TRIBO FORTE #047 – MÁ CIÊNCIA E A AMEAÇA A SUA SAÚDE

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No Episódio De Hoje:

Neste podcast nós mostramos e discutimos 3 exemplos recentes de divulgação e prática de má ciência que potencialmente ameaçam seriamente a saúde e habilidade de fazer boas escolhas em relação a isso.

Alguns tópicos:

  • Arroz é realmente um amigo para o tratamento da diabetes?
  • Batata-frita (e outros legumes) são realmente mais saudáveis que a cozida?
  • A torradinho da torrada e afins realmente causa câncer?
  • E mais…

Espero que aproveite este episódio ?

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Ouça o Episódio De Hoje:

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Referências do Episódio

 

Campanha do arroz no jornal Zero Hora

Campanha do arroz em 2005

Revista Superinteressante: Artigo sobre batata-frita sendo mais saudável do que cozida

Artigo oficial da Universidade de Granada sobre o estudo das frituras

Estudo sobre azeite de oliva e frituras

Jornal Zero Hora com artigo sobre torradas e câncer

Revisão sobre acrilamida de 2012

Estudo sobre acrilamida na Finlândia, 2010

Revisão de 2015 sobre a acrilamida

Transcrição do Episódio

Rodrigo Polesso: Bom, vamos lá. Pegue seu caldo de osso quentinho. Já estou com o meu aqui na minha caneca para acompanhar esse podcast número 47 oficial da Tribo Forte. É o podcast número 1 em audiência na categoria saúde. Hoje falaremos sobre o tema má ciência. A prática de má ciência e os danos que isso pode gerar. Essa prática acontece tanto a favor como contra a verdade nutricional. Falaremos mais sobre isso. Tem três tópicos bastante gritantes que aconteceram bem recentemente que foram divulgados pela mídia no Brasil e no mundo a fora. Eu estava falando com um amigo meu – o Érico Rocha. Ele disse que estava lendo essa semana que batata frita faz bem. Falaremos um pouco sobre batata frita também. Saiu um estudo recente sobre isso para onde entender o porquê por trás. O que que devemos prestar atenção sobre isso e o que não temos. Falaremos sobre má ciência hoje. Também temos um aviso… O evento Tribo Forte Ao Vivo 2017 já está com data marcada. Os ingressos ainda não estão à venda. O que posso adiantar é que o evento será bem maior e ainda melhor do que 2016. O primeiro evento já foi o maior do Brasil nesse nicho. E esse ano de 2017 será ainda mais espetacular. Marque as datas no seu calendário no dia 21 e 22 de outubro de 2017. É um final de semana, sábado e domingo. Será em São Paulo capital. Vou colocar todos os detalhes disponíveis publicamente quando for a hora. Nesse momento só posso adiantar a data e dizer que o pessoal que é Membro VIP da Tribo Forte terá conhecimento disso antes e terá vantagens nos ingressos. Se você não é assinante ainda, você pode entrar em TriboForte.com.br para se tornar um membro e ter mais essa vantagem. Dr. Souto, tudo bem?

Dr. Souto: Tudo tranquilo. Boa tarde. E boa tarde aos ouvintes.

Rodrigo Polesso: Antes de partir para nosso grande tópico de má ciência, vamos falar sobre a pergunta da comunidade. Hoje ela vem da Maria Anita Pieren. Ela pergunta o seguinte… Eu tinha postado a foto do meu almoço, que eram uns 5 ovos mexidos, um pouco de cebolinha. Eu mencionei que eram ovos de galinhas orgânicas. E também um bacon que não tinha conservante – não tinha nitrito nem nitrato. Eu coloquei isso como observação e postei. Ela respondeu: “Aqui no Brasil não temos grande oferta de orgânicos, principalmente bacon. Quando se acha, custa uma fortuna. O Emagrecer de Vez não pode ser para poucos privilegiados. Assim você dificulta a nossa vida.” Antes de dar meu palpite sobre isso, queria ouvir seu pitaco sobre esse cenário.

Dr. Souto: O nitrito e o nitrato no bacon têm uma função de preservar aquela carne curada – especialmente manter a cor. Se eu simplesmente salgasse e defumasse a carne, ela fica marrom, uma cor esquisita e pouco atraente. O que mantém aquela cor mais rosada é o uso dos nitritos e nitratos. Algum nitrito e nitrato sempre terá. Quando ele é orgânico, por exemplo, o que se faz é utilizar esses nitritos originários de vegetais. Em vez de ser aquele nitrito que é sintetizado nua fábrica, ele é extraído, por exemplo, do aspargo. Mas é o mesmo nitrito – é o mesmo NO2 NO3. A química não muda. Às vezes isso é mais um lance de marketing, sinceramente. Existem sim produtos desse tipo que não contêm nitrito e nitrato.

Rodrigo Polesso: Eles não contêm e a cor deles não é tão atraente como os outros que têm. Não tem nitrito e nitrato adicionado, a não ser aqueles que ocorrem naturalmente no bacon mesmo.

Dr. Souto: Quando não contém, está bem. Mas qual é a importância de ter ou não ter? É um pouco parecido com o assunto que vamos falar mais adiante. Em laboratório, sabemos que, quando aquecidos, alimentos que contêm nitrito e nitrato podem reagir e formar nitrosaminas. Nitrosaminas são substâncias tóxicas e cancerígenas. Mas é tudo uma questão de quantidade. Quando fazemos vegetais refogados, também se formam nitrosaminas – eles também são muito ricos em nitritos e nitratos. Tem um artigo do Chris Kresser sobre bacon. Quem botar no Google “Souto dieta bacon” vai encontrar esse artigo traduzido no meu blog. Ele comenta que tem um vegetal comum (acho que era o aspargo) que tem 200 vezes mais nitritos do que o bacon. Então, é uma coisa que ocorre bastante naturalmente nos vegetais. Se os vegetais forem aquecidos, teremos a mesma coisa. Nos estudos epidemiológicos, a gente não vê uma associação entre o consumo de vegetais refogados e câncer de cólon. Até que ponto aquela associação que a gente vê nos estudos… As pessoas que consomem mais carne processada têm um incidência maior de câncer de intestino… Será que isso é realmente por causa das nitrosaminas ou é aquilo que sempre falamos no podcast? Comer muitas carnes processadas é um marcador de um estilo de vida de pessoas que não prestam muita atenção em outras coisas da saúde. Quem é a pessoa que evita ativamente carnes processadas? É a mesma pessoa que come mais peixe, que faz exercício, que não fuma, não bebe. Então, o que eu diria para vocês? Primeiro, ninguém precisa comer bacon. Eu não como bacon com tanta frequência. Tem meses que eu não como bacon no mês inteiro. Normalmente eu uso o bacon como um condimento. Eu o uso justamente para fazer refogado junto com vegetais. Eu acho que o bacon tem uma espécie de uma mística. “Eu deixei de seguir as diretrizes nutricionais. Eu como bacon!” Aí bota uma camiseta escrita “bacon”. Se o bacon tem um pouco mais de nitritos ou não… Se a pessoa não come bacon todos os dias, em grandes quantidades… Isso é irrelevante.

Rodrigo Polesso: Exatamente. Eu mencionei que tinha conseguido comprar ovos e bacon orgânicos. Ela disse que isso era um privilégio, que não conseguiria fazer isso no Brasil e que estava fadada a uma vida cheia de problemas. É melhor você não comer ovo se não acha orgânicos ou comer o ovo que você tem à disposição? Ou comer uma torrada por não ter um orgânico?

Dr. Souto: Essa pessoa que fez essa pergunta… Quando ela não estava preocupada com dieta… Quando não tinha lido o Código ainda… Não estava focada em dieta low carb… Ela comia ovos orgânicos? Não! Então, antes ela comia ovos não orgânicos, comia pão e açúcar. Agora ela vai comer ovos não orgânicos, mas não vai comer pão e açúcar. No lugar do pão e açúcar, vai comer vegetais, peixes e esse tipo de coisa. É evidente que a saúde dela vai melhorar mesmo que ela não coma ovos orgânicos.

Rodrigo Polesso: Então é possível ter uma vida saudável sem ter sempre uma opção orgânica.

Dr. Souto: Claro! É o famoso “o ótimo não pode ser inimigo do bom”. “Se não posso fazer a coisa ótima e perfeita, não fazer nada e vou fazer o pior possível.” Não! Entre os extremos do pior possível e do ótimo existe um meio termo, um bom senso, aquilo que o salário da pessoa pode comprar. O salário da pessoa pode comprar lixo ou uma boa alimentação. Talvez o salário da pessoa não possa comprar aquilo que Patrícia Ayres chama de “queijo produzido com leites das virgens do Himalaia”. A pessoa tenta fazer o possível dentro das suas possibilidades e só isso já será muito melhor do que não tentar fazer o possível dentro das suas possibilidades.

Rodrigo Polesso: Perfeito. É exatamente isso que eu falei para ela. As pessoas têm que ir tão longe quanto podem no momento. Se um dia você conseguir optar por orgânicos, ótimo! É um passo além. Dr. Souto, vamos começar a pisar no terreno da má ciência um pouco. Vamos tentar ser imparciais sendo bastante imparciais. Com esses assuntos é difícil manter a imparcialidade. O primeiro assunto que falaremos hoje é sobre a campanha do arroz. É uma campanha de 2017. Você encontra todos os links no EmagrecerDeVez.com. Saiu no Zero Hora, o maior jornal do Rio Grande do Sul. É uma campanha dos produtores de arroz do Rio Grande do Sul. Essa não é a primeira vez que a indústria do arroz faz essa campanha. Em 2005 eles fizeram uma campanha também. Mas agora eles foram um pouco além no seguinte aspecto. Nada contra a indústria promover seus produtos. Mas mentir e potencialmente aumentar o risco de morte de pessoas com diabetes, por exemplo, não parece ser uma coisa legal. Como parte dessa campanha, eles colocaram nas mesas de um refeitório de um hospital um panfleto dizendo o seguinte: “Arroz é saúde. Auxilia no tratamento da diabetes.” Isso é fato que é mentira. Isso é uma mentira deslavada… É comprovado pela ciência que é mentira. Se um fisioterapeuta receita corrida diária para uma pessoa que tem problema no joelho, por exemplo, ele provavelmente será caçado. Por que isso não acontece com a indústria que continua vendendo veneno para doentes? Dr. Souto, vamos lá. Qual é o problema em convencer as pessoas de que arroz, por exemplo, é bom para o diabetes?

Dr. Souto: Por onde começar, Rodrigo? Meu Deus. Eu concordo com você. O papel da indústria é promover seu produto. Se eu tenho um indústria de automóveis, eu vou dizer que você tem que comprar o carro porque ele é confortável, porque ele tem autor desempenho, porque ele vai tornar suas viagens agradáveis… Vou fazer um comercial com um casal jovem dirigindo, vento no rosto, aquela coisa. Mas eu não posso fazer uma propaganda dizendo que mais carros vão diminuir a poluição e o aquecimento global. Uma coisa é promover o produto, outra coisa é mentir. O que mais me chocou nessa história não foi o Instituto Rio-grandense do Arroz fazer uma campanha para vender o arroz. Uma bizarrice como “auxilia no tratamento do diabetes” choca. Seria mais ou menos como eu escrever “poeira doméstica auxilia no tratamento da asma”.

Rodrigo Polesso: Ou “um cigarro a mais por dia ajuda a parar de fumar.”

Dr. Souto: “Cigarro auxilia no tratamento da doença pulmonar obstrutiva crônica.” Eu até consigo entender numa lógica capitalista selvagem… Mas essa campanha foi desenvolvida dentro do refeitório e um hospital da cidade. O que me espanta é que o hospital aceitou. Esse é o ponto. Isso é absolutamente incompreensível. Existem duas possibilidades e as duas são ruins. A primeira é que o hospital se vendeu sabendo do dano. Seria péssimo, seria horrível. A segunda é que eles não têm noção.

Rodrigo Polesso: Que eu acho a mais provável.

Dr. Souto: É o mais provável. Realmente, eu quero acreditar nisso… Que eles não têm noção de que arroz é amido, amido é glicose e que diabetes é uma doença que se caracteriza pela intolerância à glicose. O índice glicêmico do arroz é superior ao do açúcar de mesa (sacarose). Se eu der a mesma quantidade de açúcar de mesa, em colheres de sopa na boca de um diabético ou a mesma quantidade de glicose proporcionalmente em arroz na boca de um paciente diabético, a glicose dele vai subir mais com o arroz. Até porque o arroz é glicose pura… Ele é amido puro, enquanto que o açúcar é 50% frutose – o que não torna açúcar melhor. Só parar ficar claro que estamos tratando de… Não poderia haver uma coisa mais absurda. Isso é o que a ente esperaria ver num jornal de piada, como o Sensacionalista. Nos Estados Unidos tem o The Onion – eles publicam manchetes absurdas, de piada, de humor. Isso aqui é um humor negro. É realmente muito triste ver. É um bom hospital, um hospital que tem prestígio na cidade. Não acredito que isso tenha sido por interesse econômico. Eu acho que é por ignorância. Como eu disse, são duas opções e as duas são ruins. O fato de ser por ignorância é triste.

Rodrigo Polesso: Podemos imaginar que a indústria com certeza patrocinou o hospital de alguma forma. O hospital aceitou e eles estão propagando dentro do hospital essa questão do arroz ajudar no diabetes. Com certeza esse hospital tem pessoas diabéticas fazendo tratamento lá. Se as pessoas levaram a sério essas instruções vai ajudar a fazer com que o hospital continue tratando essas pessoas diabéticas. O dinheiro está no gerenciamento contínuo da doença e não na cura dela. Se conspirarmos um pouco além, veremos que é muito melhor para o negócio manter as pessoas sob gerenciamento. Evitam que a pessoa morra, mantêm ela no medicamento, fazendo exames… Mas não curam, porque isso acabaria com a fonte de renda.

Dr. Souto: Por esse raciocínio os cirurgiões torácicos deveriam dizer para as pessoas continuarem fumando, para que eles tenham mais câncer de pulmão para operar, mas eles são os que mais combate. O fato é que as pessoas fumam igual. Então, mesmo que fizessem uma campanha para que os diabéticos não comessem arroz, mas boa parte deles continuarão comendo. É da natureza humana. Se conselho fosse bom, a gente vendia e não dava. Eu realmente penso que o que acontece aqui é ignorância. No press release do Instituto Rio-grandense do Arroz (IRGA) consta que não apenas eles colocaram esses avisos no hospital, mas que também fizeram campanhas educativas junto aos nutricionistas. Aí entra a questão da formação. Muitas vezes o pessoal não sabe o que é um ensaio clínico randomizado, não sabe ir no Pubmed pegar um estudo. Então, vem uma figura de autoridade, provavelmente um nutricionista… Este pago pela indústria… Para falar para os outros nutricionistas como o arroz é importante na dieta do diabético, assim como o cigarro é importante na dieta do cardiopata. Eu fico imaginando que a direção do hospital terceiriza a decisão se essa campanha deve ser feita ou não para os nutricionistas… Os nutricionistas receberam uma aula de uma figura de autoridade contratada pelo Instituto do Arroz. Eu fiquei sabendo dessa campanha antes de ela sair no jornal. Uma colega endocrinologista e que segue a linha low carb me mandou um WhatsApp com a foto: “Olha Souto. Olha o poder da indústria: dentro do refeitório do hospital.” É uma placa de acrílico que fica em pé no meio da mesa do refeitório escrito: “Arroz é saúde. Auxilia no tratamento da diabetes.” É paroxístico, bizarro… Sem explicação. Perigoso. Criminoso. De quem quer vender arroz, até esperamos isso, mas que um hospital aceite isso é muito triste porque todas as opções que explicam isso são horríveis.

Rodrigo Polesso: Exato. Vamos falar sobre o próximo assunto que é também de má ciência. Eu mencionei no começo do podcast. Foi postado em vários lugares. Um deles foi a Superinteressante, da editora Abril. O título é: “Batata frita é mais benéfica do que batata cozida”. Todo mundo vai gostar de ver uma notícia dessas. Foi um estudo feito pela Universidade de Granada na Espanha. Lembrando que existem interesses grandes nessa região da Europa na dieta mediterrânea. Tem uma indústria muito grande de azeite de oliva lá. Tem um interesse profundo, mas não vamos nem falar sobre isso. O jeito que a mídia propagou essa notícia é que realmente, a batata frita é mais benéfica que a cozida. Fui investigar o estudo original. Tem um artigo publicado no site da Universidade de Granada que fala o seguinte: “Os resultados mostram que a qualidade geral desses vegetais (batata, berinjela, abóbora)… Foram cozidos em óleo profundo, com um pouco de óleo da frigideira, cozidos na água e na água com um pouco de azeite de oliva.” Foram 4 métodos. No final eles compararam quais legumes tinha o maior valor nutricional. “Os resultados mostraram que a qualidade geral desses legumes foi substancialmente melhorada quando foram fritos em azeite de oliva extra virgem. Isso ocorre porque esses legumes foram enriquecidos pelos fenóis do azeite de oliva, que foram transferidos do óleo para eles durante o cozimento. Nós concluímos que fritar em azeite de oliva foi a técnica com a maior associação com o aumento desses fenóis. Isso também aumenta a densidade calórica desses legumes, afinal o óleo faz parte deles agora.” É basicamente isso que dizem nesse artigo. Aí temos os highlights, que são os pontos que resumem tudo. Veja só que interessante esses quatro pontos que eles dão. Eles concluem o seguinte: “Os legumes preparados com azeite de oliva contêm fenóis que não eram identificados no legume antes do cozimento.” Obviamente, já que o legume antes do cozimento não tinha azeite de oliva nele. “Os vegetais foram enriquecidos com os fenóis do azeite de oliva que foram transferidos através do óleo. A capacidade de antioxidantes desses legumes foi aumentada quando preparadas em óleo. O óleo, quando foi colocado em água, não aumentou a capacidade de antioxidantes dos vegetais.” Basicamente, estão falando que os benefícios nutritivos de cozinhar em azeite de oliva é que o legume, depois de ser cozido no azeite de oliva, absorverá esse azeite de oliva e conterá traços desse azeite de oliva. Ou seja, ele vai conter coisas que não continha antes de entrar em contato com esse azeite de oliva. É óbvio que se você cozinhar o legume em água, ele não terá azeite de oliva, já que azeite de oliva não é criado espontaneamente na água.

Dr. Souto: Não existe geração espontânea de azeite de oliva?

Rodrigo Polesso: Até onde eu sei, não existe. Eles concluem que cozinhar na água… Se você adicionar o azeite de oliva na água… Isso pode ser recomendado se os legumes forem consumidos junto com a água, porque você consome o bendito do azeite de oliva junto! A conclusão que eu vejo na minha mente é que legumes com azeite de oliva contém nutrientes do azeite de oliva que não continham se não fossem cozidos com azeite de oliva. É um negócio bizarro. Lembrando que o título que saiu na mídia foi: “Batata frita é melhor do que batata cozida”.

Dr. Souto: Você pegou perfeitamente a essência da coisa. Quem lê a manchete, lê simplesmente isso: “Batata frita pode ser mais benéfica do que a cozida”. Veja bem, o que o estudo mostrou é que os fenóis do azeite de oliva se transferem para os vegetais – só isso. Nem sei por onde começar. É tão bizarra essa manchete.

Rodrigo Polesso: Se você quer os benefícios do azeite de oliva, é aconselhável que você o adicione na sua alimentação.

Dr. Souto: E eu preciso fritar uma batata para isso? Por que não colocaram que berinjela frita pode ser benéfica? Porque é uma forma de puxar cliques! Hoje em dia, o site da revista e do portal de notícias se monetiza de acordo com o número de cliques que tem. Então, eu tenho que botar uma manchete que a pessoa largue o que está fazendo, espirre o café e clique. Depois ela vai ler e é esse monte de bullshit. Mas daí ela já leu, já clicou. Ao clicar, têm os anunciantes que vão pagar para o site. Vamos lembrar aquilo que sempre falamos. Existem vários tipos de estudos. Eles não têm a mesma relevância. Isso aqui não é um ensaio clínico randomizado. Eu não peguei mil pessoas, metade delas eu orientei a comer batata frita, a outra metade eu orientei a comer batata cozida e daqui a cinco anos eu vou ver os desfechos duros, de preferência – quem enfartou, quem não enfartou, quem teve diabetes, quem não teve. Isso é o que interessa. Esse estudo não me diz em absoluto se comer batata frita é saudável ou ruim para a saúde, mesmo que seja em azeite de oliva. “Mas não aumenta os polifenóis?” Será que aumentar os polifenóis na batata frita é uma coisa que vai impactar minha chances de ter uma doença no futuro? Será que os polifenóis são a única coisa que importam quando consumo batata frita? Será que eu consumir um monte de amido na forma de batata frita não será ruim para mim? O nosso próximo tópico diz justamente o contrário: quando eu aqueço carboidratos eu produzo uma substância que é tóxica. Eu me lembro de um professor de estatística que fazia o seguinte jogo conosco… Ele dizia: “Façam um experimento. Vão ali na rua e contem por dois minutos quantos carros verdes passam.” Ao final desses minutos, ele pergunta: “Quantos vermelhos passaram nesse meio tempo?” Aí ninguém sabe. As pessoas estavam olhando só para o verde. Esse estudo está olhando só para o polifenol. O polifenol aumentou na batata frita em relação à batata cozida. Se o polifenol não veio da batata e veio do azeite de oliva, como ele teria aumentado na batata que foi cozida com água? É tão bizarro.

Rodrigo Polesso: Nesse artigo postado pela Universidade de Granada… Eles postaram que foi um breakthrough na ciência da alimentação. Foi uma “quebra de paradigma que vai virar o jogo”.

Dr. Souto: Vou colocar um outro assunto que está relacionado. Quando estamos lidando com algo muito complexo, como a nutrição… Quando o ministro da economia toma uma decisão de mudar determinado imposto sobre determinada área produtiva, ou de aumentar ou diminuir os juros, é muito difícil prever a consequência disso, porque é complexo demais. Tenho 3 exemplos pequenos de consequências não antecipadas. Vou ler para vocês. Em Hanói, Vietnam, durante o jugo colonial francês, as autoridades francesas decidiram resolver o problema da infestação de ratos na cidade – uma coisa boa, teoricamente. Para isso, bolaram um plano engenhoso: pagar uma soma em dinheiro para cada pessoa que lhes trouxesse uma cauda de rato. O objetivo era exterminar os ratos. O que aconteceu? As pessoas começaram a criar ratos em casa, para ganhar mais dinheiro. Quem bolou o negócio não pensou nisso. Mas num sistema complexo, as consequências às vezes são diferentes. Vamos ver outro. Paleontólogos no século 19 descobriram que havia muitos fósseis pré-históricos na China. Para aumentar as chances de encontrar novas espécies (boa intenção) ofereceram uma soma em dinheiro para cada osso (cada fóssil) que os camponeses lhes entregassem. O que aconteceu? Cada vez que um chinês encontrava um fóssil inteiro, preservado, ele o quebrava em vários pedaços, de modo que podia ganhar mais dinheiro do que se entregasse o fóssil inteiro. Tentem pensar qual é a consequência antes de eu falar qual é. Depois que eu falo, fica óbvio. Uma lei para a proteção das espécies ameaçadas nos Estados Unidos ordena que se faça uma inspeção nos terrenos em que se pretende construir. Antes de construir uma casa, por exemplo, tem que chamar uma agência que vai inspecionar. Se forem encontradas espécies ameaçadas naquele terreno, o projeto de construção é abortado. A consequência? As pessoas exterminam todo e qualquer bicho ou planta rara em seu terreno, de modo que a inspeção não corra o risco de achar nada. Então, é aquele negócio: de boas intenções o caminho para o inferno está cheio. Se eu resolver comer mais batata frita para consumir mais polifenóis… Polifenóis são bons… Será que isso vai diminuir, daqui a 20 anos, minha chance de ter diabetes? Será que isso vai diminuir, daqui a 20 anos, minha chance de morrer do coração? Eu não sei. E o pessoal de Granada também não sabe, porque isso não foi um ensaio clínico randomizado.

Rodrigo Polesso: Em defesa dos pobres coitados que fizeram o estudo, eles nem promoveram a batata.

Dr. Souto: Você tem razão. A culpa não é do pessoal de Granada. A culpa é do fato de que hoje, na era da pós-verdade, o que interessa é chamar a atenção com uma manchete bizarra. Se ela está certa ou não está certa tanto faz. Mas ela chamou a atenção, os cliques foram dados, os anúncios foram vistos. Vamos afiar nossos sensos críticos para não cair nessa. Batata frita em azeite de oliva… Eu pessoalmente acredito que seja melhor do que batata frita em óleo de soja. Mas se comer batata frita será uma coisa boa para a sua saúde por causa dos polifenóis e tal… Eu tenho sérias dúvidas. Prefiro consumir meus polifenóis botando um azeite de oliva na minha salada.

Rodrigo Polesso: Exato, concordo plenamente. Antes de partir para o próximo… Temos dois problemas perigosos quando pensamos nessa questão. O primeiro deles é avaliar a qualidade do estudo. Muitas vezes achamos falhas já no estudo. O outro problema é a interpretação do estudo. A pessoa que lê um artigo que foi publicado na Superinteressante, uma pessoa do dia a dia, muitas vezes lerá só o título, nem lê o artigo. Se ela lê o artigo, ela sai com a conclusão de que batata frita é realmente a salvação da pátria. É só fazer uma investigação a fundo, como eu fiz agora, que você saberá a verdade. 99,9% das pessoas não terão tempo nem interesse em fazer esse tipo de coisa. Por isso que é tão importante praticar o ceticismo inteligente do qual tanto falamos aqui. Antes de partirmos para o próximo, vamos falar o que comemos na última refeição? Você lembra do que você comeu?

Dr. Souto: Eu continuo não me lembrando. Aquilo se apagou na minha memória. Dessa vez eu comi um bife com ovo. Foi a única coisa que eu comi. Nem salada eu comi hoje no almoço. Hoje era um dia corrido na minha vida. Um bife com ovo, de um ponto de vista nutricional, é uma refeição bastante completa.

Rodrigo Polesso: Com certeza, é só olhar os esquimós.

Dr. Souto: Vou aceitar que vitamina C não tinha muita. Mas eu bebi uma limonada.

Rodrigo Polesso: Eu já estou praticando a “dieta do jejum intermitente”.

Dr. Souto: Eu acho que você deveria escrever um livro com as receitas do jejum.

Rodrigo Polesso: Seria tão longo que eu não teria paciência para começar. Só para não correr o risco de alguém sair falando… A “dieta do jejum intermitente” é uma brincadeira que fazemos. Por culpa do Dr. Souto, que fez a gente antecipar a nossa gravação, não pude fazer minha comida indiana de hoje… Estou fazendo meu jejum prolongado aqui. Está ótimo, não estou com fome. Então vamos partir para o último assunto na má ciência.

Dr. Souto: Eu acho que todo mundo viu, porque saiu em todo lugar.

Rodrigo Polesso: Vou postar o link do Zero Hora… “Torradas queimadas causam câncer”. A causa desse terror é que quando torrados, alimentos que são ricos em amido como batatas, pães (torradas), biscoitos e etc. formam um composto chamado acrilamida, que estaria associado ao câncer. Foi com essa ideia que essa onda de notícias acabou surgindo. A Agência Britânica de Alimentos recomenda oficialmente no site deles que você evite o consumo de acrilamida evitando cozinhar demais esse tipo de alimento. A acrilamida estaria potencialmente associada a um câncer. Dr. Souto, eu sei que você tem uma mensagem bastante explosiva sobre esse assunto.

Dr. Souto: Hoje eu vou defender a torrada. Não, não quero que comam pão. Mas normalmente viemos aqui falar que “alguém falou que a carne vermelha vai matar vocês” – e isso é bobagem, porque não tem sustentação científica. Hoje eu falo que é ridículo dizer que o pão torrado vai causar câncer, porque isso também não tem sustentação científica. Então, não falamos que é ridículo quando é só para defender a carne. O que defendemos aqui é a boa ciência. Vocês perceberam a ironia? Falamos duas notícias bombásticas e uma contradiz a outra. O problema de eu aquecer demais o pão é gerar acrilamida, que acontece quando eu aqueço demais um carboidrato. Então, o que acontece quando eu frito uma batata, Rodrigo? Então, a batata frita vai me salvar pelos polifenóis? Ou a batata frita vai me matar pela acrilamida? A resposta é: nenhuma das acima. Não caiam nisso, pessoal! Pelo amor de Deus! Que estudo foi esse? Foi um ensaio clínico randomizado? Foram mil pessoas randomizadas metade para comer pão mole e a outra metade para comer pão torrado… Eles fizeram isso por 9 anos, ao final dos quais aferiram quantas pessoas tiveram câncer e quantas não tiveram? Não, não foi isso que foi feito. Na realidade, não foi feito estudo nenhum. O que aconteceu foi que essa organização do governo britânico resolveu – talvez para justificar as libras gastas pelo governo britânico – falar da acrilamida, baseando-se nos estudos que existem. “Ensaio clínico randomizado não tem, mas talvez tenha um estudo epidemiológico mostrando uma grande associação de acrilamida com câncer.” Nem isso tem! Vou pegar um texto da Zoe Harcombe, que é uma nutricionista britânica que sempre faz análises maravilhosas. Sempre que o governo britânico publica uma barbaridade, ela faz uma análise. Olha o que ela disse… Que na BBC, o próprio Cancer Research UK (uma instituição de pesquisa de câncer do Reino Unido), disse para as pessoas terem cuidado porque não há nenhuma evidência para dar suporte a essa afirmação. E que há coisas muito mais importantes a se preocupar no que diz respeito ao câncer tais quais obesidade e cigarro. O site da Associação Americana do Câncer (American Cancer Society) diz o seguinte: “Estudos em laboratório: acrilamida foi identificada estando relacionada a vários tipos de câncer quando dada a animais de laboratório, ratos e camundongos na água em que eles bebem. As doses de acrilamida dadas nesses estudos foram de mil a 10 mil vezes maior do que os níveis normalmente consumido nos alimentos pelos humanos.” Veja bem, se eu tenho uma substância e dou 10 mil vezes mais do que ela normalmente é consumida e ela causa um certo aumento no risco de alguns tipos de câncer, eu diria que essa substância é extremamente segura.

Rodrigo Polesso: Até água se você der 10 mil vezes a mais…

Dr. Souto: A maioria das coisas, se eu der 10 mil vezes a mais… Quanto eu estiver em 100 vezes a mais, o animal já morreu. É muito bizarro, mas vamos adiante. “Estudos em pessoas. Uma vez que a acrilamida foi descoberta em alimentos em 2002 dezenas de estudos verificaram que as pessoas que comem mais desses alimentos podem ter risco maior de certos cânceres. A maior parte dos estudos feitos até agora não achou aumento de risco de câncer em humanos. Para alguns tipos de câncer, rim e ovários os resultados foram mistos – alguns estudos mostram associação e outros não mostram. Mas, atualmente, não há um tipo de câncer para qual claramente haja um risco aumentado relacionado ao consumo de acrilamida.” Isso saiu publicado em vários sites… No Terra, no G1, no jornal Zero Hora… que a “acrilamida causa câncer, não torre demais sua torrada”. A gente tem que ter o ceticismo. Que estudo é esse? É um novo ensaio clínico randomizado? Não, não é. Então vá fazer outra coisa. Se estiver com tempo, vamos ver… É um grande estudo observacional que pelo menos possa levantar uma hipótese legítima a ser testada? Mas esse não foi baseado em nada! Ele foi baseado numa afirmação meio estapafúrdia de um órgão do governo da Inglaterra que criou uma grande tempestade num copo d’água. Estou dizendo que a acrilamida não causa câncer? Não, não estou dizendo isso. Estou dizendo que não tem nenhuma evidência para termos que gerar manchetes baseadas nisso. E se eu fizesse minha torrada com um pouco de azeite de oliva? Ela tem mais fenóis… Então ela será boa para mim? A torrada frita com azeite de oliva… Tipo uma rabanada com azeite de oliva… Essa vai me salvar! A gente não se baseia em mecanismo… Com mecanismo, cometemos os mesmos erros do pessoal do Vietnã e o rabo dos ratos. O cara pensa assim: “Vamos dar dinheiro para cada um que trouxer um rabo de rato. As pessoas vão procurar ratos e isso vai diminuir o número de ratos.” Mas eles não pensaram que podem haver mecanismos alternativos, do tipo as pessoas criarem mais ratos. Se eu fizer a batata frita, pode ser que ela ajude no polifenol, mas pode ser que ela piore da acrilamida. Pode ser que o polifenol e acrilamida não tenham nenhuma influência na saúde humana, o que é mais provável nas quantidades em que são geradas em comida… E que na verdade a batata seja problemática porque a batata é um monte de amido que vai aumentar minha insulina, o que tende a fazer com que eu desenvolva diabetes e síndrome metabólica se eu tiver genética para isso. Então… ceticismo, pessoal. Se não for um ensaio clínico randomizado, já abra o olho. Se for um estudo observacional epidemiológico bem feito, ele só serve para levantar hipóteses. Se for um estudo em laboratório onde o rato bebeu 10 mil vezes mais a coisa… Esquece. Isso e lixo é a mesma coisa.

Rodrigo Polesso: Eu fiz atrás dos estudos para ver qual é a verdade sobre isso. Eu não entendo o grande interesse do governo em gastar dinheiro com acrilamida, mas isso é outro assunto. Então, fui atrás das evidências científicas mais atuais. Como o Dr. Souto falou, não tem ensaio clínico randomizado, mas têm algumas evidências que todo mundo tem acesso, inclusive a Agência Britânica de Alimentos. A primeira fala o seguinte… Uma revisão publicada em 2012 fala o seguinte: “Uma maior exposição à acrilamida acontece através do tabaco (pessoas que fumam). Então, fazendo qualquer estudo relacionado a isso você descobrirá uma maior exposição à acrilamida em pessoas que fumam.

Dr. Souto: O que é um gigantesco fator de confusão. As pessoas que tem mais acrilamida têm um risco maior de serem fumantes – e isso obviamente influencia o risco do câncer.

Rodrigo Polesso: Essa revisão conclui o seguinte: “Depois de um extensivo exame de toda a literatura publicada até 2012, nós não encontramos nenhuma evidência credível que o consumo de acrilamida na dieta esteja relacionado a algum tipo de câncer no ser humano. No entanto, a investigação epidemiológica da acrilamida e câncer parece ser uma prioridade errada de pesquisa.”

Dr. Souto: Essa foi forte.

Rodrigo Polesso: Na cabeça… Parem de gastar dinheiro nisso! Mas é claro que não pararam. Em 2010, antes do estudo ser publicado, teve um estudo feito na Finlândia feito somente com fumantes. Eles concluíram o seguinte: “Um alto consumo de acrilamida está associado com o aumento do risco de câncer de pulmão, mas não outros tipos de câncer em pessoas fumantes.” Olha só que interessante.

Dr. Souto: Quem fuma vai ficando com dedos das mãos amarelados. Então, dedo amarelado está associado com câncer de pulmão. A diferença é que se eu lavar o dedo isso não vai reduzir o risco de câncer. O dedo amarelado é só um marcador de cigarro, assim como a acrilamida nesse caso que você citou é um marcador de cigarro. Por isso a associação com o câncer de pulmão. Talvez não tenha nada a ver com a acrilamida.

Rodrigo Polesso: Eu acho que não. A conclusão com as minhas palavras seriam: Fumar está associado com câncer no pulmão.

Dr. Souto: Caso contrário, comer batata frita e torras deveria dar câncer de pulmão e não dá.

Rodrigo Polesso: Exato. A última revisão disponível de qualidade é de 2015, então é recente. Ela foi publicada no Jornal Internacional do Câncer. Ela fala assim: “Uma revisão sistemática e uma metanálise de todos os estudos epidemiológicos indicam que a acrilamida ingerida através da dieta não está relacionada à maioria dos cânceres comuns.” Ou seja, pessoal, resumindo: não tem evidência alguma para se colocar medo nas pessoas por causa dessa acrilamida. Mas por que esses órgãos estão disseminando esse tipo de informação? Fica a caráter de cada um tirar suas próprias conclusões. Mas sabemos que o medo sempre vende.

Dr. Souto: Esses dias alguém comentou no blog que aqui no podcast a gente selecionava só os estudos que defendiam aquilo que a gente pensava e ignorava os outros. Se essa fosse a nossa conduta, a gente diria “veja como comer carboidrato é uma desgraçada… agora tem mais um motivo… se vocês comerem torrada, vão morrer de câncer.” Não, não estamos fazendo isso. Tem mil motivos para não comer pão, mas a acrilamida não é um deles. A gente aqui fala baseando-se em evidência. Quando falamos que restrição de carboidrato é útil no tratamento da síndrome metabólica, diabetes e para a perda de peso, é porque existem ensaios clínicos randomizados que provam isso. Quando a gente fala que a acrilamida não tem problema… Se eu e o Rodrigo quiséssemos vender a ideia de que o carboidrato é ruim a todo custo… Nós diríamos que o Donald Trump come muita torrada, torrada dá câncer… Não! A gente simplesmente se baseia em evidência e isso vale para os dois lados. Pelo mesmo motivo que carne vermelha não é um veneno na sua saúde, o pão torrado não é o veneno da sua saúde. Ambos são baseados em evidências ridículas de baixíssimo nível que não se sustentam após o mínimo escrutínio científico. Temos que nos preocupar com aquilo que realmente tenha evidência. Quando eu vi essa manchete, eu chamei o Rodrigo no WhatsApp. Essa era a chance de mostrar que não importa para que lado seja, evidência é evidência. Por mais que eu ache pão uma coisa ruim da dieta das pessoas, não é por isso que vou dizer que a acrilamida é mais um motivo. Isso é um negócio ridículo porque não tem evidência.

Rodrigo Polesso: Perfeito. Exatamente isso que eu queria passar também. Só defendemos as filosofias que defendemos nesse podcast porque seria criminoso defender o contrário uma vez que sabemos que o contrário é uma mentira perigosa à saúde de todo mundo. Todo mundo que é entusiasta da ciência gosta de ver estudos que tentam provar o contrário do que acreditam. Essa seria a mentalidade correta de todos os cientistas. Aí você fica curioso para tentar quebrar sua própria hipótese. Então, com certeza se surgir algo assim, daremos toda a atenção possível porque o que mais queremos é nos aproximarmos da verdade imparcial, da boa ciência. Seria criminoso divulgar mentiras quando sabemos da verdade. Dr. Souto, obrigado pela participação de hoje. Espero que os assuntos de hoje tenham sido úteis para vocês para fortalecer nossa mensagem a respeito da má ciência… Dos cuidados… De manter esse ceticismo inteligente que faz bem para tudo mundo. Então, por favor, compartilhem se quiserem. A gente se fala no próximo episódio, na próxima semana. Um grande abraço. Dr. Souto, obrigado.

Dr. Souto: Grande abraço. Até a próxima.

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