TRIBO FORTE #178 – COMIDA APIMENTADA, TEIMOSIA DE HARVARD

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Neste episódio:

  • Falaremos sobre comida apimentada;
  • Continuidade da força de propagação das dietas baseadas em plantas;
  • Ministério da Saúde diz que mais da metade da população brasileira está acima do peso;

Escute e passe adiante!!

Saúde é importante!

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Abaixo eu coloco alguns dos resultados enviados pra mim por pessoas que estão seguindo as fases do Código Emagrecer De Vez, o novo programa de emagrecimento de 3 fases que é o mais poderoso da atualidade para se emagrecer de vez e montar um estilo de vida alimentar sensacional para a vida inteira.

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Caso de Sucesso do Dia

Referências

Matéria no G1 Sobre Ministério da Saúde

Artigo no Science Daily Sobre Pimenta

Estudo Publicado no Jama Sobre Dieta com Base em Plantas

Transcrição do Episódio

Rodrigo Polesso: Olá pessoal, bom dia! Bem-vindo aqui ao podcast número 178, aqui do podcast semanal do Tribo Forte, sua dose semanal de saúde baseada em ciência, na verdade, tá cedo de manhã o cérebro tá pegando o tranco ainda ! Olha só, a gente vai falar hoje sobre comida apimentada, saiu estudo novo sobre comida apimentada. Olha só, “Será que é bom? Será que é ruim?” A gente vai ver hoje aqui. E também a continuidade da força de propagação, aí, das dietas baseadas em plantas a gente vai comentar um pouco sobre o nível de evidências que tá sendo usado, tem coisa nova que saiu aí, mas é repetição do que a gente tá acostumado já a ouvir também. Então, deixa eu dar as boas vindas ao Dr. Souto aqui em nesse episódio. Tudo bem Doutor? Como é que tá por aí?

Dr. Souto: Tudo bem, Rodrigo?! Bom dia! Bom dia aos nossos ouvintes!

Rodrigo Polesso: Bom dia a todo mundo! Bom, pra começar, antes da gente começar o primeiro assunto aqui: todo mundo deve ter visto aí no jornal, é, que saiu uma notícia que como ecoou, aqui o Globo.com, por exemplo: “mais da metade da população brasileira está acima do peso, diz o Ministério da Saúde. De acordo com o levantamento agora de 55.7% dos entrevistados têm excesso de peso, o que aumenta em 30.8% desde 2006.” Então, em pouco tempo, 1/3 aí de aumento, né, quando o Ministério da Saúde começou a realizar essa pesquisa em 2006, naquele ano, apenas 42.6% dos brasileiros estava acima do peso. Então, pessoal, é, eu acho que não é difícil de, quem acompanha a gente aqui, entender porque que esse aumento continua né, as pessoas tão cada vez mais acima do peso, e agora a gente passou da metade, então mais de uma pessoa, a cada 2 né, está aí com sobrepeso, que é uma situação bastante triste, mas como eu falei não é difícil de entender porque isto está acontecendo, tendo em vista todo tipo de informação que é distribuída por aí sobre alimentação e tudo mais. Dr. Souto, você deve ter visto também, com certeza isso aí e, bom, o que você acha disso tudo? Eu acho que não é difícil entender, né?!

Dr. Souto: Eu vi e me chama atenção um detalhe:porque normalmente as pessoas argumentam que, existem diretrizes para uma vida saudável e que as pessoas não estão seguindo essas diretrizes, portanto, tão ficando com mais sobrepeso, mais doenças. Mas se a gente vai ler esse estudo do Vigitel, que sai periodicamente ao qual essa noticia se refere, você observa o seguinte: as pessoas estão fazendo mais atividades físicas agora do que elas faziam antes…

Rodrigo Polesso: Sim

Dr. Souto: … E elas estão comendo mais frutas e vegetais do que elas comiam antes, elas estão fumando menos do que elas fumavam antes tá… Então, isso mostra, obviamente, que as pessoas estão fazendo um esforço pra seguir as diretrizes, e elas tão ganhando mais peso, qual é a conclusão?

Rodrigo Polesso: Que a diretrizes provavelmente tão erradas, mas não, são as pessoas que são preguiçosas e tão mentindo…

Dr. Souto: Exatamente… Então, uma coisa favorável que aconteceu que o Vigitel identificou, foi uma queda bem importante no consumo de açúcar, especificamente refrigerantes, bebidas açucaradas

Rodrigo Polesso: Muito bom isso

Dr. Souto: Isso é muito bom, eu acho que vai trazer benefícios pra saúde da população em termos de diminuição de esteatose talvez até de diabetes, mas a questão é: isso mostra bem que não basta apenas retirar bebidas açucaradas, que nós temos um excesso muito grande de glicose na dieta na forma de amido, tá. Então, a mesma diretriz que tá dizendo pras pessoas não beberem bebidas açucaradas, não consumirem açúcar, está dizendo pra que as pessoas aumentem o consumo de grãos integrais…

Rodrigo Polesso: Sim

Dr. Souto: Tá certo?! De modo que uma coisa praticamente anula a outra no que diz respeito à quantidade de glicose, a quantidade de energia de baixa densidade nutricional na alimentação. Então, o Doutor David Lustig mostrou ter feito um estudo interessante no qual ele pegou adolescentes obesos com síndrome metabólica e substituiu o açúcar por amido nas dietas, de modo que a quantidade fosse a mesma, mesmo assim a gordura no fígado, a esteatose, melhorou tá, então retirar o açúcar é bom, mas não houve emagrecimento.

Rodrigo Polesso: Certo

Dr. Souto: Tá certo? Então, não adianta eu substituir 6 por meia dúzia, eu trocar o pão branco pelo pão preto, eu trocar o pão pela tapioca, porque eu tô trocando amido por amido, por amido, por amido, eu tô substituindo glicose por glicose, por glicose, por glicose. Então, esse é o meu take, não significa que esteja correto porque é uma análise de estudo observacional, então a gente só pode imaginar, mas o meu take é esse: é que não dá pra dizer que não tá dando certo porque as pessoas não estão seguindo as diretrizes porque, repito, elas estão fazendo mais exercícios, elas estão comendo mais frutas e vegetais, elas estão fumando menos. No entanto, elas continuam ganhando peso e elas tão comendo menos açúcar, então minha opinião, tão comendo mais amido porque as diretrizes mandam comer mais amido, porque existe um pensamento mágico de que se esse amido vier do centeio ou da batata doce ele não será convertido em glicose no sangue, não vai aumentar a insulina, mas é a mesma glicose e a mesma insulina.

Rodrigo Polesso: É, é verdade. E não dá pra ignorar também que são pessoas, e pessoas são bastante tendenciosas nas suas respostas e vivem num mundo que a gente tá mergulhado em fast food e tentações alimentares, então todos esses produtos também, todos contém açúcar, quantas pessoas vão dizer de verdade quanto açúcar elas comem por dia na forma de vários produtos, inclusive, quantas pessoas vão considerar que aquele cookie que ela comeu à tarde, só aquele cookie pequeno, contou como alguma coisa que ela colocou na boca?! Então pra gente saber o que as pessoas reportam e saber de verdade o que acontece também é outro passo muito grande entre as duas coisas. Tem muito avariado de confusão aí entre essas duas coisas, mas a situação é que está piorando, não está melhorando, pelo menos, eu gostaria de ter um exemplo aqui do mesmo estudo feito só com quem acompanha a Tribo Forte, acho que seria bastante diferente esses números.

Dr. Souto: É, foi bom você salientar isso aí, e vamos bater de novo: é muito importante esse estudo do Ministério da Saúde, o Vigitel, porque pelo menos algumas informações… Antigamente a gente não tinha estatísticas sobre a população brasileira, a gente basicamente usava só as estatísticas norte-americanas, dito isso, é um estudo observacional. A gente não pode estabelecer relações de causa efeito, a gente só pode especular e como você muito bem disse, as pessoas não dizem necessariamente a verdade nessas entrevistas, porque embora se garanta pra pessoa que os dados são anônimos, mas a pessoa sente sim um certo constrangimento de dizer o quanto de bebida alcoólica ela realmente bebe, ou quanto de açúcar ela realmente come, ou quão pouco exercício ela realmente faz, de modo que, esse é um dos motivos que estudos observacionais mesmo que sejam bem feitinhos, mesmo que sejam bem analisados, mas a base de dados deles é pouco confiável, essa é a questão

Rodrigo Polesso: É, exato. Mas vale como, mostrar uma tendência populacional, que é o que eles tão mostrando. Bom, vamos falar de evidência científica, a gente sempre fala aqui de qualidade e evidência científica. A vez agora, o assunto foi: Chili, que é comida apimentada. Saiu em um bendito estudo que, com a seguinte matéria no Science Daily, que pense 2 vezes antes de adicionar chili extra (pimenta extra) na sua refeição, que nova pesquisa da Universidade do Sul da Austrália mostra que uma dieta apimentada pode estar associada à demência . Eles falam com estudo de 15 anos, que estudou 4582 chineses adultos, com idade acima de 55, achou evidência de uma maior queda de proficiência cognitiva nessas pessoas, que consistentemente consumiam mais de 50 gramas de chili por dia. Caramba! É muita coisa, 50 gramas de chili por dia. Acho que uma pessoa normal não conseguiria comer isso tudo. Então essa foi a questão: fizeram de novo um estudo associativo epidemiológico, onde eles viram que pessoas que comeram essa quantidade exorbitante de chili por dia, que os chineses, nesse caso, tinham um mais rápido declínio cognitivo, aí claro, essa foi a manchete, isso é o que deu manchete. Ainda, defronte a outros estudos que mostram também mecanisticamente que chili pode ser uma coisa boa pra você e etc. A Zoe Harcombe falou lá no twitter dela, que é uma coisa que obviamente a gente ia falar, porque tá no mesmo artigo: que são as variáveis de confusão. “Será que foi o chili?” ou “será que foram as outras coisas que caracterizam uma pessoa que come mais de 50 gramas de chili por dia?”. Por exemplo, como o próprio estudo falou: Aqueles que comiam mais chili tinham menor renda, olha só, só essa informação. Quais outros fatores de confusão podiam ser incluídos aqui né?! As pessoas comem o quê? Mais farinha, mais açúcar, mais bebidas baratas, adocicadas. E ainda assim eles comentam também que o nível de instrução, de educação, pode também influenciar no declínio cognitivo dessas pessoas, e pra isso nem precisa de mais pesquisas ser feitas, é óbvio né, que o nível de educação pode influenciar no declínio cognitivo e também a menor renda nessa classe de pessoas também pode estar associado fortemente à uma menor saúde mental nessas pessoas. E a pergunta é: o que o chili tem a ver com essa história? Bom, os outros fatores não fazem manchete, Dr. Souto, o chili faz manchete.

Dr. Souto: Eu acho, e espero que um dia as revistas científicas de mais reputação, os periódicos, parem de aceitar esse tipo de estudo. Isso deveria ser bloqueado no peer review, na revisão pelos pares. O estudo chega lá e o sujeito deveria ter dito: olha só, isso aí não tem racional, isso é obviamente um achado espúrio estatístico, porque tem algumas coisa que embora erradas pelo menos fazem sentido, isso é como diz o jornalista americano, cujo nome eu esqueci: “isso nem errado tá”. Não faz sentido, então vou esclarecer para as pessoas o que eu quero dizer: vamos supor que eu tivesse um mecanismo que o chili fosse sabidamente uma coisa que, quando é consumida em grandes quantidades, as pessoas entram em coma, é uma neurotoxina. Exemplo: álcool, o álcool se a pessoa consumir demais ela entra em coma, pode morrer, é uma toxina para o sistema nervoso central, então eu posso conduzir um estudo observacional coma seguinte hipótese: será que as pessoas que bebem mais tem um risco maior de desenvolver demência no futuro? Faz algum sentido, se é verdade ou não eu não sei, mas pelo menos faz sentido. Então eu tenho uma hipótese a priori (eu primeiro faço a hipótese e aí eu vou em um banco de dados ver se de fato naquele estudo observacional as pessoas que bebem mais tem mais problemas). Isso é um pouco mais forte, faz um pouco mais de sentido do que eu pegar um banco de dados grande de perguntas, e verificar, cruzar todas as variáveis do que as pessoas comem, com tudo que acontece, até que eu ache algo que seja estatisticamente significativo, que é um fishing expedition, ou seja, é uma expedição de pesca, eu vou pescar uma significância estatística qualquer, porque quando eu acho P menor 0,05, quer dizer, uma estatística que me diz que aquela associação não é tão comum, que tem alguma chance de ela não se dever ao acaso, aí eu consigo publicar isso porque as revistas aceitam esse tipo de baboseira. Aí as pessoas fazem a ciência ao contrario, primeiro vão ao banco de dados e ficam procurando variáveis. Veja, existem questionários com 170 questões sobre itens alimentares distintos. Pra que eu tenha uma significância estatística, significa um P menor do que 0,05, mais ou menos significa eu tenho menos de 5% de que essa associação que foi observada seja devida apenas ao acaso. Ora, se eu avaliar 20 variáveis de alimentação, 1 em 20 pode dar uma relação com P menor do que 0,05 puramente ao acaso, porque 0,05 é 1 em 20. Então se eu tenho 170 itens alimentares diferentes e sabe-se lá quantos desfechos possíveis de saúde, desde doença cardiovascular, demência, câncer, etc, é absolutamente garantido que por puro acaso eu vou achar, não só 1 ou 2, mas  várias correlações espúrias de coisas que são completamente ao acaso, mas que parecem improváveis que vai ter um P menor que 0,05, isso é um negócio que, pra quem é da área biomédica , tem alguma noção de bioestatística é absolutamente claro, qualquer revista que se preze não devia publicar esse tipo de coisa. Agora, não apenas publicam, mas o negócio vira noticia em inglês, é traduzido pelos nossos portais, e agora tem gente colocando menos pimenta lá na sua comida mexicana.

Rodrigo Polesso: É, exato. Que coisa louca, né?! Mas olha só, se essas revistas não publicassem esse tipo de artigo, o que ia acontecer? Eles iam falir, porque a quantidade de artigo de nutrição que são ensaios clínicos randomizados e bem conduzidos é muito inferior à quantidade de estudos epidemiológicos que saem, é uma questão de sobrevivência…

Dr. Souto: Muitos serviços de pós-graduação e iam ter que desaparecer, porque o que acontece: o aluno da pós tem que fazer um estudo de epidemiologia nutricional e ele vai ter que publicar aquilo ali, parte pra ele obter o grau dele, ele tem que publicar esse estudo. Então, basicamente o que a gente vê é um monte de estudos que não querem responder a uma dúvida real, porque a ciência originalmente era isso, era o Newton tentando explicar porque a lua gira ao redor da Terra, o que impede que ela ande em linha reta e sim faça uma curva? Porque ela não cai na Terra? Bom, aí ele vai passar anos da vida dele, e desenvolve as leis da gravitação. Agora, aqui não, a pessoa não estava querendo saber se chili dava demência ou não, a pessoa passou um pente fino num banco de dados pra tentar cruzar com um software de estatística e ver quais os campos da exposição, quando combinados com os campos do desfecho produziam um resultado estatisticamente significativo e o computador faz isso. Aí daqui a pouco vem assim: achamos correlações estatisticamente significativas entre cigarro e demência, entre pressão alta e demência… Aí daqui a pouco aparece: pimenta e demência, opa, sobre cigarro e pressão alta já publicaram, mas pimenta, não publicaram ainda, essa vai ser minha tese de doutorado.

Rodrigo Polesso: Esse paralelo foi interessante: enquanto o Newton se preocupava em entender como o Universo funciona, hoje a gente se preocupa em como se formar mais rápido possível. Tem uma pequena diferença.

Dr. Souto: Exatamente. “Preciso achar algo que ninguém achou pra poder publicar. Meu objetivo não é chegar mais próximo da verdade, meu objetivo sinceramente não é saber se eu posso comer pimenta ou não, meu objetivo é: achar algo publicável.” Só que acontece assim, com milhares e milhares de artigos científicos publicados a cada ano, cada vez tá mais difícil achar alguma coisa realmente original…

Rodrigo Polesso: Tá na hora de começar a fazer a coisa certa então, né?!

Dr. Souto: É. Daqui a pouco assim…

Rodrigo Polesso: Só que é mais difícil.

Dr. Souto: Eu acho que tá tudo errado, essa filosofia do publish or perish, publique ou morra na academia, no mundo acadêmico. Acaba levando a produção de muito artigo pseudocientífico ruim. E aí o problema é o seguinte: imagina quando a gente tem aquilo que os economistas chamam de “incentivos perversos”, no caso a mídia é um incentivo perverso, porque algo bem bizarro que ficaria enterrado numa revista científica, que obviamente alguém leria assim: “ Bah, que coisa boba isso aí”, naturalmente só uma pessoa precisando desesperadamente publicar alguma coisa. Passa a ser guindado por uma máquina de relações publicas daquela universidade especifica a uma noticia que é redigida então por um relações publicas e aquilo vai para um site internacional e daqui a pouco tá sendo replicado em 40 línguas. É a coisa mais ridícula e irrelevante que tem, essa historia da pimenta, pelo amor de Deus!

Rodrigo Polesso: Exatamente! Existe um paralelo na indústria do cinema: se você não está na telinha, você está perecendo. Então é a mesma coisa, nem que você esteja em qualquer porcaria de programa, você vai estar aparecendo. Aqui nos estudos científicos, infelizmente é parecido, seu nome aparece aí como autor de algum estudo, você tá ainda no radar, senão você vai cair no esquecimento.

Dr. Souto: Agora lembrem-se nossos ouvintes: A coisa mais importante desse exemplo da pimenta, por isso que nós trouxemos aqui, é que nesse exemplo ele é tão bobinho que é evidente: Nossa, é um estudo observacional, é claro que as pessoas que comem pimenta provavelmente são diferentes das que comem menos pimenta em outros aspectos, e são os outros aspectos, como o Rodrigo falou, a renda, o nível educacional que estão fazendo diferença, mas lembrem-se: quando o estudo estiver falando de carne vermelha, ovos ou gordura saturada o nível de evidencia ainda é o mesmo e tão baixo quanto.

Rodrigo Polesso: É bom lembrar. Acho que a gente vai tocar nisso, inclusive, a seguir. Então segura as pontas que não vai faltar esse assunto hoje aqui. Deixa eu contar primeiro a noticia boa da Jurema Ferreira, que mandou pra mim a mensagem: “Acabo hoje a minha primeira fase do desafio com grande sucesso, 100% comprometida, mega motivada para a fase 2 e com menos 10kg!” Menos 10kg em 30 dias somente.  Que mudança grande, que reprogramação do corpo. Como eu sempre falo, o corpo é muito resiliente pessoal. Quando você para de intoxicar o coitado, ele faz um detox automático e aí você consegue esse tipo de resultado. A primeira fase é a primeira parte do programa Código Emagrecer De Vez. Pra quem tem interesse aí, entra em codigoemagrecerdevez.com.br pra você conhecer como esse programa pode ajudar você a emagrecer, baseado em ciência. Então, parabéns para a Jurema! Obrigado por ter enviado o testemunho! Bom, saiu a seguinte manchete no jornal Telegraph, no Reino Unido: “Comer uma dieta vegana pode cortar o seu risco de desenvolver diabetes por quase ¼, dizem cientistas.” Agora vou fazer um quiz pra você Dr. Souto, tá pronto aí?

Dr. Souto: Vamos lá, manda!

Rodrigo Polesso: Primeira pergunta: Adivinha qual foi a universidade que gerou o estudo?

Dr. Souto: Escola de Saúde Publica de Harvard?

Rodrigo Polesso: Acertou! Está muito mais próximo de ganhar 1 milhão de dólares, agora só mais 2 perguntas, vamos lá: Adivinha qual a base de dados que gerou a maior parte das informações do estudo?

Dr. Souto: É aquele estudo das enfermeiras e dos profissionais de saúde?

Rodrigo Polesso: Acertou de novo! Caramba produção, o cara vai ganhar 1 milhão, estamos ferrados aqui! Terceira pergunta: Adivinha quem foi um dos autores?

Dr. Souto: Walter Willett?

Rodrigo Polesso: Outro. Errou!

Dr. Souto: Perdi o milhão! Foi o Frank Hu?

Rodrigo Polesso: Acertou! Acertou de segunda! Graças a Deus não precisei pagar o milhão! Só podia ser 2, eles sempre estão lá. Então pessoal, essa brincadeira foi pra dizer que: a mesma coisa saiu com uma nova manchete e tá publicado agora dia 22 de julho no Jama, que é um jornal que, enfim, nem vou dizer reputável mais, que publica essas coisas ainda, mas enfim, a mesma base de dados praticamente, na mesma universidade e os mesmo autores, mais uma vez atacando essa questão de carne vermelha, nessa questão aqui foi defendendo uma dieta baseada em plantas. O interessante foi: primeiro, que foi um estudo que analisou dietas plant based e não dietas veganas e ainda assim o título do Telegraph falou que “comer uma dieta vegana vai diminuir…” então, veja só, dieta vegana é uma palavra que tá chamando atenção hoje em dia, traz “olhos” para o jornal, mesmo que o estudo não tenha estudado vegano, mas sim estudado plant based. Então isso já começa a mostrar uma grande diferença. Agora vamos concordar que como a gente sempre fala: estudo epidemiológico, com muitas pessoas. Então eles viram que quanto mais as pessoas comiam uma dieta baseada em plantas, quanto mais quantidade de plantas, de nozes, e enfim essas coisas vegetais as pessoa comiam, menos chances eles mostraram de desenvolver diabetes tipo 2. E claro, o estômago tem um tamanho só, quanto mais quantidade de uma coisa você põe, menos de outra. Então imagine, quanto menos pizza você comer e menos cachorro-quente, menos lasanha você comer, você vai tender a ter menos diabetes. Então a pessoa que come bastante plantas, nozes, legumes e etc, é uma pessoa que provavelmente vai comer menos cachorro-quente, menos pizza e etc… Mas o mais legal Dr. Souto, e essa é uma frase que concluiu o artigo do Telegraph, aquela moral da história que mudou o planeta quando eu li isso aqui, ele falou assim: “ Resumindo, no final, a melhor forma de reduzir o nível de diabetes tipo 2 é manter um peso saudável, através de uma dieta balanceada e exercícios regulares.” Que bomba, hein! Tá resolvido! Nunca tinha ouvido isso na minha vida! E essa foi a conclusão do artigo que teve como manchete que “comer uma dieta vegana diminui seu risco de diabetes em ¼.” A gente podia falar uns 3 dias sobre isso aqui, né Dr. Souto?! Vários ângulos, mas o principal acho é que novamente a qualidade da evidência, que são manipulações, estatísticas de base de dados antigas tentando achar alguma associação entre se comer plantas diminui o diabetes tipo 2. Que é uma coisa que faz sentido, quanto menos porcaria você come, menos chance você tem de ter diabetes tipo 2, com certeza. Mas enfim, em vez de atacar a carne, dessa vez estão defendendo o plant based e até a ponto de esticar o significado até chamar uma dieta vegana que não foi o caso do estudo.

Dr. Souto: Bom,vamos começar comentando o seguinte: sempre que existe um assunto que já foi testado em ensaios clínicos randomizados, obviamente é perda de tempo ficar falando sobre estudos observacionais. O que eu quero dizer com isso? Por exemplo, vamos pegar aquele exemplo da pimenta. Certamente nunca houve um ensaio clinico randomizado no qual 5mil pessoas foram sorteadas, um grupo para comer 50g de pimenta por dia, o outro grupo para não comer e acompanhar no tempo e ver os desfechos… Agora no que diz respeito à alimentação e diabetes, existe um numero muito grande de ensaios clínicos randomizados, e aí nós temos o seguinte: os melhores resultados pra redução dos níveis de hemoglobina glicada e perda de peso em diabetes tipo 2, e pra melhora da resistência insulina em diabete tipo 2, os melhores resultados são com dietas low carb, que são qualquer coisa menos plant based

Rodrigo Polesso: Inclusive a ponto de reverter diabetes, então imagina prevenir.

Dr. Souto: Exatamente. Lembrando o estudo do Virtual Helf, que não é randomizado, mas enfim é um ensaio clinico, mostrando cerca de 60% de remissão do diabetes com uma dieta que basicamente é uma dieta focada em carnes, peixes, ovos, laticínios, e sim com vegetais, mas vegetais exclusivamente de baixo amido. Plantas tipo saladas. Então nós temos isso. E o que nós temos em termos de dieta vegana e diabetes? Nós temos poucos ensaios clínicos e o detalhe mais importante, esses ensaios clínicos estão sendo comparados com a dieta americana padrão. Bom, aí é o que o Rodrigo falou: se de um lado você tem pizza, donuts, sorvete, croissant, esse tipo de coisa… Se de um lado você tem só tranqueira e do outro lado você faz uma dieta plant based baseada em comida de verdade que é o que os ensaios clínicos de dieta vegana fazem, é claro que o resultado vai ser melhor, tudo depende do comparativo. Por exemplo, nós temos o famoso Direct Train, de 2008, que foi publicado no New England, que é um estudo que comparou a dieta low carb, com a dieta mediterrânea, com a dieta da pirâmide alimentar, e low carb foi a melhor. Isso é uma comparação justa. Agora se eu comparar basicamente qualquer coisa, literalmente qualquer coisa, se eu tiver comparando com o pior possível eu consigo mostrar a melhora. O famoso estudo do Dean Ornish, que é uma dieta vegana que ele diz que reverteu doença cardiovascular com aquilo. É um estudo extremamente pequeno no qual ele pegou pacientes e, um grupo ficou na dieta ocidental padrão e sedentário, e o outro grupo passou a fazer um programa com cessação de tabagismo, cessação do etilismo, atividade física, meditação e uma dieta vegana…

 Rodrigo Polesso: Qual foi o responsável?!

Dr. Souto: A mortalidade entre os grupos foi igual, mas teve uma diminuição milimétrica, quase impossível, beirando a significância estatística no grau de estreitamento das coronárias do grupo que fez todo esse programa no qual a dieta vegana era só uma parte. Então, nós já sabemos por causa de vários ensaios clínicos randomizados que uma dieta que tem um monte de carne, como é o caso de uma dieta low carb, produz melhora do diabetes, então como é possível que essa mesma dieta possa estar associada com o aumento da incidência ao diabetes? A resposta é: é claro que isso não é verdade. Que nós estamos lidando com vieses. E eu vi no Twitter que a Zoe Harcombe começou a desmontar esse artigo e ela já achou em uma das tabelas, adivinha… o grupo que comia mais plant based tinha um nível socioeconômico maior, educacional maior, fumava menos. É o de sempre.

Rodrigo Polesso: É a preguiça sempre…

Dr. Souto: Então, a gente às vezes parece um disco quebrado aqui, mas é que… Eu acho que ajuda, não deixa de ser quase que um exercício semanal os nosso ouvintes verem assim: E agora? E esse que saiu agora? Não pessoal, é o mais do mesmo, sempre mais do mesmo. E a brincadeira aqui foi legal porque eu não tinha visto os autores do estudo e tal. E pra vocês verem é sempre a mesma coisa. Se as pessoas não se derem conta de que há uma manipulação, eu não sei de que forma elas vão citar. Existe a Escola de Saúde Pública de Harvard que é extremamente influente, existem esses 2 autores que são o equivalente moderno do que Ancel Keys foi nos anos 50 e 60, então assim, quando a Nina Teicholz : o Keys era um pesquisador extremamente influente, é isso que ela quer dizer. É como vocês veem, todo dia sai uma reportagem nos jornais, nas revistas e quem eles estão sempre citando? O Frank Hu, que tem uma cruzada contra o consumo de carne vermelha, é o objetivo da vida dele. É aquilo que nós estávamos falando: uma coisa é a gente garimpar um resultado, outra é a gente prever o resultado. Aqui nós estamos prevendo já, baseado no artigo eu previa, só pode ser o Frank Hu ou o Walter Willett. Baseado no artigo eu previ: só pode ser Escola de Saúde Publica de Harvard e só pode ser a mesma coorte de sempre, que é da enfermeira e dos profissionais de saúde, por quê? Porque essas são pessoas que elas já estão convencidas pelas profissões que tem. Elas aprenderam nas suas faculdades que carne vermelha faz mal. Então, as que mesmo assim comem carne vermelha, são as que são menos conscienciosas no que diz respeito à sua saúde. É obvio. Porque elas já estão bitoladas com isso. Então quando a gente pergunta quem come carne vermelha e quem não come, a gente tá perguntando: quem usa cinto de segurança e quem não usa, quem fuma e quem não fuma… É tão obvio, é tão evidente…

Rodrigo Polesso: É muito. E ainda assim, mesmo a gente fazendo todo esse esforço pra comparar a pior dieta do mundo com a dieta plant based a força da associação que eles acharam foi de 23%, quase ¼ que eles mencionaram. Então mesmo assim pessoal, quando a gente fala de estudos epidemiológicos e etc, a gente fala que no mínimo teria que ser 100% pra ter chance pelo menos de ter alguma significância, eles acharam 23%. Apesar de tudo isso, ainda foi difícil achar uma associação positiva…

Dr. Souto: 23% em termos relativos, porque em termos absolutos, depois provavelmente a Zoe vai calcular e a gente pode ver. Mas vamos pegar, por exemplo, o estudo aquele que… acho que no episódio anterior nós tocamos no assunto, sobre o estudo que falava de açúcar e bebidas açucaradas e câncer, esse era um estudo observacional  que sugeria que consumir mais bebidas açucaradas aumentava o risco de câncer, bom, eu acho que bebidas açucaradas são ruins pra saúde e eu até acredito que bebidas açucaradas contribuam para o risco de câncer, mas a gente enfatizou que estudos observacionais são ruins mesmo quando eles apoiam aquilo em que a gente acredita. Por que tô mencionando isso? Aquilo ali tinha um aumento de, não me lembro quantos % da incidência de câncer, mas em termos absolutos mudava, se não me engano, 2 casos a cada mil pessoas, ou seja, era 0,002% em termos absolutos, mas isso era 20 e tantos % em termos relativos, então risco relativo sempre é um aviso de que estão tentando lhe engambelar , estão tentando mostrar que um resultado bem pequenininho é maior do que ele de fato é. E não importa se o estudo é a favor do que a gente acredita ou contra o que a gente acredita, ele continua sendo um péssimo estudo, porque epidemiologia nutricional não tem o que dar pra humanidade, de uma forma geral, que não seja confusão.

Rodrigo Polesso: É. Exatamente. Muito bom! E ter essa ciência chama-se integridade, né pessoal. Não é porque a gente acha uma coisa que colabora com o que a gente tá falando e se for uma péssima evidência a gente não vai usar isso pra defender nosso ponto de vista porque estaria indo contra a base de tudo que a gente acredita aqui nesse podcast. Então, a gente deixa isso claro, desde o começo. Bom, Dr. Souto, tá gravando isso de manhã, você quer comentar o que foi degustado ontem à noite? Compartilha com a galera aí…

Dr. Souto: Ah, ontem à noite foi uma “marmitinha low carb”, que era composta de almondegas e um pouco de purê de moranga, acho que tinha um franguinho junto, não me lembro, e legumes. Então foi uma marmita que é uma coisa boa de a gente ter. Você pode comprar isso pronto, se tiver quem faça, ou pode fazer. Às vezes as pessoas fazem isso, pegam um dia e: “hoje eu vou cozinhar uma quantidade maior e vou congelar em porções e durante a semana”, uma hora que  tá trabalhando ou não tem tempo, a pessoa pega e come aquilo ali, que é uma forma de a gente ter sempre algo bom disponível sem ter que ficar naquela… Porque parte das desculpas é: não tenho tempo, não tenho tempo pra comer essa alimentação low carb. E enfim, tem o macarrão instantâneo que é fácil de comprar e tal… Mas com algum pequeno planejamento a gente consegue né!

Rodrigo Polesso: Ah, com certeza! Quanto a isso não tem desculpa não! Domingo à noite eu costumo comer charcutaria, queijo, salames… Pessoal, tem como encontrar salames bons. O pessoal me perguntou sobre salsicha, salsicha é bem mais arriscado, mas tem como encontrar boa, ou se você conhece a fonte do “treco”. Se você for no mercado, provavelmente vai ter, é só ler os ingredientes, não é difícil, você vai ver uma centenas de ingredientes. Mas se feito tradicionalmente, como nossos bisavós faziam o salame, salsicha, o queijo de verdade, é fácil de ver, são poucos ingredientes. É coisa que é nutritiva, é tradicional e foi consumida ao longo da história. Ontem a gente comeu isso aí, acompanhado de um bom vinho, vinho seco também pode ser bem-vindo nessas horas, principalmente no final de semana onde você quer relaxar, né?! Então, opções tem variados, pra todo mundo. Vamos lá: sigam a gente no instagram pessoal! Sigam lá: @rodrigopolesso , @jcsouto e também a @ablc.org.br  . E a gente mantém contato, se influencia com coisas positivas, na direção que você quer mudar, ou quer ir! Maravilha! Semana que vem a gente se fala aqui de novo, um grande abraço para todo mundo! Lembrem se você quiser ir no evento Tribo Forte Ao Vivo, vá lá! É agora em setembro, entra em triboforte.com.br/aovivo e garanta o seu ingresso, a gente se vê ao vivo lá, no final de setembro! Um grande Dr. Souto! Abraço, obrigado, até mais!

Dr. Souto: Abraço! Até a próxima!