TRIBO FORTE #177 – DISSONÂNCIA COGNITIVA E GORDURAS SATURADAS

Bem vindo(a) hoje a mais um episódio do podcast oficial da Tribo Forte!

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Neste episódio:

  • Falaremos novamente sobre gordura saturada, novos pontos pra comentar;
  • Dissonância cognitiva;
  • Respondemos perguntas da comunidade;

Escute e passe adiante!!

Saúde é importante!

OBS: O podcast está disponível no iTunes, no Spotify e também no emagrecerdevez.com e triboforte.com.br

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Caso de Sucesso do Dia

Referências

Artigo na BBC

Doenças Cardiovasculares

Transcrição do Episódio

Rodrigo Polesso: Bom dia para você! Bem-vindo a mais um episódio aqui da Tribo Forte. Eu sou o Rodrigo Polesso e você está ouvindo sua dose semanal de nutrição baseada em evidência. Hoje a gente vai bater um papo aqui sobre um assunto novo que a gente nunca falou antes: gorduras saturadas. A gente vai falar um pouco sobre gorduras saturadas porque saiu coisa nova numa mídia grande. Então, tem vários pontos para comentar sobre isso. E antes disso a gente vai responder uma pergunta da comunidade também para a gente começar a aquecer nossa conversa de hoje aqui. Esse é o episódio número 177 da Tribo Forte. Você pode ouvir – lembrando – o podcast da Tribo Forte no iTunes, no Spotify e também direto na página do EmagrecerDeVez.com onde você tem também todas as transcrições de todos os episódios. Você pode procurar por assuntos também se você quiser. Dr. Souto, bem-vindo a mais esse episódio. Como está por aí?

Dr. Souto: Tudo certo. Bom dia. Bom dia aos ouvintes.

Rodrigo Polesso: Olha só… Vamos começar então com essa pergunta da comunidade que veio da Ivanilda Vieira. É uma pergunta… Variações da primeira parte dessa pergunta eu escuto direto. Ela fala assim: “Rodrigo, para quem precisa fazer academia e tem que comer antes do treino para que não ocorra o catabolismo, como fica o jejum intermitente?” Vou dar meu palpite aqui. Para começar, não tem que comer necessariamente antes da academia. Você tem dias, semanas de energia estocadas como gordura corporal. Então, você não precisa comer nada de energia para se exercitar. Se você se sente fraco ou se sente mal durante o exercício quando você não come nada, é um sinal de que seu metabolismo não está funcionando como deveria, porque você não deveria se sentir mal ao fazer um esforço físico de barriga vazia. Inclusive, o esforço físico tende a ser melhor perfomado de barriga vazia e metabolismo melhor. Então, esse é o primeiro ponto. Você não tem que comer… Apesar do que as pessoas podem dizer por aí na mídia e personal trainers da vida que sugerem que você coma antes do treino. Isso, na minha opinião, pode atrapalhar a performance e não melhorar quando é logo antes do treino. Outra coisa que é o catabolismo… Não é a comida que vai prevenir o catabolismo. O que vai prevenir o catabolismo é o exercício… Você mostrar ao corpo que você está utilizando sua massa muscular, assim ele não vai catabolizar nada. Outra coisa… Mesmo se você não utilizar sua massa muscular por um tempo e você se nutrir corretamente com boa quantidade de proteína de qualidade, o seu corpo vai tender a não fazer esse catabolismo, se você usar os benditos dos músculos. Então, o que causa o catabolismo é a má nutrição e também, principalmente, falta de exercício. Não é uma sessão de exercício que vai causar catabolismo muscular. Isso aí é medo que o pessoal tenta colocar em vocês para tentar vender essas soluções bestas por aí. Dr. Souto, você tem algum input sobre essa questão?

Dr. Souto: Eu tenho alguns inputs sobre essa questão. A primeira coisa: concordo. Na realidade, a pessoa não precisa comer nada antes da atividade física, mas pode comer se preferir. É uma coisa opcional. Eu acho que muita da confusão se deve a duas coisas. A primeira é aquela história que a gente sempre fala de mecanismos e realidade. Existem alguns estudos nos quais a pessoa faz lá a biópsia do músculo antes de… Ou melhor, depois de usar um suplemento Whey por exemplo… Ou a biópsia no músculo estando em jejum e fazendo exercício… Ele vai mostrar que existe uma síntese proteica 15% aumentada se o sujeito consumiu proteína uma hora antes da atividade física. Isso é desfecho substituto, não é desfecho concreto. O desfecho concreto é: o sujeito está ficando mais forte 90 dias depois ou não, fazendo exercício naquele regime de exercícios dele? Então, a gente sabe porque esse tipo de estudo foi feito. Aliás, o Rafa Lunds esses dias ainda compartilhou conosco um estudo mostrando que o grupo que fazia o early-time restricted feeding, ou seja, uma janela de alimentação cedo desde manhã até o meio da tarde, depois não comia mais nada, fazia jejum de 16 horas, ganhava músculo perfeitamente. Então, o fato é que é necessário comer proteína em algum momento, de preferência dentro das 24 horas em que o exercício vai estar ocorrendo, mas não precisa ser dentro dos 30 ou 60 minutos. Mas a outra coisa que eu queria comentar é que muitos desses estudos que focam em desfechos substitutos… Porque desfecho concreto que é o ganho de massa muscular ou a não perda da massa muscular a gente já sabe que não tem a ver… Muitos desses estudos são patrocinados por quem? Pela indústria de suplementos.

Rodrigo Polesso: Sim.

Dr. Souto: Então, se você convencer as pessoas de que elas precisam consumir uma quantidade grande de proteína nos 30 ou 60 minutos logo antes ou logo depois do exercício… Ora, como é muito pouco prático levar um bife com ovo, um salmão para a academia… Acaba a indústria vendendo a solução para um problema que ela criou. Ela criou um problema. Ela lhe convenceu de que você tem que comer proteína em grande quantidade naqueles minutos ao redor do exercício… E como é que você vai fazer isso? Comprando um shake. Então, concordo, Rodrigo. Essa é uma explicação cumprida para chegar na mesma conclusão. Se você está fazendo exercício e consumindo proteína em quantidade adequada dentro das 24 horas que cercam esse exercício, está bem. Não precisa estar alimentado. Pode estar em jejum no momento do exercício resistido. Não tem problema. Agora, se essa é uma estratégia ótima para um fisiculturista profissional utilizando anabolizantes, talvez não.

Rodrigo Polesso: Provavelmente não.

Dr. Souto: Talvez não. Talvez para esse, realmente consumir uma quantidade muito maior de proteína e focar ao redor do exercício também seja o ideal. Mas veja que a pergunta dela não é essa. A pergunta dela é se ela não corre risco de perder músculo fazendo exercício se ela não tiver comido logo antes. A gente sabe que não. Isso é propaganda de exercício… Desculpa, propaganda de suplemento disfarçada de estudo científico de desfecho substituto.

Rodrigo Polesso: Perfeito. E vale enfatizar novamente essa questão importante que é a famosa janela de consumo proteico depois ou antes do exercício… Ela não existe. Não é mostrada que existe em estudos científicos. O importante é você ter um equilíbrio positivo de proteínas durante o dia inteiro. Isso é muito mais importante. O corpo sabe o que faz com essa proteína. Vamos lá. A segunda parte da pergunta, só para a gente bater rápido aqui. Não sei porque, não tem nada a ver com a primeira, mas ela fala: “E detalhe, eu uso antes de dormir duas colheres de gel de linhaça pois a única coisa que encontrei para controlar o meu intestino. Posso continuar a usar?” Essa questão dessas artimanhas para o intestino… Eu acho que o problema está na raiz disso. A raiz disso, ao meu ver, é a falsa impressão que as pessoas têm de que elas precisam… Enfim… Já falamos disso antes… Precisam ir ao banheiro, número 2, pelo menos uma vez ao dia, 2 vezes por dia… Se não vai todo dia… Ou se vai uma vez a cada 2, 3 dias… E a pessoa acha que está constipada. Geralmente, quando você reduz a quantidade de fibras na dieta, você vai menos ao banheiro porque menos lixo para dentro, menos lixo para fora. Não é difícil de entender porque isso acontece. Agora, um ponto importante é você notar como você se sente. Se você se sente bem nesses dias que você não vai e quando você vai você se sente bem, vai tranquilo, não tem problemas, não está sofrendo, não tem porque você achar que precisa colocar mais lixo para dentro… Diga-se de passagem, colher de gel de linhaça… Para que você force seu organismo a jogar mais lixo para fora. Ao meu ver, é essa a questão. E para quem tem problema de constipação de verdade… Quem de fato foi diagnosticado como constipado, tem problema no intestino, colocar mais lixo no cano não ajuda. Colocar mais fibras tende a não ajudar a solucionar esse tipo de problema também. Dr. Souto, gel de linhaça eu nunca tinha ouvido falar. Eu escuto falar muito no psyllium… O pessoal come… É basicamente comida de cavalo. É feno. É basicamente a mesma coisa. Eu costumo dizer que não é comida para ser humano, é comida para cavalo. Tem vários pontos, nuances nisso aqui onde pode talvez, de alguma forma, ser útil para as pessoas que excepcionalmente precisam dessa adição de fibra. Mas como uma dica geral, eu diria para questionar como você se sente, com qual frequência você vai, qual é a sua alimentação e se isso faz sentido. Se sua alimentação faz sentido que você tenha menos lixo para colocar para fora, por exemplo, e como você se sente toda vez que você vai. Então, são vários pontos que a gente comentou antes aqui. Mas eu não sei se você já ouviu essa da colher de linhaça… O que você acha?

Dr. Souto: Rodrigo… Na realidade… Primeira coisa… Linhaça é uma semente que tem pouco carboidrato, boas gorduras, tem fibras… Se funciona para ela, acho que é uma alternativa. Se a pergunta dela é… Isso atrapalha no processo de emagrecimento ou a melhora de um problema metabólico, não. Não atrapalha. Quanto à questão da fibra e constipação, eu acho que não tem regra geral. É fato isso que você falou… E bastante surpreendente para a maioria das pessoas pelo viés que a gente tem de pensar ao contrário que sim, muitos constipados crônicos melhoram com a redução ou até mesmo com a retirada das fibras. Eu sei que é paradoxal, mas existe estudo disso e experiência. Mas tem gente que melhora com esses truques de colocar um psyllium, de colocar uma linhaça. Eu diria assim… Se o problema principal do intestino do indivíduo é de motilidade, quer dizer, um intestino que tem dificuldade de empurrar o bolo fecal para frente, colocar mais bolo na forma de fibra na digerível insolúvel pode piorar. Mas tem outras pessoas que não. Tem outras pessoas que… É uma questão de… As fezes ficam desidratadas e tal. E nesse caso as fibras às vezes conseguem reter mais umidade. Então, tem muito de tentativa e erro nisso. Então, prática de consultório é whatever works, sabe? Se funciona, se a fibra de linhaça está funcionando… Não é tóxica, não é problema. Linhaça tem um ômega-3, embora seja um ômega-3 que a gente só converte 7% dele em um tipo utilizável pelo ser humano, mas enfim… O tipo de gordura que predomina na linhaça é bom. Ela tem fibra. Ela não tem quase carboidrato. Então, eu não vejo problema.

Rodrigo Polesso: Beleza. Eu não acharia que é uma fonte de nutrição, mas uma fonte que pode ajudar na questão de fibras, com certeza. Só vou dar uma dica de uma coisa a se pesquisar nessa questão aí. Claro, isso não é prescrição médica. Tudo que a gente fala aqui é informação. Faça o que você quiser de forma responsável, de preferência com auxílio de alguém. Mas a questão do sal… Tem gente que pode estar constipado por consumir muito pouco sal. O aumento do consumo do sal pode ajudar nisso também… No aumento do consumo de magnésio numa forma bem absorvível. Hoje em dia é difícil de se obter magnésio suficiente. Isso talvez possa ajudar nessa questão de hidratação das fezes ou também da motilidade intestinal. São coisas a ser investigadas. Mais uma daquelas coisas que você pode tentar para tentar achar uma solução. Olha só. Dissonância cognitiva. Um assunto que a gente já falou muito aqui. Tem um novo artigo que foi publicado agora no site da BBC com a seguinte manchete: “A verdade sobre gordura saturada.” Bom, finalmente alguém vai contar a verdade para a gente, né? E quem ler na BBC a verdade vai acreditar na verdade, afinal o nome é esse. Eles começam esse artigo dizendo que o senso comum prega que nós devemos consumir menos gorduras saturadas. Todo mundo já sabe disso. Mas que alguém dietas como a low carb, por exemplo, sugerem o oposto. A alimentação forte também sugere o oposto. Depois revisa as diretrizes governamentais que pregam a diminuição do consumo de gorduras, principalmente as saturadas. O Reino Unido prega que você consuma X quantidade de gordura saturada. Os Estados Unidos sugerem que você consoma ainda menos gordura saturada e gorduras também. Ele convida um gênio chamado Leenie Garton que é um dietitian… Um nutricionista registrado no Reino Unido… Ele é um conselheiro de uma caridade do colesterol, que é o Heart UK. Não sei que caramba é isso…

Dr. Souto: É uma organização não-governamental para fazer as pessoas baixarem o seu colesterol.

Rodrigo Polesso: E o nome é Coração Reino Unido. Maravilha. E o cara é conselheiro. Ele fala que essas últimas dietas que sugerem que você aumente o consumo de gordura saturada são bastante preocupantes, porque nós já estamos comendo muito. E a primeira coisa que ele diz nesse artigo na BBC… Que vai ser visto por milhares de pessoas… Já nos mostra como ele pensa ou não pensa. Ele fala o seguinte. Vários fatores contribuem para o aumento do colesterol no sangue. Mas uma dieta alta em gordura saturada é definitivamente um deles. E tem sido confirmado em estudos desde 1950. Por isso a gente já vê que ele está vinculado a essa ideia do colesterol ainda, né, pessoal? Que é uma coisa bastante vergonhosa hoje em dia de pensar nisso. Então, ele já começa a basear toda a preocupação dele na questão do colesterol. É interessante que uma das imagens em destaque nesse artigo mente sumariamente para o leitor. É uma imagem que mostra o bacon, que é a imagem da gordura saturada, não sei porque. Tem essa imagem do bacon e na legenda fala o seguinte. 85% de bacon tem 30 gramas de gordura saturada e isso já seria o limite da ingestão diária para uma pessoa. Caramba! Na verdade, 85 gramas de bacon teriam 11 gramas de gordura saturada, sendo que a maioria da gordura do bacon é monoinsaturada, a mesma que eles pedem para a gente aumentar. Na verdade, tem 3 vezes menos gordura saturada do que tem os 30 gramas que eles disseram. E o azeite de oliva tem a mesma quantidade de gordura saturada a cada 100 gramas que o bacon, mas você vê só como eles tentam usar esses argumentos. Não sei da onde que eles tiraram isso. Acho que eles assumiram que toda gordura do bacon é saturada. É falso! Seguindo… O gênio, o senhor Leenie Garton segue dizendo o seguinte… Ainda, apesar de algumas pessoas discordarem, a riqueza da evidência científica indica que o colesterol total e o LDL… São contribuições comprovadas para doença cardíaca, Dr. Souto. É comprovada a contribuição do LDL… Enfim… Colesterol total?

Dr. Souto: Pois, então. Eu acho que comprovado até é. A pergunta é: qual é o grau de importância disso no contexto em que a pessoa está saudável, em que não tem resistência à insulina, em que ela não fuma, não é obesa… Quando eu já tenho um endotélio… O revestimento interno dos vasos sanguíneos… Prejudicado por algum desses fatores… E o principal, repito, é a resistência à insulina… Tem resistência à insulina, síndrome metabólica, diabetes, pré-diabetes ou fuma… Aí, se a pessoa tiver uma concentração de colesterol maior, isso será um problema maior do que se ela tiver pré-diabetes, resistência à insulina e tiver um colesterol menor. Mas a questão é: por que dar tanta ênfase naquele que estatisticamente é o fator de risco menor desses todos? Esse é o problema. É uma espécie de uma falácia. Num carro, tem uma série de mecanismos de segurança. Tem o cinto de segurança, tem o airbag, tem o pneu careca. Será que eu ter um dos faróis queimados é um fator de risco? É um fator de risco ter um dos faróis queimados. É pior do que ter ambos faróis funcionando. Agora, se o sujeito tiver pneu careca, não tiver usando cinto de segurança e estiver dirigindo bêbado, talvez aquele farol faça uma diferença maior. Agora, quando está tudo OK no carro, é uma coisa menor. E aí vem alguém e diz assim: o principal problema que pode ocorrer na segurança de um automóvel é um farol queimado. É uma questão de proporcionalidade. É uma atenção desproporcional para um fator de risco que não é tão importante. E outra… Suponhamos que seja, Rodrigo. Ele falou ali em colesterol total. Tudo bem, ele falou LDL… Mas colesterol total. Esses dias eu andei fazendo meus exames de sangue. E o meu HDL está 99. O HDL é o colesterol “bom”. Quem tem 99 de HDL… Esse 99 está contido dentro do total. É óbvio que o total não vai conseguir ser muito baixo. Se o meu HDL fosse a metade do que ele é, fosse 50, o meu total seria 50 pontos menores. Mas isso seria ruim para mim, e não bom. É tão absurdo isso… É como falar em altura sem falar em peso, falar em peso sem falar em altura. Aquilo que eu sempre digo. 70 quilos é muito ou pouco? Qualquer um que estiver nos ouvindo vai falar que depende. É homem ou mulher? É alto ou baixo? É uma mulher de 1,50, 70 quilos? É bastante. É um homem de 1,80, 70 quilos? É pouco. Então, realmente, o sujeito falar em colesterol total a essas alturas… É difícil.

Rodrigo Polesso: Mas você falou que é até comprovado… Vou discordar dessa parte. Acho que não é de forma alguma comprovado que o colesterol total, LDL são contribuidores… Contribuem comprovadamente para heart disease.

Dr. Souto: Total esquece.

Rodrigo Polesso: Está comprovador que é associado. Mas não está comprovado que contribuem para a doença cardíaca. Até porque quem faz low carb… A gente vê até em muitos estudos que uma das coisas que acontecem meio que invariavelmente no pessoal que faz low carb corretamente é que o LDL sobe, ao passo que todos os marcadores metabólicos de saúde melhoram.

Dr. Souto: Nessa situação onde o resto todo melhora e o LDL sobe, mesmo que eu aceite que o LDL agregue um pouco de risco, eu ainda vou dizer que o risco global do indivíduo diminuiu e não aumentou, porque o resto melhorou. É uma coisa debatida. Tem, por exemplo, algumas linhas de evidência… Existe um negócio chamado de randomização mendeliana. O que é randomização mendeliana? A gente pega genes que influenciam determinadas características e isso aí é distribuído de forma aleatória na população. Por isso, randomização. Porque a genética distribui de forma aleatória. Aquelas pessoas que aleatoriamente têm um LDL menor por motivos genéticos, efetivamente acabam tendo um risco menor de doença cardiovascular. Então, alguma contribuição própria ele tem. Tem essas pessoas que têm mutação do gene da PKS… PSK9… Nunca sei pronunciar isso aí. Aquele gene que modifica a expressão dos receptores de LDL nas células. São pessoas que têm níveis baixíssimos de LDL, que são quase imunes a doença cardiovascular. Então, talvez, como diz o Dr. Peter Atia, o LDL é condição necessária par doença cardiovascular, mas não suficiente. Ele precisa estar lá. Se ele não estiver lá, não vai ter LDL para acumular na placa. Agora, ele está longe de ser condição suficiente. E aí concordo com você. A pessoa que faz uma alimentação baixa em carboidrato, que tinha resistência à insulina e que agora não tem mais, que todos os fatores de risco melhoraram e só o LDL aumentou, o risco global de doença cardiovascular dessa pessoa diminuiu, com certeza.

Rodrigo Polesso: Isso dá muito assunto para manga. Lembrando que o LDL na artéria é um band-aid. Se você não tiver um corte no braço, você não precisa colocar band-aid. Então, o LDL não gruda do nada. Alguma coisa incentiva o LDL a ir lá e tentar desinflamar…

Dr. Souto: Lembrando que não se morre só do coração. Nós estamos falando aqui de doença cardiovascular. Agora o LDL bem baixo parece ser fator de risco, por exemplo, para Alzheimer, parece ser fator de risco para câncer, parece ser fator de risco para doenças infectocontagiosas e por isso que não parece haver correlação entre LDL e mortalidade geral por todas as causas.

Rodrigo Polesso: É isso aí. Eu vou continuar usando minha bandeira de salve o LDL. Mas tudo bem. Não tem problema. Eu sou mais enfático na questão do LDL. Acho que no contexto geral, como você falou, metabólico, não tem absolutamente nada a ver. E, de forma alguma, na minha opinião, é um contribuidor independente, mas a evidência está aí. O júri está ainda fora, como eles dizem. Mas, enfim. Beleza. O artigo continua o seguinte… Eles falam que é o caso também de alguns tipos de gordura saturada que formam… Gordura saturada não é só uma coisa. Então, eles começam a complicar. Eles falam que, por exemplo, o ácido… Como que fala em português?

Dr. Souto: Esteárico.

Rodrigo Polesso: …Esteárico… Ele contribui para aproximadamente metade da gordura saturada do chocolate preto… Esse sim, não aumenta o colesterol. E há outro tipo, o ácido palmítico, por exemplo, que contribui sim, que também está no chocolate. Então eles falam que é melhor não comer a barra inteira… Você começa a complicar tudo. A natureza criou o tipo bom, que não aumenta o colesterol e depois um tipo ruim de gordura saturada que aumenta… Então, caramba, está complicada a coisa. Será que faz sentido? Não sei. Mas eles continuam falando. E depois, outra coisa que eles mencionam, Dr. Souto, que foi justamente o que a gente falou no último podcast, foi… Outra pesquisa indica que a matriz alimentar é importante… Olha só… No caso do queijo e iogurte, por exemplo, o cálcio, eles falam… Pode ser a razão por trás de ter um menor impacto do LDL nesses alimentos do que o bacon, segundo eles. Isso também pode explicar a observação de que o consumo de laticínios integrais não parece ser associado com doença coronária. Daí eles falam assim… É importante notar que tem que entender esses estudos de forma bastante cética eles dizem… Porque muitos estudos mostram correlação e não causa e efeito. Eu dei muita risada, porque agora eles falam que é importante você cuidar da associação, mas quando eles começaram a falar ao longo do artigo que comer carne, bacon, aumenta em 19% não sei o quê… Reduzir… Aumenta em 15%, não sei o que… Aí eles usaram de associação sem nenhum viés, sem nenhum problema. Mas agora vale dizer. Então, eles disseram o seguinte, basicamente, pessoal. Gordura saturada eles vêm dizendo que é terrível. Mas tem algum tipo de gordura saturada que não é tão ruim quanto a outra. No caso do queijo e iogurte, que é rico em gordura saturada, é bom porque não aumenta tanto o colesterol. Mas por que será que tem essa dissonância inteira… Esse problema inteiro… E agora tem que prestar atenção no tipo de estudo quando a gente fala disso, mas não quando eles falam do risco cardíaco e gordura saturada. Então, eles complementam dizendo ainda que… Ele fala assim… Genética e boa sorte… Sorte boa na vida podem definir muita coisa também. Eles falam que… Todos nós conhecemos uma vó que viveu até os 103 anos comendo um monte de manteiga, creme e gordura… Fala esse cara… Ele fala… Num nível populacional, toda evidência sugere que uma dieta que é a mais saudável de todas é rica em frutas, legumes, grãos integrais e também gorduras monoinsaturadas, como nozes e peixes gordurosos…

Dr. Souto: Agora ele falou muita bullshit.

Rodrigo Polesso: Por isso que estou falando da dissonância cognitiva.

Dr. Souto: Primeira coisa… As metanálises, que são mais de 10, indicam que gordura saturada não tem relação nem mortalidade e nem mesmo com doença cardiovascular.

Rodrigo Polesso: Esse deveria ser o título do artigo, para começar.

Dr. Souto: Vamos começar por aí. A troco do que eles estão preocupados se determinado alimento altera ou não o colesterol, que é um desfecho substituto… Quando nós já temos todas as metanálises indicando que não há correlação de gordura saturada com doença cardiovascular, muito menos com mortalidade. Esse é o começo da conversa. É um não-assunto.

Rodrigo Polesso: Exatamente.

Dr. Souto: Você precisa explicar o que existe. Por exemplo… Imagina que todos os estudos observacionais mostrassem… Nossa! Quando as pessoas comem gordura, isso está associado com o aumento da mortalidade. E aí você precisa montar a teoria… E aí você vai dizer, olha, quem sabe é porque a gordura aumenta o colesterol e tal. Bom, só que se nós partirmos da realidade… E isso sempre é uma boa ideia… Quando nós partimos da realidade… A realidade é que não existe associação entre o consumo de gordura na dieta, nem saturada, nem gordura total, com mortalidade nem cardiovascular, nem por qualquer outra causa. Isso é um fato, pessoal. É um fato. Botem no Google. Metanálise, gordura, mortalidade. Metanálise, gordura saturada, mortalidade. Então, se vocês quiserem, deem um pulo ali no blog. Bota lá “Souto Blog Gordura Saturada” no Google, que eu já tenho isso mastigado. Os estudos estão lá, mas quem quiser ir nos estudos primários… Não existe correlação. Então, você está tentando explicar uma coisa que não existe. Se um alimento aumenta ou diminui o colesterol, isso é irrelevante na medida em que você esteja preocupado com coisas como morte, porque isso não acontece. E segundo essa dissonância cognitiva maravilhosa que você comenta. Eu vou dar um outro exemplo muito comum também. Houve nos últimos 10 anos uma leve, mas nítida, diminuição da mortalidade cardiovascular nos Estados Unidos, que agora está revertendo e aumento de novo. Mas houve uma diminuição. E o pessoal estava dizendo… Viu? Isso aí é porque nós recomendamos às pessoas que diminuam o consumo de gordura, comam mais frutas e tal. Agora, também houve um nítido e epidêmico… Não foi discreto, foi gigante… Aumento da diabetes, pré-diabetes e síndrome metabólica e obesidade nos Estados Unidos. E aí o que as pessoas dizem? Isso é porque vocês não estão seguindo as orientações… Então as pessoas estão seguindo ou não estão seguindo? Quando é para colher os louros de algo que aconteceu, é porque as pessoas estão seguindo as nossas recomendações. Sim, mas está acontecendo uma outra epidemia de diabetes. É porque as pessoas não estão seguindo as recomendações… Elas seguem ou não seguem… Elas não podem seguir e não seguir ao mesmo tempo. É a epidemiologia de Schrödinger… Aquele gato que está vivo e morto ao mesmo tempo dentro da caixa.

Rodrigo Polesso: Exato. E essa que todo mundo conhece uma vó de 103 anos que comia um monte de manteiga e gordura saturada… Todo mundo tem uma vó assim…  Não é genética nem boa sorte…

Dr. Souto: Por sorte, a vó vivia numa época em que não tinha tranqueira para comer e o que tinha para comer era banha e manteiga. Então, o que ele está dizendo é uma grande bobagem porque valeria dizer assim… Todo mundo conhece uma pessoa idosa que fumou e não teve câncer de pulmão… Sim, é uma questão estatística. Mas, obviamente, no grande compto geral das coisas, quem fuma tem 20, 30 vezes mais chances de ter câncer de pulmão do que quem não fuma. Agora, nos estudos epidemiológicos quem come gordura saturada e quem não come não tem diferença na mortalidade por doença cardiovascular ou na mortalidade geral, portanto, é um não assunto, é um não… É uma não-questão. É algo inexistente. Estamos tentando discutir as causas e soluções para um problema inexistente.

Rodrigo Polesso: Exato. Na última frase do artigo eles resumem e falam assim… De forma curta… Tudo isso é mais uma sugestão para uma dieta mediterrânea saudável… The healthy mediterranean-style diet. Ele fala… E fique longe do café com manteiga, dos hamburgueres e do bacon. Basicamente essa é a conclusão desse artigo da BBC.

Dr. Souto: Na realidade, isso aí é mais ou menos como redação de escola. Escolham a conclusão, depois vocês argumentem para chegar lá.

Rodrigo Polesso: Exato.

Dr. Souto: Então, já temos que concluir que fiquem longe do bacon, do hamburguer e tal… Mas aí agora vamos montar uma justificativa. O pequeno, diminuto fato incômodo de que… Repito… Os estudos, mesmo os observacionais epidemiológicos… Mesmo esses não mostram associação entre consumo de gordura total e gordura saturada com mortalidade por qualquer causa e nem mesmo com mortalidade cardiovascular… Isso está, pessoal, em mais de 10 metanálises sobre o assunto. Cansou. Não adianta mais. Quanto mais se faz, mais se acha a mesma coisa. Essa correlação não existe. Esse pequeno fato… A gente ignora. Aí se foca no marcador substituto. Sim, é verdade que café com manteiga provavelmente vai aumentar seu colesterol. Primeiro, a gente aqui não exatamente sugere que você consuma café com manteiga. E segundo, se comer carne ou não, se comer laticínios ou não eleva seu colesterol, é irrelevante na medida em que os estudos mostram que o impacto dos alimentos ricos ou pobres em gordura na mortalidade total ou cardiovascular é nulo.

Rodrigo Polesso: Exato. A Zoe Harcombe disse o seguinte sobre esse estudo. Ela falou… Como alguém… Ela no caso… Que estudou toda a base científica sobre gorduras saturadas e suas diretrizes no Ph.D. dela… Isso me faz querer cancelar a minha licença da BBC para escrever para esse mesmo site, BBC. É incrível como isso pode acontecer nos dias de hoje. Foi publicado agora, há poucos dias atrás no site da BBC isso aí. É incrível. Como você falou, acho que por causa dessa onda toda de uma alimentação baseada em plantas… A gente precisa de um artigo que fale bem da dieta mediterrânea saudável, que basicamente é comer menos animais e mais óleo vegetal, mais esse tipo de coisa. Então, basicamente eles fizeram isso. É triste, pessoal. Olha só… Antes de falar o que a gente degustou na última refeição, vamos só contar para vocês o que o Vicente Rogério mandou. Ele falou… “Estou iniciando hoje a fase 2. Gostaria de agradecer por compartilhar o programa conosco. Estou me sentindo muito melhor, mais disposto. Terminei o desafio de 30 dias com 10,2 quilos eliminados.” Ele disse também no fórum que o cinto dele diminuiu… Voltou em 2 furos… Falou também que se sente com mais energia para acordar mais cedo pela manhã e também praticar seus exercícios. Então, em questão de 30 dias ele já reagiu eliminando 10,2 quilos seguindo a alimentação forte que não é uma alimentação reduzida em LDL ou reduzida em gordura animal. É por isso que ele tem os resultados que tem. Parabéns, Vicente. Quem quiser seguir é só entrar em CodigoEmagrecerDeVez.com.br para conhecer o programa. Maravilha. Vamos lá, Dr. Souto. O que foi sumariamente degustado na sua última refeição?

Dr. Souto: Na última refeição… Eu cheguei num voo cedo, então, não teve refeição ainda. A refeição de ontem… Ontem à noite foi uma marmitinha, mas uma marmitinha low carb. Existem, procurem, cada um na sua cidade deve conhecer quem é que fornece esse tipo de alimentação pronta. Você compra congelado para fazer por praticidade numa hora que você talvez não tenha tempo, não esteja com vontade de cozinhar. E não precisa necessariamente comprar fast-food. Era uma marmitinha feita com frango, molho de curry e moranga.

Rodrigo Polesso: Muito buena. Gostoso. Eu postei essa semana no Instagram sobre churrasco. Falei que churrasco podia salvar a vida de muita gente. No final de semana a gente foi num churrasco japonês. Você senta na frente da mesa e tem tipo um grill no meio… Na sua frente, entre você e a outra pessoa… E aí você vai pedindo porções de carne e você mesmo vai colocando essa carne no grill. São fatias bem fininhas de carne. Tinha de barriga de porco, pedaço de carne mesmo, um corte lá… Tinha brisket, que é um corte mais gordo… De porco também. Tinha cogumelos também que você coloca em cima dessa chapa. E você fica lá comendo. Você vai fazendo seu tempo, colocando a carne no grill… Vai conversando… Muito bacana… Uma forma low carb. Tinha kimchi também. É uma forma tranquila de comer bastante… Comer de forma nutritiva… Alimentação forte, low carb, tranquila. Esses churrasquinhos coreanos, por exemplo… Ou japonês… São todos assim. Tem alguns legumes, algumas carnes. Tinha camarão também. E você vai colocando aquilo no grill e vai consumindo esses complementos tranquilo. Você sai bem, sai satisfeito. É bacana. Fica a dica para o pessoal. Maravilha. Siga a gente no Instagram. Siga o Dr. Souto no @jcsouto. Me siga no @rodrigopolesso e também a @ablc.org.br para você se inteirar sobre o mundo low carb. Lembre-se sempre de ser cético a respeito de tudo, a respeito do que a gente fala aqui, a respeito do que você lê por aí, e sempre confie naquilo que você vê e entende com os próprios olhos. É isso aí, pessoal. Um lembrete último também… Se você quer me ver na Tribo Forte esse ano, entre em TriboForte.com.br/aovivo e veja lá se tem ingresso disponível para você ir lá ver a gente palestrar em setembro lá no evento. Grande abraço, Dr. Souto! Obrigado por mais esse podcast. A gente se fala no próximo.Dr. Souto: Obrigado, um abraço e até a próxima.