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No Episódio De Hoje:
Este episódio de hoje é centrado na idéia de que VOCÊ é o único responsável pela sua saúde e porque você estará em maus lençóis caso não entender isso.
Falaremos sobre os seguintes temas:
- A velocidade inacreditavelmente lenta em que as diretrizes alimentares mudam causa danos a saúde de milhões de pessoas diariamente.
- A açúcar ainda está vencendo a guerra nutricional, mas sua verdade “negra” já é conhecida!
- Qual é o tipo de gordura mais perigosa de todas e como ela é sinal de grandes problemas na sua saúde?
- O que comemos na última refeição.
Espero que aproveite este episódio ?
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Referências do Episódio
Anúncio da indústria açucareira em 1956
Artigo do Dr. Jason Fung sobre gordura no fígado
Ensaio clínico randomizado sobre gordura no fígado com dieta de algo IG e baixo.
Artigo no San Francisco Chronicle.
Transcrição do Episódio
Rodrigo Polesso: Bom, como eu sempre falo aqui há muito tempo, o podcast da Tribo Forte é o primeiro em audiência na categoria saúde. Mas olhei hoje que desde o início do mês nós estamos no top 10 em audiência geral no Brasil. Nesse momento, nós somos o sexto podcast mais ouvido do Brasil segundo o iTunes. Obrigado todo mundo pela audiência e por passar a palavra adiante. Você está ouvindo o podcast oficial da Tribo Forte, com o Rodrigo Polesso e o Dr. José Carlos Souto. Assuntos como emagrecimento, saúde, alimentação e estilo de vida são tratados de forma imparcial doa a quem doer. Para se tornar um membro da Tribo Forte, entre em TriboForte.com.br. Bom dia, pessoal. Quem vos fala é o Rodrigo Polesso. Seja muito bem-vindo ao episódio 45 do podcast oficial da Tribo Forte. Hoje falaremos de três assuntos principalmente. O primeiro é a corrida de lesma dos governos em adaptar suas diretrizes e o porquê você tem o poder de acelerar isso. Depois, a indústria do açúcar continua achando que você é trouxa e tirando proveito da falta de posicionamento dos órgãos oficiais. Para finalizar, o tipo mais perigoso de gordura não é aquela que você vê no seu quadril, nos seus braços. E como o fígado, o maior órgão do corpo é talvez também o maior órgão em relação à obesidade e diabetes. Falaremos de um estudo de alta qualidade e super recente que acabou de ser publicado. Boa tarde, Dr. Souto, tudo bem?
Dr. Souto: Boa tarde. Boa tarde, Rodrigo. Boa tarde aos ouvintes. Tudo tranquilo.
Rodrigo Polesso: Tudo aquecido para um episódio cheio de energia?
Dr. Souto: Com certeza. Hoje está recheado.
Rodrigo Polesso: Difícil se manter sóbrio com tanta coisa errada que acontece. Mas vamos lá. Hoje não teremos a pergunta da comunidade, porque teremos bastante assunto. Temos três assuntos principais. O primeiro tópico é a questão da corrida de lesma dos governos. Saiu um artigo anteontem no San Francisco Chronicle, que é um jornal de São Francisco na Califórnia, obviamente. Ele mostra, mais uma vez, que as coisas estão mudando. As diretrizes alimentares gerais divulgadas pelos governos mudam muito lentamente. Somente agora, em 2015, que as diretrizes americanas tiraram o limite sugerido para o consumo de gorduras, depois de muitos anos de evidências científicas mostrando que gorduras não estamos relacionadas a problemas cardíacos – mas, mesmo assim, eles ainda mantiveram a recomendação de manter o consumo de gorduras saturadas baixo para no máximo 10% das calorias diárias. Apesar de termos evidência de alta qualidade de que isso não é necessário. Pasmem… Segundo o artigo, foi somente no mês passado que o FDA (que controla comida e drogas nos Estados Unidos) começou a permitir que se rotule o abacate como sendo um alimento saudável – coisa que já sabemos há décadas. Ele não era considerado saudável porque é rico em gordura. Ovos, em contrapartida, ainda não podem serem rotulados como saudáveis por causa da concentração de gordura e colesterol na gema. Souto, na sua opinião, em meio a tudo isso… em quem a população deve confiar, se não nas diretrizes oficiais dos próprios governos?
Dr. Souto: Pois é. Justamente pelo o que você está falando, confiar nessas diretrizes está se tornando uma coisa muito difícil. O ideal seria que as diretrizes fossem baseadas em evidências científicas. Temos que confiar na evidência científica. A evidência científica muda com o tempo, é verdade. Pode ser que daqui há dez anos tenhamos descoberto novas coisas e estejamos pensando um pouco diferente do que pensamos hoje. Mas não vejo nenhum problema em mudar ou atualizar a opinião baseando-se em evidência. As diretrizes não têm feito isso há muitos anos. Nos anos 50 já se sabia que ovo não afeta o colesterol do sangue – estamos em 2017 e o FDA ainda não permite rotular ovos como um alimento saudável.
Rodrigo Polesso: Na natureza, os animais não protegem os ovos porque outros animais tentam roubar para comer?
Dr. Souto: Sim, é difícil imaginar uma coisa tão saudável, tão nutricionalmente densa, gostosa, barata e de baixa caloria – para quem se preocupa com calorias, um ovo tem 70 calorias. Ele consegue reunir todas as qualidades possíveis.
Rodrigo Polesso: Tem que avisar os animais que faz mal, segundo o governo.
Dr. Souto: Exatamente. Mas nem tudo está perdido. Nesse artigo do jornal é citado uma pesquisa de opinião pública que mostra que as pessoas estão avançando muito mais rapidamente do que esse passo de lesma das diretrizes. Estou traduzindo direto do estudo… “O percentual de adultos que verificam os rótulos dos alimentos para saber a quantidade de gordura total diminuiu de 46% para 31%.” Ou seja, atualmente, menos de um terço dos adultos nos Estados Unidos vão verificar a quantidade de gordura presente nos alimentos. Essa diferença é de 2006 para 2015. Então, realmente, as pessoas estão se dando conta. O percentual de pessoas que verificam as calorias e o sódio também caiu, enquanto o percentual que verifica a quantidade de açúcar se manteve estável em 41%. Eu acho que essa é uma notícia fantástica. Significa que as pessoas estão começando a evoluir nos seus pensamentos independentemente da lentidão absurda com que a diretriz oficial evolui.
Rodrigo Polesso: Olhar o rótulo no mercado já é um marcador de pessoa que se importa com a saúde. Esse subgrupo de pessoas está aumentando também provavelmente.
Dr. Souto: Com certeza. Não tenho dúvida. Isso não está dito ali, mas tenho certeza de que tu tens razão.
Rodrigo Polesso: Espero que a quantidade de açúcar comece também a impactar a decisão das pessoas de escolher alimentos. Esse será o próximo assunto hoje. Também tem o grande novo livro do Gary Taubes, a Causa Contra o Açúcar. Acho que essa é a próxima bola a cair nessa questão. Acredito que cada um de nós precisa continuar sendo proativo. O governo muda muito lentamente – quando muda. Mas nós podemos mudar já na próxima vez em que formos ao mercado. Nós podemos mudar no segundo em que tomarmos a decisão de mudar. A indústria vai atrás do dinheiro sempre.
Dr. Souto: Exatamente. Os americanos costumam a dizer “vote com seus dólares”. Cada vez que formos ao mercado e fazemos uma opção individual de compra… Deixar de comprar aquele iogurte desnatado sem gosto com a nutrição retirada no qual foram adicionado coisas para repor a textura da gordura removida… Cada vez que eu opto por não comprar esse iogurte desnatado e comprar um iogurte integral (full fat), estou votando com meu dinheiro. E a indústria vai oferecer aquilo que o consumidor quiser, o que o consumidor estiver disposto a adquirir. Nessa mesma reportagem está escrito que um determinado produtor de laticínios nos Estados Unidos viu essa tendência ocorrer nos alimentos orgânicos full fat (integrais, com a gordura mantida). Iogurte e outros laticínios que viram crescimentos de dois dígitos (superior a 10%) entre 2015 e 2016. Então as pessoas que estão buscando alimentos orgânicos, que têm, portanto, um foco maior em saúde, já estão buscando as versões integrais e não as versões desnatadas. Então, a mudança está ocorrendo. Não precisamos esperar – podemos nos basear naquilo que os estudos mostram e votar com nossos reais no Brasil.
Rodrigo Polesso: E as pessoas estão votando. Muitos microempreendedores começaram a fabricar coisas saudáveis por causa dessa demanda. Temos mercados inteiros vendendo só alimentos orgânicos, full fat, gluten free e etc.. Cada país vai num ritmo. Aqui no Canadá têm vários que focam nisso. Então, eu vou comprar lá mesmo. Eu acredito que isso vai crescendo à medida que a demanda vai aumentando. De novo: a indústria vai atrás do dinheiro sempre. A indústria é um negócio. O governo, em grande parte, também é um negócio. Cada um de nós pode acelerar essa mudança do governo e também na indústria ao puxarmos a demanda para alimentos reais e não processados. Então, seja você a mudança que você quer ver no mundo. Essa máxima nunca foi tão válida quanto agora na questão da nutrição.
Dr. Souto: Perfeito. Quer quiser conferir esse artigo, a gente deixa nos links. Muito bom. É um artigo com a participação da Nina Teicholz – uma das nossas heroínas.
Rodrigo Polesso: Fico feliz que eles dão abertura para ela falar, já que ela é uma das pessoas que mais enfaticamente fala contra a indústria, os governos e etc.. Acho que todos devem aplaudir os grandes meios de mídia que dão voz para esse tipo de pessoa que vai contra todas essas pressões. A Nina, coitada, deve estar sofrendo muita pressão. Mas agora ela deve estar ganhando mais espaço.
Dr. Souto: A Nina teve grande vitória recente. Vamos recordar nossos ouvintes. Nina Teicholz é a autora do livro “The Big Fat Surprise”. A Nina foi convidada pelo British Medical Journal (BMJ) para fazer uma análise das diretrizes nutricionais. Ela fez uma análise muito cáustica, onde ela provou que boa parte das diretrizes não era baseada em ciência e que havia uma seleção específica daqueles estudos epidemiológicos observacionais que davam suporte a esse pensamento antigo nutricional e que o pessoal ignorou de propósito ensaios clínicos randomizados mais modernos que contrapunham essa versão. Ela, sem ser médica e ser pesquisadora (ela é jornalista) conseguiu publicar numa revista médica. E ela foi atacada de forma muito violenta. O Centro de Defesa da Ciência pelo Interesse Público (ou alguma coisa assim) é uma organização médica que tem no seu histórico uma falha tremenda. Eles entraram na justiça para obrigar – há décadas atrás – o McDonald’s a deixar de usar banha para fazer a batata frita e passar a usar gordura trans. Eles praticamente obrigaram o McDonald’s a usar gordura trans na batata frita para poder se livrar da gordura saturada. Esse mesmo pessoal, com esse histórico de gafe, coletou assinaturas de cento e não sei quantos cientistas nos Estados Unidos para obrigar o British Medical Journal a remover o artigo. O British contratou dois cientistas para fazer uma análise de todos os argumentos e eles chegaram à conclusão deque não haviam motivos para retratação e o artigo da Nina está mantido. Ela teve essa grande vitória – ela contra cento e tanto outros cientistas. O estudo dela persiste lá mostrando que as diretrizes nutricionais foram baseadas em ciência incompleta. Eles usaram estudos epidemiológicos – que não podem estabelecer causa e efeito – para justificar a manutenção de recomendações que não se sustentam mais atualmente, pois temos ensaios clínicos randomizados que já mostram o contrário.
Rodrigo Polesso: Foi uma ótima vitória. Você falou de gordura vegetal do McDonald’s… Se formos ver os níveis de obesidade nos Estados Unidos particularmente… O estado mais obeso é o Kentucky. No Kentucky eles fritam tudo. Eles adoram frango e frango frito. KFC é o Kentucky Fried Chicken. É frio em óleo vegetal e ao redor do frango tem uma grossa camada de sabe Deus o que…
Dr. Souto: De farinha. Se fosse só um frango frito… A gordura é menos do que o ideal… Mas ele é um frango frito empanado em trigo.
Rodrigo Polesso: Então não é difícil de entender porque os estados mais do sul e sudeste dos Estados Unidos são os mais obesos. Eles costumam fritar mais os alimentos. O segundo assunto tem a ver com essa questão de indústria e governos. De novo: o interesse da indústria não é a sua saúde, mas sim o seu bolso. É o que vemos na maioria. Tem um artigo excelente postado hoje no New York Times, escrito pelo nosso aclamado Gary Taubes, mostrando a influência dos interesses da indústria e governos nos nossos hábitos alimentares. Quero começar com um anúncio da indústria açucareira de 1956, que é citado nesse artigo. Você pode ver o link no EmagrecerDeVez.com no artigo desse podcast. O anúncio da indústria açucareira de 1956 diz o seguinte: “Todas as comidas suprem calorias ao corpo e não tem diferença alguma entre as calorias que vêm do açúcar ou da carne ou da laranja ou do sorvete.” É de cair da cadeira. Como eles poderiam estar tão errados naquela época… mas ainda bem que eles mudaram de opinião, certo? Só que não. A posição oficial hoje do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos sobre obesidade é que isso é meramente um problema de equilíbrio calórico e que cada caloria é uma caloria e não importa. Essa ainda é a posição oficial. Desde a década de 60 nos Estados Unidos e muito antes na Europa, já se sabia que o açúcar era algo particularmente problemático e que a qualidade da caloria ingerida tinha mais importância do que a quantidade. O John Yudkin apontava isso há décadas atrás e foi ridicularizado. Vou ler um parágrafo desse artigo: “Na década de 60, os pesquisadores dos campos de endocrinologia e bioquímica já tinham claramente demonstrado que diferentes carboidratos (como glicose e frutose) eram metabolizados de forma diferente, levando a diferentes respostas hormonais e fisiológicas no corpo. O metabolismo era influenciado profundamente por esses hormônios. A composição do açúcar (metade glicose metade frutose) é um suspeito de particular interesse desde aquela época de causar problemas especiais. Na década de 70, quando a indústria pagou o Fred Stare – fundador do Departamento de Nutrição na conceituada Universidade de Harvard. A indústria o pagou para exonerar o açúcar num grande artigo que ele fez a respeito disso. O trabalho dele foi listar os autores bastante influentes que estavam convencidos que a gordura da dieta era o inimigo principal. Falamos isso no episódio número 30 do podcast Tribo Forte, onde a indústria sucareira pagou gente – até respeitável – para colocar o foco nas gorduras (mesmo sem evidência nenhuma) e tirar um pouco a atenção do açúcar. É de estourar a cabeça um negócio desse.
Dr. Souto: Ele é um artigo bem incisivo e forte. Ele foi publicado como um dos editoriais do New York Times. Ele lembra o editorial que o David Ludwig escreveu no JAMA (Revista da Associação Médica Americana) de chamar a responsabilidade e dizer que não basta mudar de opinião aos poucos. Tem que admitir que estava errado. Ele chega a fazer a seguinte comparação. Não chega a ser justo comparar com o cigarro. A indústria do cigarro realmente fez barbaridades… Queria convencer as pessoas a continuarem fumando quando todo mundo já sabia que cigarro fazia mal, era viciante e causava câncer. Mas pelo menos havia um consenso da comunidade científica de que o cigarro fazia mal. No caso do açúcar, o açúcar navegou em águas tranquilas porque o consenso da comunidade nutricional era alinhado com os interesses da indústria do açúcar. Por isso que o título do artigo é o seguinte: “Qual é o aliado da grande indústria do açúcar? Os nutricionistas.” Eles com a sua ingenuidade de achar que só o que importa é calorias e ignorar todas essas décadas que mostram que diferentes tipos de nutrientes vão ter diferentes efeitos metabólicos e hormonais… Ao fazer de conta que tanto faz… Como dizia a propaganda da indústria nos anos 50 “calorias oriundas do açúcar como oriundas de uma fruta, como oriundas da carne, o que importa são calorias.” Com isso, eles estão reforçando a mensagem da indústria. A indústria do cigarro tinha inimigos. Já a indústria do açúcar só tem amigos. Então, é muito mais difícil. É muito mais complicado. O artigo é muito bom. Agora me deu um branco, Rodrigo… Chegamos a falar alguma coisa sobre o novo livro do Taubes no podcast passado?
Rodrigo Polesso: Anunciamos que ia sair. Nesse momento já está disponível.
Dr. Souto: Eu já li.
Rodrigo Polesso: Estou lendo ainda.
Dr. Souto: Como todo livro dele, é imperdível. São livros bem escritos e não conseguimos parar de ler. O livro está formulado como se fosse uma peça acusatória. Imagine que o açúcar está sentado no banco dos réus e que o autor do livro é o promotor que tem que convencer um júri de que o açúcar é o culpado. Na introdução ele explica que é assim que esse livro vai ser feito. Dentro do direito americano se usa aquele conceito de que a pessoa será culpada se a culpa puder se provada além da dúvida razoável. Nunca poderemos ter certeza absoluta de quase nada na vida. Mas existe o conceito da dúvida razoável. Se conseguirmos provar além da dúvida razoável… Isso é o suficiente para o júri condenar. Ele quer demonstrar (e demonstra claramente) que é possível dizer além da dúvida razoável que o açúcar é sim responsável pela epidemia de obesidade, de síndrome metabólica, de diabetes… E provavelmente de outras doenças da civilização como o aumento de câncer, demência, Alzheimer e etc..
Rodrigo Polesso: Acho legal como ele polarizou um pouco a opinião dele. No “Good Calories, Bad Calories” é um documentário no qual ele não tenta colocar o dedo dele para ter uma inclinação de opinião. Já começa a primeira parte do livro dizendo isso que você falou. O açúcar está sentado no banco dos réus e nós vamos atacar. A genialidade dele é que ele ataca não com opinião, mas com fatos, estudos e coisas indiscutíveis. É nisso que ele é especialmente brilhante na minha opinião.
Dr. Souto: Ele tem uma prosa boa de ler. Quase um terço do livro são referência bibliográficas. A gente só percebe isso quando chega ao fim porque o texto não é poluído por referências. O texto é um texto corrido. Depois, nas referências, ele vai colocando por capítulo… Então, ele bota um trecho entre aspas da frase e aí diz qual é a referência que corresponde àquilo. É tudo absolutamente referenciado, mas, ainda assim, fica agradável de se ler. É muito bom.
Rodrigo Polesso: Outra coisa que você mencionou que vale ressaltar aqui é que o título desse artigo do New York Times é como você falou… Adivinha quem são os aliados da indústria açucareira? Os nutricionistas. Eu costumo falar contra qualquer tipo de pessoa incompetente, seja em qualquer tipo de profissão. Se um cara da informática é incompetente e estraga seu computador, você fala mal e conta para os amigos que ele fez coisa errada. Mas a medicina tem uma áurea especial. Temos que confiar nos nossos médicos e nutricionistas de olhos fechados sem lembrar que eles também foram para a faculdade… É uma área na qual você tem que estudar e se atualizar. Se um engenheiro derruba um prédio, ele é condenado pelo resto da vida… Mas se um nutricionista receitar uma dieta que vai piorar sua diabetes não é visto de forma tão grave. Então, a acusação do Taubes e minha acusação particular é contra todos os profissionais incompetentes. Na questão da nutrição, não é diferente. As pessoas se formam, recebem incontáveis pacientes e não sobra tempo para analisarem as evidências que estão saindo… Ou médicos que focam só nas revistas das suas especialidades e não focam na nova ciência que está saindo. Então, praticam de uma forma muito aquém do que poderiam praticar e muitas vezes, sem querer, acabam prejudicando o paciente também. Então, todo mundo, em qualquer profissão, tem que se atualizar sempre – medicina, nutrição e etc. não são exceções à essa regra na minha opinião.
Dr. Souto: Ciências da saúde, por uma questão ética tem mais ainda o dever de se atualizar. Estamos falando mal das diretrizes. Obviamente, têm profissionais dentro de todas as especialidades – na nutrição e medicina não exceção – que já mudaram sua cabeça, independentemente das diretrizes. Nós temos vários exemplos para citar. Hoje em dia, em todos os estados do Brasil temos vários nutricionistas e profissionais de saúde atendendo numa linha de indicar alimentos minimamente processados. As diretrizes, não só nos Estados Unidos, mas quase que no mundo todo estão precisando de uma grande reforma.
Rodrigo Polesso: Mais uma vez fica claro que nada é mais seguro do que nós mesmos tomarmos responsabilidade em relação ao nosso próprio bem-estar e saúde. A maioria das pessoas por aí está tomando conta dos seus bolsos (indústria e governos). O que me entorta o cérebro é entender como alguém consegue dormir à noite fazendo dinheiro sabendo que está causando danos à saúde a milhares de outras pessoas. Fazer isso sem saber, é uma coisa; fazer isso sabendo é outra coisa. Isso não deveria ser contra a própria natureza humana?
Dr. Souto: Talvez seja ingenuidade minha, Rodrigo… acho que é mais a ignorância mesmo.
Rodrigo Polesso: Acho que em sua maioria sim.
Dr. Souto: Acho que em sua maioria. O que me espanta são alguns que estão envolvidos no debate. Como eles estão envolvidos no debate, tomam contato com os estudos científicos que mostram o contrário. Ou as pessoas vivem num estado de negação muito grande (dissonância cognitiva) ou então é isso que você está falando… Não sei como conseguem dormir. Se você viesse falar comigo em 2010 sobre esse assunto, eu iria dizer que você está louco… “é evidente que a gordura faz mal… todo mundo sabe disso… gente muito mais inteligente do que nós dois disse que a gordura faz mal… o problema é só controlar calorias.” Eu teria dito isso em 2010. Qual foi a diferença entre 2010 e 2011? Eu li o livro do Taubes! Bastou eu ver a evidência. A gente vê a evidência e muda de opinião. O problema não são as pessoas que nunca viram as evidências e pensam de acordo com as diretrizes, porque isso é o esperado. Se a pessoa nunca viu evidências no sentido contrário, ela seguirá as diretrizes, já que as diretrizes são feitas por pessoas que são expoentes naquela área, que estudaram muito… essa era a visão ingênua que eu tinha até 2010. Mas uma vez que a pessoa veja a evidência, saiba que ela é de alto nível, saiba que ela é um ensaio clínico randomizado e não muda de opinião… isso é uma coisa que eu não consigo entender.
Rodrigo Polesso: Ela tenta mudar a evidência, como vemos. “Alguma coisa está errada com a evidência, minha opinião está certíssima.”
Dr. Souto: Exato.
Rodrigo Polesso: Se você está doente e coloca sua saúde nas mãos de alguém que supostamente confia 100% e você se abstém de responsabilidade… isso é um risco muito grande. Cada vez está ficando mais claro que não tem ninguém que se importa com nossa saúde do que nós mesmos. Hoje, graças à internet e tudo mais temos acesso fácil à fonte de informação, que é a mesma fonte em que todos esses órgãos vão procurar informações e mesma fonte que seu médico vai estudar. Então, por que você não pode verificar ou até contestar ou ser mais cético quando escuta algo do seu médico? Graças a Deus, temos muita gente boa se atualizando agora e mudando de opinião e não tentando mudar a evidência. Acho que o Brasil inteiro está ganhando com isso. O mundo inteiro está ganhando com essa nova transformação.
Dr. Souto: Aí vemos o artigo do San Francisco Chronicle e vemos que isso já está acontecendo. O estudo mostra sem dúvida que as pessoas estão começando a prestar atenção naquilo que mais importa: os rótulos.
Rodrigo Polesso: Isso é muito bom de ver. Falando em rótulos… Quantos rótulos fizeram parte do seu almoço de hoje?
Dr. Souto: Deixe-me pensar se teve algum. Talvez dê para dizer que o azeite de oliva tinha rótulo. O almoço hoje foi um almoço quase vegetariano. Ele tinha vagem refogada, tinha ovo picado para misturar com a vagem – mas o ovo poderia ser um ovo vegetariano. Tem os ovolactovegetarianos e os ovo vegetarianos. Tinha também uma mistura de vários vegetais… Cebola, tomate, pimentão… e aquele negócio meio seboso… quiabo. Ele tem uma textura estranha, mas é gostoso. Além disso, minha salada habitual. Só para não dizer que foi uma refeição sem proteína, eu comi um hambúrguer caseiro feito com carne moída em casa.
Rodrigo Polesso: Você já tinha listado o ovo.
Dr. Souto: Sim, o ovo picado estava na salada.
Rodrigo Polesso: Têm muitas pessoas que pensam que proteína é igual a bife.
Dr. Souto: Entendi. É que a quantidade de ovo não foi muito grande. Na realidade, essa refeição mesmo que não tivesse a carne teria sido completa do ponto de vista nutricional. Mas talvez não tivesse matado a minha fome até o presente momento. Se eu comi às 11 e 40 da manhã… Agora são 5 e pouco da tarde e não estou nem pensando em comer de novo.
Rodrigo Polesso: Eu vi em algum lugar que tinha uma pessoa centenária… Sempre perguntam “qual é o segredo da sua longevidade?” Ela disse “eu não sei, mas como 25 ovos por dia.” Talvez isso faça parte da longevidade.
Dr. Souto: Se eu tivesse colocado numa balança, talvez eu tenha comido quatro quintos de vegetais. Serve para lembrar para o pessoal que vegetais também podem ser low carb.
Rodrigo Polesso: Com certeza. Quando o pessoal descobre que legumes e folhas são carboidratos começam a contar também. Não faça isso!
Dr. Souto: Elas até são carboidratos, mas só se você for um cupim ou um bode. Se a pessoa conseguir digerir celulose, aí conta.
Rodrigo Polesso: Vai saber. Fiz uma série de vídeos sobre mitos. Estou postando toda a semana. O pessoal que acompanha a Tribo Forte Extra está vendo. Cada episódio da Tribo Forte Extra tem um vídeo no YouTube. O recente que eu fiz agora foi sobre gorduras saturadas. Estou tentando quebrar esses mitos de uma forma bastante rápida e mostrando algumas referências de alta qualidade lá para que vocês possam referenciar. Toda as vezes que alguém perguntar se precisa comer de 3 em 3 horas tem um vídeo lá quebrando isso e mostrando as evidências. Sobre gordura saturada também. Semana que vem terá mais. Estou ficando chique nessa questão de comida… Como eu falei no episódio passado, fui comprar um monte de temperos indianos. Quero me aventurar com temperos indianos porque adoro isso. Fiz um chicken madras. Eu vou no YouTube, vejo alguns vídeos e o que mais faz sentido eu acabo fazendo. São todos com ingredientes saudáveis. Naquele ranking nutricional temperos e ervas são o segundo colocado. A culinária indiana é cheia de temperos e ervas. Por isso que o sabor fica excepcional. Foi isso que eu comi. É um molho com frango… só isso. Daí uma salada do lado também. Ficou uma delícia, na verdade. Adoro mexer com isso, mas tem que tirar uma hora e pouco na cozinha para fazer um prato desse. É melhor fazer em quantidade para depois você poder degustar ao longo da semana. O terceiro tópico é um pouco mais técnico, mas muito importante. Falaremos um pouco do fígado… o maior órgão que temos no corpo… E o impacto dele na obesidade, síndrome metabólica e diabetes. O Dr. Jason Fung, que entrevistamos no episódio número 11 da Tribo Forte colocou um artigo agora falando sobre a questão o fatty liver (gordura no fígado). Está ficando cada vez mais comum. Antigamente era somente a questão da cirrose que causava danos no fígado. Hoje temos uma “cirrose” de pessoas que não consomem álcool, por causa da alimentação. Ele resume em três partes. Hiperinsulinemia causa gordura no fígado – ou seja, uma alimentação que causa o aumento exagerado de insulina no seu sangue. E o fígado gorduroso acaba causando a resistência à insulina. E essa resistência à insulina acaba causando a hiperinsulinemia, que fecha um ciclo muito perigoso. Outra coisa que eu achei muito interessante nesse artigo é a questão da lipo. Muitas pessoas fazem lipo para tirar gordura… é aquela mania do ser humano de resolver as coisas da maneira mais rápida possível. Então, eles colocam um cano dentro a pessoa e suga tudo. Se você ver um vídeo de como fazer isso, você provavelmente não vai querer fazer. É uma aberração. Tem um estudo que mostrou que quando você tira essa gordura através de lipo – até tirando 10 quilos de gordura – isso não muda em nada os marcadores de saúde na sua corrente sanguínea. Você não fica mais saudável ao fazer isso. Você muda somente sua forma física. Dr. Souto, vou passar a bola para você, porque você é mestre nesse assunto. Tem um ensaio clínico randomizado publicado esse mês agora… Esse assunto é muito interessante.
Dr. Souto: O que o Jason Fung coloca é uma coisa que está cada vez mais ficando mais clara. O Tim Noakes tem postado alguns artigos sobre isso também no Twitter. A gordura no fígado não é uma consequência. Ela possivelmente está bem mais no início do processo. Ela está mais como causa da resistência à insulina, do diabetes tipo 2, da síndrome metabólica. O fígado começar a acumular gordura é um evento muito precoce. Têm estudos mostrando que pessoas que têm gordura no fígado – mesmo que sejam magras – têm um risco muito aumentado de desenvolver diabetes tipo 2. Ou seja, a obesidade, o diabetes tipo 2… essas coisas já são epifenômenos – são coisas que ocorrem depois. Então, a obesidade pode ser um marcador da resistência à insulina e da síndrome metabólica, mas ela não precisa estar presente. Ela pode ocorrer dependendo da genética da pessoa. O que o Fung explica é a teoria do transbordamento de nutrientes no fígado. A insulina faz com que a glicose entre para dentro da célula do fígado – do hepatócito. Se essas células já estão cheias de glicose, elas começam a produzir gordura. Elas começam a converter glicose em gordura. Isso vai fazendo com que acumule gordura no fígado e essa gordura no fígado, juntamente do fato do glicogênio estar todo ocupado dentro do fígado faz com que essas células fiquem resistentes à insulina – até por uma questão de autoproteção. Elas já estão cheias e não cabe mais. Aí é isso que o Rodrigo falou. Começa o pâncreas a produzir mais insulina ainda para tentar compensar essa resistência e essa hiperinsulinemia começa a dar problema em todo o resto do corpo. Por esse motivo que a retirada cirúrgica da gordura não melhora o metabolismo. A gordura não é a causa do problema. Muitas pessoas falam que um sujeito ficou diabético por ter engordado. Eu discordo disso. Eu acho que o ganho de peso é um dos possíveis fenótipos – uma das possíveis manifestações da resistência à insulina. Não é a causa.
Rodrigo Polesso: Têm diabéticos que são magros.
Dr. Souto: Têm diabéticos tipo 2 que são magros. Inclusive, muitas vezes eles têm um curso clínico mais difícil de se manejar, mais grave. A gordura parece servir de uma válvula de escape para o corpo ir colocando aquele excesso. A pessoa que geneticamente não engorda… Aquilo se acumula no fígado mais ainda – é pior. Quando removemos cirurgicamente a gordura, nós não estamos resolve o problema. Não estamos tirando a gordura de dentro das células no fígado. Não estamos resolvendo a resistência à insulina. Porque é diferente quando a pessoa perde peso por uma questão nutricional? Parar de comer açúcar, carboidratos refinados… Aí a pessoa começa a perder peso e os exames todos melhoram. A insulina diminui, o HDL aumenta, os triglicerídeos diminuem. Mesmo que a pessoa tenha perdido a mesma quantidade de peso, mas perdeu esse peso por estar revertendo a resistência à insulina e não porque ela tirou cirurgicamente. É fácil se enganar na questão da associação versus causa e efeito. A gordura está associada à diabete tipo 2 – não tem nenhuma dúvida disso. Está extremamente associada. A gordura é a causa do diabete tipo 2? Provavelmente essa gordura subcutânea – essa que olhamos no espelho, achamos feia e queremos tirar – essa não. Ela é apenas um marcador de pessoas que têm resistência à insulina.
Rodrigo Polesso: Então, a mais perigosa seria a gordura visceral? A gordura ao redor dos órgãos e, principalmente, dentro dos órgãos. Inclusive, ele mencionou que você pode ver, com uma boa antecedência (acho que ele falou em 18 meses) se você tem um fígado que está acumulando gordura. É um bom indício que uma coisa muito ruim pode acontecer depois de 18 meses.
Dr. Souto: Exatamente. Estudos que fazem acompanhamento de pacientes com gordura no fígado e que essa gordura no fígado precede o diabete tipo 2 em 18 meses. Mas provavelmente precede num tempo muito maior. O estudo tem uma limitação de tempo. Mas todo mundo que acompanha em consultório… As pessoas começam a ter essas alterações de síndrome metabólica… Não é raro que seja 10 anos antes. Em outras palavras, em muita gente temos bastante tempo para intervir e reverter a coisa antes de ela se tornar irreversível.
Rodrigo Polesso: Outra coisa interessante que vi no mesmo artigo… Acho que para o pessoal pode ser bastante útil… É justamente isso. Que tipo de marcador naquele exame de sangue que você faz pode indicar que alguma coisa está indo de ladeira abaixo. Ele mencionou uma sequência de coisas que acontecem numa ordem. A última delas seria o açúcar no sangue. Se o açúcar no sangue estiver com problemas e estiver alto, esse seria o estopim. Seria o último dos sintomas. Mas outras coisas vêm antes…
Dr. Souto: Infelizmente, o pessoal deixa para diagnosticar… O diabetes é uma convenção. Qual é o limite de velocidade na estrada? Oitenta quilômetros por hora – isso é uma convenção. A estrada não me impede de andar mais rápido ou mais devagar do que isso. Simplesmente alguém disse que é oitenta. Diabetes é 126. Se passar de 126 em duas medidas em jejum, isso define diabetes. Quando está 120 é uma doença diferente? Não! É que temos que estabelecer o ponto de corte em algum lugar. Mas é evidente que é um espectro, é um contínuo. No momento em que começa a subir os triglicerídeos, no momento em que começa a cair o HDL, no momento em que começa a juntar gordura no fígado… Já começou a doença que no dia que passar de 126 vai levar o nome de diabetes. Mas é a mesma coisa. Estamos falando do mesmo processo de doença, do mesmo processo patológico. Um dos exames que ele cita – que é um exame importante – são as transaminases. O TGO, o TGP e o GamaGT. São exames que indicam lesão no fígado. É claro que as transaminases podem estar elevadas por vários motivos. Se a pessoa tiver uma hepatite, vai estar elevado. Se ela tiver bebido muito álcool, vai estar elevado (o álcool também é tóxico para o fígado). Se a pessoa tiver uma dessas doenças tropicais… Zika, chikungunya, febre amarela… Tudo isso eleva. Mas considerando que a pessoa não bebeu, não está com uma virose dessas e começa a aparecer alterações nesses exames… Hoje, em 2017, temos que pensar que a causa mais provável é a gordura no fígado. Ele saliente no artigo que as pessoas deveriam botar a mão na consciência e refletir. Isso é uma coisa que nos anos 80 era praticamente desconhecida. Nem tinha nome. Estamos falando de uma doença, que no nosso tempo de vida, de praticamente inexistente se tornou a causa mais comum de cirrose e transplante de fígado. Pessoal, isso é inacreditável! Se alguém não se dá conta de que isso é uma doença nutricional, eu não sei o que mais poderia convencer as pessoas. Estamos falando que isso ocorreu num período dos anos 80 em que as pessoas estão comendo menos gordura do que comiam e menos gordura saturada. Se pegarmos as estatísticas, houve queda no consumo de gordura, queda no consumo de carne vermelha. Nesse mesmo período houve o aumento do consumo de óleos vegetais extraídos de semente como soja, canola e milho, e houve um aumento de carboidrato. Eu sei que estou falando de uma coisa não estabelece causa e efeito, porque afinal é só um estudo observacional. Mas, no mínimo, as pessoas têm que se darem conta de que as diretrizes instituídas lá nos anos 70 não ajudaram, já que uma doença nutricional nova se criou nesse meio tempo. Se criou e se tornou a doença mais comum a afetar o fígado no mundo. Em poucas décadas.
Rodrigo Polesso: Esse é só um caso de doença. Podemos ficar aqui o resto dica listando doenças que pularam também em estatística em poucas décadas.
Dr. Souto: Eu estava dizendo que o que eu falei era só uma observação. Mas ensaio clínico randomizado tem também para quem gosta. Sal um bem recente, janeiro de 2017. Ele é mais um. Quem quiser bota lá “Souto”, “Dieta” e “Fígado” no Google. Devo ter dúzias citadas lá. Mas vamos ver mais uma aqui.
Rodrigo Polesso: Mas o ensaio corrobora ou não?
Dr. Souto: É um estudo pequeno. Mas é randomizado e prospectivo. É um experimento. Esse aqui não é coisa de associação. Esse pode estabelecer causa e efeito. Eles pegaram apenas 8 homens saudáveis e randomizaram esses homens para fazer uma dieta de baixo índice glicêmico e de alto índice glicêmico. Eles fizeram a análise na gordura do fígado por ressonância magnética e depois de um período de 4 semanas, quando voltaram a comer dietas normais, eles inverteram para a dieta oposta. Em outras palavras, cada um foi o controle de si mesmo. Esse tipo de estudo – chamado crossover – é um estudo muito interessante. A minha genética é diferente da genética do Rodrigo. Então, melhor do que comparar como eu respondo à uma dieta e como o Rodrigo responde à uma dieta, é como eu respondo a uma determinada dieta e depois de 4 semanas como eu respondo a outra dieta. Aí, depois fazer a mesma coisa com o Rodrigo e outras pessoas. Esse estudo foi feito assim. O que você imagina, Rodrigo? Qual foi a dieta que deu mais problema para o fígado, a de alto índice glicêmico ou a de baixo índice glicêmico?
Rodrigo Polesso: Vou colocar para a plateia responder essa.
Dr. Souto: Vou perguntar para os universitários. A glicose no sangue e o pico de insulina, e a área sobre a curva dessas coisas foi maior com a dieta com maior índice glicêmico, evidentemente. Eles até dizem “as expected” (como esperado). As concentrações de glicogênio hepático aumentaram mais depois da dieta de alto índice glicêmico. O que é o glicogênio? É a forma com que o corpo armazena glicose. Basicamente, o que esse estudo está mostrando, é aquilo que o Jason Fung falou. A gente dá uma dieta de alto índice glicêmico e o fígado é obrigado a armazenar mais glicose. A fração de gordura no fígado aumentou significativamente na dieta de alto índice glicêmico comparado com a dieta de baixo índice glicêmico. Isso levou quanto tempo? Um ano, você acha, Rodrigo?
Rodrigo Polesso: Uma semana, não é?
Dr. Souto: Uma semana. Uma semana comendo uma dieta de alto índice glicêmico é capaz de aumentar significativamente o conteúdo de gordura no fígado. Imagine uma pessoa que lê na revista ou no livro escolar a pirâmide alimentar e, para melhorar sua saúde, resolve seguir aquilo – não por uma semana, mas por 10 anos. A pirâmide alimentar é uma dieta de alto índice glicêmico. Quem estiver com dúvida, dê uma pausa do podcast e escreve “pirâmide alimentar” e clique em imagens no Google. Veja as imagens e me diga o índice glicêmico daquilo. A base é 60% de pães, massas, bolos, mingaus, arroz, cereais matinais. O que está na base da pirâmide alimentar não é quiabo, semente de chia nem linhaça. O que está na base da pirâmide alimentar são desenhos de pães, cereais matinais, um pote de arroz.
Rodrigo Polesso: Mas não é isso que você acabou de dizer que é comprovado que aumenta a gordura no fígado?
Dr. Souto: Exato! E não é um único estudo que mostra isso. Esse saiu agora em janeiro. Acabou de sair, então vamos repercutir no nosso podcast. Mas é só mais um! O fascinante é que 7 dias de pirâmide alimentar é capaz de induzir gordura no fígado. Sete dias! Imagine o que 7 anos são capazes de fazer. Imagine o que 20 anos são capazes de fazer. Aí a gente volta para o texto do Jason Fung e consegue entender como uma doença que não tinha nome próprio… E que depois ganhou esse nome de esteato-hepatite não alcoólica. Até o advento dos anos 80, gordura no fígado significa alguém que bebia. Inclusive, o Jason Fung comenta que era uma situação de embaraço. “Olha, fulano, estou vendo o resultado dos seus exames e o senhor tem que parar de beber tanto assim.” Aí o cara diz “Mas, doutor, eu não bebo.” Esteato significa gordura. Esteato-hepatite não alcoólica é para diferenciar da alcoólica. Hoje em dia, se alguém tem gordura no fígado, é o contrário. A gente nem pensa em álcool, porque virou uma epidemia. Virou uma epidemia porque a genética do ser humano mudou? É outra espécie? E o “homocarbus”? A genética é a mesma. O que mudou dos anos 80 para cá? Hoje em dia se transplanta fígado por gordura no fígado e até os anos 70 era praticamente inexistente. O que mudou? Não foi a espécie humana que mudou. Foi a dieta, é óbvio.
Rodrigo Polesso: Essa questão da situação constrangedora com o médico… Não sei se foi o Ludwig que falou… Continua sendo o mesmo problema com o emagrecimento. Você vai ao seu médico e fala “estou seguindo o que está falando, eu não consigo emagrecer.” “Você não está me contando a verdade. Você está comendo demais.” Eles acabam brigando por causa disso. O médico ainda acha que o único motivo que você está emagrecendo é porque você está comendo demais. É o mesmo caso que era antigamente com o fígado.
Dr. Souto: Todo santo dia entra um email perguntando: “Dr., eu tenho esteatose. Eu gostaria de fazer uma dieta low carb, mas tenho gordura no fígado. Então, não posso comer gordura.” Na realidade, a gordura que acumula no fígado não é a gordura que a pessoa comeu. É a gordura que o fígado fabrica por causa dos altos níveis de insulina e da alta quantidade de açúcar e especialmente de frutose, que é o componente do açúcar que se transforma primordialmente em gordura dentro do fígado.
Rodrigo Polesso: Qual é o índice glicêmico da gordura?
Dr. Souto: O índice glicêmico da gordura é praticamente zero. Uma dieta de baixo índice glicêmico é uma dieta mais rica em gordura. Essa não causou gordura no fígado em uma semana. A que causou gordura no fígado em uma semana é a de alto índice glicêmico. Vou dar um exemplo de uma refeição de alto índice glicêmico. Um café da manhã com pão integral com uns 20 grãos mais uma geleia orgânica diet, uma margarina mas bem pouco… embora ela não tenha gordura saturada, ainda assim é gordura. Um leite desnatado para comer com um pouco de granola. Uma granola com bastante aveia para ficar gostoso. Um açúcar integral.
Rodrigo Polesso: Essa é uma pessoa já mais consciente.
Dr. Souto: Se você botar essa refeição num papel e mostrar para um nutricionista de formação tradicional, ela vai dizer que é bom e saudável. Um suco de laranja com bastante frutose. Esse é um café da manhã de altíssimo índice glicêmico. Mas ele é completamente compatível com a pirâmide alimentar. O almoço pode ser um arroz integral com um molho de tomate para não ter gordura. Um feijão. Carne não dá, afinal tem gordura saturada. Mas bota só um fio de azeite para não grudar na panela. Azeite não de oliva, porque é muito caro. Vamos botar o de soja, porque ele ajuda a baixar o colesterol. Como ninguém é de ferro, a pessoa come uma sobremesa, mas como a dieta tem que ser bem saudável, ela come duas bananas amassadas com uma canela e bota aquele negócio feito de um cacto… Aquela coisa doce… Que se faz tequila… Enfim, quem conhece lojas de produtos naturais vai saber. É um negócio que é 90% frutose. Tem um bicho que se sacrifica por nós para transformar isso em tequila. Eles morrem no processo, mas transformam essa coisa venenosa em tequila. Estamos brincando, mas se a pessoa for levar a sério a pirâmide alimentar, a gordura do fígado é uma decorrência quase que inevitável.
Rodrigo Polesso: Exatamente.
Dr. Souto: Se isso não acontece na pessoa, é porque ela tem uma genética muito boa. Tem um fígado de aço.
Rodrigo Polesso: Exatamente. Batemos o martelo. Muita coisa para a cabeça. Muita coisa para pensa, muita coisa para disseminar. Por favor, continue disseminando a palavra para outras pessoas para que elas comecem a ouvir o podcast da Tribo Forte, principalmente começando no primeiro. Fazemos uma sequência e referenciamos episódios passados. Espero que isso chegue aos ouvidos de quem precisa ouvir. Espero que consigamos salvar vidas. Não é a informação que salva vidas, mas sim o que as pessoas fazem com a informação. Cada vez mais as pessoas estão atingindo o limite e tomando as rédeas da própria saúde.
Dr. Souto: Lembrei! É néctar de agave. É com isso que se faz tequila. Mas o negócio é doce para caramba. É 90% frutose.
Rodrigo Polesso: Às vezes me perguntam “o que você em a dizer sobre agave? Sobre mandioca?” Minha resposta é sim. É isso que eu tenho a dizer. Pessoal, é isso então, espero que o episódio tenha sido bom e suculento para você. Se você quer fazer parte da Tribo Forte é só entrar em TriboForte.com.br. Junte-se à família e vamos fazer a coisa crescer ainda mais cada dia. Um grande abraço para vocês. Obrigado, Dr. Souto. A gente se vê na próxima semana.
Dr. Souto: Abraço. Até lá.