mais atividade física, para tentar usar um pouco mais as escadas ao invés do elevador, mas eu tenho dores nas pernas que eu tenho que usar o elevador.” E aí a pessoas suspende a estatina e aquilo passa. Então, 1 para 10 mil é uma piada. Bom, aí um dos motivos que o Rory Collins se bate tanto com o Aseem Malhotra, é que o Malhotra descobriu um negócio e publicou isso, que o dr. Rory Collins é um dos detentores de uma patente de um kit que é utilizado. Custa 99 dólares, não é barato, e nesse kit você pode testar qual é o seu risco de ter intolerância à estatinas e ter dor muscular nas estatinas. Este kit, como eu disse, é vendido a 99 dólares para cada teste e na propaganda do kit diz que… Eu não me lembro exatamente o valor, mas eu acho que é 36…

Rodrigo Polesso: 29.

Dr. Souto: É 29. Então, em torno de 30% das pessoas vão sofrer esse efeito colateral. Então, vamos ver se eu esclareço melhor para quem está nos ouvindo. A mesma pessoa que diz que apenas uma em cada 10 mil pessoas tem esse problema é sócio da patente de um kit que é vendido para ver se as pessoas estão sujeitas a ter esse problema ou não. E na propaganda da empresa que vende o kit, consta que isso é importante, comprar esse kit é importante para você, porque até um terço das pessoas vão ter esse sintoma com as estatinas.

Rodrigo Polesso: Olha a contradição!

Dr. Souto: Então, quando é para vender o negócio ele diz a verdade, né? Então, obviamente esse um terço está muito mais próximo da realidade. Quando você falou no início ali sobre alegar que o benefício é maior que o risco… Para tudo na vida isso depende da magnitude do benefício e da magnitude do risco. O que eu quero dizer com isso: cinto de segurança salva vidas? Sim. Cinto de segurança tem riscos? Sim. Eu me lembro que quando foi lançada a lei há muitos anos atrás que obrigou o uso do cinto de segurança no Brasil, algumas pessoas eram contra. Diziam que tinha relatos de pessoas que caíram com o carro dentro da água e morreram afogadas porque não conseguiram tirar o cinto. No entanto, os estudos mostram claramente que o número de vidas salvas é maior do que o risco. Mas suponhamos que eu estivesse falando sobre o risco e o benefício de usar cinto de segurança com o carro parado. O carro não está andando, ele está parado. Bom, provavelmente o cinto de segurança, se agrega algum risco eu não sei, mas benefício não vai agregar no carro parado. Porque o risco de sofrer um acidente com o carro parado é muito pequeno para que o cinto de segurança possa atuar sobre ele. Então eu vou fazer a analogia aqui: se nós estivéssemos falando de pessoas com alto risco cardiovascular, quem já colocou um stent, quem já tem uma ponte de safena, quem já enfartou uma vez, essas pessoas têm um risco cardiovascular muito elevado e para essas parece haver um benefício do uso da estatina que realmente é superior aos riscos. Agora, a grande discussão, e é sobre isso que o Malhotra escreve e é isso que a jornalista essa caiu de pau em cima, é sobre as pessoas de baixo risco. Aquelas pessoas que não têm outros fatores de risco, que bota na calculadora de risco cardiovascular e elas tem lá um risco cardiovascular baixo, mas só porque o seu colesterol total passou de 200 elas estão usando medicação. E isso corresponde a maioria das pessoas que usam estatinas no Reino Unido e, provavelmente, no Brasil também. O Malhotra fala contra isso. Ele deixa bem claro, ele diz assim: “Eu já prescrevi e prescrevo estatina para muitas pessoas…” Ele é cardiologista. Ele diz assim: “Eu não sou contra a medicação, eu sou contra o uso indevido em pessoas de baixo risco e eu sou contra a falta de diálogo, no sentido de expor de uma forma que o paciente possa entender a magnitude dos riscos e benefícios para que haja uma decisão compartilhada.” É isso aí. Então você explica lá: olha, na sua situação, você tem baixo risco, você nunca teve nenhum evento, seus outros marcadores de risco são todos bons, precisaríamos tratar, digamos, 200 pessoas na sua situação por 5 ou 10 anos para beneficiar uma. E você está se expondo aos riscos tal e tal. Você acha interessante ainda assim usar? Se a pessoa diz que sim, tudo bem. Mas ela agora está sabendo que a magnitude do benefício é pequena e que os riscos não são irrisórios.

Rodrigo Polesso: Perfeito.

Dr. Souto: É isso. É só isso que o Malhotra defende. E houve um assassinato de reputação no The Guardian violentíssimo. Não só contra ele, mas contra a Zoe Harcombe, que é uma pesquisadora sensacional que a gente volta e meia cita aqui, e mais alguns. E citando o Rory Collins, que é um sujeito com altíssimos conflitos de interesse. Essa patente da qual ele é um dos proprietários, essa patente que alega o contrário daquilo que ele defende, deu para o departamento dele em Oxford mais de 350 mil libras. Então, eu não sei você, Rodrigo, mas eu consideraria isso um certo conflito de interesses.

Rodrigo Polesso: Pois é! E o mais incrível é como ainda está de pé a bendita da matéria, por mais que tenham tentado tirar de todas as formas. Mas é isso, fica de novo para o pessoal conhecer, saber que essas coisas são fáceis de ser construídas, esse tipo de argumento na mídia de uma forma unilateral. É complicado, o conhecimento, a proteção fica a cargo de cada pessoa. Conhecimento vai ser um escudo contra esse tipo de coisa. Por isso que a gente tenta compartilhar isso tudo com você. Porque você vai encontrar coisas do gênero e vai poder se proteger questionando de forma correta. É o ceticismo inteligente. Olha só, a gente falou… Vegetarianismo e veganismo em crianças é uma boa ideia? A Academia de Nutrição e Dietética, Academy of Nutrition and Dietetics dos Estados Unidos diz claramente que sim, dizendo que a carne e peixes podem ser substituídos sem problema nenhum em crianças por soja e outras leguminosas, ovos e leite. Agora, uma revisão publicada em 2018, conduzida na Universidade de Oxford também (ironicamente) na Inglaterra, analisou as bases para tal alegação tão categórica. Analisando as evidências disponíveis que a gente tem sobre o vegetarianismo/veganismo e crianças, bem como absorção de vitaminas e minerais que são importantes nessa fase. A conclusão dessa revisão foi a seguinte: “Esse estudo argumenta que a Academia de Nutrição e Dietética ignora ou dá pouca importância às evidências diretas e indiretas de que vegetarianismo pode ser associado com sérios riscos para o desenvolvimento físico e cerebral de fetos e crianças. Uma suplementação regular com ferro, zinco e B12 não irá mitigar esses riscos. Consequentemente nós não podemos dizer com certeza que o vegetarianismo ou veganismo é seguro em crianças.” Esse é o estado da evidência atual, dr. Souto, um assunto ultra mega sério, vegetarianismo e veganismo em crianças, ainda mais com essa onda toda ridícula que a gente está vendo das escolas em Nova Iorque colocando a segunda-feira sem carne, sendo que não tem base para isso e as evidências que a gente tem apontam na direção oposta. Salve-se quem puder, não é?

Dr. Souto: Esse é um assunto muito sério, muito grave e mostra o grau de ideologização do debate.

Rodrigo Polesso: Exato!

Dr. Souto: Porque a Academia, essa mesma de Nutrição e Dietética americana, fica se debatendo sobre pelo em casca de ovo… Sobre pequenos detalhes de um estudo observacional que mostrou que o ovo está associado com um risco relativo minúsculo de doença cardiovascular, enquanto tem outros estudos que mostram o contrário. E para isso eles conseguem se manifestar e dizer: “Olha, vocês devem cuidar o ovo.” Agora, quando tem um grande nível de incerteza e evidências no sentido de que algo realmente possa fazer mal, mas mal mesmo, quando não é esse debatezinho assim: pode ser que sim, pode ser que não. O que tem de relatos de casos com crianças com retardos de desenvolvimento. Aliás, vocês não precisam ir muito longe, botem no Google e vocês vão encontrar reportagens de pais  especialmente na Europa, que são presos e as crianças são retiradas dos pais e dadas para adoção, colocadas em orfanatos, porque as crianças estavam quase morrendo porque os pais veganos estavam deixando as crianças extremamente doentes e desnutridas. Quem nunca viu isso em algum jornal ou telejornal, bota no Google para ver. Volta e meia aparece, é um tema recorrente. Então, não há dúvida de que é possível prejudicar e prejudicar muito, inclusive ao nível da morte, crianças se nós não tivermos um extremo cuidado. E o que eles estão dizendo nesse artigo é que com esse extremo cuidado ok, a criança não vai morrer e tal, mas é questionável se não vai prejudicar no longo prazo o desenvolvimento.

Rodrigo Polesso: Exato! Em longo prazo!

Dr. Souto: Veja bem, existe um princípio em medicina, se usa o termo latino que é primum non nocere, antes de mais nada não prejudicar. Então, antes de eu verificar se algo que eu vou fazer ou não, pode ajudar, o primeiro passo se eu vou fazer alguma coisa é que não seja ruim, que não prejudique. Então, em saúde pública eu diria que isso é muito mais importante. Porque se eu tenho na minha frente uma pessoa que está doente… Vamos sair um pouco da nutrição. Vamos dizer que eu tenho uma pessoa com determinado câncer. E aí eu proponho que ela vá fazer uma cirurgia para retirar aquele determinado câncer. Essa cirurgia pode prejudicar a pessoa, pode ter consequências. Cirurgias têm riscos. Ou daqui a pouco a pessoa vai ficar com uma sequela na sua qualidade de vida em decorrência daquela cirurgia. E eu vou pesando isso contra um possível benefício de ter uma chance de curar a doença e da pessoa não morrer daquele tumor. Essa é uma situação, a pessoa já está doente. Agora imagina que está na minha frente uma criança saudável. Ela não tem nada, ela não é doente. Se eu vou fazer uma intervenção nessa criança, seja lá qual for, eu tenho que ter… o meu critério para definir se eu posso ou não fazer alguma coisa tem que ser muito mais alto, tem que ser um critério muito mais severo. Se tiver qualquer chance de estar prejudicando, então não faça. Que é a situação que nós estamos falando aqui. Dizer que há controvérsias sobre se vegetarianismo ou veganismo é problemático para crianças em crescimento é falar uma linguagem… Controversa não, eu digo que há…

Rodrigo Polesso: É ser conservador.

Dr. Souto: É ser conservador. Existe um monte de evidências que esse artigo que nós estamos falando sumariza no sentido de que sim, é bastante prejudicial em muitas situações. E aí, a gente pegar e colocar isso de forma populacional… O que nós estamos querendo dizer aqui? Por exemplo a tal da segunda sem carne. Eu acho que ficar uma vez por semana sem comer carne vai impedir as crianças de crescer e se desenvolver? Não, porque graças à Deus nos outros 6 dias elas vão comer.

Rodrigo Polesso: Espero que sim.

Dr. Souto: Agora, o problema é o seguinte, nesse dia, nessa segunda-feira… Porque não vamos ser tolinhos aqui, pessoal. Não vamos ser ingênuos. Qual é o objetivo disso? O objetivo é contaminar os outros 6 dias. O objetivo é naquele dia em sala de aula discutir o seguinte: por que nós estamos fazendo isso hoje? Para lembrar aquilo que nós deveríamos estar fazendo todos os dias. Se nós realmente pensássemos na saúde do planeta, pensássemos no bem-estar animal, ao invés de ser a segunda, seria a semana inteira. Ou seja, isso é uma ferramenta ideológica para mexer com a cabeça das crianças. E aí as crianças vão chegar em casa e dizer: “Olha só, pai e mãe, eu aprendi hoje que essa carne que a gente come faz mal para nós. Vai aumentar o nosso risco de morrer do coração e é um desastre para o planeta. Vai fazer com que o oceano suba três metros e invada a casa na praia.” E aí daqui a pouco essas crianças vão estar comendo macarrão todos os dias por causa desse negócio. Então, sim, é uma coisa irresponsável. É um grande experimento não controlado. Porque se você, ouvinte, resolve entrar em uma experiência. Digamos que a Universidade Federal aí do seu estado resolva fazer um ensaio clínico randomizado sobre algum assunto de nutrição, e api você recebe uma cartinha dizendo: “Você gostaria de participar do nosso estudo? Se você concordar, você será sorteado para um grupo que vai fazer uma dieta x ou para o grupo que vai fazer uma dieta y.” Aí você assina um termo de consentimento, no qual você sabe que podem haver riscos. Pode ser que você seja sorteado para um grupo de dieta que piore a sua saúde. Mas você está querendo contribuir para a ciência. Você é um adulto, você é maior de 18 anos e assinou que mesmo assim você quer participar. As crianças das escolas não têm essa opção. Ninguém está perguntando se elas concordam ou não com essa segunda sem carne. “Ah, mas se ela quiser ela pode trazer na lancheira.” E o bullying como vai ser?

Rodrigo Polesso: Exato.

Dr. Souto: Mais do que isso, ela não vai querer porque vai ouvir as figuras de autoridade, os professores e tal, usando aquelas segundas-feiras para dizer que isso é uma coisa ruim. Então, ela vai entender que se o professor de ciências disse aquilo é porque deve ser verdade. Os pais dessas crianças vão achar que deve ser verdade e nós estamos conduzindo um grande experimento em nível populacional, mas nós não estamos distribuindo termo de consentimento informado. Porque outra, nos termos de consentimento onde a gente coloca os riscos e os benefícios, tem um parágrafo que diz: você tem o direito de não participar, de se recusar a participar e você tem o direito de sair da pesquisa a qualquer momento. Isso foi definido em um protocolo, se não me engano de Helsinque, na Finlândia, décadas atrás, que estabeleceu os critérios de ética em pesquisa. Por que? Para que nunca mais houvessem coisas como as pesquisas com prisioneiros, por exemplo. O prisioneiro não tinha opção. O pessoal simplesmente randomizava: da cela 1 à 10 nós vamos fazer tal experiência, da cela 11 à 20 vai ser outra. E ninguém perguntava para o prisioneiro se ele queria participar ou não, afinal, ele era preso. Os nazistas também não perguntaram lá para os seus prisioneiros se eles queriam participar de experimentos ou não. Então, em virtude dessas coisas, o famoso experimento de tuskegee, noalabama, no qual pacientes negros, naquele estado que era talvez o mais racista do sul dos Estados Unidos, foram submetidos a serem tratados ou não com penicilina para sífilis, para ver o que acontecia quando não tratava. Tem um filme sobre isso. Me esqueci agora o nome do filme, depois, se a gente lembrar, a gente bota nas notas do podcast. Então, para acabar com esse tipo de coisa existe a ética em pesquisa. E eu pergunto, Rodrigo Polesso, cadê a ética nesse grande experimento não controlado com as crianças?

Rodrigo Polesso: É, não tem ética. E falando em falta de opção, é muito pior ainda, vai muito além a loucura dessa ideologia, que nem eu postei no Instagram na semana passada, o pessoal está levando isso até para os nossos queridos animais de estimação. Diga-se gato e cachorro. Criando gato vegano, cachorro vegano. Animais que são completamente carnívoros. Então, a ideologia está indo muito além. E eu estava vendo no YouTube esses dias, a gente já comentou sobre esse assunto todo bem recentemente, mas os veganos, principalmente veganos, que é o pior caso de todos, é a pior estratégia alimentar já criada na história da humanidade, eles estão começando a cair como fruta madura. Quem está sendo vegano a mais tempo. Porque no começo pode se sentir bem, mas com o tempo você começa a sentir todos os problemas que parecem ser bem comuns entre as pessoas que fazem isso. Então, eles acabam se convertendo ou acabam não se convertendo publicamente, mas acabam comendo um ovo aqui, um peixe ali para poder se curar. Eu estava vendo uma dupla de veganos comentando sobre isso, que cada dia eles estão vendo veganos voltando a comer animais e eles não entendem porquê. E dizendo assim: se você é vegano e está voltando a comer coisa animal é porque você valoriza a sua saúde mais do que você valoriza os animais. Eu falei: meu Deus! Eles estão começando a assumir já. Estão começando a assumir que o veganismo não é a melhor estratégia para a sua saúde, mas eles estão elevando a preocupação deles com os animais. Novidade, nós também somos animais, seus cabeças ocas. É tudo animal. A sobrevivência tem que ser a prioridade número um. Se a gente amar os animais mais do que nós mesmos, nós vamos nos eliminar como espécie, nos colocando abaixo do princípio natural da evolução. É engraçado ver, dr. Souto, que eles mesmos estão começando a pensar que não são veganos porque é mais saudável, é porque gostam dos animais mais do que gostam de si mesmos. Entendeu, que nível de loucura?

Dr. Souto: É realmente incrível. Eu li esses dias um artigo muito interessante, no qual se comentava da arrogância que precisa ter para imaginar que o ser humano é capaz de interferir num ecossistema complexo e controlar as consequências dessa intervenção. Por que eu estou comentando isso? Porque dentro dessa alucinação do pensamento vegano existem ideias do tipo: nós temos que acabar não apenas com o sofrimento animal imposto pelo ser humano, nós temos que acabar com todo sofrimento animal. Bom, isso aí significa o que? Que nós vamos ter que evitar que haja a predação dos herbívoros pelos carnívoros.

Rodrigo Polesso: Não só isso, até as madrophages dentro do nosso corpo têm que parar de comer. Vai ser difícil.

Dr. Souto: Aí, qual é o problema? Se você pegar e impedir que o leão coma a zebra ou as gazelas, começa a haver uma proliferação excessiva desses herbívoros. Porque o controle populacional deles é feito por predação. E ao mesmo tempo, bom, aí você vai condenar esses carnívoros a morrerem de fome? Então, o pessoal chega a um extremo de imaginar um futuro no qual os carnívoros vão ser alimentados com carne de laboratório e os herbívoros vão receber anticoncepção.

Rodrigo Polesso: Meu Deus do céu.

Dr. Souto: Vocês entendem que assim, levar às últimas consequências esse tipo de pensamento nos leva para um mundo de fantasia num nível que realmente… E as mesmas pessoas têm realmente a fantasia de que nenhum animal morre para fazer o seu tofu.

Rodrigo Polesso: Exato! Exatamente!

Dr. Souto: Então, assim, deixa eu até lembrar porque a gente está tocando tanto nesse assunto. Porque toda semana sai uma notícia. Toda vez sai uma notícia. E agora, por exemplo, nós temos editores em grandes organizações jornalísticas que claramente adotaram essa agenda. No podcast passado nós falamos do negócio do ovo. Ainda ontem à noite um telejornal, o mesmo telejornal, colocou novamente uma reportagem sobre o mesmo estudo. Mas dessa vez, ao invés de falar do ovo, eles falavam especificamente do colesterol na dieta, porque aquele estudo tinha as duas abordagens. O estudo falava…

Rodrigo Polesso: Sim, já vou revisar isso aí para falar do próximo.

Dr. Souto: Sobre o ovo e sobre o colesterol. E foi repetido na mídia de novo. Quer dizer, para que fazer duas reportagens distintas, ocupando vários minutos nobres do telejornal sobre o mesmo assunto, baseado em um estudo de péssima qualidade? Porque existe essa coisa… objetivo, de todas as formas nós temos que avançar a agenda vegana. Só não vê isso quem não quer. Fala, Rodrigo.

Rodrigo Polesso: Exatamente. A gente podia ficar falando aqui por horas sobre esse tema, um dos meus favoritos, na verdade. Mas vamos lá, deixa eu falar o caso de sucesso de hoje aqui de uma pessoa que não está seguindo a estratégia vegetariana e não está seguindo uma estratégia vegana, por isso está conseguindo resultado. Está seguindo a alimentação forte, que com certeza não permite veganismo. Quem mandou para a gente foi o Harisson Lucas. Ele falou: “Finalizei hoje o desafio de 30 dias do Código Emagrecer de Vez. Estou muito feliz com os resultados. Peso -11 kg, cintura -11 cm, perna -12 cm de perna.” Menos 12 cm de perna? Caramba! E tudo isso em 30 dias, ainda na primeira fase do programa Código Emagrecer de Vez, que é basicamente elevando a densidade nutricional da sua dieta, claro, baseando também a alimentação nos alimentos mais nutritivos do mundo, que são coincidentemente os animais. Se você quer participar também, se você quer emagrecer com prioridade, essa é a melhor tacada, baseada em evidência. Entre aí em CódigoEmagrecerDeVez.com.br e veja a apresentação lá. Você acabou de falar dos ovos, né? Então vamos recapitular isso aí. No podcast passado a gente falou do bafafá que explodiu na mídia dizendo que o consumo de ovos e colesterol está associado a maior incidência de doença cardíaca. Isso saiu em todo lugar. E de novo, como o dr. Souto falou agora. O eco desse tipo de porcaria. Nós falamos sobre o estudo que, para começar, é um estudo associativo, ou seja, jamais provando causa e efeito. Mas, além disso, a associação mostrada por ele é ínfima e bem provavelmente simplesmente uma margem de erro ali. Nós falamos dos critérios de Bradford Hill, de significância da força da associação nesse tipo de estudo. Ele dita se a força de associação encontrada neste tipo de estudo for menor que 2, não deve nem ser considerado. A força da associação no estudo dos ovos, pasmem, foi de 1,17 e 1,18. Em termos absolutos é tipo 3, alguma coisa por cento. Ou seja, um estudo desse porte é obviamente um erro, uma margem de erro fácil. Em outras palavras, o estudo é absolutamente inútil em mostrar qualquer associação entre ovos ou colesterol e mortalidade ou doença cardíaca. Agora…

Dr. Souto: E mais um detalhe: tem vários outros estudos sobre o mesmo assunto, sobre ovos e doença cardíaca, que encontraram a correlação contrária, mostrando que o consumo de ovos era protetor. E tem metanálise disso. Porque esse também é um dos critérios de Bradford Hill, nós vamos falar depois, que é a consistência dos achados de vários estudos.

Rodrigo Polesso: Isso. E se você tem um nível maior de evidência, um nível inferior acaba se tornando meio inútil. Então, porque a atenção toda vem do nível inferior? É sempre bom reciclar medo no pessoal, eu acho. Isso é ridículo, como a gente estava falando, enquanto já existem ensaios clínicos randomizados, metanálises e outras coisas mostrando como uma dieta rica em animais, por exemplo ovo e colesterol, podem ser benéficas. No entanto, se a gente fosse jogar o mesmo jogo que a mídia jogou com esse estudo, nós traríamos à tona a seguinte revisão recém publicada agora no final de fevereiro. Essa é uma metanálise de 12 estudos associativos, prospectivos de coorte, epidemiológico, que coletaram dados sobre o consumo de carboidratos e também carga glicêmica e índice glicêmico desses carboidratos, afim de achar uma associação com doença cardíaca. E quer saber quais foram os resultados? Bom, lembre-se para causar um alvoroço gigantesco na mídia bastou uma associação de 1,17 e 1,18 no estudo dos ovos. Os resultados dessa metanálise mostraram que uma dieta com alta carga glicêmica tem uma associação de 5,5 com doença cardíaca. Uma dieta com consumo de carboidratos de alto índice glicêmico tem uma associação de 4,71 com doença cardíaca. E as conclusões do estudo são as seguintes, essas pessoas conhecem os critérios de Bradford Hill que a gente falou, eles falam o seguinte: “Associações fortes e provavelmente causais de consumo de carboidratos e alta carga glicêmica e índice glicêmico existem entre as populações estudadas. Esses resultados suportam a consideração desses marcadores de qualidade dos carboidratos nas diretrizes alimentares para a população geral.” Olha só, aí está falando, dr. Souto, em 5,5 em comparação a 1,17. Ainda é um estudo observacional, ainda é um estudo que não vai provar causa e efeito. Mas, segundo Bradford Hill, uma associação tão forte assim como acontece no cigarro também, tende a mostrar que pode existir uma relação causal. E, na boa, quantos ensaios clínicos randomizados a gente tem mostrando que sim, quando você abaixa, corrige esse problema da carga glicêmica, a gente tende a melhorar. Agora, se a gente fosse jogar o mesmo jogo, isso estaria em todos os canais de televisão hoje. Por que não está?

Dr. Souto: Sim, porque se um estudo com 17% de risco relativo está em toda mídia, por que um de 440… 450% de risco relativo não está? Que é o caso aqui.

Rodrigo Polesso: Sim, porque não é polêmico.

Dr. Souto: Então é porque um vai de acordo com o espírito do tempo. Não é teoria de conspiração, pessoal. Existe uma agenda. E a agenda é: tudo o que favorecer a ideia de que tudo tem que ser plant based, só baseado em plantas e tal será repercutido loucamente pela imprensa. Tudo o que falar mal de uma abordagem low carb, será repercutido pela imprensa. Mas quando surge um estudo como esse, que fala em 5,5 de risco relativo para carboidratos de alta carga glicêmica, bem, grilos… som de grilos. Eu não ouço ninguém falar. Não está na imprensa, não está na Veja, não está no telejornal.

Rodrigo Polesso: Vai contra a onda, contra a agenda.

Dr. Souto: Claro. Os critérios de Bradford Hill… Bradford Hill foi um grande estatístico, e não é coisa nova, é lá nos anos 60. O Bradford Hill estava tentando se bater com essa questão de: puxa vida, a gente sabe que associação e causa e efeito não é a mesma coisa. Então como é que a gente pode ter uma ideia se um determinado estudo tem alguma chance razoável de que aquela associação realmente seja causal? Então, ele disse: olha, o primeiro… São 9 critérios, tá? O primeiro é a força da associação. Então, essas associações… essa 17, 18% aí era do colesterol na dieta. Mas aquela do cada meio ovo…

Rodrigo Polesso: Era pior ainda.

Dr. Souto: Inacreditável!

Rodrigo Polesso: 1,06.

Dr. Souto: 1,06%. Pessoal, nós estamos falando em 1,06. Ou 6%. Então, Bradford Hill disse que esse tipo de associação pequena se perde no ruído, isso é bobagem, não dá nem bola para isso aí. A maioria, 90% desses estudos observacionais que se falam na mídia, eles morrem no primeiro critério de Bradford Hill, que é a força da associação. Depois vem a consistência da associação, que era o que eu estava falando antes. Tem um monte de estudos cada um mostrando uma coisa? Bom, então não tem muita consistência. Um estudo mostra que o ovo é bom, outro mostra que o ovo é ruim, isso é um daqueles avisos: provavelmente isso é porque isso é ruído e não é real; não é sinal, é ruído. No caso aqui dos carboidratos…

Rodrigo Polesso: É muito consistente, né?

Dr. Souto: Dos 12 estudos selecionados para fazer essa metanálise, foram os estudos de melhor nível de evidência, a direção das associações de maior carga glicêmica com maior risco cardiovascular foi consistente em 100%. Ou seja, não teve nenhum que mostrou que uma carga glicêmica maior tivesse associado com menor risco cardiovascular. É absolutamente consistente essa associação nos estudos. Para índice glicêmico é 90% e para carboidratos como um todo é 80%. Então, a carga glicêmica, que nós sabemos que é o mais importante mesmo. Para quem não é da área e precisar lembrar, é assim: índice glicêmico é, vamos dizer assim, a velocidade com que a glicose sobe no sangue quando você consome determinada coisa; a carga glicêmica leva em conta o quanto de carboidrato, quantos gramas, a quantidade de carboidrato tem em uma servida típica daquele alimento. Então, por exemplo, cenoura tem um índice glicêmico alto, mas tem uma carga glicêmica baixa. Você precisaria comer 1 kg de cenoura para consumir uma quantidade muito grande de glicose. Então, se você comer lá uns pedacinhos de cenoura em um picadinho de carne, ou uma cenoura ralada numa saladinha, a quantidade de carboidrato é irrelevante. Então a carga glicêmica é a mais importante. E justamente a associação foi muito mais significativa com carga glicêmica do que qualquer outra coisa. O terceiro tópico do Bradford Hill se chama especificidade. Esse aí é um pouco mais difícil da gente definir, mas na realidade também apresentou, foi coerente com a questão deste estudo. Depois tem a temporalidade. Temporalidade é uma dessas coisas óbvias, uma causa sempre vem antes do efeito. Então, se eu pegar um estudo e perguntar para todo mundo… Vamos imaginar, eu pego um levantamento no hospital, quem internou com infarto e pego outros que internaram com outras coisas e pergunto o que comem. Bom, o problema é que eu estou perguntando o que eles comem e estou vendo o que eles têm, mas eu não pude definir que eles comiam antes e tiveram a coisa depois. Então, eles pegaram somente estudos prospectivos nos quais a exposição veio antes do efeito. Gradiente biológico é o número 5. gradiente biológico é uma curva de dose-resposta. Se eu acho que uma coisa causa a outra, vamos dizer, fumar 5 cigarros tem que ser menos ruim do que fumar 20 cigarros. Fumar 40 cigarros tem que ser pior do que fumar 20. Isso é um dos critérios para causalidade, uma curva dose-resposta. E eles acharam a curva dose-resposta, está bonita, exposta em gráficos aqui no estudo. Quanto mais exposição a alimentos de alta carga glicêmica, maior o risco cardiovascular. Plausibilidade biológica é o sexto critério. Existe alguma forma de explicar de forma bioquímica porque a exposição a altos índices glicêmicos causaria isso. E aí eles explicam tudo, a questão da insulina, dos picos de glicose, da hemoglobina glicada. Então, a gente já sabe o mecanismo. Trials experimentais, existem estudos experimentais, ensaios clínicos randomizados que corroboram isso? E a reposta é sim, né, Rodrigo? Existem, como você mesmo citou aqui. Nós temos vários ensaios clínicos randomizados mostrando que estudos de low carb com redução de carga glicêmica mostram benefícios em vários marcadores de risco cardiovascular, em circunferência abdominal, em peso, em hemoglobina glicada, em HDL. Então, não é como se não houvesse evidência experimental nesse sentido. E ainda tem a analogia, que é o oitavo item. Será que existe alguma outra forma da gente avaliar a intervenção que seja análoga? E aí eles dão o exemplo de uma medicação que é a acarbose. A acarbose é um remédio que hoje em dia é pouco usado, inclusive, para diabetes, que bloqueia a digestão dos amidos. Ela é pouco usada, porque às vezes dá muita diarreia e muitos gases. Mas o fato é que é como se fosse, digamos, low carb em um comprimido, que você deixa de absorver parte dos carboidratos que você come. E a acarbose que era para diabetes, mostrou uma redução na incidência de eventos cardiovasculares de 49% e de infarto do miocárdio de 91%. Então, a gente vê um efeito com a acarbose que é maior do que com a estatina. Deixa eu fazer a pausa dramática. Pensem no que eu falei! As estatinas que reduzem o colesterol produzem uma redução no risco cardiovascular que é menor do que a acarbose que reduz a absorção de glicose pelo intestino, que reduz o índice e a carga glicêmica daquilo que você come. Então, essa é a analogia, vamos dizer. Não apenas uma dieta com uma carga glicêmica menor está associada com um risco cardiovascular menor, como em um ensaio clínico randomizado uma medicação que tem o mesmo efeito causa uma redução em eventos cardiovasculares. E aí temos ainda o nono critério de Bradford Hill, que se chama coerência. Que, sinceramente, agora de cabeça eu não me lembro como definir aqui para vocês, mas também foi preenchido. Então, vocês olhem a diferença daqueles estudos lixo, que encontram uma associação diminuta que precisa de uma lupa para enxergar, que tem vários outros estudos que mostram o contrário e que mesmo que fosse verdade, vamos combinar que um risco relativo de 1,06 não é exatamente significativo para a sua decisão pessoal de fazer ou deixar de fazer alguma coisa. E que sequer mencionam o coitado do Bradford Hill. Agora comparemos com esse estudo, que é um estudo que mostra um risco relativo de 5,5, que é extremamente raro em epidemiologia, pessoal. Como o Rodrigo falou aqui, tem o cigarro que dá um risco relativo de 20. E olha, sinceramente eu não me lembro de cabeça agora, vou estudar, quem sabe no podcast próximo agora eu diga alguma coisa que tenha algo próximo de 5,5. 5,5 é um efeito gigante. E os autores ainda se esforçam em ver se a coisa preenche todos os 9 critérios de Bradford Hill. Qual é a mídia que tem para esse estudo?

Rodrigo Polesso: É, nenhuma.

Dr. Souto: Cri… cri… cri… Grilos!

Rodrigo Polesso: Mas agora o pessoal sabe disso e entendeu um pouco mais sobre esses critérios também. Vocês podem agora comentar quando sair essas baboseiras na mídia. Se tiver um monte de feedback negativo eles vão começar a pensar duas vezes antes de publicar essas porcarias. Por isso que a gente tenta capacitar vocês também, para cada um de vocês, ouvintes, serem uma semente de mudança e poderem criticar dessa forma também, não cair mais nessa porcaria e não começar a ecoar nas mídias sociais esses estudos porcaria. Enfim, degustação! Hora da degustação. Na verdade estou gravando esse podcast antes do almoço e vai ser completamente vegetariano. É de segunda mão a minha alimentação hoje. Já coloquei… estão preparadas duas ripas de costela de porco. O porco que faz vegetarianismo, eu como ele, então eu faço um outsource dessa tarefa. Então, estou fazendo duas partes de costelinha de porco, que é uma das coisas mais gostosas da natureza, pessoal. Enrola em um papel alumínio, põe no forno, sal e pimenta só, não precisa nem de coisa especial, enrola no papel alumínio, bota no forno, 230° por uns 40 minutos, depois abre e dá uma douradinha por cima. Meu Deus do céu! É uma coisa que a gente é naturalmente atraído e não tem uma pessoa que eu conheço que por motivos racionais e não ideológicos, que não goste disso. Então isso vai ser o meu almoço de hoje. Dr. Souto, o que você está preparando aí?

Dr. Souto: O que eu estou planejando? Planejando eu não sei, porque quem me segue no Instagram já descobriu que quando eu almoço na minha mãe tem uma cozinheira de mão cheia lá que se chama Sila e a Sila agora tem Instagram. Então, vocês procurem lá que eu já repliquei algumas receitas da Sila. Sempre é uma surpresa o que eu vou comer no almoço. E ontem de noite eu fiz aquele prato bem difícil, que é uns ovos mexidos com uns cubinhos de bacon, colocando em cima uma pimentinha moída e é isso aí.

Rodrigo Polesso: É bom demais! Eu costumo fazer o bacon antes, aí fica aquela gordurinha depois só mistura os ovos. Meu Deus, é bom demais!

Dr. Souto: Já é momento Masterchef? Então, olha só, pessoal. Pega o bacon, bota ali na frigideira, não precisa botar óleo, porque o troço já tem gordura. Mas aí, para não queimar, para não evaporar tudo, bota uma temperatura mais baixa no fogo. Não deixa no fogo alto. Porque aí vai derretendo a gordura aos poucos e forma uma pocinha daquela gordurinha com sabor indescritível. E a gente usa aquilo para fazer os ovos.

Rodrigo Polesso: É. O que mais? Ovos e bacon não é uma coisa tradicional em vários lugares do mundo por acaso. É porque é bom pra caramba. Então é isso! Vamos fechando, dr. Souto.

Dr. Souto: Hein, Rodrigo, deixa eu te contar mais uma. Acho que você já sabe, mas vou contar para os nossos ouvintes. Porque o pessoal vai dizer: Ah, mas bacon é carne processada, tem nitrito, pode causar câncer de intestino. Então, sim, tem estudos observacionais que mostram aumento de 18% do risco de câncer no intestino. Mas esses 18% são de risco absoluto ou relativo?

Rodrigo Polesso: Pois é, acabamos de falar.

Dr. Souto: Risco relativo. Aí, se você vai olhar a incidência de câncer de cólon para cada 100 mil habitantes nas capitais brasileiras, eu tenho esse número na ponta da língua: é 26 em cada 100 mil. Então, a cada ano, de cada 100 mil habitantes nas capitais brasileiras, de cada 100 mil 26 vão ter um novo diagnóstico de câncer colorretal. Bom, se nós aplicarmos um risco relativo de 18% em cima disso nós vamos sair de 26… agora eu não me lembro se era para 33 ou 35. Acho que é 33. Para 33. Então é um aumento de 5 novos casos para cada 100 mil habitantes.

Rodrigo Polesso: Se fosse, claro, verdadeira a associação do bacon…

Dr. Souto: Se fosse verdadeira. Porque se nós fôssemos usar os critérios de Bradford Hill, nos quais nós precisamos a analogia, nós teríamos que ver: existe algum estudo experimental no qual bacon cause câncer de cólon? E aí tem um muito engraçado, que é um estudo em roedores, no qual eles tentaram ver se o bacon causava câncer colorretal nos roedores e os roedores que consumiram bacon foram protegidos contra o câncer colorretal.

Rodrigo Polesso: Ah, que bom!

Dr. Souto: A aí alguém vai me dizer assim: “Ah, pois é, mas são roedores, não se aplica a ser humano.” Ah, é verdade? Então tem um monte de bobagem que se diz em nutrição que também não se aplica a ser humano porque é em roedores. You can’t have both ways. Ou roedores são super importantes e nesse caso você deve comer bacon para prevenir o câncer de intestino. Ou roedores realmente não representam aquilo que acontece no ser humano, e é o que eu tendo a concordar. Bom, nesse caso o que eu tenho a dizer para vocês é o seguinte: se fosse verdade que há uma associação entre bacon e câncer de colorretal, são 5 novos casos para cada 100 mil habitantes e você decide se isso é um motivo para você comer bacon ou não. É que nem aquela história das estatinas. Eu respeito a pessoa que me diz assim: “Eu preciso não comer carnes processadas, porque eu sei que as carnes in natura são mais saudáveis.” E está bem. Se a pessoa acha que 5 em 100 mil é um número que lhe assusta, está bem. Para mim, mesmo que eu admita que haja esse pequeno aumento… eu não estou convencido, sinceramente. Mas, suponhamos que seja verdade. Por… 5% é 0,05 em 100 mil, então é 0,00005. Por 0,00005 de aumento de risco, eu como bacon de vez em quando sem dúvida.

Rodrigo Polesso: Sem dúvida, uma vida de bacon vale mais que isso.

Dr. Souto: E assim o bacon trouxe para vocês mais uma pérola da estatística.

Rodrigo Polesso: É isso aí! Pessoal, siga a gente no Instagram! Siga lá: @rodrigopolesso, @jcsouto ou @ablc.org.br. Faça parte desse círculo positivo. E também faça parte da Tribo Forte. Entre em TriboForte.com.br e veja o que está te esperando lá dentro. Maravilha, pessoal? Obrigado, dr. Souto pelo tempo e a gente se fala no episódio seguinte na semana que vem.Dr. Souto: Obrigado, um abraço e até a próxima!