Bem vindo(a) hoje a mais um episódio do podcast oficial da Tribo Forte!
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No Episódio De Hoje:
No episódio de hoje, veremos:
- Gota, como a dieta alimentar pode influenciar e potencialmente melhorar os sintomas de quem sofre deste mal.
- Estudo falando mais sobre credibilidade científica. Em quem devemos confiar no mundo de hoje?
- Um pequeno vexame vivido aí por um conhecido médico americano.
Espero que aproveite este episódio ?
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Ouça o Episódio De Hoje:
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Transcrição do Episódio
Rodrigo Polesso: Olá! Seja muito bem-vindo. Você está escutando o podcast oficial da Tribo Forte o podcast número 1 do Brasil em saúde. Obrigado por estar com a gente nesse dia de hoje também. Hoje falaremos sobre alguns assuntos. Falaremos um pouco sobre gota. Tanta gente sofre desse problema. Como melhorar os sintomas melhorando somente a dieta? E quiçá prevenir a aparição desse problema. Depois temos um novo estudo que mostra a grande falta de credibilidade escondida por trás de organizações até mesmo grandes e, supostamente, respeitadas. Isso nos faz nos perguntarmos em que mundo vivemos. Em quem podemos confiar? Vou escancarar um problema que apareceu no mundo científico para você ter conhecimento também. Por fim, um “pequeno grande” vexame de um respeitado médico americano. Já o mencionamos no podcast da Tribo Forte antes. Ele joga no lado convencional da ciência, digamos assim. Vamos explicar que vexame foi esse que ele acabou vivendo e assumindo a culpa também. Temos uma pergunta da comunidade para começarmos aquecendo isso tudo. Dr. Souto, tudo bem por aí? Tranquilo?
Dr. Souto: Tubo bom, Rodrigo. Boa tarde e boa tarde aos ouvintes.
Rodrigo Polesso: Isso aí, vamos aquecendo, vamos em frente. A pergunta vem da Gisele Ribeiro Oliveira. Ela pergunta, “Eu gostaria de saber uma coisa. No caso do queijo e do bacon… Eles podem ser os que compramos no mercado ou têm que ser artesanal? Em muitas dietas que vi low carb, todos colocam esses produtos artesanais. Poderiam me tirar essa dúvida?” Com certeza vamos tirar essa dúvida. É aquela questão do ótimo sendo inimigo do bom. Dr. Souto, vou te deixar dar seu palpite sobre essa resposta. Acho que já mencionamos isso antes, mas é bom reforçar.
Dr. Souto: A gente já mencionou mais de uma vez. Acho que é bom reforçar mesmo. Eu não consigo ver nossa estratégia alimentar como uma estratégia elitista. Seria muito pouco útil se fosse.
Rodrigo Polesso: Com certeza.
Dr. Souto: Na situação em que vivemos hoje em dia… A maioria das pessoas tem alguma limitação no seu orçamento. Se fossemos obrigados a comprar as versões super orgânicas, especiais, super paleo… Fica difícil. Muitas vezes a pessoa diz, “Eu não tenho condições de seguir essa estratégia.” Aí a pessoa volta a comer miojo, pizza. Vou dizer uma coisa que eu já falei várias vezes. Na minha visão, o frango mais industrializado vai ser sempre melhor do que o trigo mais integral e orgânico. Algo que é inerentemente ruim, mesmo na sua melhor versão, vai continuar ruim. E algo que é inerentemente bom não vai se tornar tóxico e péssimo porque não é a sua melhor versão. Queijo… Em termos de paladar, faz diferença. Se comprarmos um queijo especial, bem curado… Até mesmo um queijo colonial, de boa procedência… Ele é mais saboroso. É completamente diferente de come aquele queijo meio sem gosto… Mozarela… Que compramos no formato de um tijolinho do supermercado. Agora… O queijo tijolinho do supermercado é low carb. Se não for queijo processado… Quando é queijo processado, está escrito que é queijo processado. Mas se ele for queijo mesmo… Como sabemos se é queijo mesmo? Olhe os ingredientes. Leite, coalho, fermento lácteo, cultura… Cloreto de sódio… Essas coisas assim. Se for só isso, o máximo que vai acontecer é que vamos comprar esse queijo barato que não vai ser tão saboroso, mas cabe no orçamento, é low carb e vai poder ser introduzido na dieta sem problemas. Quanto aos embutidos… Eles não devem ser a base da dieta de ninguém. O bacon, dentro da dieta low carb e paleo… Ele tem o simbolismo do sutiã para as feministas. “Vou tirar o sutiã e queimar.” “Vou comer bacon.” Estou sendo contra àquela cultura que me impedia de comer o bacon. Fora esse papel quase ritual do bacon, de mostrar que “eu sou low carb, eu como bacon”… Às vezes as pessoas se chocam quando eu digo isso… Eu chego a passar um mês inteiro sem comer bacon. É um negócio que definitivamente está longe de ser a base da minha alimentação. Ou vejo bacon como um condimento. Eu vejo ele como uma coisa que pode ser utilizada para refogar com vegetais. Eventualmente para fazer com ovos mexidos, ou um bacon para dar gosto num prato de carne. Mas ele é um condimento. Não é um negócio que vou comer em grande quantidade. Portanto, eu acho secundário se ele é um bacon super orgânico, ou artesanal. Aí alguém vai dizer, “Mas o bacon do supermercado tem açúcar.” Mas é uma quantidade irrisória de açúcar. Na tabela está “zero gramas por porção”. Ele tem, mas é tão pouco que dá menos do que 0,4 por porção. Portanto, se não chega a dar um grama, não é uma coisa que vai liquidar sua estratégia low carb. “Mas ele tem nitritos e nitratos.” Praticamente qualquer carne curada, qualquer carne processada, tipo presunto de Parma, bacon, salame… Sempre terão nitrito e nitrato. As que são orgânicas e não têm nitritos e nitratos industriais têm também nitritos e nitratos, mas são extraídos de vegetais. Mas é a mesma substância química. Eu acho que é muito barulho por nada. Acho que quem tem condições, aprecia… Quem tem um paladar gourmet e tem carteira profunda para isso… Não tenho nenhum problema. Acho sensacional a pessoa investir seu dinheiro em sua saúde. Mas, definitivamente, quem quiser fazer uma dieta low carb com um orçamento mais baixo… Ontem eu vi no supermercado um queijo mozarela que estava 16 reais o quilo. Então, compre uma quantidade maior, congele um pouco. Terá um queijo acessível para usar. Se isso entrar no lugar do pão… Se esse queijo não é um queijo maravilhoso e da melhor qualidade, ele é melhor do que o melhor pão.
Rodrigo Polesso: A gente falou num podcast anterior também… O ideal seria você comprar o queijo artesanal e o queijo artesanal. Mas a alternativa a isso, se você não puder fazer, não é comprar donut e comer cereal de manhã. A alternativa é comprar os mesmos alimentos, mas não da melhor qualidade possível por causa da sua limitação. Legumes orgânicos seriam ideias… Orgânicos, agricultura biodinâmica. A alternativa a isso não é comprar Sucrilhos e batata chips. A alternativa é comprar os mesmos legumes, mas não orgânicos e biodinâmicos. As pessoas têm que ir até onde conseguem. Lembrando de manter em mente qual é a alternativa correta para isso. Quando você pode comprar orgânico ou artesanal… Outro ponto positivo é apoiar as pessoas que fabricam esse tipo de alimento. Quando a demanda aumenta, tende a aumentar a oferta também. Isso fará com que os preços tendam a baixar no futuro, porque será mais fácil de encontrar, terá mais competição e etc. Você votando com seu real toda vez que você compra, você acaba incentivando uma mudança. O principal é mantes em mente a alternativa correta. Manter a perspectiva correta na sua mente. A alternativa não é voltar a fazer uma alimentação tóxica.
Dr. Souto: Vou fazer uma analogia. Imagine que a pessoa diga que queria ter uma BMW, mas não pode ter uma BMW. “Não vou andar de Uno, então vou andar a cavalo.” Andar de Uno é muito melhor do que andar a cavalo, embora o Uno não seja uma BMW. Não estamos negando que a BMW é melhor do que o Uno. Estamos dizendo que o Uno é razoável. O Uno anda, tem ar condicionado. Porque eu não posso ter o melhor, eu não preciso ter como minha única alternativa voltar ao lixo.
Rodrigo Polesso: Exato. Muito bem dito. O primeiro tópico é sobre gota. Problemas com ácido úrico e etc. Tem um estudo bem recente publicado no dia 28 de fevereiro de 2017. Ele foi feito em roedores e humanos. Ele mostra grandes benefícios de uma dieta cetogênica contra sintomas de gota. Uma dieta cetogênica, para quem não nos acompanha, é uma dieta com carboidratos bastante restritos a ponto de favorecer a produção de corpos cetônicos. As crises de gota são causadas por um complexo proteico que eles chamam de inflamassomo NLRP3.
Dr. Souto: Repete bem rápido, três vezes.
Rodrigo Polesso: Se sair alguma coisa desse podcast, é lembrar desse nome. “Inflamassomo NLRP3”. Se você falar isso em qualquer conversa de bar, você ficará como o intelectual da turma. As crises de gota são causadas por esse completo proteico. Numa dieta cetogênica, você tem uma produção elevada de “beta hydroxybutyrate”, que é o BHB. Basicamente, é o nome feio para um corpo cetônico. É o principal corpo cetônico, que tem bastante atenção da ciência. Eles acham que com a produção desse corpo cetônico numa dieta cetogênica, isso vai aliviar o problema de gota. A conclusão do estudo foi a seguinte, “O time acabou vendo que uma dieta cetogênica aumenta os níveis de BHB, que, por sua vez, inibiu esse complexo proteico NLRP3, que acaba causando o sintoma de gota. As dores causadas por esses mini cristais de ácido úrico foram aliviadas sem impactar de forma alguma negativamente o sistema imunológico ou a habilidade dele de defender as pessoas contra outras infecções de bactérias.” Outra coisa que eles falaram também foi que, “Coletivamente, os nossos estudos mostraram que o BHB (corpos cetônicos) é o um combustível alternativo metabólico ao açúcar e também tem um efeito anti-inflamatório, que pode servir como tratamento para gota.” Basicamente, pessoas que têm gota podem se beneficiar bastante da redução dos sintomas das dores com uma dieta mais cetogênica. Eu acredito que podemos extrapolar e dizer que uma dieta low carb, por consequência, mesmo não sendo cetogênica, poderia também diminuir isso aí. E, aumentando assim, o poder do sistema imunológico das pessoas. Afinal, é uma dieta inerentemente menos tóxica também. Extrapolando novamente, uma pessoa que tiver uma alimentação dessa forma, baseada em alimentos reais, você conseguirá prevenir até a aparição desse tipo de problema… Que é uma coisa comum, mas não é normal de se acontecer. Mas é bacana esse tipo de resultado, não é, Dr. Souto?
Dr. Souto: Esse estudo é muito interessante porque ele vem a somar a um estudo sobre o qual nós já falamos há vários podcasts atrás. Estou tentando lembrar de cabeça, acho que era o de número 4. Aquele estudo do qual falamos no podcast de número 4 era um estudo piloto em humanos nos quais se fez uma intervenção de uma dieta low carb com aumento da quantidade de frutos do mar, diminuição de carboidratos e mais gordura (porém monoinsaturada). O que o estudo mostrou foi uma diminuição significativa do ácido úrico e, principalmente, dos ataques de gota. O desfecho medido ali era clínico mesmo… Ataques de gota. Nas dietas tradicionais para gota, são proibidos frutos do mar e peixes, porque eles são muito ricos em purinas. Purinas são as substâncias que o corpo transforma em ácido úrico. Vou fazer um raciocínio paralelo, Rodrigo. A nutrição comete o mesmo erro várias vezes nessas décadas que se passaram, que é o raciocínio simplista. O raciocínio simplista é assim: “Eu não devo comer ovo, porque ovo tem colesterol. Portanto, isso vai aumentar meu colesterol no sangue e vai aumentar os infartos.” Acontece que quando vamos ver, o colesterol do ovo não altera o colesterol do sangue. O colesterol do sangue relacionado ao consumo de colesterol na dieta não está relacionado com doença cardiovascular. Antes de afirmar “não comam ovos”, eles deveriam fazer um experimento. Teste e veja se o ovo faz diferença ou não. Da mesma forma, por muito tempo se afirmou que não podia comer gordura quem tem gordura no fígado. Mas não é o que acontece. A gordura do fígado é produzida pelo próprio fígado como resposta ao consumo de açúcar. Não tem nada a ver com a gordura que a pessoa consome com a dieta. Da mesma forma, se dizia em relação à gota. Como o que causa gota é o acúmulo de ácido úrico nas articulações… Os cristais de ácido úrico vão desencadear a ativação do imflamassomo, que por sua vez vai produzir a dor e o processo inflamatório… O raciocínio é “vamos consumir poucos alimentos que contêm purinas, porque com isso teremos menos ácido úrico e menos gota.” Ninguém pensou em fazer um estudo para ver se realmente restringir esses alimentos era eficiente contra a gota. Hoje a gente tem uma série de estudos mostrando que esse tipo de dieta de baixa purina é extremamente ineficaz no controle da gota. No entanto as pessoas todos os santos dias escrevem no blog, “Eu não posso fazer essa dieta porque não posso comer carne, não posso comer peixe, não posso comer frutos do mar.” É a mesma história do ovo. “Eu tenho meu colesterol um pouco mais alto, não posso comer ovo.” Pode sim! Os estudos mostram que o colesterol do ovo praticamente não influencia no colesterol do sangue. Os estudos mostram que as purinas da dieta do peixe e da carne praticamente não influenciam o ácido úrico.
Rodrigo Polesso: Quem explica muito bem isso é o Gary Taubes no livro novo dele, O Caso Contra o Açúcar. Ele fala dessa questão do ácido úrico também.
Dr. Souto: Exatamente. Aquele estudo que comentamos no podcast número 4 já mostrava isso. É uma dieta que tinha mais proteína, mais peixe e as pessoas melhoraram da gota. Era uma dieta low carb, mas não era uma dieta cetogênica. Há algo mais em low carb – não são apenas os corpos cetônicos – que ajuda. Eu tenho a minha teoria, que é a mesma que o Taubes comenta no livro. Qual foi a grande diferença daquela dieta low carb que comentamos no episódio 4? É que o pessoal tirava o açúcar. 50% do açúcar é frutose, que é a principal causa de elevação do ácido úrico. Esse estudo agora está mostrando por um outro ângulo. Uma dieta cetogênica (very low carb) pode ter efeitos anti-inflamatórios produzidos diretamente pelos corpos cetônicos. Eu confesso que é uma novidade para mim. É muito interessante. Nós temos pacientes que fazem dieta cetogênica e melhoram de doenças inflamatórias e autoimunes. Eu imagina que isso era porque numa dieta cetogênica as pessoas estão tirando grãos, tirando trigo, tirando alimentos inflamatórios. Mas talvez seja uma combinação de tirar essas coisas inflamatórias e ao mesmo tempo efeito anti-inflamatório de uma dieta cetogênica. Vamos relembrar: uma dieta cetogênica é o total oposto de uma dieta para gota.
Rodrigo Polesso: Isso que é interessante frisar.
Dr. Souto: Uma dieta para gota é uma dieta sem carne vermelha, sem carne, pobre em carne, sem peixe, sem frutos do mar, sem camarão, sem nada disso. Sem frios, carnes processadas… Frios são extremamente ricos em ácido úrico. No entanto, uma dieta cetogênica pega tudo isso que eu falei e bota. É com carne (de preferência gorda), com peixes, frutos do mar, com frios, com queijo. E esta dieta provocou melhora de gota em animais e em seres humanos, e diminuição da inflamação nas articulações.
Rodrigo Polesso: É bombástico isso aí.
Dr. Souto: Eu sinto dizer isso… A nutrição tem algo de diferente de as outras ciências da saúde. As outras evoluem, elas abraçam as novidades. Novos estudos surgem, elas vão mudando. Mas se pegarmos uma dieta que um nutricionista tradicionalmente prescreve hoje para um paciente com gota, ela é a mesma que teria sido prescrita há 40 anos atrás, baseado nessa ideia de que não pode comer o ovo porque ele tem colesterol e vai aumentar o colesterol (o que não é verdade). Não pode comer um monte de alimentos porque eles têm purinas e vão aumentar o ácido úrico (o que não é verdade).
Rodrigo Polesso: Outra coisa sobre ciência… É normal não estar certo. É normal em outras ciências você não estar perfeitamente certo e ter erros. Mas o que não é normal, e é impressionante como acontece na nutrição, é que eles não estão um pouco errados, eles estão 180 graus errados. Eles estão propondo o oposto. Seria o pior caso possível, como sendo correto. E a gente não vê isso em outras áreas normais da vida. Todo mundo estaria morto se todo mundo seguisse o oposto do que é certo.
Dr. Souto: Exatamente. No resto da medicina, se faz um negócio chamado “medicina baseada em evidência”. A nutrição é nutrição baseada em hipóteses. Em hipóteses da época em que o homem estava indo para a Lua nos 60 e 70. O Pelé estava ganhando no futebol. É dessa época as hipóteses que são prescritas como dogma dentro da nutrição.
Rodrigo Polesso: Bizarríssimo. Eu falei do evento Metabolic Therapeutics que fui na Flórida. Eles falaram bastante da cetogênica, do beta hydroxybutyrate (BHB, corpo cetônico) e dos benefícios para as pessoas que têm qualquer distúrbio mental estão tendo por causa disso… Que pode ser por causa dessa questão que você falou. Dois aspectos sinérgicos que corroboram um com o outro. Um é a retirada os alimentos que são pró-inflamatórios e outro é esse caráter anti-inflamatório dos corpos cetônicos que podem estar colaborando também para diminuição da inflamação geral no corpo e também no cérebro. As pessoas acabam aproveitando esses benefícios desse tipo de intervenção. Tem muita coisa que me deixam bastante animado de ver as pessoas seguindo nesse caminho. Essa questão de gota… Esse estudo vem para ficar em cima do podcast número 4. Inclusive, se você tiver qualquer dúvida, “Será que eles já falaram sobre ácido úrico? Será que eles já falaram sobre diabetes tipo 2?” No EmagrecerDeVez.com tem um campo de busca lá em cima. Você pode busca-las e ele vai achar onde está publicado. Porque todos os episódios a gente faz um esforço de transcrever completamente. Como não tem como procurar por áudio, tudo está em texto. Se você procurar qualquer palavra-chave, você vai achar o que você está procurando. É uma base de informação boa, já que estamos com muitos episódios. Então, toda vez que tiver qualquer dúvida e quiser relembrar alguma coisa, faça isso para achar, assim como eu fiz agora para confirmar que foi o episódio número 4.
Dr. Souto: Eu sou alguém que prefere ouvir. Eu gosto muito de escutar podcasts e tal. Mas tem gente que prefere ler e retém a informação melhor lendo. É importante esse detalhe. É um esforço que é feito toda semana de transcrever a totalidade do texto do que estamos falando aqui para estar tudo em texto. Já são 50 e tantos episódios.
Rodrigo Polesso: E com todas as referências também.
Dr. Souto: Para ir nas referências originais. Outro aspecto que eu gostaria de chamar atenção é o seguinte. As coisas em biologia não são 8 ou 80. Que nem o estudo piloto do qual comentamos no episódio número 4 que comparou a dieta tradicional para gota versus uma dieta low carb com mais peixe, sendo que a low carb foi melhor. “Foi melhor” não significa que aboliu completamente a gota. Digamos que teve 30 episódios de gota no grupo que fazia a dieta tradicional e digamos que teve 15 episódios de gota no grupo que fez a dieta low carb. Ainda teve 15 episódios. Volta e meia entra um email dizendo assim, “Comecei a fazer esta dieta. Agora, tive gota. E agora? Não era para ter ficado bom da gota?” Não é mágico. Se a pessoa tinha, em média, 2 episódios de gota por ano e digamos que agora ela passe a ter 1 episódio de gota por ano. Ela melhorou. Se ela começou a fazer low carb semana passada e esse episódio de gota foi uma semana depois, a tendência das pessoas é atribuir ao novo estilo de vida. É aleatório. Lembrem da postagem que eu fiz… Você podem botar no Google “Souto dieta você tem medo de que?” São os medos. Todo mundo que vai fazer mal. Como o Rodrigo sempre fala… tropeçou numa pedra, é por causa da dieta low carb… Por causa da alimentação forte. Mas se a pessoa teve um episódio de gota antes, é azar… A pessoa tem genética para isso… “Que droga, gota de novo.” Mas se aconteceu uma semana depois que ela começou o novo estilo de vida, é por causa do estilo de vida. Mas não é assim. O que nós queremos dizer é o seguinte. É o segundo estudo científico que demonstra que, na realidade, a tendência é melhorar a gota… Com uma estratégia, seja ela low carb moderada… Seja ela, nesse caso, very low carb cetogênica. Tanto faz. As duas estratégias podem demonstradamente reduzir os sintomas e o risco de gota. Significa que você nunca mais vai ter gota? Não, não é isso que significa. Significa que se você tiver gota semana que vem, não é porque você parou de comer pão. É porque quem tem gota de vez em quando tem gota.
Rodrigo Polesso: E se você nunca teve gota, pode ser que com essa alteração você nunca venha a ter. Que maravilha.
Dr. Souto: Pode ser. Ou pode ser que por um grande azar e coincidência… Todo mundo que tem gota, até a vez que essa pessoa teve gota a primeira vez… Até então ela nunca tinha tido gota. Vamos pegar outro exemplo: cólica renal. A pessoa, aos 30 anos, teve uma cólica renal. Significa que, por 29 anos, ela nunca teve uma cólica renal. Nada impede… Que você comprou um carro vermelho e uma semana depois teve sua primeira cólica renal aos 30 anos. Isso não significa que o carro vermelhou causou a cólica renal. Se você começou uma dieta low carb e, uma semana depois, teve uma cólica renal… Sim, você vai dizer que é por causa da dieta. Porque todos os seus amigos, todo mundo na internet e a Ana Maria Braga na televisão falam que essa dieta faz mal, vai te matar e faz mal para os rins. Como o raio da cólica renal deu a coincidência de acontece uma semana depois, “é por causa da dieta”. Mas se a pessoa tivesse, na semana anterior, comido McDonald’s e pizza, “que azar, estou com uma cólica renal”. É um mecanismo puramente mental.
Rodrigo Polesso: É bom ficar bem consciente disso. Vamos partir para o próximo ponto aqui. É um ponto interessante para mostrar a falta de credibilidade que está em todo lugar. A gente não sabe mais em quem a gente acredita. Um estudo publicado no jornal PLOS mostra que 30% dos membros do comitê da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, responsável por cuidar da questão dos GMOs (transgênicos), tem conflitos de interesses que não foram reportados por eles. Eles decidem o que fazer e em que direção ir em relação aos GMOs (transgênicos). Esse estudo foi investigar os membros desse comitê e descobriram que 30% deles tem sim conflito de interesse, mas não reportaram. Eles são obrigados a reportar, mas não reportaram. 30% do comitê (quase um terço)… Será que isso pode influenciar de forma negativa os resultados em alguma direção tendenciosa? O Dr. David Ludwig de Harvard tuitou o seguinte, “Entre 20 experts do Painel Nacional de Ciência em Transgênicos, 6 têm conflitos que não foram reportados.” Ele pergunta, “Será que isso vai ter algum bias nesses achados do comitê? Alguma influência nos achados do comitê?” É complicado. Se a gente vê que, em órgãos grandes, supostamente respeitáveis, que um terço das pessoas tem problemas de integridade… E acabem gerado resultados que sejam de interesse deles sem ninguém saber… A que nível isso acontece em outros aspectos das nossas vidas, em outras organizações talvez menos sérias na área de nutrição, de governos e etc.? É por isso que a gente fala que temos que nós mesmos nos defendermos com base em informação de qualidade. E não devemos tomar nada sem filtro nenhum, como verdade. Tem um perigo eminente. Talvez você esteja absorvendo mentiras e tomando decisões de mudança de estilo de vida, alimentar e etc. com base em informações que não estão corretas ou têm grandes chances de não serem exatamente corretas. Tudo o que falamos aqui traz à tona essa questão de credibilidade… Do ceticismo inteligente do qual falamos bastante aqui… É mais uma coisa que vem escancarar esse risco.
Dr. Souto: Essa é uma questão complicada. Por um lado, não significa que a pessoa que tem conflito de interesses vai malevolamente vai dizer, “Vou puxar a brasa para meu assado porque meu patrocinador vai me pagar mais.” Talvez algumas façam isso, mas não estou acusando a maioria. As influencias são mais sutis. São influências, muitas vezes, inconscientes. Existe a questão da reciprocidade que é inconsciente. Ela foi estudada em vários estudos de psicologia comportamental. Isso é utilizado… Quando de vez em quando alguém te aborda com uma roupa indiana. Isso é muito comum nas grandes cidades. A pessoa oferece um livro ou uma rosa. “Esse é um livro de filosofia.” Aí eu digo, “Não quero. Não estou interessado, muito obrigado.” “Não, por favor. É um presente. Aceite de coração. Filosofia, sabedoria.” Aí quando a pessoa pega o livro, ele diz, “Estamos aceitando doações para nossa instituição.” O pessoal não é burro. O pessoal faz isso porque está demonstrado que se você recebeu alguma coisa, a sua tendência natural é dar algo em troca.
Rodrigo Polesso: Quem nunca recebeu em casa um envelope com uma caneta, um chaveiro e um pedido de doação?
Dr. Souto: É muito comum. Isso é comum com pedintes, nas esquinas. Nas Bahamas, chega a ser chato. Na Bahia também. O pessoal coloca uma pulseira no pulso e diz, “Aceita, é de graça.” Mas se você aceitar aquilo ali, a pessoa não larga mais do seu pé e começa a pedir coisas. Ela colocou a pulseira para criar uma necessidade de reciprocidade. Quando a indústria farmacêutica dá canetas e brindes… A caneta custa centavos. Não é uma questão de valor financeiro. Não estou sendo subornado pelo preço de uma caneta. Psicologicamente, eles sabem que as pessoas sentem uma necessidade de reciprocidade. Imagine que eu seja um pesquisador e receba fundos em grande quantidade para dar suporte ao meu laboratório de pesquisa. Eu recebo 1 milhão de dólares por mês… Não para mim, não na minha conta pessoa, mas 1 milhão de dólares para sustentar o funcionamento do meu laboratório de pesquisa no qual eu emprego vários pesquisadores e estudantes de doutorado. Eu me sinto muito grato àquele laboratório. E eu tenho uma necessidade inconsciente de reciprocidade. A indústria não dá dinheiro de graça por altruísmo. Não sejamos bobos, pessoal. Quando eles distribuem 1 milhão de dólares para o laboratório de pesquisa de um determinado pesquisador eles sabem que isso aumenta a chance desse pesquisador fale bem daquela medicação, ou daquele produto. Ou não mal. O cara vai fazer isso porque é mal caráter? Não, é uma necessidade humana de reciprocidade… Que é explorada como uma forma sutil de marketing.
Rodrigo Polesso: No melhor caso.
Dr. Souto: Sim, estou falando de quem é honesto. A gente não precisa acusar as pessoas de desonestidade para que o conflito de interesses, ainda assim, seja um problema. As diretrizes sobre colesterol são feitas por comitês nos quais uma boa parte das pessoas tem conflitos de interesse. Aí eles falam que os conflitos de interesse estão declarados. Mas isso não acaba com o conflito de interesse. Isso não tira essa sutil influência, que às vezes pode não ser tão sutil. É um problemão. Existem estudos muito interessantes que comparam os resultados de estudos científicos quando a fonte patrocinadora é governamental versus quando a fonte patrocinadora são laboratórios farmacêuticos. A diferença não é pequena. A diferença é gigantesca. É tipo 3 vezes maior as chances de um estudo mostrar um resultado que favoreça o patrocinador. Isso é por que o pessoal está mentindo, são desonestos, mal caráter? Não. Essas influências que estamos falando, por sutis que sejam, se transformam em dados que são publicados na literatura.
Rodrigo Polesso: Novamente fica essa mensagem para reforçar a importância do ceticismo e tudo mais. Vamos partir para o vexame agora, então, para fechar em alto astral esse podcast. O vexame é o seguinte. Dr. David Katz… Médico, famoso, influente… Já falamos dele aqui antes. Ele é total defensor da baixa gordura, de comer em três e três horas. Ele é vegetariano, pelo o que o Dr. Souto falou na última vez. Ele é uma pessoa que defende a convenção da medicina. Ele inventou o ranking densidade nutricional NuVal, que eu critico dentro do Código Emagrecer de Vez e mostro porque é ruim. Eu mostro qual que eu uso em vez desse. Enfim, esse Dr. Katz escreveu um livro novo chamado Revision, mas usou um codinome para esse livro. Não é o nome dele. Depois de lançado… Ele, como David Katz, escreveu duas reviews extremamente positivas louvando e elogiando o livro. Ele até comparou o estilo de escrita com Platão. Como discorre o texto… Uma coisa linda… Como se fosse um romance contando mais sobre a nutrição… Ou seja, ele mesmo escreveu o livro, mas com outro nome. Depois, ele vai no Huffington Post (o jornal famoso) e escreve duas reviews elogiando o próprio livro dele. Elogiando muito, louvando aquilo. Aí descobriram. As reviews foram retiradas do ar. Isso caiu na mídia. E ele já confessou ter feito isso. É um vexame muito grande. É mais um exemplo da crise de credibilidade em que vivemos hoje em dia. E de integridade também.
Dr. Souto: Foi muito engraçada a história. Era justamente na época em que ele estava atacando violentamente a Nina Teicholz. Foi quando a Nina escreveu seu artigo no British Medical Journal mostrando com dados que as diretrizes nutricionais americanas estavam omitindo uma série de evidências importantes, que eram justamente evidências que mostravam que, baseando-se na ciência de 2015, as dietas low carb eram excelentes opções. Isso ficou de fora das diretrizes e a Nina expôs isso num artigo. O David Katz foi dos que organizou uma reação virulenta contra, tentando fazer com que o artigo fosse removido do British. Nesse mesmo meio tempo, o David Katz estava elogiando de forma absurda… “Eu li um livro maravilhoso. O melhor livro que eu já li na vida. De um escritor equivalente a Platão.” E ele estava falando sobre ele mesmo na terceira pessoa, porque ele escreveu o livro com pseudônimo. Como ele tem uma coluna semanal no jornal, ele escrevia na coluna com o nome dele falando sobre o outro como se o outro não fosse ele mesmo.
Rodrigo Polesso: Um vexame. Acabou caindo na mídia. É claro que a credibilidade dele não foi ajudada.
Dr. Souto: Não deixa de ser algo que mostre um pouco da personalidade narcisista do sujeito. Por que ele ficou tão bravo com a Nina Teicholz? Porque a Nina, na realidade, expôs que aquilo que ele defende… E ele é muito amigo de membros que faziam parte deste comitê que a Nina expôs como pouco científico. Então, ele ficou pessoalmente mordido, porque é um cara muito narcisista. Ele é médico, professor de Yale. E a Nina é uma reles jornalista. “Quem é a Nina para falar?” Ele pegou e detonou ela, mas ao mesmo tempo estava mostrando todo seu lado narcisista nesse episódio engraçado.
Rodrigo Polesso: As pessoas que mais estão alterando o curso da nutrição agora não são pessoas da área, que é o caso do Gary Taubes que também é jornalista. A Nina também é uma jornalista. A diferença é que eles não falam com opinião; eles falam com fatos. Eles reportam fatos. Do outro lado, onde nós esperaríamos que as pessoas viessem combater com outras evidências científicas e fatos, não. Eles vêm trazendo dogmas antigos como justificativa e opiniões. Está totalmente errado.
Dr. Souto: No podcast retrasado, nós comentamos do Dr. Yusuf, o cardiologista canadense que expôs os novos dados do estudo PURE, que mostra que o aumento no consumo de carboidrato que está associado com o risco de mortalidade, e que a gordura parece ser protetora nesse processo. O Dr. Yusuf começa sua maravilhosa palestra dizendo o seguinte. “Eu não sou nutricionista. Pode ser uma coisa boa.” Então, você tem toda razão. Eu acho que é uma área que, infelizmente ficou de tal forma tomada pelo dogma… Congelada pelo dogma… Que as únicas pessoas capazes de quebrar o silêncio são pessoas que vêm de fora. Para quem vem de dentro é muito difícil. No fundo, isso simplesmente… A natureza abomina o vácuo. O vácuo foi deixado pelos próprios nutricionistas, que, ao não criticarem esses absurdos, vai deixando um espaço vazio. “Ninguém vai falar? Então, eu, que sou jornalista, vou lá falar.” Ou “eu que sou cardiologista vou lá falar.” Eu que sou urologista vou lá fazer um blog. O certo seria que os nutricionistas estivessem fazendo essa autocrítica. Mas os anos foram passando… Anos 70, 80, 90, 2000… Ninguém falou… Então os outros falam. Mas isso que isso está mudando. Os nutricionistas estão começando a assumir e incorporar a mudança, felizmente.
Rodrigo Polesso: Felizmente. Mas ainda assim é complicado. É um ponto negativo fazer parte desse grupo… Se você é nutricionista e defende contra a norma, você vai sentir uma opressão. Você pode até se complicar com a opressão da norma, porque você está saindo fora da curva e eles não querem esse tipo de coisa. Pode ser até um ponto negativo. Inclusive, até o Yusuf, que postou aquele vídeo no YouTube… Um cardiologista extremamente respeitado… Aquele vídeo original foi retirado do ar. Mas não tem problema, porque postaram de novo em outro canal. Mas tiraram do ar de novo. Mas não problema, porque eu subi no Facebook esse vídeo. Temos que manter esse vídeo vivo. Na página do Emagrecer de Vez no Facebook tem esse vídeo.
Dr. Souto: Vamos botar o link depois do podcast.
Rodrigo Polesso: Vamos colocar sim. A censura está aí, tentando derrubar o que é diferente da norma acaba ofendendo um ou outro. E têm pressões que nem entendemos que existam ainda. As pessoas começam a ficar com medo, e tirando do ar. É o caso do Gary Taubes e da Nina Teicholz. Eu não sou da área. Não tenho que respeitar nenhuma organização, digamos assim. Eu me sinto mais livre de poder reportar esses fatos. A gente reporta os fatos para que as pessoas tomem as decisões delas. É uma situação triste. Está difícil. Mas está virando e agora está indo direção correta. Com o tempo, esse momento vai começar a aumentar e as coisas vão se inverter. E essas pessoas antigas vão começar a ser julgadas pela quantidade de coisas erradas que vieram dizendo por décadas.
Dr. Souto: Eu aproveito para sugerir para quem quiser contribuir com o movimento… Para a gente não deixar esse vídeo ser suprimido… Peguem depois o link no final do podcast… Cada um compartilhe nas suas redes sociais para que um número cada vez maior de pessoas vejam. O vídeo está sendo ativamente suprimido. Ele está sendo removido da internet. Então, vamos repostá-lo porque ele é muito importante. É uma palestra feita dentro de um congresso de cardiologia. É uma coisa pública… Por um professor de cardiologia extremamente respeitável. Não é um vídeo particular de um sujeito que estava bêbado e falou um monte de loucuras numa festa. É uma palestra formal feita dentro de um congresso de cardiologia. Isso tem que ser difundido sim. Quanto mais o pessoal quiser tirar, mais eu sugiro que vocês compartilhem.
Rodrigo Polesso: Perfeitamente. Se você quiser se juntar à essa família, eu convido você a se tornar um assinante da Tribo Forte no site TriboForte.com.br. Faça parte dessa família e vista essa camisa também. Nos ajude a mudar esse mundo sendo o melhor que nós mesmos podemos ser. Vamos fechando esse podcast de hoje. Espero que tenha sido útil para você. A gente se vê na próxima semana. Dr. Souto, obrigado. Grande abraço para você e para todo mundo que está ouvindo a gente.
Dr. Souto: Obrigado e um abraço aos ouvintes.