TRIBO FORTE #052 – NO RINGUE: BAIXA GORDURA VS BAIXO CARBOIDRATO. NOCAUTE?

Bem vindo(a) hoje a mais um episódio do podcast oficial da Tribo Forte!

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No Episódio De Hoje:

Neste discutimos 2 novos estudos que compararam de forma bastante interessante intervenções low-fat (baixa gordura) e low-carb (baixo carboidrato) no quesito benefícios para pessoas obesas e com diabetes tipo 2.

O interessante de testar neste tipo de pessoa é que se estas pessoas verem benefícios, pessoas mais saudáveis e que ainda não chegaram neste ponto crítico tenderão a ter resultados talvez ainda melhores e quiça prevenir um futuro nestes moldes.

  • Resultados de uma meta-análise de 10 ensaios clínicos randomizados que comparam as duas “dietas”.
  • Resultado de um ensaio clínico randomizado muito interessante que comparou as 2 “dietas” mas de uma forma mais “realista”, ou seja, usando a internet como meio de entrega das informações para as pessoas (que é o que mais acontece hoje em dia na vida real).
  • Pergunta da comunidade que coloca as coisas em perspectiva.
  • O que comemos na última refeição.

Espero que aproveite este episódio ?

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Referências do Episódio

 

Meta-análise Dinamarquesa de 10 ECR

ECR comparando dieta low carb a low fat através de programas online

Transcrição do Episódio

Rodrigo Polesso: Bom dia, boa tarde para você. Você está escutando o podcast de número 52 oficial da Tribo Forte. É muito bom estar com você aqui batendo um papo sobre saúde, estilo de vida e verdades nutricionais. E também sobre as balelas, tentando de forma imparcial nos proteger das informações erradas disseminadas pelo mundo. O objetivo principal de tudo isso é que todos sejam o melhor que possam ser… Tendo um estilo de vida que nos faça sorrir na frente do espelho todos os dias. Esse é o grande objetivo da Tribo Forte e desse podcast. Esse é podcast de número 52. Focaremos em alguns resultados novos que saíram no mundo científico. São comparações entre intervenções dietéticas mais baixas em carboidratos e dietas tradicionais mais baixas em gordura, principalmente em pessoas com diabetes tipo 2 e obesas, que são os piores casos. Então, podemos extrapolar um pouco para imaginar o impacto que esse tipo de intervenção pode ter nas nossas vidas, em pessoas mais saudáveis que não estão nesse nível crítico de diabetes tipo 2. Responderemos também uma pergunta da comunidade que acho legal de mencionar. É um ponto bastante curioso. Antes de começar, daremos boa tarde para o Dr. Souto.

Dr. Souto: Boa tarde, Rodrigo. Boa tarde para os ouvintes.

Rodrigo Polesso: Acho que podemos passar para esses resultados novos sobre as dietas. Podemos também comentar sobre uma pergunta curiosa que surgiu na página do Emagrecer de Vez no Facebook. Não vou ler o nome da pessoa. Talvez a resposta seja um pouco enfática e a pessoa pode ficar um pouco magoada. Ela diz o seguinte: “Estou fazendo. Já emagreci. Acho tudo maravilhoso, Rodrigo. Mas eu estou ficando neurótica pela falta de pão. Já fiz todas as receitas que achei low carb. Não consigo comer. Vou acabar largando. Fico triste, pois é muito saudável. A gente se sente bem. É maravilhosa, mas não tem nada para substituir o pão.” O que eu respondi para ela foi o seguinte: “No final a escolha é sempre sua. Para pôr em perspectiva, o pão só foi criado recentemente se considerarmos a história do ser humano. Ou seja, durante 99% do tempo, o ser humano viveu sem pão. Logo, é comprovado que é possível viver sem o pão.” Essa foi a minha resposta politicamente correta lá na página do Facebook. Se uma pessoa pergunta, devem ter muitas outras que têm dúvidas diferentes. Aqui eu vejo um grande problema de valores das pessoas… De ranking de valores. Em outras palavras, o que ela disse foi o seguinte: “A minha vida mudou. Estou muito saudável. Me sinto melhor do que nunca. Mas estou pesando em largar tudo isso, porque não consigo substituir o pão.” Estamos comparando o prazer imediato de comer o bendito do pão com uma vida de benefícios, saúde, bem-estar e boa forma. Posto dessa forma, talvez a pessoa possa ver como está enxergando os valores dela. O que é mais importante? O que é menos importante? Dr. Souto, o que você vê nesse tipo de pergunta? Que tipo de conselho você pode compartilhar em relação a isso?

Dr. Souto: A primeira é que as pessoas têm que se darem conta de que estão embarcando nessa aventura – nesse experimento pessoal – de forma voluntária. Ninguém está obrigando ninguém a largar o pão. Estamos oferecendo uma alternativa. Mas vamos parar um pouco e pensar… uma alternativa a o que? Eu costumo dizer algo no consultório e vou tentar reproduzir aqui. É muito comum que a gente compare – na nossa psicologia pessoal – uma estratégia de tirar açúcar e farináceos com a forma como nós nos alimentávamos até ontem. “Até ontem eu comia croissant, bolo de chocolate, brigadeiro de panela. Agora vou comparar isso com um estilo de vida alimentar no qual não terei essas coisas.” Essa não é uma comparação justa. A comparação correta é com a alternativa. A alternativa é a restrição calórica voluntária. “Eu posso comer o brigadeiro de panela, mas é só uma colherinha. Eu posso comer Bis, mas um ou dois. Não posso comer a caixa inteira.” A pessoa, na realidade, tem que comparar o estilo de vida no qual ela terá uma série de coisas gostosas para comer e no qual ela não irá passar fome, nem com aquela sensação de estômago vazio e terá todos esses benefícios versus uma alternativa na qual ela até pode controlar o peso, mas isso é feito às custas de fome e restrição de todos alimentos.

Rodrigo Polesso: Controle de quantidades.

Dr. Souto: Longe de mim dizer a dieta low carb é a única forma de ser saudável, ou a única forma de perder peso. Todo mundo sabe que não é. O que estamos defendendo é uma estratégia que é mais fácil de se manter no longo prazo, na medida em que a pessoa não passa fome e provavelmente é menos desagradável, porque quando a pessoa está com fome, ela pode comer. Além do que, não se trata só de peso. Se a pessoa tem problemas inflamatórios, dores articulares, alergias que ela percebe que melhoram com esse estilo de vida… Elas vão melhorar só com esse estilo de vida, não vão melhorar se ela continuar a comer coisas inflamatórias, mas em quantidades menores. Se a pessoa se sente melhor, com mais energia, com uma clareza mental melhor… Enfim, se a pessoa está colhendo essa série de benefícios, isso é uma coisa que vai ocorrer nesse estilo de vida. Mas não vai ocorrer se ela continuar comendo biscoito recheado, Bis e brigadeiro de panela em quantidades menores. Não se trata só de peso, né, Rodrigo?

Rodrigo Polesso: Não. Peso é somente a ponta do Iceberg. Isso é o que a gente vê no espelho. A grande parte do iceberg está por trás do espelho. Como você falou, a qualidade de vida, doenças, longevidade e etc. Isso que você falou eu acho muito bacana. Entender o paradigma de forma diferente. A alternativa não é continuar fazendo o mesmo que você estava fazendo antes. Você decidiu mudar. Então a alternativa a mudar é não mudar. E você decidiu mudar. Quando você muda, a alternativa é começar a contar suas calorias comendo veneno, mas menos veneno; ou se liberando disso, comendo o quanto quiser, mas focando na qualidade dos alimentos. É basicamente nessa decisão que as pessoas têm que pensar. Outra coisa que você falou que é interessante é sobre o low carb. É por isso que não costumo falar low carb como sendo um gospel. Eu costumo falar “alimentação forte” porque é um termo mais abrangente. A grande mensagem que falamos aqui sempre, que está por cima de toda essa definição é alimento de verdade. É basicamente isso que pregamos. Sabemos que têm populações no mundo, isoladas, que têm uma alimentação alta em carboidratos, porém carboidratos de verdade. Eles são saudáveis. Assim como têm populações que são cetogênicas, que não comem carboidratos. Uma coisa em comum entre as populações saudáveis é que a questão de basearem a alimentação em alimentos de verdade. Então, a alimentação forte… O grande lema é alimento de verdade. Dentro disso, você tem um espectro de possibilidades, por exemplo, de carboidrato. Você pode escolher se você come menos ou mais carboidrato de acordo com a sua necessidade, seu corpo, a forma que você sente, seu objetivo. Sendo que você mantém a premissa de basear a grande maioria das suas refeições em alimentos de verdade. Esses dois pontos são bem legais da gente enfatizar e reforçar.

Dr. Souto: Vou relembrar algo do qual já falamos aqui no podcast, que é a seguinte analogia. Nossa leitora é mulher e acho que ela vai poder se relacionar bem com isso. É a questão da gravidez. Muitos de nós gostamos de uma bebida alcóolica, de um vinho, de um espumante. Infelizmente, alguns de nós fumam também. Normalmente, quando a mulher se descobre grávida, ela consegue imediatamente parar de beber. Normalmente, se fosse só por uma questão de saúde, ela diria que não iria largar o vinho ou o cigarro. Mas quando está envolvido o bebe que ela está gestando… Até ontem ela bebia. Hoje ela fez o teste, descobriu que está grávida e não bebe mais. É como você disse no início, Rodrigo. É uma questão de prioridades e valores. “Eu tenho um prazer grande em beber vinho. Mas eu sei que isso aumenta o risco de mal formações fetais, problemas na gestão.” Perto desse risco, o prazer de beber vinho se torna bem pequeno. Daí é fácil parar. Então, acho que as pessoas precisam ter mais amor próprio. Algo mais parecido com esse amor que a mãe tem pelo filho que ela vai gestar. Se a pessoa tiver isso por si mesma, ela consegue fazer mudanças que não são tão grandes. Basicamente, estamos falando entre comer pão e não comer pão. Não estamos falando em atravessar os Andes a pé. É simplesmente não comer pão.

Rodrigo Polesso: E não só isso. Não comer pão na grande maioria do tempo. A pessoas poderiam até se dar essa liberdade… “Em vez de comer a sobremesa no sábado, vou comer meu sanduíche.”

Dr. Souto: A pessoa pode de vez em quando fazer isso. A ideia é não fazer todos os dias. Nossa leitora disse que já está tendo os benefícios. Ela está experimentando os benefícios. Imagine que ela pode ter as duas coisas. Ela pode ter os benefícios e de vez quando, uma vez por semana, comer um pão com manteiga. Enfim, não podemos decidir pelos outros. Essas são coisas de foro íntimo. Já que ela perguntou, estamos dando as nossas opiniões.

Rodrigo Polesso: Sim. Só para fechar esse assunto… Tem um programa na televisão chamado “My 600-lb Life” que mostra pessoas extremamente obesas, de 300 quilos, mais ou menos. Elas são tratadas de uma forma completamente errada, com cirurgia bariátrica e etc. Os argumentos que as pessoas criam para justificar como chegaram nesse peso. Elas chegam nesse peso ao longo de décadas. “Eu amo comida. Eu vejo comida ao meu redor e sinto vontade de comer. Se eu como o que eu gosto, eu como até não aguentar mais. Donuts, fast food, sobremesas. Eu tenho problema com comida. Não consigo me controlar. Eu gosto de comer o que gosto o tempo inteiro.” Novidade! Todo mundo está nessa situação. Todas essas comidas foram criadas para atiçar nossa vontade de comer… Nossas papilas gustativas de todos os ângulos possíveis. Claro que eu também teria muito prazer em comer um donut toda vez de sobremesa. A questão é que você não é especial por gostar desses alimentos e criar um vício que te retroalimenta. Todo mundo tem esse problema e esse risco. As pessoas acabam criando para si justificativas. “Sou especial porque tenho essa paixão especial por pão.” Mas muitas pessoas têm essa paixão por pão, massa, brigadeiro ou por qualquer coisa. É tudo uma questão de valores. O que é mais importante para você? É a questão da gravidez… Acho que é sempre bom trazer isso em mente para colocar em perspectiva… Quando temos um valor que é alto em prioridade, isso coloca o resto em perspectiva. É bom pensar nesse tipo de coisa. Raramente as pessoas são únicas no planeta Terra. Elas geralmente compartilham de um problema bastante comum, mas lidam com ele de uma forma bastante incomum.

Dr. Souto: Perfeito. Acho que as pessoas devem pensar em si com o mesmo apresso com o qual elas pensam no feto que está no ventre de uma mãe grávida.

Rodrigo Polesso: Vamos para o primeiro assunto. É uma metanálise dinamarquesa publicada bem recentemente no British Medical Journal. Eles analisaram 10 ensaios clínicos randomizados que comparavam dietas de mais baixo carboidrato com dietas de mais alto carboidrato e seus impactos na glicemia (açúcar no sangue) e outros aspectos. No total, foram mais de 1300 pessoas analisadas. A conclusão foi que essas dietas baixas ou moderadas em carboidratos têm um maior efeito no controle da glicemia, em diabéticos do tipo 2 em comparação às dietas de mais alto carboidrato. Uma coisa legal que eles descobriram foi que quanto maior a restrição de carboidratos, maior a diminuição da glicose no sangue. Nós já sabíamos disso. Mas não tinha sido mostrado ainda. As dietas de baixo e moderado carboidrato também baixam a hemoglobina glicada (HBA1C) em comparação com as dietas altas em carboidrato no primeiro ano. O estudo também diz que o LDL, peso e controle glicêmico… Além do 1 ano de intervenção, são iguais em ambas dietas. Eles mesmos reconhecem algumas limitações, por exemplo a quantidade de gordura. Não foi controlada, pode ser uma variação. A quantidade de proteína. O índice glicêmico dos carboidratos ingeridos. A hemoglobina glicada inicial. E também a aderência à dieta. Todos esses fatores poderiam afetar, de alguma forma, a precisão dos resultados. Em outras palavras, eles compararam dentro de um ano. Nesse ano, os benefícios foram notoriamente melhores nas intervenções de baixo ou moderado carboidrato em comparação com as de alto carboidrato nas pessoas com diabetes tipo 2. Mas eles dizem que a partir desse um ano, as diferenças tendem a se igualarem, talvez devido a todas essas limitações que acabei de citar. Dr. Souto, é um resultado positivo. Mas não acho um estudo preciso o suficiente. Ele deixa muita margem para várias interpretações.

Dr. Souto: É interessante porque é mais uma metanálise. Para quem não nos acompanha desde o início… Eu prometi que uma vez por semana eu falaria sobre ensaios clínicos randomizados. Essa é uma metanálise; ela reúne vários estudos anteriores. Isso tem um poder estatístico grande. Ela é uma metanálise de ensaios clínicos randomizados, ou seja, são experimentos. Não estamos só observando o que as pessoas fazem, mas estamos isolando a variável “consumo de carboidratos”. O que o estudo mostrou de forma inequívoca é que a restrição de carboidrato é eficaz para o controle da hemoglobina glicada, que é o nosso exame mais eficiente para avaliar a eficácia de uma intervenção e reduzir e glicose. E que existe uma curva dose-resposta – ou seja, quanto mais low carb for a dieta, maior será o seu efeito de reduzir a glicose. Quando eu estava lendo esse estudo, fiz uma pausa reflexiva. Vivemos num mundo muito bizarro onde alguém acha que não pode ser redundante fazendo um estudo para afirmar o óbvio. Quanto, menos glicose consumimos, menos glicose terá no sangue. Deveria ser tão óbvio e intuitivo, que isso deveria ser claro. “Quanto mais sol eu pego, mais me bronzeio”.

Rodrigo Polesso: Seria uma piada se não fosse escrito tão bonitinho num estudo científico.

Dr. Souto: Nós vivemos num estudo tão bizarro do ponto de vista nutricional… As pessoas têm noções tão esquisitas, que precisa um estudo para dizer, “quanto mais low carb uma dieta, mais eficiente ela é no controle da diabetes”. Isso é auto-evidente. Esse é o primeiro aspecto. A segunda coisa é que você tem razão. Os ensaios clínicos randomizados que foram agregados nessa metanálise são estudos bastante heterogêneos. Alguns restringiram bastante os carboidratos, outros restringiram pouco. Uns tiveram baixa gordura, outros tiveram mais gordura. Outros tiveram menos proteína. Então, estamos agregando coisas muito diferentes para fazer uma análise conjunta. Talvez, por isso, a única coisa que tenha sistematicamente melhorado foi o controle da hemoglobina glicada. São realmente comparações de laranjas, bananas e maçãs. Não é tudo a mesma coisa. São estudos diferentes entre si.

Rodrigo Polesso: Oura bizarra que eles falam é que a dieta de baixo ou moderado carboidrato teve o maior efeito no controle da glicemia. Mas logo embaixo, eles falam que o controle glicêmico depois de um ano, foi igual em ambas dietas. Isso para mim mostra um problema sério de aderência…

Dr. Souto: Exatamente. Isso é simplesmente uma demonstração da natureza humana. As pessoas tendem a retornar à zona de conforto. As pessoas tendem a fazer a dieta de forma mais relaxada, cada vez seguindo menos aquilo à medida que o tempo passa. Isso não significa que low carb perca a eficiência com o tempo. As pessoas é que deixam de fazer low carb com o tempo.

Rodrigo Polesso: Não só low carb, como qualquer outra.

Dr. Souto: Qualquer intervenção. Quantas pessoas se matriculam numa academia de ginástica em primeiro de janeiro e, dessas pessoas, quantas ainda estão fazendo as atividades em 31 de dezembro?

Rodrigo Polesso: Por isso que cobram planos anuais das pessoas.

Dr. Souto: Exatamente. Certa vez eu escrevi uma postagem no blog comentando justamente isso. Os estudos tendem a fazer uma análise estatística que a seguinte… A pessoa foi sorteada num ensaio clínico randomizado para um grupo de low carb ou para um grupo de dieta normal. Depois de seis meses, várias pessoas já desistiram e já estão comendo da forma como comiam antes, mas continuam sendo contabilizadas na estatística do estudo como se estivessem no grupo no qual elas originalmente entraram. Isso análise com intenção de tratar (ITT). É isso que faz com que nos estudos a intervenção pareça ir perdendo o efeito com o passar do tempo. A intervenção continua tão eficaz 5 anos depois. A diferença é que muitas pessoas vão largando com o passar do tempo. Às vezes é como nossa leitora. “Funciona, é tudo muito bom, mas não consigo viver sem pão. Prefiro ficar diabética.”

Rodrigo Polesso: Exatamente. É um ótimo exemplo.

Dr. Souto: É muito interessante. Existem alguns estudos que contêm dados suficientes para que se possa fazer uma reanálise independente dos dados. E nessa reanálise verificar quem está fazendo direito versus quem não está. Quando vemos assim, a diferença não se atenua com o passar do tempo. E digo mais. Isso se aplica à medicação também. A tendência das pessoas… Por exemplo, com remédio para pressão… Uma boa quantidade das pessoas (30%, 40%) depois de um ano já não está tomando o remédio. As pessoas simplesmente param de tomar o remédio. Então, é da natureza humana. Os médicos que estão nos ouvindo sabem disso. O fato da gente ter prescrito uma medicação não significa que a pessoa continuará usando. Às vezes ela para de usar porque teve um efeito colateral, porque custa caro, porque encheu o saco de tomar remédio, não gosta de ter que acordar e tomar aquele comprimido… Os motivos são vários. Mas a tendência do ser humano é não seguir fazendo uma determinada intervenção por muito tempo. Por isso que existe aquela coisa que já comentamos num podcast anterior. Quando comparamos as pessoas que seguem determinada recomendação com as que não seguem, as que seguem tendem a ter desfechos melhores não apenas porque a intervenção funciona. Quando comparamos as que tomam placebo direito, elas também têm desfecho melhor. São simplesmente pessoas mais disciplinadas em tudo em suas vidas. Repito: o fato de que nos primeiros seis meses uma dieta low carb é muito melhor do que ume dieta não low carb para diabete, mas depois de um ano serem parecidas, não mostra que uma dieta low carb é parecida com qualquer outra dieta. Mostra que uma dieta low carb é muito melhor, mas que as pessoas tendem a não seguir qualquer coisa (não apenas dieta low carb) no longo prazo. Como estamos tratando de médias de grupos nesses estudos… 50 pessoas num braço do estudo e 50 pessoas no outro… Se dessa 50 pessoas, 60% delas foram largando e voltando aso hábitos antigos, é evidente que a média do resultado do estudo começa a ficar ruim.

Rodrigo Polesso: Sim, perfeito. Tem outro estudo bastante legal e que vai corroborar essa ideia toda que estamos falando, inclusive essa questão da aderência. É um estudo muito interessante publicado no mês passado. É mais interessante ainda porque ele considera a internet como meio de propagação de informação. Foi um ensaio clínico randomizado no qual eles randomizaram 25 pessoas obesas com diabetes tipo 2 em dois grupos durante 32 semanas. O primeiro grupo recebia acesso a um programa online que guiava as pessoas por um programa bem low carb, com uma dieta mais cetogênica e dicas de estilo de vida. Alguma coincidência com que costumamos falar? O segundo iria receber acesso a outro programa online padrão. Esse com a dieta para diabéticos, baseado na ideia tradicional de baixa gordura e também com hábitos de acordo com as diretrizes alimentares americanas. Resultado disso: mais da metade das pessoas no grupo do programa low carb baixaram a hemoglobina glicada para menos para menos de 6,5%, enquanto 0% das pessoas do grupo das diretrizes tradicionais fizeram isso. É uma diferença gritante. As pessoas do grupo do programa low carb perderam 9,2 quilos, eliminaram 9,2 a 12,7 quilos de peso, enquanto o grupo das diretrizes perdeu 3 quilos ou ganhou 1,3 quilo. Triglicerídeos baixaram de 60 miligramas por decilitro para 28 miligramas por decilitro no grupo do programa low carb e somente 6,2 miligramas por decilitro a um aumento 33,6 miligramas por decilitro no outro grupo. Ou seja, é uma diferença que está se mantendo em cada aspecto que estamos comentando. Outra coisa muito interessante que falamos de aderência… A porcentagem das pessoas que desistiram da intervenção foi de apenas 8% no grupo do programa online de low carb enquanto – pasmem – 46% de desistências no grupo das diretrizes. A conclusão desse estudo é a seguinte. Indivíduos com diabetes tipo 2 melhoraram seu controle glicêmico e perderam mais peso depois de serem randomizados para uma dieta low carb cetogênica, com um programa de estilo de vida online, em comparação com uma intervenção tradicional de tratamento para diabéticos baseada em baixa gordura. Então, eles concluem que esse entrega online dessas diretrizes dietéticas pode ter ajudado a atingir um maior sucesso no controle do diabetes tipo dois. Então, basicamente é isso. Essa é uma ótima notícia, principalmente para nós. Sempre falo do programa Código Emagrecer de Vez da Tribo Forte. Tudo isso é online. É muito legal ver um estudo que usa esse meio de passar informações para as pessoas e compara uma dieta tradicional, que é baseada em controle calórico, comer menos gordura e se exercitar mais, com uma dieta na qual você pode comer o quanto quiser, focada em qualidade. Nesse caso, eles reduziram bastante o carboidrato a ponto de ser cetogênica. Os resultados não muito gritantes em todos os aspectos de comparação do estudo. Eu achei esse estudo sensacional, Dr. Souto. O que você achou disso aí?

Dr. Souto: Rodrigo, eu achei esse estudo absolutamente fascinante. Eu achei esse estudo sensacional porque ele é um estudo “real world”. Ele é um estudo de mundo real. Ele é diferente daquela situação na qual a gente vai fazer um estudo dentro de uma universidade e as pessoas vão comparecer na universidade em reuniões semanais com um nutricionista, ou então aqueles estudos nos quais o próprio estudo fornece toda a alimentação que a pessoa deve consumir no café da manhã almoço e janta. Isso não reproduz o mundo real das pessoas. Esse estudo não é muito diferente da pessoa adquirir o seu programa, da pessoa seguir a Tribo Forte, da pessoa ler meu blog, ter acesso online à informação. A magnitude do efeito… A diferença entre os dois grupos… É um negócio que deveria deixar qualquer pessoa que defende as diretrizes tradicionais muito pensativa. Na realidade, é como você disse. O número de pessoas que saiu do nível diabético de hemoglobina glicada foi muito significativo no grupo que seguiu a estratégia low carb. Eu diria o seguinte: nenhum medicamento disponível no mercado hoje consegue ter um efeito tão como essas pessoas que se orientaram pela internet como cortar carboidratos. Esse nível de queda da hemoglobina glicada é um negócio que não se vê com as medicações. Simplesmente as pessoas entraram na internet, tinham orientações do que comer, do que deixar de comer… Sendo que as orientações nesse estudo eram as corretas no grupo low carb. Por que podemos dizer que eram as corretas? Por que o resultado foi fantástico num braço e pobre no outro. O grupo que se deu melhor era o grupo que restringia os carboidratos. Quem nos escuta já entende que só poderia ser isso que acontece. O grupo que se deu pior é o grupo que não continuaram seguindo como já comiam. Eles passaram a comer como são as diretrizes para o diabetes do governo americano. Então, quem segue a diretrizes para o diabetes tem um resultado muito pior do que quem segue orientações para restringir carboidratos.

Rodrigo Polesso: E muitos deles pioraram a própria situação!

Dr. Souto: Exato. Muitos pioraram. Um outro detalhe fascinante – e que se junta bem com o que estávamos conversando na primeira metade do podcast – no final 92% do grupo que restringiu os carboidratos ainda estava restringindo os carboidratos (não tinham desistido) comparado com 54% do grupo controle (o grupo que estava comendo a dieta da Associação de Diabetes). Como é essa dieta da Associação de Diabetes? É pegar um prato e dividir metade do prato com vegetais, a outra metade carboidratos e a outra metade é proteínas. Então, é basicamente aquilo que o pessoal recomenda. Quem diz que uma dieta low carb é quase impossível de se seguir… Não é o que a ciência está mostrando. A ciência está mostrando que, ao final de 32 semanas (um tempo razoável) 92% dos participantes do grupo low carb estavam mantendo o estilo de vida. Eles estavam achando bom, já que podiam comer à vontade, não tinham que passar fome, não tinham que restringir as calorias. Eles não também não bobos… Eles estavam vendo que estavam perdendo 3 vezes mais peso do que o outro grupo, que seus exames estavam muito melhores. Enquanto isso, o outro grupo estava restringindo calorias, comendo comida sem gosto, sem gordura e engordando ou perdendo muito pouco peso, com exames que melhoraram muito pouco ou pioraram. E obviamente eles desistem, porque não são otários.

Rodrigo Polesso: Exatamente.

Dr. Souto: Eu achei um estudo absolutamente fascinante e muito relevante para o trabalho que nós estamos fazendo aqui. É possível, com comprovação, baseando-se em ensaios clínicos randomizados (alto nível de evidência), melhorar a vida das pessoas através de programas online.

Rodrigo Polesso: Com certeza. As informações estão ao alcance de todo mundo. Quem passa informação errada é por pura incompetência mesmo, falta de vergonha na cara e falta de se atualizar. Obviamente, não vou deixar essa oportunidade brilhante passar às cegas… Vou mencionar novamente o Código Emagrecer de Vez. Vemos resultados desse jeito. Inclusive, no Código nós passamos todas as informações da alimentação forte, com todas as diretrizes baseadas em evidência e também com dicas de estilo de vida que têm um efeito sinérgico com sua mudança corporal durante três meses. Muita gente quer seguir uma coisa do começo ao fim, focando só naquilo em vez de sair por aí tentando montar o próprio método. Para você que se identifica com esse tipo de coisa, é só entrar em CodigoEmagrecerDeVez.com.br. É um programa do começo ao fim para te ajudar a talvez obter resultados bastante similares a tudo isso que estamos falando aqui agora. Acessando a Tribo Forte você também tem um efeito sinérgico. Os dois são complementos perfeitos. A Tribo Forte vai te ajudar a turbinar e manter seu estilo de vida saudável para o resto da vida. Eu realmente acredito nisso tudo e vejo resultados diariamente. Eu falo de peito aberto mesmo. Muita gente fala que “é propaganda”. Se eu acredito, coloco minha cara a tapa.

Dr. Souto: Uma crítica que poderia ser feita a este estudo é que eles selecionaram muito os pacientes. Eles fizeram um anúncio para participarem do estudo. Duzentas e tantas pessoas se inscreveram e eles selecionaram um percentual bem menor dessas pessoas. Parte das perguntas que eles faziam era assim, “Você é uma pessoa determinada? Quando você se dispõe a fazer uma coisa, você faz?” E eles só pegaram as pessoas que se consideravam determinadas. É uma crítica em termos. Isso pode ter um resultado no estudo se ele fosse aplicado para as pessoas como um todo, mas isso não muda o fato da diferença entre os dois grupos. Foram selecionadas pessoas bem determinadas, pessoas que costumam fazer aquilo que elas se dispunham a fazer. E, ainda assim, metade das pessoas que foram para o grupo das orientações tradicionais desistiram. E 90% das que foram para a orientação low carb se mantiveram. Então, não se trata apenas do fato de terem sido selecionadas pessoas que são mais obstinadas. Mesmo as obstinadas não conseguiram seguir a dieta low fat ineficaz por 32 semanas.

Rodrigo Polesso: É ainda mais expressivo, na minha opinião, o resultado.

Dr. Souto: Eu concordo. Eu acho que é mais expressivo ainda. Mesmo selecionando os 10% ou 15% das pessoas mais obstinadas e colocando só essas no estudo, ainda assim, metade desistiu, porque… É o que eu sempre digo… A pessoa pode executar com perfeição um plano mal feito. Isso não garante bons resultados. Um plano bem feito e bem executado garante bons resultados. Agora, um plano mal feito, mesmo que seja bem executado, não vai dar bons resultados.

Rodrigo Polesso: Muito bem dito. Antes de fechar vamos falar o que você degustou na sua última refeição para fechar em alto astral. Você lembra?

Dr. Souto: Eu degustei um picadinho com abobrinha, cebola e temperos. Uma sala mista. E uma limonada.

Rodrigo Polesso: Feito. Simples, bom, nutritivo. Eu comi um filé de salmão selvagem com uma mistura de legumes na manteiga. Muito simples. Fácil de se fazer. Rápido, nutritivo e ótimo. É isso aí, pessoal. Fechamos o podcast de número 52. Espero que vocês tenham tirado uma coisa de útil desse podcast. Como sempre, a gente se vê na próxima semana. Obrigado, Dr. Souto. Grande abraço.

Dr. Souto: Obrigado. Um abraço.

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