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No Episódio De Hoje:
Neste episódio falaremos principalmente de 2 tópicos recentes:
- Proteína animal volta a ser condenada injustamente por estudo de péssima qualidade, tendencioso e de baixa credibilidade. Vamos ver os fatos por trás das balelas.
- Boa notícia para mulheres que sofrem com problemas de infertilidade. Você pode ter mais poder nas suas mãos do que imagina.
- O que comemos na última refeição.
Espero que aproveite este episódio ?
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Referências do Episódio
Artigo publicado sobre proteína animal com manchete errada
Estudo vegano sobre proteína animal
Novo revisão publicada sobre lowcarb e benefícios para infertilidade
Transcrição do Episódio
Rodrigo Polesso: Olá para você! Tudo bem? Tudo certo? Estamos aqui para o episódio número 53 aqui da Tribo Forte. Você já sabe que é o podcast número 1 do Brasil em saúde. Hoje temos dois assuntos principais aqui para tratar. Primeiramente temos boas notícias para as mulheres que sofrem com infertilidade. É um assunto do qual não me lembro de ter falado aqui antes. Como a alimentação pode aumentar drasticamente suas possíveis chances de sucesso em engravidar? É um assunto bacana e falaremos sobre ele. Depois, teremos balelas na mídia novamente. Daremos explicações por trás de manchetes de estudos que ganharam atenção na última semana condenando principalmente a proteína animal. Faremos um trabalho investigativo e colocaremos as cartas na mesa para que você possa tirar suas próprias conclusões. Você saberá que tipo de importância dar para esse estudo e para essas manchetes que saíram. Antes de começar, vou dar um aviso rápido. No início da semana que vem vão se abrir as porteiras para a venda do primeiro lote de ingresso para o evento da Tribo Forte Ao Vivo 2017. Acontecerá em São Paulo no final de semana dos dias 21 e 22 de outubro. Já falei para vocês marcarem na agenda isso. O evento terá o dobro de tamanho do ano passado. Vai ser muito legal. Será um auditório bem bacana em São Paulo. Novamente teremos vários palestrantes e painéis. Dr. Souto obviamente é uma presença garantia lá. Lembrando que o evento do ano passado lotou muito cedo, até antes de eu poder avisar que os ingressos estavam acabando. Tiveram pessoas revoltadas comigo que o ingresso acabou. Esse primeiro lote estará com o preço mais baixo possível, por ser de primeiro lote. Queremos incentivar as pessoas que já querem confirmar a presença lá. No começo da semana que vem o primeiro lote estará à venda oficialmente. Certifique-se de colocar seu email no EmagrecerDeVez.com, porque eu mando sempre um email avisando em primeira-mão assim que isso estiver aberto. Esse é o aviso. Dr. Souto, tudo bem por aí? Pronto para hoje?
Dr. Souto: Tudo pronto, tudo prontinho. Uma boa tarde para ti e para os ouvintes.
Rodrigo Polesso: Vamos começar com o assunto mais quente, o assunto principal. Acho que muita gente quer ouvir falar sobre isso. Foi essa manchete que saiu agora na mídia: “Colégio Americano de Cardiologia afirma que todas as proteínas de fonte animal aumentam a mortalidade de todas as causas.” Essa foi a manchete. Foi dar uma introdução para vocês ficaram na mesma página que a gente e depois o Dr. Souto vai entrar para enriquecer nossa discussão. Essa manchete foi disseminada na internet, principalmente por sites vegetarianos e veganos, e notoriamente por um site de uma médica. Esse artigo, no site dela, teve quase 24 mil compartilhamentos. O infortúnio principal disso tudo é que a manchete, para começar, está errada e está mentindo. Eu estava falando com o Dr. Souto sobre isso, ele disse perfeitamente: “Quem disse que proteína animal aumenta a mortalidade não foi o Colégio Americano de Cardiologia, como a manchete do site dela disse.” Quem disse foram os autores desse estudo, que são veganos. Ele foi publicado no Jornal do Colégio Americano de Cardiologia. É bem diferente. Inclusive, o próprio estudo diz literalmente que “a visão expressada nesse estudo não necessariamente reflete a visão do Jornal do Colégio Americano de Cardiologia ou do próprio Colégio Americano de Cardiologia.” Já começa passando a mensagem errada para as pessoas.
Dr. Souto: Isso está em negrito, na primeira página. Eles deixaram bem claro que esta é uma opinião destas pessoas. Já começou, como o Rodrigo disse, completamente errado.
Rodrigo Polesso: Começou bem errado. Vamos investigar um pouco mais essa confusão toda. O bendito estudo, para começar, não é um ensaio clínico randomizado. É revisão livre na qual os autores têm liberdade para focar no que eles bem entenderem e mostrarem os pontos que querem mostrar. O principal autor do estudo é um cidadão chamado Neal Barnard. O Dr. Souto vai contar mais histórias sobre essa pessoa também. Ele é notoriamente uma pessoa vegana. Além disso ele é presidente de uma ONG que propaga veganismo. Para você ter uma ideia do nível da coisa, veja o que essa ONG da qual ele é presidente, sugere no site dela para as pessoas que querem começar no vegetarianismo ou veganismo. Eles sugerem que você peça sua pizza sem o queijo. Que você coma proteína vegetal texturizada, que copia a textura da carne, que não tem gordura. Ele fala que é uma ótima ideia para você comer com seus tacos, chilli, sanduíche e etc. Depois ele fala que churrascos de verão são saudáveis e muito divertidos com cachorros-quentes e hambúrgueres sem carne. Esse é o tipo de sugestão que ele dá. Essa é a pessoa por trás desse estudo. Vamos falar sobre os dados do estudo, para você entender o nível de evidência e o nível de raciocínio que foi usado por essa pessoa para fazer esse estudo. Quando você entra nesse estudo, tem uma imagem sumarizando algumas coisas. Eles publicaram um gráfico sumarizando alguns achados da revisão livre dele. Alguns dos mais chocantes na minha opinião são os seguintes. Ele coloca como “alimento perigoso a ser evitado: óleo de coco, por ser alto em gordura saturada e por aumentar o colesterol.” Outro alimento perigoso a ser evitado: ovos. Segundo eles, tem um efeito de aumento de colesterol no sangue. Essas coisas todas já foram comprovadas como não verdades. Inclusive, sobre ovos, especificamente, você pode digitar “mito dos ovos Emagrecer de Vez” no YouTube para ver um vídeo no qual eu falei só sobre isso. Para começar, mais mentiras e mais raciocínio fraco sendo colocado nesse artigo. Outro erro crucial desse estudo, que é cometido em muitos outros também, é o que já falamos muito… Sobre desfechos duro e desfechos substitutos das coisas. Por exemplo, se você estudar o consumo de gordura saturada e depois ver que gordura saturada aumenta o colesterol total, você pode cometer o grave erro de extrapolar e assumir que a gordura saturada aumenta o risco de morte – simplesmente porque você acha que o aumento de colesterol total é algo danoso. Sabemos que essa extrapolação são estaria correta. Tem também esse problema. Como falamos em um podcast recente, os estudos observacionais que avaliam o consumo de carnes, por exemplo, sempre incluem carnes processadas (como salsicha e peperoni) no mesmo saco das carnes de qualidade (como um steak). Só isso, na minha opinião, já invalidaria qualquer estudo que avalia carne e relaciona isso com qualquer outra coisa. Afinal, a pessoa que come carne processada, normalmente não a come sozinha. Você não abre um saco de peperoni e começa a comer. Você o come numa pizza. Você não abre um saco de salsinha e começa a comer. Você come num cachorro-quente com ketchup e outras coisas em cima. Enquanto um bife de gado de pasto você pode degustar ele sozinho, com uma salada ou com outras coisas. Resumindo: temos mais um estudo mal feito, extremamente tendencioso, promovido por vegetarianos e veganos que ganhou a mídia se passando como uma mensagem oficial do Colégio Americano de Cardiologia. Ele foi compartilhado por dezenas de milhares de vezes. O meu objetivo com essa introdução é te deixa na mesma página para você ver o tamanho do absurdo. Dr. Souto, sei que você também recebeu um monte de questionamentos. Vamos entender um pouco mais essa discussão para colocar as coisas em perspectiva.
Dr. Souto: Pois então. A manchete da postagem da médica que você falou, e eu circulou pela internet, era assim, “Colégio Americano de Cardiologia afirma: Todas as fontes de proteína animal aumentam a mortalidade por todas as causas.” O Colégio Americano não afirmou nada. Quem afirma isso é esse grupo de autores. Eles fazem uma diferenciação. Eles não dizem que peixe aumenta a mortalidade, embora seja uma proteína animal. Estou mostrando como cada ponto dessa manchete está equivocado. Terceiro, não está escrito que elas aumentam a mortalidade. O verbo colocado dessa forma implica causa e efeito. Se eu digo que as fontes de proteína animal aumentam a mortalidade, eu estou implicando que o sujeito “as fontes” está vinculado a um aumento mortalidade. O correto, que a Dra. Poderia colocar é “Algumas fontes de proteína animal estão associadas a um aumento de mortalidade por todas as causas”. E é por todas as causas mesmo, Rodrigo, inclusive por acidentes automotivos, violência, suicídio. Já deve estar ficando claro para quem nos ouve… O pessoal que nos ouve há mais tempo já ouviu essa história… Obviamente, não é a carne que vai aumentar as chances da pessoa bater o carro e morrer. O que acontece é que o tipo de pessoa que depois de passar anos lendo essas manchetes e está convencida de que carne faz mal… Ela fala “faz mal, mas vou comer igual”. Acontece a mesma coisa quando ela lê “dirigir sem cinto de segurança é ruim”… “Mas azar, vou dirigir bêbado e sem cinto.” Ou seja, é um estudo observacional. Não estabelece causa e efeito. Nós já sabemos que sempre vai aparecer essa correlação espúria, que é uma correlação devido ao fato de que é um marcador. Da mesma forma que aquelas pessoas que comem menos carne vermelha são os escoteiros do grupo; elas seguem todas as recomendações, não fumam, não bebem, fazem exercício, cuidam do peso. É isso que determina que elas morram mais por todas as causas. Essa é única parte que está correta nessa manchete. É por todas as causas. O fato de que não existe uma única coisa que promova morte por todas as coisas já chama atenção de que nós não temos uma relação de causa e efeito e sim uma associação. Vamos lá. O Dr. Bernard e seus companheiros são membros de uma organização vegana e isso fica bem claro quando vemos nas entrelinhas, já na introdução do trabalho. Estou com o estudo original na minha frente, que deu origem às manchetes. Ele diz assim: “Vários padrões dietéticos controversos, alimentos e nutrientes receberam significativa exposição na mídia com benefícios exagerados”. Eles estão querendo dizer que, “esse negócio de dizer que gorduras saudáveis são boas, que determinados padrões dietéticos controversos…” Controverso é tudo o que eles não defendem. O veganismo não é controverso. Low carb é controverso. Mais adiante ele diz assim: “Cada ano os pacientes são bombardeados com a publicação de novos livros de dieta ‘milagrosos’ que alegam promover a saúde, produzir perda de peso, reduzir o risco de doenças.” Está bem claro que ele está querendo dizer. Ele quer dizer que um livro do Dr. David Ludwig recomenda uma dieta com menos carboidrato. Então, ele tem uma agenda aqui. Eu estava dizendo para o Rodrigo antes que… Num processo judicial nós temos a figura do juiz. O objetivo dele é buscar a verdade. O advogado não. O objetivo do advogado é defender seu cliente. Ele vai dizer que seu cliente não matou, não cometeu crime, mesmo que tenha cometido. Ele não tem compromisso com a verdade, ele tem compromisso com seu cliente. Então, tem que ter muito cuidado com o artigo é escrito por alguém que é um advogado. Ele não é um juiz imparcial. Eu estava falando também para o Rodrigo mais cedo que quando eu vi o nome do autor eu me lembrei que tenho um artigo de 2013 no meu blog. Não é um artigo meu. Ele é traduzido de um artigo de outro autor. Ele começa com uma parte engraçada. É para vocês entenderem quem é o Dr. Barnard. “Neal Barnard MD, chefe do Comitê de Médicos para uma Medicina Responsável (Physicians Committee for Responsible Medicine)”. Quem lê esse título não sabe, mas, na verdade, o que eles promovem é o vegetarianismo.
Rodrigo Polesso: Parece respeitável.
Dr. Souto: É, parece uma coisa neutra. “Neal Barnard MD, chefe do Comitê de Médicos para uma Medicina Responsável, tentou reunir um exército de veganos para protestar contra um Festival de Bacon em Iowa nessa última primavera, mas conseguiu recrutar apenas seis voluntários.” Não estamos falando de alguém que preferiria que seus pacientes comecem uma dieta com mais vegetais e menos carne. Estamos falando de alguém que vai com cartazes protestar na frente de um festival de bacon.
Rodrigo Polesso: Ativista mesmo.
Dr. Souto: O sujeito é um ativista. Nada contra. Acho que vários de nós podemos ser ativistas de várias causas. Quem sabe eu seja um ativista a favor do low carb. Mas o que eu quero dizer é o seguinte: ele tem uma agenda. E os resultados que ele coloca aqui são todos de acordo com essa agenda. Mas alguém pode falar que o que importa são os dados. E eu concordo. Se o sujeito votou no Trump ou na Hillary não interessa. O que importa são os dados que ele está apresentando. Ele começa dizendo assim… A parte que a imprensa sacou do estudo e vai botar nas manchetes: “Nutrition hypes and controversies”. Ele coloca as coisas já fazendo um julgamento de valor, dizendo que é modismo. Isso é estranho numa publicação científica, que normalmente é uma linguagem muito mais circunspecta. Ele começa com “ovo e colesterol na dieta”. Aí ele começa a dizer que o ovo aumenta o colesterol na dieta. A rigor, aumenta. Só que aumenta tão pouco que não interessa. E todo mundo sabe disso. E tem mais: quanto mais ovos o sujeito vai comendo, menos ele aumenta. Se eu não como nada de colesterol e começo a comer, aumenta um pouco o colesterol. É pouco. Mas, se ao invés de eu comer dois ovos eu comer cinco ovos, o aumento não é proporcional. A cada ovo a mais que eu vou acrescentando, o aumento é proporcionalmente menor, porque o corpo começa a fabricar menos colesterol para compensar.
Rodrigo Polesso: Sem contar que o colesterol não tem nada a ver com mortalidade.
Dr. Souto: Sim! Agora estou lendo do artigo do próprio Dr. Barnard. “A adição de 100 miligramas de colesterol por dia na dieta prediz um aumento de LDL de 1,93 miligramas por decilitro.” Então, se a pessoa tem 190 de colesterol total e comer cinco ovos, vai para duzentos. E 190 e 200 é a mesma coisa. Do ponto de vista clínico não faz diferença, por isso que (até mesmo os nutricionistas tradicionais que estudam) liberam o ovo. É por isso que vemos as notícias na própria imprensa leiga dizendo que o ovo está absolvido. Mas o Rodrigo tocou no ponto crucial. Colesterol é um desfecho substituto. Nenhum estudo prospectivo e randomizado jamais mostrou que as alterações de colesterol induzidas por manipulações da dieta tenham qualquer impacto na mortalidade ou na incidência de doença cardiovascular.
Rodrigo Polesso: Amém. Põe isso na parede.
Dr. Souto: É fato que uma dieta de baixa gordura reduz o colesterol no sangue. E é fato que uma dieta de baixa gordura não reduz a mortalidade nem a ocorrência de doença cardiovascular. Ou seja, tanto faz como tanto fez. Portanto, dizer que não é para comer ovo porque ele pode alterar um pouquinho o colesterol não é relevante na medida que esse é um desfecho substituto. E nós já temos ensaios clínicos randomizados medindo o desfecho concreto, que é a morte (enfarto) mostrando que isso não tem importância. Um outro detalhe é que ele não se detém ao fato de que o consumo de ovos, embora aumente o colesterol total, aumenta o HDL também e diminuiu as partículas de LDL densas (que são aquelas que realmente estão mais associadas com doenças cardiovascular). Em outras palavras: o tipo de alteração de induzida no colesterol pelo consumo de ovos é no sentido de reduzir o risco cardiovascular, embora o colesterol total (que é o marcador mais inútil do perfil lipídico) possa aumentar um pouquinho. Quanto pouquinho? Menos de 2 miligramas por decilitro a cada 100 miligramas de colesterol que se consome.
Rodrigo Polesso: Mas sabe o que aumenta mais do que isso, Dr. Souto? A pizza sem queijo que ele falou, as proteínas texturizadas com tacos, chilli, sanduíches e até os cachorros-quentes sem carne.
Dr. Souto: Aí ele entra nos óleos vegetais. Aí tem uma descrição dos efeitos que cada tipo de óleo tem nos lipídeos. Aí ele diz assim: “O óleo de coco virgem retém os polifenóis bioativos que seriam perdidos no refinamento e algumas pessoas propõem que ele tenha benefícios cardiovasculares. Entretanto, há pouca evidência para a redução do risco cardiovascular com a incorporação do óleo de coco virgem. A evidência disponível é de baixo rigor metodológico.” Ele está dizendo o seguinte… Não tem tanta evidência de que o óleo de coco diminui o risco cardiovascular. Vamos super que seja neutro. Aí ele diz a seguinte frase estapafúrdia: “Independentemente disso, o óleo de coco virgem tem altos níveis de gordura saturada e portanto deve ser evitado.” Qual é a evidência científica que nós temos em 2017 de que nós devemos evitar gordura saturada na dieta? Estou falando de evidências científicas com desfecho concreto. Sim, nós sabemos que a gordura saturada pode aumentar um pouco o colesterol, embora aumente o HDL também. As maiores metanálises mostram que a gordura saturada na dieta não tem relação com a mortalidade ou doença cardiovascular. Portanto, se o único motivo para evitar o óleo de coco é porque ele é rico em gordura saturada, esse motivo já refutado anos atrás em várias metanálises. É aquilo que você falou, Rodrigo, quando deu a introdução do assunto. Ele se foca em desfechos substitutos, que é um negócio pega bobo. Quem não está acostumado com essas coisas diz, “É verdade!” Ele é um advogado de uma causa. Ele cita aquilo que fala contra o óleo de coco. Ele não cita os vários estudos que este aumento do colesterol não é relevante porque o que realmente importa é mortalidade e desfechos cardiovasculares. E ele ainda tem essa pequena pérola aqui: “Nenhum estudo prospectivo avaliou a exposição do óleo de coco em relação aos resultados cardiovasculares.” Isso é um motivo para não proibir! Nós não temos nenhum estudo que mostre que faz mal. Aí vem o seguinte: “Mas dados ecológicos indicam que as populações asiáticas que têm o coco como seu principal alimento têm uma baixa incidência de doença cardiovascular.” Então, Rodrigo, me ajude. Não temos estudos que tenha mostrado que faz mal. Nós temos motivos para crer – baseando-se em alguns outros estudos – que faz bem. Nós temos, como único problema, o fato de que ele é rico em gordura saturada, mas isso já foi derrubado pelas várias metanálises que mostram que a gordura na dieta (mesmo a saturada) não tem relação com doença cardiovascular. E os estudos ecológicos mostram que os povos que mais consomem coco têm uma incidência menor de doença cardiovascular do que as populações de outros países. Por que não é para consumir? Porque o Dr. Barnard acha que gordura saturada faz mal.
Rodrigo Polesso: Ele categorizou como “alimento perigoso a ser evitado”.
Dr. Souto: Aí ele chega e diz o seguinte… Por que ele acha que tem que consumir óleo de canola? Óleo de canola tem pouca gordura saturada, é alto em gorduras monoinsaturadas e poliinsaturadas, incluindo o linoleico e o alfalinoleico. Tem ômega 6 e ele acha isso bom. Um estudo recente, uma revisão sistemática de 31 ensaios clínicos randomizados concluiu que o óleo de canola reduz o LDL, mas não tem efeito no HDL, nem na inflamação. Então, diminui doença cardiovascular? Não. Esses ensaios clínicos randomizados não viram isso. Diminui morte? Não. Esses ensaios clínicos randomizados não viram isso. Eles só mostram que diminuíram o LDL. Vamos lembrar para o pessoal que nós já falamos, alguns podcasts atrás do grande ensaio clínico randomizado no qual o óleo de milho foi comparado com a manteiga. O óleo de milho reduziu o colesterol e a manteiga aumentava o colesterol. Qual é o grupo que morreu mais? O do óleo de milho. Então, não caiam no desfecho substituto. Vamos dizer o seguinte… óleo de motor (esse que você põe no seu carro) diminui o colesterol. Isso é motivo suficiente para bebê-lo?
Rodrigo Polesso: Exatamente.
Dr. Souto: Eu quero saber se minha saúde vai melhorar com aquilo. Se eu vou ter uma chance maior de estar vivo aos 85 ou 90 anos. Dizer que diminui o LDL não dá esta resposta. Aliás, nós temos esse exemplo desse ensaio clínico randomizado comparando manteiga e óleo de milho que mostra que as coisas podem ser o contrário do que as pessoas imaginam. Isso que o Dr. Barnard está dizendo aqui não é motivo para beber canola, assim como não é para beber milho. Agora ele vai falar que as berries são boas. Nós concordamos que as berries são boas. O que são berries? Morango, mirtilo, framboesa, amora… Todo mundo concorda. Segundo ele diz assim… Olhe que interessante essa parte… “As nozes e doença cardiovascular.” A gente concorda. Mas ele primeiro diz o seguinte: “As nozes têm muita gordura e são caloricamente densas. Como tal, se elas forem consumidas em excesso, elas vão produzir ganho de peso. No entanto, as análises de grandes estudos observacionais mostram uma relação inversa entre o consumo de nozes e peso. Dá para entender a esquizofrenia? Ele não consegue se convencer que gordura possa ser algo que não seja ruim. Então, ele diz que é ruim. Aí no mesmo parágrafo ele diz, “Entretanto, os estudos mostram que é bom.” Mas, pelo menos, a conclusão dele é que as nozes podem ser incluídas como fator de diminuição de risco cardiovascular. No entanto, controle é necessário e os clínicos devem guiar seus pacientes para que a incorporação das nozes seja acompanhada numa redução das calorias e de outras coisas.” Na realidade, nos estudos que ele acabou de citar ninguém foi orientado a reduzir calorias. Só de comer nozes as pessoas perdem peso, porque elas ficam mais saciadas. “Vegetais verdes são bons para a saúde.” Ok, nós nunca dissemos que não era. Pode comer os vegetais verdes.
Rodrigo Polesso: Isso é o que ele defende de peito aberto.
Dr. Souto: Como os vegetais verdes estão dentro daquilo que a filosofia vegetariana dele aceita, eles são bons. Se for a carne… Aí é ruim, porque está fora. É tudo a mesma coisa. Desfechos substitutos… É não dar bola para os estudos que mostram que não afetam os desfechos concretos porque aquilo vai contra a ideologia dele.
Rodrigo Polesso: Não tem novidade. São os mesmos erros que vêm acontecendo há muito tempo já.
Dr. Souto: O fantástico é o grau de cobertura da mídia. Eu queria mostrar como que saiu a notícia na mídia, mas é uma coisa do tipo “Não pode comer carne!” Por que? Algum novo ensaio clínico randomizado mostrou isso? Não! Vou salientar aquilo que você falou no início, Rodrigo. É uma revisão livre. Existe um negócio chamado revisão sistemática, que é sinônimo de metanálise, de certa forma. A diferença é que a metanálise usa um método matemático para combinar os números dos vários estudos. A revisão matemática não precisa necessariamente conter esse método matemático, mas é sistemática no sentido, “Eu vou incluir todos os estudos que incluam um certo critério de busca.” Então, vou botar ali “carne, mortalidade, doença cardiovascular”. Aí vou fazer uma busca e vou incluir no meu estudo todos os estudos que incluam no critério de busca e que incluam um critério mínimo de qualidade. “Tem que ser ensaio clínico randomizado” ou “tem que tem um número suficientemente grande”. Como eu incluo todos, eu vou incluir os que falam a favor e os que fala contra. Isso é uma revisão sistemática. Mas isso aqui não é isso. Isso é uma peça de opinião. Esse artigo do Dr. Barnard é uma revisão livre, na qual ele escolheu o que queria incluir e o que queria excluir. Não é uma revisão sistemática. Como o sujeito é alguém que carrega cartazes na frente do festival do bacon… Ele é um cara muito focado em dizer a opinião dele e ocultar aquilo que é diferente.
Rodrigo Polesso: É isso mesmo. Eu acho que não ficou dúvida para ninguém do perigo desse tipo de coisa. O pior é que as pessoas vão ler a manchete e vão passar a frente, como aconteceu. Até pessoas que seguem nosso trabalho vão perguntar, “O que vocês têm a dizer sobre isso?” Até mesmo essas pessoas vêm querendo mais informações. Então, o perigo está aí. A mídia não quer saber se é um ensaio clínico randomizado. Provavelmente, não sabem nem o significado disso. Isso vira manchete e o pessoal começa a decidir seus hábitos alimentares baseando-se nisso. Como você viu, os erros começam na primeira linha do estudo. Tem muita coisa errada, Dr. Souto. Não é nada de novo. São os mesmos erros que vão sendo repetidos. A melhor analogia que você fez foi a do advogado e do juiz. Ele selecionou tudo para mostrar o melhor caso possível contra a questão da carne e provando o ponto dele de vegetais e legumes. Então, é isso. Acho que com isso a gente fecha esse estudo. Agora vou passar uma coisa um pouco mais positiva. A gente critica mais porque tem muita coisa por aí para ser criticada. Vamos falar um pouco mais na questão da infertilidade, nunca falamos sobre isso antes. Saiu uma nova revisão publicada no final de fevereiro do jornal Nutrients que analisou o possível benefício de dietas low carb em relação à infertilidade em mulheres. Uma nota importante é que eles consideram low carb quando você ingere menos de 45% das calorias de carboidratos. Para nós, isso não seriam considerado muito low carb. Mas eles consideraram uma dieta com menos de 45% das calorias vindas de carboidratos e fizeram essa comparação. Eles juntaram seis estudos…
Dr. Souto: Esse sim é uma metanálise.
Rodrigo Polesso: Eles foram filtrando.
Dr. Souto: Não é uma peça de opinião. Reúne tudo o que tem publicado sobre o assunto e faz uma análise matemática, estatística. Isso aí é diferente do estudo do qual falamos antes. Esse aqui tem nível de evidência.
Rodrigo Polesso: Esse tem. Eles colocaram tudo na boca do funil e foram diminuindo até chegarem a seis estudos analisados no final. Cinco desses estudos mostram alterações positivas nos hormônios de fertilidade. A conclusão da revisão foi a seguinte: “Reduzir a carga de carboidratos pode reduzir os níveis de insulina no sangue, melhorar o desiquilíbrio hormonal e retomar a ovulação par aumentar as chances de gravidez mais do que uma dieta normal.” O grande benefício de uma dieta de baixo carboidratos se baseando em alimentos de verdade. Nunca tínhamos falado nisso, e é uma evidência bastante significativa para aumentar as chances das mulheres em conseguirem engravidar. É um problema que só vem aumentando com o tempo. Tem clínicas que faturam milhões e milhões com coisas artificiais. E se você tem o poder de mudar sua dieta facilmente e aumentar bastante suas chances, eu acho que é uma coisa a se considerar.
Dr. Souto: Com certeza. Na realidade, o foco principal desses artigos é na síndrome dos ovários policísticos.
Rodrigo Polesso: Desiquilíbrio hormonal.
Dr. Souto: Exato. É uma causa muito comum de infertilidade feminina. Obviamente tem algumas outras causas de infertilidade feminina nos quais a dieta não terá muita influência. Talvez a mulher tenha uma obstrução nas trompas por causa de uma infecção que teve no passado. Esse tratamento seria cirúrgico. Mas aqui estamos falando em ovários policísticos. Uma das coisas que está presente na grande maioria das mulheres com ovários policísticos é a resistência à insulina e a insulina elevada. Só de eu dizer isso, já fica claro que uma estratégia com menos carboidratos pode beneficiar. Menos carboidratos significa diminuir a insulina. Em 2013 eu publiquei no blog uma postagem sobre ovários policísticos comentando alguns estudos que estão incluídos dentro dessa metanálise. Um deles é um estudo conduzido por um médio que você conhece pessoalmente, Rodrigo – Dr. Eric Westman. O título era os efeitos de uma dieta de baixo carboidrato cetogênica na síndrome de ovários policísticos. Era um estudo piloto. Ele mostrou que houve uma melhora no sentido de perda de peso… De testosterona, porque na síndrome de ovários policísticos às vezes a testosterona da mulher aumenta, o que gera espinhas e virilizarão (crescimento de pelos em locais inadequados). Melhorou a taxa do LH do FSH, dos hormônios importantes na reprodução feminina. Melhorou a insulina. Depois eu citava um outro estudo… Efeitos de uma dieta low carb na insulina podem diminuir a síndrome ovariana. Aí o estudo segue. Foi citar o que diz a autora principal do estudo. “Não há nenhuma razão para não recomendar uma redução nos carboidratos da dieta, particularmente os carboidratos processados, para mulheres com ovários policísticos. Pode haver um grande benefício, e certamente não há nenhum malefício”. Isso já vinha circulando faz alguns anos na literatura e agora vem essa metanálise para sedimentar o benefício. Particularmente, Rodrigo, eu já tive experiência em consultório de pacientes que tinham ovários policísticos, não conseguiam engravidar e que em poucos meses depois de adotar uma dieta low carb já estavam menstruando e ficaram grávidas.
Rodrigo Polesso: E você não está isolado nisso. O Dr. Michael Fox, que é especialista em fertilidade fala a mesma coisa. Ele falou que os pacientes dele, que foram mais de mil… Ele comparou o tratamento padrão de fertilidade, que são drogas para aumentar a fertilidade da mulher… A taxa de sucesso com essas drogas gira em torno de 45%, segundo ele. Com alterações na dieta alimentar, essa taxa subiu para 90% a 95%. E como você falou, às vezes ele vê as mulheres ficando grávidas em um ou dois ciclos somente.
Dr. Souto: Aqui em Porto Alegre tem a Dra. Maria Cristina Barcelos, que agora eu vou descobrir se escuta ou não o podcast. Quando ela escutar ela vai me ligar. Ela, faz alguns anos, vem tratando pacientes com infertilidade utilizando dieta low carb com viés paleo. E também pacientes com endometriose obtendo sucesso com o mesmo protocolo. Graças a ela, eu acho que a natalidade em Porto Alegre está aumentando.
Rodrigo Polesso: Olha que maravilha!
Dr. Souto: São vários casos de sucesso. As mulheres com ovários policísticos que estão nos escurando aqui… Muitas delas usam uma medicação prescrita pelo seu médico, que é uma medicação originalmente para diabetes, que é metformina. Por que seus médicos prescrevem um remédio que é para diabetes para tratar ovários policísticos? Porque todo mundo sabe que ovários policísticos é uma doença relacionada com a resistência à insulina. Então, a gente usa a metformina, que é uma droga para tratar a resistência à insulina. O que que é melhor ainda para tratar a resistência à insulina, Rodrigo?
Rodrigo Polesso: Alimentação.
Dr. Souto: Exatamente. É fazer com que o corpo não precise de tanta insulina. O corpo acaba precisando de muita insulina para conseguir metabolizar aquela enxurrada de glicose que a gente bota para dentro via dieta. Em vez de ficar medicando as pessoas – ou até além de medicar, se for o caso – vamos acrescentar uma dieta low carb. Como diz a autora do estudo que eu li antes, não tem nenhum motivo para não tentar uma dieta com menos carboidratos para a paciente com ovários policísticos.
Rodrigo Polesso: Eu espero que essa mensagem chegue a quem ela precisa chegar. É uma notícia muito boa. É um problema muito grave que acaba trazendo muita frustração para casais que têm problema com isso. Você pode fazer uma tentativa sem risco algum, com alimentos de verdade. Não existe motivo para não fazer. Por que não tentar? Talvez você possa aumentar sua taxa de sucesso par 90% ou 95% de gravidez. É uma coisa que tem que ser considerada.
Dr. Souto: Vou até abrir um parêntese, Rodrigo. Vamos pensa um pouco, pessoal. Ovários policísticos hoje é uma coisa tão comum. Mas do ponto de vista evolutivo a existência dessa patologia não faz sentido. É auto-evidente que ovários policísticos é uma coisa ligada ao estilo de vida moderno. Se ovários policísticos sempre tivessem existido, isso já teria sido eliminado do pool genético. Se tem um gene que predispõem a uma doença que impede de engravidar, por definição esse gene não vai passar para a próxima geração. Então, é evidente que ovários policísticos é uma consequência do estilo de vida atual que inclui sedentarismo e uma dieta completamente inadequada, cheia de carboidratos processados. É mais ou menos como o diabete tipo 2, que até a primeira metade do século XX era uma doença relativamente rara e se tornou extremamente frequente. A genética do ser humano não mudou. O que mudou foram os hábitos. O simples fato de ter um monte de mulheres com ovários policísticos indica que algo está errado no ambiente, não nas mulheres.
Rodrigo Polesso: É mais um galho da mesma árvore. Não tem como não ver dessa forma. É mais uma consequência negativa desse desiquilíbrio da insulina, assim como diabetes tipo 2, obesidade e todos os problemas. Se é mais um galho da mesma árvore e você cortar a árvore, você não tem mais os problemas. Todos os galhos vão cair ao mesmo tempo. É a melhor chance de se pegar os maiores benefícios possíveis da saúde… Fazendo uma alteração que não tem risco algum e todo mundo tempo o poder de fazer já na próxima refeição. Falando em refeição, Dr. Souto, você se lembra do que comeu na última refeição para finalizarmos esse episódio?
Dr. Souto: Hoje é fácil. Estou em jejum desde ontem à noite.
Rodrigo Polesso: Não comeu nada, então.
Dr. Souto: Nada.
Rodrigo Polesso: Só na autofagia.
Dr. Souto: Estou consumindo um pouco dos meus adipostos.
Rodrigo Polesso: Na otimização energética.
Dr. Souto: Segundo o que acreditam algumas pessoas, eu devo estar consumindo todos os meus músculos. Não sei se vou conseguir caminhar. Só que não.
Rodrigo Polesso: Só que não. Foi fácil a resposta, então.
Dr. Souto: Para confessar, eu precisava estudar mais afundo os artigos que estamos discutindo hoje e o tempo que eu tinha era na hora do almoço. Eu não estava com muita fome, aproveitei e não almocei.
Rodrigo Polesso: Ótimo. Essa é a flexibilidade metabólica. Muito bom.
Dr. Souto: É isso aí.
Rodrigo Polesso: Eu fui na academia e depois comi um hambúrguer 100% carne. Três ovos juntos. Depois aquele picles fermentado que eu falei. O kimchi também e uma beterraba. Basicamente isso. É isso aí, pessoal. Espero que tenha sido útil para vocês. Continue ligado nos podcasts. Toda semana tem um novo para você. Um grande abraço, Dr. Souto. Obrigado pelo seu tempo. A gente se fala na próxima. Até lá.
Dr. Souto: Beleza. Obrigado. Um abraço a todos.