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No Episódio De Hoje:
Neste episódio importante iremos questionar e contestar:
- A última manifestação da AHA, a Associação Americana Do Coração sobre gorduras saturadas.
- Por que eles estão errados e como a publicação oficial deles pode levar as pessoas a fazerem piores decisões quanto a saúde e alimentação.
- O que iremos comer na próxima refeição.
Espero que aproveite este episódio ?
Ouça o Episódio De Hoje:
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Referências
Publicação Oficial da AHA contra gorduras saturadas
Repercussão na mídia americana no Daily Mail
Ensaio Clinico Randomizado sobre Manteiga e Óleo Vegetal
Transcrição do Episódio
Rodrigo Polesso: Olá, bom dia para você. Quem vos fala é Rodrigo Polesso. Defensor da boa ciência na saúde, emagrecimento e estilo de vida saudável. Pegue o seu chá de camomila. Eu já peguei o meu aqui, com uma adição especial de óleo de coco em homenagem ao episódio de hoje. Você vai entender já. Esse é o episódio número 67 do podcast oficial da Tribo Forte – o podcast número 1 do Brasil em audiência. Hoje a gente vai focar em um muito velho novo assunto: gordura saturada. Acontece que a Associação Americana do Coração (AHA) publicou bem recentemente (dia 15 de junho)… Estamos gravando no dia 16, então foi ontem… Um comunicado sugerindo a diminuição de gorduras saturadas e (pasmem) o aumento do consumo de poliinsaturadas. Sim, você ouviu direito: os óleos vegetais. Para te proteger desse tipo de coisa e mostrar uma informação diferente, nós vamos analisar se esse comunicado tem base credível ou não e qual é essa base para que você possa tomar suas próprias conclusões e mudar seus hábitos de acordo com as informações que você tem em posse. Não queremos que ninguém fique enganado pela falácia da autoridade. Não é só porque é a AHA que você tem que tomar como gospel. Só porque é Tribo Forte tem que tomar como gospel. Não. A gente passa a informação e o interessante é que você pondere os dois lados e possa tomar as suas decisões. Eu considero esse comunicado da AHA uma grande coisa negativa que aconteceu nessa semana. A gente vai falar um pouco mais sobre isso e você entenderá mais sobre o que estamos falando. Para aquecer, vamos começar com uma pergunta. Antes disso, vou dar boas-vindas ao Dr. Souto. Tudo bem, Dr. Souto? Preparado?
Dr. Souto: Tudo bem, Rodrigo. Bom dia. Bom dia aos ouvintes. Sim. Preparado.
Rodrigo Polesso: Ótimo. Vamos começar leves, com uma pergunta da comunidade. A pergunta veio do Roney Vilar. Ele falou o seguinte: “Olá, Rodrigo e Dr. Souto. Beber caldo de cana regularmente causa algum malefício para a saúde? Eu pratico atividade física de alta intensidade e tenho estilo de vida low carb. Mas bebo caldo de cana frequentemente. Um abraço e obrigado pela dedicação e compromisso com a verdade.” Vou passar a bola para você começar essa, Dr. Souto.
Dr. Souto: A resposta curta é: sim. Sem dúvida eu acho que causa malefício. O açúcar que a gente consome… O açúcar de açucareiro… Ele vem da cana. Se você vive no hemisfério norte, na Europa, talvez venha da beterraba. Aqui eu aproveito para dar uma dica para o pessoal. Não é essa beterraba roxa que se consome no Brasil. É uma beterraba branca. É outra planta. Outro vegetal.
Rodrigo Polesso: Sugar beet.
Dr. Souto: Isso. Quando procurei em português, achei na Wikipedia em português de Portugal como beterraba sacarina. Ela é branca. Parece a cor de uma batata. É outra planta com conteúdo de açúcar muito maior. Enfim… Não era isso que eu queria dizer. O que eu quero comentar é o seguinte. Às vezes existe essa falácia naturalística: “Se é natural, é bom.” A gente sempre brinca: veneno de cobra é natural também. Aranha é natural. Escorpião é natural. O fato de ser o suco da cana… É bastante concentrado. É diferente da pessoa consumir uma fruta. Primeiro porque a fruta você está comendo com o bagaço, com a fibra. É diluída, tem muito mais água e muito menos açúcar numa fruta. Quando você está tomando caldo de cana, seria equivalente (se fôssemos comparar no mundo vegetal) a beber suco de laranja, ou beber suco de uva. Eu realmente não sei isso que vou colocar agora. Seria uma hipótese a ser avaliada. Será que mascar cana como a gente fazia infância… Não sei se isso seria tão ruim. Até porque tem que mastigar bastante a cana para conseguir chupar um pouco de suco. Isso seria mais análogo à situação de comer uma fruta. Agora beber o caldo eu não tenho nenhuma dúvida de que é uma ideia ruim. Não só você estará bebendo um suco doce… Na semana anterior acho que não comentamos isso, mas finalmente (com muito atraso), a Sociedade de Pediatria disse que não recomenda que crianças pequenas tomem suco de fruta, porque tem muito açúcar.
Rodrigo Polesso: Ótima notícia.
Dr. Souto: É uma ótima notícia. Quando até mesmo organizações extremamente conservadoras conseguem entender esse consenso… Porque há uma predominância gigantesca de estudos mostrando que é uma má ideia, que está associado com obesidade, risco de diabetes e etc. Caldo de cana não é uma boa. Se você quiser tomar uma vez no mês, quando está passando numa região rural… Não é seu hábito. Não é o dia a dia. O nosso ouvinte é fisicamente muito ativo. Tem uma expressão em inglês que o Assem Malhotra usa bastante: “You can’t outrun a bad diet.” Em outras palavras, você não tem como compensar com exercícios uma dieta ruim. Não use o exercício como uma desculpa para comer mal. O prejuízo de uma alimentação ruim é muito maior do que o benefício do exercício.
Rodrigo Polesso: Ele mencionou que toma frequentemente. A gente não sabe o que “frequentemente” significa. É difícil levar um estilo de vida low carb se você toma caldo de cana frequentemente. Com um copo de caldo de cana que você já mata sua cota de carboidratos. Na minha opinião, se você tiver a opção de tomar um caldo de cana é muito melhor do que comer três donuts cobertos com chocolate, obviamente. Mas o ponto que a gente tem que passar é o seguinte. Cada vez que você ingere caldo de cana… Imagine que é uma boa dose de açúcar que você está colocando na sua corrente sanguínea. Você sabe as consequências. Isso vai estimular a insulina, vai estimular seu vício por doces. Entenda essas consequências para saber se você quer ou não continuar com esse hábito. Então, varia de pessoa para pessoa, mas o que não varia é o impacto metabólico que tem um copo cheio de açúcar. Eu, quando vou para o Brasil uma vez a cada ano no máximo, eu tomo. Eu adoro também. Eu não acho que as exceções vão colocar tudo abaixo. Mas se você bebe frequentemente, é bom dar uma pensada se você quer assumir as potenciais consequências disso aí. Dr. Souto, já aquecidos… Vamos partir para nosso querido assunto de hoje?
Dr. Souto: Vamos. Vamos lá.
Rodrigo Polesso: A Associação Americana do Coração (AHA) publicou um comunicado oficial sobre gorduras saturadas, recomendando a diminuição da ingestão de gorduras saturadas e a favor de gorduras poliinsaturadas. Nem as monoinsaturadas eles colocaram na conclusão. Eles falaram mais das poliinsaturadas especialmente. Elas são os óleos vegetais que a gente já conhece. Estamos falando aqui sobre a maior causa de mortalidade no mundo hoje. As doenças cardíacas matam mais de 17 milhões de pessoas por ano, segundo a própria AHA. Esse é mais um exemplo, na minha opinião, de assassinato em massa… Recomendo para as pessoas mais do que contribui para a doença. A gente vai falar um pouco mais sobre isso, mas vamos começar com a premissa. Eles falam que a gordura saturada faz mal e correm atrás de argumentos para corroborar essa ideia. Lembrando que a AHA demoniza gordura saturada há muito tempo e continuou demonizando nas últimas revisões dietéticas de 2015 para os americanos. A conclusão que eles colocaram no artigo deles no jornal Circulation, é basicamente isso. Vou traduzir simultaneamente. “Levando em consideração a totalidade da evidência científica, satisfazendo rigorosos critérios para a causalidade, nós concluímos fortemente que abaixar a ingestão de gordura saturada e substituir isso por gorduras insaturadas (especialmente gorduras poliinsaturadas) irá abaixar a incidência de problemas cardiovasculares.” Você pode ver quantos objetivos eles usam para enfatizar a mensagem deles. É uma mensagem muito forte que em poucas palavras significa “diminua a gordura saturada e aumente o consumo de óleos vegetais”. É isso que passa pelos meus ouvidos e é isso que tenho medo que passe pelos ouvidos das pessoas também. Antes de começar a discutir mais detalhes sobre isso… Se tem base, não tem… Quais são as bases que eles utilizaram… Vamos só comentar um pouco sobre os conflitos de interesse que são obrigatórios a serem divulgados pelas pessoas que fizeram essa análise. A primeira pessoa é o Frank Sachs de Harvard. Harvard a gente sabe que há muito tempo condena gordura saturadas. A gente vê isso frequentemente aqui no podcast e até fazemos brincadeiras. Periodicamente Harvard fala mal de gorduras. Essa pessoa de Harvard está envolvida nesse artigo da AHA. Tem conflitos de interesse reportados como por exemplo… Alguns profissionais estão envolvidos com a Amarin, que é uma empresa farmacêutica que fabrica remédios para problemas cardíacos. Eu não posso deixar de pensar que uma empresa dessas que fabrica remédios para problemas cardíacos se beneficiaria de problemas cardíacos. Tem outra pessoa envolvida com Canola Oil Council. É um óleo vegetal. Tem também a California Walnut Commission envolvida. Walnut é gordura que não é saturada. Ou seja, ao não promover gordura saturada, as pessoas vão comer outras fontes de gordura e nozes é uma delas. Walnut são nozes. Poderia dizer que tem o interesse. Só para mostrar outro exemplo, tem uma empresa chamada TerraVia, que fabrica óleos de algas, que são ricos em poliinsaturadas e pobres em gorduras saturadas. Um dos seus produtos que é chamado de Thrive tem como slogan “o melhor óleo para seu coração”. A gente vê que as pessoas envolvidas nessa análise da AHA têm sim um conflito de interesse… Tem interesses por trás e poderiam se beneficiar dessa informação que estão propagando. Dr. Souto, uma bomba caiu nesse momento. Talvez a AHA esteja se sentindo acuada com essa onda toda. A gente pode começar a falar um pouco sobre isso. Como que as pessoas podem interpretar esse tipo de coisa?
Dr. Souto: Acho que você pegou muito bem, Rodrigo. Esse artigo foi denominado de “presidential advisory”. Um conselho oriundo da presidência da Associação Americana de Cardiologia.
Rodrigo Polesso: Até o nome é forte.
Dr. Souto: Presidential advisory. É nitidamente uma manifestação de uma entidade acuada. Ele é um texto escrito numa linguagem defensiva. Na realidade, o consenso entre os profissionais de saúde e na própria academia… Nas próprias universidades tem mudado. A gente não cansa de citar novos estudos e artigos que estão provocando uma erosão nesses pilares de consenso antigo. Existem duas formas da gente se conduzir nessa situação. A AHA poderia ter dito, “Nós estamos revisando nossa postura como é natural.” Afinal, ciência evolui. É uma seara de verdades provisórias. A gente pode ir evoluindo. Não só não existe vergonha nenhuma nisso, como é uma coisa laudatória. Eles poderiam ter feito isso. Mas não, eles fizeram uma outra coisa que é muito comum. Quando acuado, fica agressivo. É que nem cachorro. Fica mais ainda encruado. Saiu uma entrevista do Dr. Sachs, que é o autor principal desse estudo e que é membro da Escola de Saúde Pública de Harvard. Aquela mesma que a cada X meses publica alguma coisa nesse sentido. Eu vou ler literal o que ele colocou. “We want to set the record straight.” Ou seja, “Nós queremos botar os pingos nos is. Vamos acabar com essa bobagem.” É uma manifestação meio raivosa. Essa é a primeira coisa. Como você disse, a AHA está nessa situação com uma agenda pré-estabelecida de defender esse assunto. No entanto, vamos fazer nossa análise independente da nossa literatura. Existem (se eu bem me lembro) cinco metanálises sobre gordura saturada e doença cardiovascular. A quase totalidade delas mostra que que não há relação, sendo que a mais recente, de 2015, feita por autores da Cochrane… O que lhe empresta bastante credibilidade, porque a Cochrane é uma entidade que tem bastante respeitabilidade em realização de metanálises. Lembrando para quem não é da área: metanálise é quando a gente reúne vários estudos, faz uma revisão sistemática deles e tenta combinar os dados de diferentes estudos para chegar numa conclusão. Este estudo da Cochrane na realidade não encontrou diferença na mortalidade, não encontrou diferença na mortalidade por causas cardiovasculares, não encontrou diferença em infartos. Ela encontrou diferenças se combinarmos todos esses desfechos e, além disso, desfechos cardiovasculares não fatais nos quais se incluem coisas muito subjetivas, como angina (dor no peito) com necessidade de internação. Por que eu digo subjetiva? Porque eu posso ser um cardiologista que chega à conclusão… “Acho que o seu João da Silva é melhor internar por causa dessa angina.” Mas o cardiologista da sala ao lado pode achar que não tem necessidade de internar. Se o João da Silva morrer, provavelmente todo mundo vai concordar que ele não está mais vivo. Sim, existem desfechos que são objetivos (como morte) e existem desfechos que são mais subjetivos. De várias metanálises que foram conduzidas, a única que encontrou alguma diferença sugerindo que a gordura saturada poderia ser um pouco pior encontrou apenas quando agregou todos os desfechos possíveis, inclusive esses subjetivos.
Rodrigo Polesso: Fala dos números dos riscos que acho que é legal colocar em perspectiva.
Dr. Souto: Eles descobriram que existia um aumento de 17% do risco desse agregado de eventos, incluindo desfechos subjetivos. Aí você poderia dizer que 17% não é tão pouco. Não caiam nisso, pessoal. Isso é risco relativo. Em termos de risco absoluto, embora essa análise da Cochrane de 2015 não dê um número absoluto, eu calculei o número absoluto. Eu fui lá, li o estudo, peguei as tabelas e fiz uma conta. É 1 vírgula alguma coisa porcento. Estamos falando da possiblidade… Se for real, já que várias outras metanálises não acharam isso… Mas vamos assumir que seja real. É um aumento de 1 vírgula alguma coisa porcento no risco de você ter um evento cardíaco não fatal relativamente subjetivo, que pode, ou não, ser real. Você não aumenta o risco de morrer do coração. Você não aumenta o risco de morrer de qualquer outra coisa. Você não aumenta o risco se quer de ter um infarto. Você aumenta o risco de ter um evento cardíaco como angina ou necessidade de hospitalização, ou necessidade de colocar um stent, que são coisas que estão à mercê do julgamento do cardiologista. Aumenta, talvez, segundo esse estudo e não segundo outros quatro em mais ou menos 1%.
Rodrigo Polesso: Então, para deixar claro. Tem cinco metanálises mais recentes que trataram dessa comparação. Quatro delas não mostraram nenhuma associação e uma delas mostrou uma associação de um efeito substituto de 1,5% de risco absoluto. Isso assumindo que essa metanálise foi feita de uma forma que vale se considerar. Um resumo disso é dizer que praticamente não existe evidência para concluir algo tão forte como o que foi dito pela AHA.
Dr. Souto: E tem mais, Rodrigo. Um estudo muito importante… Um ensaio clínico randomizado de grandes proporções, com mais de 9 mil pacientes foi publicado em 2016.
Rodrigo Polesso: Esse eu vou falar em seguida.
Dr. Souto: Coronarianos de Minnesota. Esse estudo não foi incluído na metanálise de 2015, porque ele é de 2016. Ele é um estudo tão grande que, com certeza, mudaria completamente a conclusão do estudo de 2015. Mas e agora? Nesse paper da AHA de ontem foi publicado em 2017. Com certeza devem ter incluído esse estudo de 2016. Lembrando… É aquele que mostrando que quando a gente pega a manteiga e substitui por óleo de milho, o colesterol até se reduz, mas as mortes por motivos cardíacos aumentam. Esse estudo eles excluíram do estudo de ontem, de 2017. Eles até citam ele para mostram que eles leram. Mas eles disseram que pelos motivos A, B e C, ele não merecia ser incluído. Vou fazer uma analogia para quem não é da área da saúde para entender bem como funciona isso. Sabe quando um governo corrupto faz uma licitação, mas já escolheu quem quer que ganhe?
Rodrigo Polesso: Sim.
Dr. Souto: O ex-governador do Rio de Janeiro está preso por causa disso. Fizeram isso várias vezes. “Vamos reformar o estádio. Nós vamos fazer uma licitação. Só que, a empresa, para ganhar essa licitação, tem que ser maior do que tanto, menor do que tanto, não pode ter mais do que tantos empregados, nem menos do que tantos empregados, tem que ter sede no estado do Rio de Janeiro.” Faz um número de exigências. Só sobra as dos amigos. Quando a gente faz uma metanálise, a gente tem critérios de inclusão e critérios de exclusão. Conforme eu manejar esses critérios, eu posso decidir a priori quais estudos eu vou incluir na minha metanálise e quais estudos vou excluir da minha metanálise. Assim como na licitação falcatrua, eu posso modificar. Acho que agora as pessoas vão entender. É por isso que existem metanálises sobre um mesmo assunto, pesquisando os mesmos estudos científicos e chegando a conclusões diferentes. Elas usam critérios de inclusão e exclusão diferentes. É claro que uma metanálise é importante. Mas a gente não pode deixar de ter senso crítico de que conforme os critérios de inclusão e exclusão são modificados pelos autores do estudo isso pode incluir um viés que modifica completamente a conclusão.
Rodrigo Polesso: Mas isso não é muito reconhecido pelo pessoal da AHA. Eles falam o seguinte. Nesse artigo que eles publicaram, tem um monte de coisa. Eu ignoro qualquer dado de estudos epidemiológicos. Temos falado muito aqui que eles não merecem tanta credibilidade. Já que eles levaram em consideração ensaios clínicos randomizados, por que não focar nisso? Eles falam o seguinte. Vou traduzir. “Em suma, ensaios clínicos randomizados que mostraram que a diminuição da ingestão de gordura saturada e a substituição dela por óleos poliinsaturados reduziram eventos cardíacos em 30%, similar à redução atingida por tratamento por estatinas.” A referência que eles colocam do lado dessa afirmação são duas metanálises que a gente falou. Tem a Hoper de 2015 e uma outra de 2010. São duas metanálises que vêm antes da 2016 que vou falar em seguida. Para essa afirmação categórica deles… Como que eles conseguem fazer uma afirmação categoria dessas baseada em toda essa confusão que estamos falando agora?
Dr. Souto: Um outro assunto do qual estávamos conversando antes da gente começar a gravar aqui… Acho que agora é um momento apropriado de tocar no assunto. A gente não vai no supermercado e pede, “Moço, por favor, uma gordura saturada.”
Rodrigo Polesso: Exato.
Dr. Souto: “Moça, me vê 200 gramas de gordura insaturada, mas quero que seja poli. Poliinsaturada, ômega 6. Não é assim. A gente come comida. Esses estudos usam softwares. Na realidade, eles transformam aqueles alimentos que a pessoa comeu nesses dados. A gente sempre fala aqui que está na hora de parar de se focar tanto nesse negócio de gordura saturada… No ácido esteárico… Ácido mirístico… E começar a pensar mais em comida. Aí é um problema porque não estamos falando de estudo onde nós comparamos os dois grupos que fazem uma alimentação forte sendo que um grupo vai se focar mais em carne, óleo de coco, manteiga… Como fontes de gorduras saturadas. E outro grupo vai se focar mais em peixe, azeite de oliva, abacate, castanhas como fonte de gordura insaturada. Não. Estamos falando de dois grupos que comem a dieta ocidental padrão norte-americano. Quando se fala em gordura saturada aqui no nosso contexto (Tribo Forte), estamos falando de filé, óleo de coco, queijo. Quando estes autores estão falando em gordura saturada, eles estão falando em milk-shake, em hambúrguer do McDonald’s, em hot dog. Estão falando, inclusive… Isso é muito importante… É sério, pessoal… Estão falando em tortas, bolos.
Rodrigo Polesso: É o fim da rosca.
Dr. Souto: A redução de gordura saturada nestes estudos norte-americanos de pessoas que fazem uma dieta padrão significa que você vai comer menos sorvete, bolo, torta. Então, quando você imagina que a pessoa está diminuindo a quantidade de filé na dieta, não é exatamente essa a intervenção que está sendo feita. É muito difícil modificar a dieta da pessoa onde você necessariamente não está modificando uma coisa só. Quando estou reduzindo gordura saturada neste contexto, estou reduzindo açúcar junto. Quando eles estão aumentando o consumo de gordura poliinsaturada, eles não estão necessariamente aumentando o consumo de óleo de milho. Na realidade, os dois grupos já consomem horrores de óleo de milho, porque essa é a dieta ocidental padrão. Eles realmente estão aumentando o consumo de azeite de oliva, nozes e castanhas. Acho que estou conseguindo expressar para vocês como é complexo esse assunto. E se tudo isso for verdade, nós estamos falando de uma diferença de 1% na chance de um evento subjetivo e não fatal ocorrer nos próximos 10 anos.
Rodrigo Polesso: Exato. Acho que essa mensagem tem que repetir. Quanto mais, melhor. Estamos falando de alimentos e não de macronutrientes isoladamente. É isso que faz a diferença. Veja essa outra afirmação que tirei direto do artigo deles. “Nós julgamos que a evidência a favor de recomendar óleos poliinsaturados (ácido linoleico) mais do que os monoinsaturados (azeite de oliva) pra substituir as gorduras saturadas porque os resultados positivos de ensaios clínicos randomizados que usaram gordura poliinsaturada comparados com outros que usaram monoinsaturada.” Ou seja, se você tem que substituir a gordura saturada, eles recomendam fortemente que você substitua por gordura poliinsaturada, que são aqueles óleos vegetais que causam inflamação, que são associados com praticamente todos os problemas que existem no mundo… Os mesmos óleos vegetais para os quais criei um vídeo umas duas semanas atrás falando dos perigos deles. Esses óleos vegetais que oxidam quando você cozinha e promovem câncer. Esses óleos vegetais que eles estão recomendando para você substituir ainda mais fortemente o consumo do que já é aceito ser saudável por basicamente todo mundo… Que é o nosso azeite de oliva, abacate e etc. Eu não entendo como ninguém vai preso nessa história.
Dr. Souto: É a famosa confusão eterna. Só piora por causa de artigos como esse. De consumir o alimento como alimento e de pensar no macronutriente isoladamente. Gorduras poliinsaturadas… É um conjunto grande que estamos falando. Quando eu penso no ALA, que está presente em linhaça, é uma gordura poliinsaturada ômega 3. Aquilo ali não é tão bom para nós como as gorduras ômega 3 de cadeia mais longa… DHA, EPA… Que estão presentes nos frutos do mar… Mas é bom também. É um tipo. É poliinsaturada. Quando eu falo em nozes e castanhas, estou falando em ômega 6. Mas é muito interessante. No contexto das nozes e castanhas, em todos os estudos está relacionado com bons desfechos de saúde e redução de risco de várias doenças. É muito diferente consumir o mesmo óleo linoleico, que é o ômega 6 predominante nesses alimentos, no contexto do alimento e consumi-lo refinado dentro de uma garrafa. É diferente por vários motivos. Eu não me lembro qual era o autor que dizia isso. Não me lembro se era o John Yudkin que dizia que a natureza empacota o veneno junto com o antídoto. A fruta tem o açúcar, mas tem a fibra e tem os antioxidantes. Os óleos poliinsaturados têm muitas ligaduras duplas e por isso levam esse nome. Eles são muito frágeis e oxidam com muita facilidade. Eles ficam rançosos com muita facilidade. No entanto, quando estão dentro de uma noz, aquela noz é extremamente rica em antioxidantes. Então, ali dentro o óleo não oxida. Então, estamos consumindo o óleo de uma forma que não o consumiremos numa garrafa de óleo de milho. Essa garrafa de óleo de milho tem um óleo submetido a altas temperaturas, altas pressões. Neste processo de purificação ele já oxidado e sofre uma série de alterações. Depois ele é deixado numa garrafa (por algum motivo que me escapa) completamente transparente, pegando luz na prateleira do supermercado onde ele oxida um pouco mais. Nós já falamos em algum podcast anterior sobre a diferença entre consumir determinadas vitaminas na comida e consumi-las como suplemento. Algumas que fazem bem na comida fazem mal como suplemento. É mais ou menos a mesma coisa aqui. Se depois de toda essa argumentação que nós fizemos aqui você ainda está com medo da gordura saturada… Porque é a American Heart Association… Então o que você faz? Coma menos gordura saturada. Isso não é nenhum problema. Faça uma low carb que não seja tão forte em gordura do leite. Menos manteiga, menos queijo gordo, menos carne gorda. Vá mais para o peixe, azeite de oliva, nozes, castanhas, abacates. Acho que provavelmente deve ser muito saudável essa alternativa. Quiçá diminua em 1% seu risco de ter um evento subjetivo cardíaco tão fatal no futuro. Por que não? Uma coisa que passou desapercebida pela maioria das pessoas que está comendo esse artigo de ontem é o seguinte. Está bem claro no artigo que a substituição de gordura saturada por carboidrato não deve ser feita.
Rodrigo Polesso: Isso pelo menos é consenso.
Dr. Souto: Por que vocês que estão nos ouvindo vão ouvir muito sobre esse artigo? Porque seus amigos, parentes, vizinhos… Vão dizer, “Viu como sua dieta é uma loucura? A Associação Americana de Cardiologia está dizendo que sua dieta é uma loucura.” Não. A Associação Americana de Cardiologia depois de dizer que a gordura saturada é um horror diz que se for para substituir por carboidrato, então não mude. Continue comendo gordura. Substituir por carboidrato é igual ou pior. É isso que eles estão dizendo. Vou ler aqui para vocês. “Substituir gordura saturada por carboidratos refinados ou açúcares não traz nenhum benefício.” Este estudo não foi publicado para dizer que low carb é ruim. Essa é a primeira coisa. A segunda coisa é a seguinte. Eles também afirmam, com todas as letras nesse estudo que eles não são contra o consumo de gordura total. Eles não acham que uma dieta tenha que ser low fat. A Associação Americana de Cardiologia sedimentou sua posição de que a dieta não precisa ser pobre e gordura e de que não há necessidade ou vantagem em restringir a gordura na dieta. E de que substituir gorduras por carboidratos não é uma boa ideia. A única coisa que eles estão discutindo… Isso tem que ficar claro para vocês… É que na opinião deles ainda (em 2017) o ideal seria diminuir as saturadas e substituir por insaturadas. O que eles oferecem como evidência para isso é uma redução em termos absolutos em torno de um vírgula alguma coisa por cento no risco de desfechos cardiológicos não fatais. Nem a AHA está dizendo que aumenta seu risco de morrer do coração. Nem eles dizem isso. Essa evidência não existe. Eles estão discutindo a possibilidade de que, talvez, haja um aumento de um vírgula alguma coisa por cento no risco de desfechos cardiológicos mais subjetivos. Por que estou insistindo tanto no subjetivo, Rodrigo?
Rodrigo Polesso: É porque não importa.
Dr. Souto: Olhe que interessante isso. Como eu falei antes… A necessidade de internar um paciente que está com dor no peito. Um médico pode achar que precisa internar e outro não. E ele leva em conta uma série de fatores. Ele vai pensar… “O sujeito está com uma dor no peito. Mas ela não é forte. Já está passando. Ele é jovem. Ele tem um bom suporte familiar. Não vou internar.” Ou não. “Ele é um cara mais velho.” Daqui a pouco o cardiologista vê que o colesterol dele está alto. Então, “Esse cara, com essa dor e com esse colesterol eu vou internar.” O valor do colesterol no sangue é uma das coisas que o cardiologista leva em conta, consciente ou inconscientemente, na tomada de decisão se deve ou não internar. Como gordura saturada produz níveis de colesterol mais elevados, e gordura poliinsaturada produz níveis de colesterol mais baixos, e como o nível de colesterol é uma das variáveis que vai ajudar a decidir se o sujeito será internado ou não… Como a gente já viu, não decide o risco de ele morrer do coração… Não decide o risco de ele enfartar ou não. Mas pode decidir as chances de um desses desfechos mais subjetivos. O estudo mostra que só os desfechos subjetivos são diferentes em quem tem uma dieta mais rica em gordura saturada. Desfechos insofismáveis (como morte) não mudam. Só desfechos subjetivos que dependem, inclusive, dos níveis de colesterol. Estes sim estão relacionados com gordura na dieta. Esses parecem mudar 1% entre uma população e outra.
Rodrigo Polesso: Lembrando que os níveis de colesterol no sangue e qualquer associação com desfechos duros (como morte) é uma coisa bastante discutível. Nem isso tem credibilidade… O colesterol como marcador independente de morte. Então, nem isso é verdade. Estamos analisando uma coisa em pilares feitos de algodão.
Dr. Souto: Parece que foi uma coisa gigantesca, uma super nova descoberta, mas na verdade é um microscópico eletrônico que está conseguindo amplificar para proporções gigantescas um risco teórico em desfechos subjetivos na faixa de 1%. E que é extremamente sujeito a vieses. Lembrando que das várias metanálises que foram feitas apenas uma encontrou essa pequena diferença. Lembrando que esta uma não continha o ensaio clínico randomizado maior e mais importante que todos, que é o de Ramsden 2016, que é o da manteiga e do óleo de milho.
Rodrigo Polesso: Vou falar em seguida agora. A mensagem é essa. Apesar de ter sido uma coisa grande que a AHA fez, do jeito que ela fez, não é tão grande quanto vai ser a repercussão disso. Nosso papel é já avisar a vocês… Quando forem ver manchetes durante a semana sobre esse assunto… Manchetes já saíram nos Estados Unidos. Por exemplo, no Daily Mail, olha só o título da manchete: “Porque você deveria mudar da manteiga para a margarina. Uma simples mudança que pode ser tão boa como as estatinas para o coração.”
Dr. Souto: Quando eu li isso eu quase me engasguei com meu café. O estudo da AHA não fala nada de margarina. E se fosse falar, iria falar contra. A Associação Americana de Cardiologia é frontalmente contra o consumo de gordura trans.
Rodrigo Polesso: Mas eles falam de gordura poliinsaturada e óleos vegetais com o público geral. Eles criam esse tipo de besteira. No Brasil pode ser que aconteça de sair algo desse jeito. São essas as manchetes que a população vai ler. Quantas vezes já mostramos a capa da revista Time falando que “gordura vai te matar” e depois “coma gordura”? Agora imagine outra capa dizendo que a margarina está de volta de vez. A gente não é burro. Só é possível essa mudança de posição tão drástica quando você não tem a menor ideia do que está falando. É impossível se polarizar desse jeito, inverter sua opinião, baseando-se em fatos. Só baseando-se em interpretações mal feitas e quando a gente não sabe do que está falando. Quero proteger o pessoal, quando forem ler a manchete sobre isso durante a semana… Quando um amigo vier falar sobre isso… Você já sabe que pode indicar o podcast da Tribo Forte para eles entenderem um pouco mais sobre o que tem por trás dessas manchetes sensacionalistas e perigosas.
Dr. Souto: É uma pena, porque por uma desforra quase que pessoal… Do pessoal da AHA com a Nina Teicholz. Basicamente, estou lendo esse paper como uma resposta a ele. Aproveitando para lembrar que saiu o novo livro da Nina Teicholz em português. O título é “Sem Medo da Gordura” ou “Gordura Sem Medo”. Um dos dois. Vocês podem colocar no Google para encontrar. Está no meu blog também. Coloquei em destaque. Leiam o livro. Comprem. Deem de presente. Distribuam para amigos, parentes. Então, eles estão basicamente respondendo. Mas olha o dano que eles fazem por uma birra, por um pequeno detalhe. Eles concordam que a dieta pode ser mais pobre em carboidrato. Eles concordam que a dieta pode ter mais gordura. Eles simplesmente discordam de um pequeno detalhe na composição da gordura dos alimentos porque isso vai mudar em 1% suas chances de um desfecho que não é morte. Aí faz um escarcéu desses. A imprensa se agarra nisso. Aí as pessoas vão ler e vão comer tudo que não tenha gordura. Aí vão começar a se entupir de pão, de se entupir de mingau de aveia. Aí já sai uma notícia dessas dizendo “coma manteiga, não coma margarina”. E o artigo não diz isso. Não se fala nada e margarina.
Rodrigo Polesso: Óleos vegetais. É tão ruim quanto. Duas toxinas.
Dr. Souto: Mas margarina com certeza é pior do que tudo isso. Aí já é gordura trans. É gordura vegetal hidrogenada. Com certeza a AHA não aprovaria essa manchete. Assim como o jornalista escreveu essa bobagem, muita gente que não é da área vai ler as manchetes contra gordura saturada da AHA e entender isso como sendo contra gordura em geral e a favor de carboidrato em geral… Quando o próprio artigo da AHA diz que não por carboidrato que é para substituir. Só que isso se perdeu completamente nas manchetes. Pelo menos vocês que nos escutam estão sabendo.
Rodrigo Polesso: Só para dar um detalhe sobre essa última metanálise. Eles basearam os dados de ensaios clínicos randomizados… Esse artigo da AHA… Se basearam em duas metanálises. Uma de 2010 e uma de 2015. Mas tem uma nova. A gente já mencionou nesse podcast. Saiu em 2016, no British Medical Journal. Os detalhes dela são o seguinte. Ela fez uma revisão sistemática, uma metanálise de ensaios clínicos. Eles substituíram gordura saturada por óleos vegetais… Óleos poliinsaturados, que é justamente o que estão sugerindo na AHA. Os resultados foram os seguintes. “Não existe evidência do benefício em mortalidade de doenças cardíacas.” A conclusão desse estudo é a seguinte. “Ainda que limitada, a disponibilidade de evidência de ensaios clínicos randomizados não provê nenhuma indicação de benefício em doenças cardíacas ou mortalidade total em substituir gordura saturada por óleos vegetais.” Ou seja, uma metanálise que saiu depois da análise em 2016. Ela prova, justamente, que o que a AHA está falando está sumariamente errado. Basicamente isso, pessoal. Só para vocês saberem o que está acontecendo nesse mundo. Sabe o que é interessante… Interessante não. É triste. Eu estava falando com a mãe da minha namorada. Ela acredita muito na falácia da autoridade. Como ela, existem milhões e milhões de pessoas. Acreditam no jaleco branco, na pessoa de autoridade. Ela tem muita resistência em aceitar que uma organização gigantesca como a AHA pode falar tanta asneira assim. Tem a AHA, essa instituição grande que deveria ser respeitável. Do outro lado tem eu, que sou ninguém, falando para ela, “Isso está errado. Acredite. Eles realmente não sabem do que estão falando.” Ela tende a não acreditar porque a autoridade tem muita força. É dessa mesma forma que muita gente acaba caindo. É por isso que fico admirado que ninguém vai preso. É isso que eu chamo de assassinato em massa também. A gente vê que o que está causando problema hoje na população é justamente esse tipo de falta de embasamento científico e recomendações em ponderação alguma. É complicado essa luta que a gente está lutando.
Dr. Souto: Uma outra forma das pessoas verem essa questão e se tranquilizarem é assim. Há uma óbvia briga de cachorro grande entre autoridades científicas no sentido de se… A gordura saturada é ou não é problema. Algumas metanálises bem feitas publicadas em revistas científicas de prestígio mostram que sim. Outras publicadas em revistas de prestígio mostram que não. O que significa que, se de fato houver uma diferença… Estamos falando de diferença em desfechos não fatais. Há um consenso de que não muda a mortalidade. Mas se de fato essa diferença existe ela evidentemente é muito pequena a ponto de permitir uma discussão interminável entre pessoas que estão se debruçando nas mesmas bases de dados dos mesmos artigos. Se fosse uma coisa óbvia e evidente, nós teríamos artigos mostrando diferenças significativas em termos de valores absolutos e risco absoluto. Mais do que isso, diferenças em mortalidade também. Como é possível que um troço faz tão mal no sentido da pessoa ter um desfecho cardiológico não fatal, mas não mate ninguém? Como é possível? Você tem que pensar nisso. Os desfechos não deveriam ser todos no mesmo sentido? Talvez vocês lembrem que num podcast anterior eu comentei rapidamente sobre uma nova medicação. Custa caríssimo. Custa 1.400 dólares por mês. É uma medicação injetável que baixa o colesterol para níveis nunca antes vistos. Rapata, se não me engano, é o nome do remédio. Baixa para valores do tipo menos de 30… Menos de 20 o LDL. O ensaio clínico randomizado mostrou o mesmo padrão que estamos vendo aqui. Uma redução pequena no risco absoluto de desfechos subjetivos. E nenhuma redução… Pelo contrário… Uma tendência, sem significância estatística em aumento da mortalidade no grupo que usou remédio. Caro Rodrigo, como é possível que um remédio baixe como nunca seu colesterol e que reduza alguns eventos cardíacos não fatais como chance de internação e necessidade de colocar um stent… Como é possível que esse remédio não diminua as chances de não morrer do coração… Como haja uma tendência… Não estatisticamente significativa no sentido de aumento. Quer dizer… Em termos absolutos houve mais mortes no grupo que tomou o remédio do que no grupo que não tomou. Como é possível?
Rodrigo Polesso: Você vai tomar um remédio que você vai ficar pobre, porque é tão caro. E você vai ter mais chances de morrer no final porque você está atacando uma coisa que não tem nada a ver com a história. Estamos falando há tanto tempo que é o bendito do colesterol.
Dr. Souto: Naquele exemplo, a situação é muito clara. Na hora de decidir se vai colocar um stent ou não, o cardiologista leva em conta o colesterol do paciente. Aqueles que estavam usando remédio tinham o colesterol baixíssimo e o cardiologista pensava, “Não vou colocar stent. Como esse colesterol tão baixo, a coisa não vai evoluir. Então, é uma decisão subjetiva. A coisa objetiva é lapide, sim ou não. Essa não mudou. A mesma coisa a gente vê nesses estudos que estão sendo citados nesse paper de ontem. Só muda desfechos subjetivos, e mesmo assim muda ridiculamente pouco. Os objetivos… Morte, infarto, não mudam. Se a sua preocupação é que a manteiga que você usou para refogar o repolho pode lhe matar do coração, esse estudo de ontem está deixando claro que não, porque esse estudo mostrou que não há diferença em mortalidade. Esse estudo mostrou que há diferença em eventos não fatais segundo uma interpretação da literatura. Há várias outras que interpretam a mesma literatura de forma diferente.
Rodrigo Polesso: Exatamente. Ponderando toda essa informação, eu tenho que reconsiderar o que eu penso. De almoço eu vou comer… Tenho fígado de galinha preparado já. Em homenagem ao episódio vou colocar o dobro de óleo de coco porque não estou nem aí para a vida. A vida é curta e tem que aproveitar. Então vou colocar o dobro de óleo de coco em homenagem ao podcast. Principalmente, acho que é interessante falar aqui da base de tudo. A base da filosofia da alimentação forte é uma coisa que não é analisada por esses estudos. São pessoas que já corrigiram a qualidade da alimentação. São pessoas que estão levando uma alimentação baseada em alimentos de verdade. É o que realmente importa no meio e tudo isso. Acho que quando você tem isso em ente… Se você quer comer mais carne de gado, mais bife, mais óleo de coco… Ou mais um peixe, mais azeitonas em vez… Eu não acho que fará diferença alguma, particularmente falando. Ambos são alimentos de verdade e não terá tanta diferença assim. Quando a gente para de focar em macronutrientes, e análises microscópicas de coisas que a gente ignora… Acho que perde qualquer sentido. É um desperdício de poder mental, é um desperdício de dinheiro e atenção da população também. Com isso quero te perguntar o que você vai degustar hoje de almoço e se você vai fazer alguma homenagem ao podcast com isso.
Dr. Souto: Você está fazendo uma homenagem a AHA. Mas na realidade o frango tem mais gordura insaturada do que saturada, Rodrigo.
Rodrigo Polesso: Por isso que vou colocar o dobro de óleo de coco.
Dr. Souto: Eu vou contradizer as diretrizes porque não falei por acaso em repolho refogado na manteiga. Isso está em vias de ser feito daqui há pouco. E mais alguma carne que nem sei qual é. Não sei o que tem em casa.
Rodrigo Polesso: Maravilha. Ótimo. Se você não é membro da Tribo Forte ainda, te convido a se tornar um membro dessa tribo incrível e ter acesso a todas informações que os membros têm. Isso pode te ajudar a sustentar um estilo de vida saudável baseado em ciência. Um estilo de vida saudável e delicioso também. É só você entrar em TriboForte.com.br. Se torne parte da turma e venha viver esse estilo de vida incrível. A primeira coisa que você verá na Tribo Forte quando se torna um assinante é receber um mini curso de alimentação forte para ficar na mesma página e entender toda essa filosofia. Com isso, espero que a mensagem de hoje tenha sido clara para que vocês possam se preparar para a chuva de balela que está vindo pela frente. Dr. Souto, obrigado pela análise e pela participação novamente. A gente com certeza se vê na semana que vem caindo novas bombas ou não nesse mundo da nutrição.
Dr. Souto: É isso aí. Acho que dessa vez vai ser bem na hora. Quando as pessoas estiverem abrindo para ouvir esse episódio, as notícias vão estar pipocando. Casualmente a coisa aconteceu num feriadão de Corpus Christi. Acho que as notícias vão sair entre hoje (sexta-feira dia 16) e a semana que vem. Abraço. Até a próxima.
Rodrigo Polesso: Até mais, pessoal.