TRIBO FORTE #223 – TEORIA CONTRA CETOGÊNICA, VITAMINA D E COVID

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Neste Episódio:

  • Cetogênica;
  • Vitamina D;

Escute e passe adiante!!

Saúde é importante!

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Caso de Sucesso do Dia

Referências

Análise Dr. Bret Scher

Gráfico

Transcrição do Episódio

Rodrigo Polesso: Olá pessoal! Bom dia! Bem vindos ao episodio número 223 aqui do podcast da Tribo Forte, a sua dose semanal aí de estilo de vida saudável, emagrecimento e nutrição baseado em evidências. Hoje a gente vai tocar em 2 assuntos principais aqui, o primeiro deles vai ser a respeito da dieta cetogenica e claro, nunca falta gente também na oposição, então sempre tem essa luta aí na ciência, de opinião, de elogios, etc… E hoje não é diferente, saiu um artigo aí que recentemente ganhou um pouco de mídia, também o pessoal me perguntou, a gente vai falar um pouco sobre isso né, sobre a cetogenica em particular… É bom? É ruim? Etc… E também um papo sobre vitamina D, a vitamina D está em alta agora nesse tempo de pandemia, e tem muita informação vindo a respeito de vitamina D e como isso pode tá fortemente associado a problemas ou não. A gente vai comentar sobre isso também, acho que é interessante o pessoal saber. No mais, Dr. Souto, bem vindo ao podcast! Tudo bem? Como que tá?

Dr. Souto: Tudo bem! Bom dia Rodrigo! Bom dia aos ouvintes!

Rodrigo Polesso: É isso pessoal! Vamos começar então com esse negócio da cetogenica… Tem um novo artigo, um artigo/hipótese na verdade, publicado no jornal Nutrition agora recentemente, que ele ataca na dieta cetogenica dizendo que ela pode causar danos aos vasos sanguíneos de forma semelhante à glicagem causada pelo consumo exagerado de glicose. Eles concluem dizendo que esse tipo de dieta não deve ser recomendado para a população em geral. Bom, como esperado, coisas que normalmente atacam dietas mais baixas em carboidratos, tendem a ganhar mídia e esse também foi o caso, eu recebi umas 2 mensagens de pessoas dizendo com mídia no Brasil sobre isso e eu resolvi dar uma olhadinha nisso aí. O problema é que, como eu disse, essa foi basicamente uma dissertação que foi publicada, não foi um estudo, foi um artigo/hipótese onde o autor descreve um caminho metabólico que ele acha que seria comparável com os corpos cetonicos  e glicose, sem nem mesmo oferecer referencias de que isso é verdade. Então, ele bolou uma teoria, numa dissertação, com a opinião dele, dizendo que alguns mecanismos específicos do corpo, de glicagem e etc seriam semelhantes com corpos cetonicos, da mesma forma que acontece com a ingestão de glicose e etc… Mas como não é um estudo, incrivelmente ele não forneceu referencias pra isso aí na verdade pra suportar essa hipótese dele. Pra dar uma ideia, ele começa o artigo dizendo que estudos mostram que dietas baixas em carboidratos (cetogenicas) estão associadas a maiores risco de morte no longo prazo, maior mortalidade no longo prazo, o que a gente sabe que é totalmente falso, né!? Tem estudos de sobra mostrando isso né! E o Dr. Bret Scher do dietdoctor.com, ele também fez uma analise rápida sobre esse artigo e concluiu a mesma coisa, que o texto é basicamente uma opinião, uma dissertação de uma hipótese que não traz evidencias ou referencias para se embasar. Mas como eu falei, quando alguma coisa vem contra, alguma coisa tá ganhando espaço, tem a norma existente e a gente tem uma coisa que pode ser melhor que a norma, essa coisa geralmente sofre uma boa quantidade de resistência, e é legal que exista um nível de ceticismo, é legal a gente contestar tudo isso e tudo mais, mas quando começa a partir pra esse nível começa a ficar meio cômico, né?! Uma mera opinião, uma mera dissertação pode ganhar mídia aí com redlines, com manchetes dizendo que: “dieta cetogenica causa morte”, “dieta cetogenica pode ser pior que alta em açúcar” etc… Esse tipo de coisa né… A extrapolação de manchetes, e essas táticas de gerar medo na população também, né?! Enfim, Dr. Souto, pra começo de historia, eles abrem um artigo dizendo que essas dietas low carb/cetogenicas estão associadas a mais mortes no longo prazo, e acaba bolando esse mecanismo dele, na cabeça dele e tudo mais sem evidencias e acabou virando noticia. O que a gente fala sobre isso?

Dr. Souto: É, o que a gente fala sobre isso é que, como você disse, o autor ele já se entrega no primeiro paragrafo do artigo dele…

Rodrigo Polesso: A ideologia dele fica clara, né?!

Dr. Souto: Claro, no qual sem evidencia ele diz: “ó, uma dieta low carb/cetogenica aumenta a mortalidade”… Mas, só um pouquinho, primeiro: cadê o estudo de longo prazo, o ensaio clínico randomizado de longo prazo de cetogenica com desfecho de mortalidade, pra você afirmar que aumenta ou que diminui a mortalidade? Simplesmente esse estudo não existe. Nós já sabemos que a dieta ocidental padrão aumenta a mortalidade e diminui a longevidade, isso a gente sabe, agora o resto é especulativo. Mas acho que é uma boa oportunidade pra a gente ajudar a ensinar o nosso ouvinte, mais uma vez, a pensar de forma critica sobre uma questão bem importante que é aquela que a gente já falou aqui varias vezes, que é: o caminho do inferno é pavimentado por bioplausibilidade. O que é isso? Porque você sempre pode ter uma teoria que dentro da sua cabecinha, faz sentido, e depois quando a gente vai lá na realidade a coisa não é assim. Uma vez eu escrevi uma postagem lá no blog que eu dava como exemplo o fato de que Aristóteles, o grande Aristóteles, grande pensador grego da antiguidade, que realmente teve uma serie de ideias super originais sobre quase tudo em termos de filosofia, ciência, biologia, mas de vez em quando ele pisava feio na bola, por que ele era contra o empiricismo, a cabeça dele era de que o pensamento e a filosofia deveriam resolver os problemas dentro da cabeça. E aí o que ele pensou: “se eu tiver uma coisa pesada e tiver uma outra coisa que pesa o dobro, e se eu largar as duas coisas, aquela que pesa o dobro  vai cair no chão 2x mais rápido”…

Rodrigo Polesso: Faz total sentido!

Dr. Souto: Então, esse é o ponto que eu quero chegar pra você que está nos ouvindo, faz sentido. Se fosse assim, se o mundo real funcionasse dessa forma a gente ia dizer “bom, é obvio né, pesa o dobro, só pode cair 2x mais rápido”, o fascinante da historia é saber que é relativamente simples desenvolver um experimento empírico pra testar se isso é verdade ou não, basta erguer 2 pesos em uma altura razoável e largar eles né, pesos como massas diferentes e verificar se eles caem juntos ou se eles caem separados. E, no entanto, se levou quase 2mil anos pra que finalmente, diz a lenda, Galileu fizesse isso largando dois pesos da Torre de Pisa e mostrando que eles tinham pesos diferentes, mas caíram ao mesmo tempo, chegavam no chão juntos. Então, isso é um grande ensinamento pra nós, que uma coisa pode ser lógica, ela pode fazer sentido, mas o que importa é a realidade, a realidade tem primazia. Então, esse é o primeiro aspecto, o segundo aspecto é o seguinte Rodrigo, vamos pensar: existe universo de ideias, de teorias, de hipóteses, nós podemos afirmar tranquilamente que o universo das hipóteses é infinito, né?! Existem infinitas hipóteses, tem muitas hipóteses que ainda não foram formuladas e que nós podemos formular um dia, não há limite para o número de hipóteses que nós seres humanos somos capazes de fazer, esse é o universo, um conjunto infinito, o das hipóteses possíveis. Agora, o universo das hipóteses que são reais, que são confirmadas, que estão corretas ele é um universo finito e pequeno. Bom, baseado no que eu acabei de afirmar, eu diria que é inquestionável do ponto de vista filosófico que o universo das hipóteses que você pode imaginar é maior do que o universo das hipóteses que são corretas, qual a chance de você ter uma hipótese e essa hipótese ser correta de largada? Ela é pequena pessoal. Ela é pequena, por quê? Porque o universo das hipóteses incorretas é muito maior, e esse é o drama da ciência, você pode partir de uma hipótese bonita, que faz sentido, elegante inclusive e chegar na hora de testar no seu experimento empírico e ver que, bom, a natureza resolveu ser diferente, o universo não funciona assim, aquilo pode ser uma equação bonita matemática, mas simplesmente o universo não funciona assim daquela forma. Então, sabendo que a maioria das hipóteses já nascem natimortas, nascem erradas a gente tem que ter humildade científica, quando a gente fostula uma hipótese a gente tem que começar dizendo: Olha isso é apenas uma hipótese, é necessário conduzir estudos para verificar se essa hipótese tem algum fundamento ou não. Então, esse estudo aí que o Rodrigo mencionou ele era isso aí, é uma hipótese, e como toda hipótese completamente nova tem uma alta chance de estar errada. E aí isso ganhar mídia, isso ganhar destaque só tem uma explicação, a explicação é: que existe uma ideologia, existe um motivo por trás ,como ela é uma hipótese bem maluca, assim, nunca houve nenhum estudo sugerindo que no mundo real aquilo aconteça, o máximo que esse estudo deveria ser assim: nossa quem sabe alguém ler aquilo ali “ eu tô procurando um assunto para desenvolver o meu mestrado, quem sabe isso, aqui que ninguém pensou antes, vamos fazer um estudo in vitro aqui, depois vamos fazer um estudo em bactérias, em leveduras”… Agora para isso aí virar notícia…

Rodrigo Polesso: É um absurdo mesmo! E olha só pessoal, como a Tribo Forte é especial: a gente foi de cetogênica à Aristóteles, e voltamos agora. Vamos pensar num exercício, pensamento e filosofia…

Dr. Souto: Passamos por Ibiza e Galileu… Não somos fracos…

 Rodrigo Polesso: Não somos fracos não! Olha só a quantidade de coisa! Eu acho que o ponto é justamente esse que você falou e na verdade até a gente dá um elogio para esse artigo, antes de chamar ele de estudo, como você disse, ele não é realmente um estudo é um artigo, uma opinião e como você bem apontou é uma opinião, uma dissertação, uma hipótese, mas isso não inibe o autor de no final dizer categoricamente que dietas cetogênicas não devem ser recomendadas para a população geral. Tudo bem, a gente não sabe se isso é verdade ou mentira, mas o que a gente sabe é que esse tipo de conclusão nunca pode vir depois de um artigo de opinião como o dele, que tá longe de ser qualquer coisa que mereça uma credibilidade antes de ser estudado de fato. É uma hipótese que ele levantou na cabeça dele, como você falou, falta alguém ir lá com os dois pesos e largar na Torre de Pisa, para ver se faz sentido ou não pelo menos em laboratório, pelo menos o mecanismo em si, começar uma investigação. Então, ele tem que saber disso, como você bem disse, e jamais concluir rapidamente, porque adivinha pessoal… o pessoal da mídia que tem uma ideologia ou outras pessoas que tenham uma ideologia eles vão ler essas frases de impacto, vão colocar entre aspas, vão montar uma manchete e vão publicar por aí e as pessoas não vão ler o artigo inteiro para entender o que é de fato, então acaba se passando inverdades facilmente dessa forma, é só um exemplo de como isso pode acontecer…

Dr. Souto: E Rodrigo, já que nós estamos hoje no episódio mais de filosofia da ciência, vamos falar um pouquinho da abordagem bayesiana, a gente uma vez já mencionou isso aqui no podcast, é aquela abordagem probabilística sobre os postulados. Então, se eu tenho uma hipótese, ela nasce com uma probabilidade pré-teste muito pequena, por os motivos que a gente já expôs, que o universo das hipóteses erradas é muito maior que o universo das hipóteses certas. O que aumenta a probabilidade pré-teste de uma hipótese? É quando a gente começa a ter outros elementos que tornam aquela hipótese mais plausível. Então, vamos pensar juntos aqui: tá, a cetogênica, nós não temos esse estudo de longo prazo para poder dizer se isso que se indivíduo afirmou aí é verdade ou não, mas a gente tem alguns elementos, então a gente sabe que a cetogênica produz perda de peso, e obesidade e sobrepeso estão associados com uma série de doenças, tá certo?! A gente sabe que a cetogênica é capaz de reverter em boa parte dos casos de diabetes tipo 2, é capaz de colocar em remissão a síndrome metabólica, e é capaz de tratar em questão de semanas esteatose, gordura no fígado, a gente sabe que tudo isso é bom, a gente sabe que uma dieta cetogênica tem um efeito anti-inflamatório por vários mecanismos, inclusive agindo numa enzima lá chamada histona deacetilase. Então, existem mecanismos comprovados, tanto em animais, como em seres humanos o efeito anti-inflamatório dessa abordagem, e nós sabemos em estudos de longa duração de até dois anos que a abordagem continua melhorando todos esses parâmetros, ou seja, diminui triglicerídeos, diminui glicose, diminui hemoglobina glicada, diminui a circunferência abdominal, ajuda a baixar a pressão, aumenta o HDL (colesterol bom) e diminui a proteína C reativa um marcador de inflamação por até dois anos. Então, eu diria que a hipótese de que por algum motivo desconhecido aquilo que por até dois anos tá sendo benéfico vá ser letal num período maior, é uma hipótese de baixa probabilidade pré-teste. Tô certo?! Então, para que eu vá postular que algo que parece só ter benefícios por todo o período em que foi testado se torne, se vire contra nós como um maligno bumerangue do destino e venha nos atingir com uma letalidade não prevista, mas que só se manifesta magicamente depois do período em que nós testamos, quer dizer assim: por um viés demoníaco do destino, a gente testou justamente até 2 anos, mas foi a partir de 2,5 anos que começa a ser letal. Vocês acham provável isso?

Rodrigo Polesso: Exato! Uma coisa que causou um bem enorme durante 2 anos vai começar a causar o mal enorme depois disso…

 Dr. Souto: E a gente já sabe, por exemplo, por quê?  Porque se vocês pegarem o estudo do Virta Health, por exemplo, que aquele que comparou a cetogênica com cuidados usuais por um período de dois anos, que os diabéticos em cuidados usuais efetivamente estavam piores em dois anos, eles estavam comendo a dieta recomendada pela associação americana de diabetes e a hemoglobina glicada tava maior, o uso de medicamentos estava maior, a insulina estava mais alta, eles estavam com um quilo a mais, enquanto que o grupo da cetogênica tinha perdido 12% do peso corporal no mesmo período, mas o que está sendo postulado seria, por exemplo, que se nós testássemos por um tempo maior, não apenas a cetogênica magicamente se tornaria contra nós e seria uma coisa letal, mas que essas pessoas seguindo a dieta recomendada pela ADA, e que tavam engordando, tavam com a insulina mais alta, tavam usando mais remédios, mas ao final de 10 anos eles vão tá melhor. Então, pessoal que eu quero dizer o seguinte: nós estamos realmente especulando, por quê? Porque o estudo de 10 anos não existe. Quando a gente não tem o dado do estudo de 10 anos, a gente tem que usar uma abordagem bayesiana e pegar a probabilidade pré-teste das coisas e é com isso que a gente tem que trabalhar. Então, não faz sentido a gente projetar uma piora da saúde para algo que por dois anos há melhora e projetar uma melhora da saúde para algo que por dois anos há piora.

Rodrigo Polesso: Exato! Muito bem dito! Tenho certeza que Aristóteles concordaria plenamente com esse raciocínio. Faz realmente muito sentido. Estaria dentre os raciocínios dele que funcionaram. É… Legal pessoal, esse exercício mental, olha só, na ausência de estudos só um exercício rápido mental a gente consegue já ter uma noção boa de probabilidades, isso é bacana, esse é um exercício que você só vâ aqui na Tribo Forte.

Dr. Souto: A forma mais pragmática de falar tudo isso que eu falei é o seguinte: na falta de evidência fica quieto, não fala bobagem, não fala besteira entendeu. Então assim, esse estudo aí não deveria, como qualquer outro estudo de baixo nível de evidência, virar notícia, ele virou notícia por quê? Porque ele defendia uma certa ideologia, no fundo é isso, então assim: tá, não dá para saber no longo prazo, então diz assim ó: sobre longo prazo nós não podemos nos manifestar, a gente sabe que até 2 anos ajuda. Pronto! Fala o que você sabe, se é para falar m… (desculpa eu dizer uma coisa que começa com m) se é para falar besteira, melhor não falar nada né…

Rodrigo Polesso: Melhor não falar nada! É verdade! Bom pessoal, segundo assunto aqui: vitamina D e covid, muito tem se falado nos bastidores do covid, e enfim, sobre a fortíssima associação que parece existir entre o risco de morte por essa doença e os níveis de vitamina D no sangue das pessoas. Eu tô com um gráfico na minha frente aqui agora, que eu vou colocar depois na página e na transcrição do podcast no emagrecerdevez.com, o gráfico basicamente mostra, assim como as outras evidências que surgiram, a única evidência que surgiu, mostra que os riscos de morte porque covid para o grupo de uma população com idade média entre 60 anos (significando aqui que idade não é um fator de comparação no caso) eles pegaram a mesma média, o risco de morte por covid cai progressivamente e drasticamente quando os níveis de vitamina D no sangue passam de 28 nanogramas aí por ml, tem gente mostrando uma associação de aumento de até 10 vezes no risco de complicação de pessoas com vitamina D abaixo de 20, em comparação a pessoas com vitamina D acima de 30, por exemplo. Então, Doutor Souto, de novo, a gente não tem um ensaio clínico randomizado aqui mostrando que suplementação vai ajudar as pessoas a melhorar de covid imediatamente, o que a gente tá vendo aqui é que pessoas com vitamina D baixa no sangue parecem estar de fato com risco aumentado de complicações dessa doença, o que faz com que pessoas com nível mais alto de 30 ou mais de vitamina D no sangue parecem estar com menos risco de complicação e morte sobre isso. Isso me faz pensar de uma forma geral, porque tem muita coisa que a gente não sabe a respeito dessa doença e etc, e é uma associação, mas em termos geral, acho que poderia ser legal a gente ver o que que a vitamina D baixa pode ser né? Que tipo de marcador isso pode ser na saúde de uma pessoa em geral? Que tipo de impacto que uma vitamina D mais alta pode ter em termos de imunidade numa pessoa? O que sinaliza uma pessoa, por exemplo, com a vitamina D muito baixa, vitamina D um pouco alta? Será que sinaliza outras coisas que podem talvez corroborar a hipótese de uma pessoa ter a maior imunidade nesse sentido?

Dr. Souto: Bom, se vocês prestaram atenção na pergunta do Rodrigo, uma pergunta inteligente, ele diz assim: o que que sinaliza, o que que essa vitamina D pode estar marcando? Porque ele não usou uma linguagem causal…

Rodrigo Polesso: Se eu fosse na mídia eu diria né…

Dr. Souto: Isso tem que ser um exercício de todo mundo que trabalha no jornalismo científico, a gente não deve usar uma linguagem causal porque veja, o leitor que tá lendo aquele artigo já tem uma tendência, é nossa, é humano, é inato, de tentar atribuir causa e efeito para coisas que não tem causa e efeito, ou quando o pajé faz a dança da chuva e depois chove a tendência não é de pensar que foi a dança que causou a chuva? Então, a gente tem essa tendência de ver: olha a vitamina D tava mais alta, cara morreu menos, bom, a vitamina D é a causa dele ter morrido menos. Então, pode ser a causa, mas pode não ser também, tá certo?! Então, a forma correta é a gente pensar assim: as pessoas que têm vitamina D alta são iguais as pessoas que têm vitamina D baixa? E a resposta é não né, porque a vitamina D ela pode ser obtida de basicamente duas formas a principal é exposição à luz solar, então pessoas que têm mais atividades na rua, fazem esporte ao ar livre, vão tender a ter uma vitamina D mais alta, e outra forma é o consumo de alguns alimentos, que não são muitos, que tem vitamina de um deles é o preferido do Rodrigo, que é o fígado.

Rodrigo Polesso: Opa, com certeza!

Dr. Souto: De uma forma geral, os produtos que contêm vitamina D mesmo em pequenas quantidades são produtos de origem animal, existe uma exceção, que são os cogumelos.  Os cogumelos, veja bem, é porque eles também não são vegetais, então os cogumelos eles fabricam vitamina D também por serem expostos ao sol e terem um metabolismo nesse sentido um pouco mais próximo do nosso, do que das plantas.

Rodrigo Polesso: Isso me faz pensar uma coisa, eu ainda tô munido do pensamento Aristó… como é que é?

Dr. Souto: Aristotélico.

Rodrigo Polesso:  Aristotélico, exatamente, uma pergunta: os cogumelos seriam veganos ou não? Com essa perspectiva que você acabou de colocar…

Dr. Souto: Ah, essa é uma pergunta bem interessante!

Rodrigo Polesso: Não são vegetais, têm metabolismo diferente parecido com o nosso…

Dr. Souto: Vegetais não são.

Rodrigo Polesso: Pode causar problema na cabeça de muita gente aí…

Dr. Souto: E daqui a pouco vai sair fumaça né.

Rodrigo Polesso: Mas é interessante, você falou bem, mas a gente sabe que esses cogumelos não são fontes significativas de energia, então no mundo real evolutivo primeiro a chance de achar um cogumelo que pode comer é menor que um que você não pode, mas e qual a significância dessa vitamina D que eles têm assim? Você acha que é comparado, por exemplo, à uma carne selvagem de qualidade assim? Eu nunca cheguei a ver a concentração se é uma coisa significativa ou não…

Dr. Souto: É uma boa pergunta Rodrigo, eu te confesso que eu não sei quantitavamente o que que é, mas eu diria que de longe, a maior quantidade de vitamina D que a gente obtém é pela exposição solar, tanto que nós temos um fenômeno muito interessante que é a evolução convergente da pele clara, vamos explicar essa situação: a pele padrão do ser humano durante a evolução era a pele negra, porque o ser humano se originou em ambiente tropical com uma exposição solar muito grande e era importante haver uma defesa contra o excesso de radiação solar, e aí a melanina entra em campo, acontece que a medida que o ser humano foi se espalhando pelo mundo e atingindo latitudes com uma exposição solar menor esse ser humano passou a não ter tanta exposição solar, mas você diria assim: bom, mas poderia continuar com a pele negra, que afinal mal não faz, se um dia ele voltar para um local com exposição solar maior ele tá protegido.

Rodrigo Polesso: Mas faz né!

Dr. Souto: Mas faz! E deve ser uma coisa muito importante, por quê? Porque houve evolução convergente. O que é evolução convergente? A mutação que clareou a pele dos seres humanos em latitudes elevadas não foi uma única mutação que se espalhou pelo mundo nas latitudes elevadas, isso aconteceu mais de uma vez, com mutações em genes diferentes, quando existe mutação convergente, evolução convergente significa que a pressão seletiva, a pressão que tá fazendo aquele traço prevalecer na população é muito forte, eu vou dar um exemplo para vocês fora disso e depois eu vou voltar: se vocês um dia olharem, bota na internet, o esqueleto da asa de um pássaro e o esqueleto da asa de um morcego, vocês vão ver que a solução evolutiva foi completamente diferente. Então, no caso do morcego o que forma a asa dele é uma mão deformada com dedos da mão muito longos, já no pássaro não, você que já comeu asinha de frango sabe que parte da asa é aquilo que corresponde ao nosso antebraço, é braço e antebraço, mas no morcego não é assim. Então, o que acontece: voar é uma coisa tão vantajosa que as asas se desenvolveram mais de uma vez na evolução darwiniana de formas completamente distintas. Pois bem, o ser humano clareou a pele em latitudes elevadas mais de uma vez com mutações distintas, ou seja, é uma vantagem seletiva muito grande. Que vantagem poderia ser essa Rodrigo Polesso?

Rodrigo Polesso: Claro, você é mais sensível à luz né, você consegue obter a tua vitamina D com menor exposição.

Dr. Souto: Exatamente! Então, quer dizer, essa tal da vitamina D deve ser importante para caramba, para que ela tenha forçado a evolução convergente da pele clara em latitudes elevadas mais de uma vez na história humana com mutações distintas. Então, isso para mim é uma grande prova de conceito de que essa é a forma mais importante através do qual o ser humano obtém a sua vitamina D, e aí o que acontece? A gente vive nessa questão de descompasso, né?! Entre o ambiente e a nossa evolução a gente sempre fala isso do ponto de vista da Alimentação que o ser humano evoluiu comendo de uma forma completamente diferente da forma que ele come hoje e esse descompasso provavelmente tá atrás da maior parte das doenças crônicas e degenerativas, mas tem o descompasso da atividade física e tem o descompasso da exposição solar. Então, eu acho que provavelmente essa diferença de vitamina D ela marca diferenças de estilo de vida e pode ser, né Rodrigo, sei lá, pode ser que o principal fator protetor da vitamina D nem seja tanto a vitamina D no que diz respeito ao covid 19, mas o fato de que você está comparando pessoas diferentes, que têm estilos de vida diferentes, que fazem atividade física ao ar livre, que simplesmente são mais ativas, que saem mais de casa, agora nada impede que seja vitamina D também, né?!

Rodrigo Polesso: Exatamente! Nada impede, mas então basicamente a gente pode usar aqui de forma geral a vitamina D como marcador de um tipo de pessoa que provavelmente se expões menos ao ar livre, ou seja, isso de cara já sinaliza um tipo de pessoa, por exemplo, mais sedentário, no geral, claro a gente tá extrapolando aqui, mas no geral, se você tem menos exposição ao sol, provavelmente você tem menos atividade ao ar livre, então é uma pessoa talvez não tão ativa aí. E o segundo ponto aqui é que você provavelmente não consome… consome menos alimentos com fonte de vitamina D como alimentos nutritivos de fonte animal também. Então você poderia ser uma pessoa que tem uma dieta baseada em plantas, só isso já te dá menos energia e você não sente vontade de ser exercitar e acaba piorando tudo, ou pode ser uma pessoa que come junk food mesmo, tá obesa, come porcaria o dia inteiro, por isso não tem energia, também não se exercita, então a vitamina D pode ser eu acho em grande parte o marcador de estilo de vida saudável, estilo de vida não ativo e um estilo de vida alimentar não nutritivo, mais fraco nessa questão, então isso tudo pode apontar talvez porque essas pessoas estão com maior risco e seria interessante mesmo que fosse estudo associativo, a gente coletar essas informações todas e colocar todos esses outros fatores e considerá-los para ver se essa associação continua forte ou se tem outras coisas que são tão fortes quanto, né, na questão do desenvolvimento da doença…

 Dr. Souto: Agora vamos pensar na hipótese oposta, e com isso a gente também tá fazendo um exercício, porque hoje é o nosso episódio educativo né, estamos fazendo exercício de pensamento científico, vamos postular que seja a vitamina D mesmo o que tá protegendo as pessoas contra um caso mais grave de coronavirus, é plausível essa ideia? Sim, ela é plausível, porque existe um monte de estudos mostrando que os níveis de vitamina D modulam sim a atividade do sistema imunológico e existem associações de vitamina D baixa com uma série de doenças infecto contagiosas, isso já tá bem documentado e parece que para algumas, se não me engano, influenza é uma delas, já existe ensaio clínico randomizado mostrando proteção com a suplementação.

Rodrigo Polesso: Legal!

Dr. Souto: Então, eu diria que há uma plausibilidade que, enfim, é aquela né, a maior parte das hipóteses que a gente formula vão acabar sendo erradas depois quando testadas, mas o importante é que você que está nos ouvindo entenda como a ciência funciona, tanto a hipótese que a gente levantou antes de que a vitamina D seja só um marcador de um estilo de vida, como a hipótese que eu tô falando agora de que a vitamina D seja sim ela a vitamina, a coisa que diminui o risco de você ter um quadro mais grave, ambas são hipóteses válidas, só tem um jeito de saber, e não é pensando como dizia o Aristóteles, é fazendo como Galileu, tem que fazer o teste, tem que fazer um ensaio clínico randomizado. Esses ensaios clínicos eu sei que estão em andamento com suplementação de vitamina D para covid, tô muito curioso para saber o resultado, e eu vou confessar Rodrigo: eu acho que vão ser positivos, mas posso estar errado, daqui poucos meses aí nós vamos saber, mas eu acho que a vitamina D é capaz de proteger sim.

Rodrigo Polesso: É, eu também tô querendo saber, será que simplesmente suplementar vitamina D em uma pessoa que tem outro estilo de vida ainda aquém do ideal pode ser um fator forte suficiente para mudar a direção do risco das pessoas? Interessante, uma pergunta bem interessante.

Dr. Souto: E eu acho que a plausibilidade é muito maior do que a plausibilidade de que um remédio contra malária fosse ter efeito.

Rodrigo Polesso: É, a plausibilidade sim, com certeza! Como você falou, a reflexão da bayesiana também, você tem vários outros pontos que apontam na mesma direção também, mas exatamente…

Dr. Souto: Mas enfim pessoal, a questão toda também é uma questão de risco benefício né. Por exemplo, o órgão de saúde pública do Reino Unido resolveu recomendar que as pessoas consumam 4000 unidades diárias de vitamina D, porque eles acham que o risco-benefício favorece por que? Porque o risco é muito baixo nessa dosagem e o benefício potencial ele é grande, embora a gente não saiba se esse benefício é real ou não, então como aqui não se trata de um medicamento, se trata de um hormônio natural que o nosso corpo já produz e que a gente tem na comida, a chance de que a gente vai tá causando grande prejuízo por fazer suplementação por alguns meses no período inverno onde a vitamina D já tende a ser baixa, acho que, vamos dizer, eu concordo com a orientação do governo britânico, embora a gente possa daqui um mês ou três meses descobrir o resultado do ensaio clínico randomizado que mostra que não. Então, a beleza da ciência é isso: quanto mais a gente vai estudando, menor deve ser a nossa arrogância epistemológica, ou seja, aquela ideia de que a gente pode só da nossa poltrona, usando a nossa cabecinha, ter uma ideia de como o mundo funciona e mais, achar que a gente está certo.

 Rodrigo Polesso: Exatamente! Eu acho que quanto mais paradoxalmente né, quanto mais uma pessoa sabe sobre um assunto, menos ela é categórica sobre ele né. Porque mais você entende as nuances que podem permear o assunto, então toda vez que uma pessoa é categórica sobre um assunto para mim é um mal sinal, porque a gente imagina: ah, se você sabe tudo sobre o assunto você vai ser categórico, mas ninguém sabe tudo sobre nada e eu acho que os mais sábios de toda a história nunca são categóricos a esse tipo de coisa, pode ser que sim, pode ser que não, mas tem aquela hipótese… Então é isso, no caso o nosso cidadão que fez o artigo sobre a cetogênica nem foi categórico na conclusão e claro em todos os outros aspectos mostram que é uma pessoa talvez que realmente tem que aprender mais para saber que não sabe tantas coisas assim…

Dr. Souto: É, ele devia aprender com o outro grego né, que o Sócrates, que dizia: Só sei que nada sei.

Rodrigo Polesso: Só sei que nada sei! Maravilha! Então, olha só, Paty Godoy mandou a foto do antes e depois inclusive coincidentemente a foto do depois dela tá na praia de biquíni tomando sol eu vou colocar a foto depois também na transcrição lá, ela falou: “Bom dia, dos 83,300kg para os 70,350kg em 2 meses de alimentação forte e jejum intermitente.” Ela perdeu o 12.95kg, as pessoas são muito particulares em respeito a perda de peso, exatamente 12.95 aí, em dois meses ela perdeu. Então, parabéns Paty por mandar isso também, seguindo uma alimentação como eu sempre falo alimentação forte baseada em alimentos de origem animal altamente nutritivos, naturais, não processados, priorizando aqueles que você mais gosta, e seguindo um protocolo tranquilo de jejum intermitente como estilo de vida para maximizar os resultados. Então parabéns! Se você quiser seguir igual é só seguir o programa passo a passo codigoemagrecerdevez.com.br é uma ferramenta que você pode contar para seguir caso você queira. Maravilha! Doutor Souto hora de degustação, o que você vai degustar aí? Vamos ver se você vai falar de novo que vai na churrascaria…

Dr. Souto: Não, não vou na churrascaria, dessa vez eu vou experimentar mais uma vez a comidinha da Sila, acho que o pessoal alguns aí já sabem, mas quem não sabe é uma pessoa que cozinha para minha mãe, ela é mágica, ela tem mãos mágicas e vocês podem inclusive ver o Instagram dela é @silamelodias, então eu não sei Rodrigo o que será, eu sei que será low carb, porque a Sila já foi picada pela “mosca low carb” há alguns anos e o que eu posso dizer é o seguinte, quem me seguir no telegram em DrSouto, saberá!

Rodrigo Polesso:  Maravilha! É um banquete realmente…

Dr. Souto: São sempre banquetes, eu tava com saudade, fazia muito tempo que eu não experimentava a comida da Sila, não sei o que que vai ser, mas assim ó agora falando sério, quem quiser seguir no Instagram dela @silamelodias, ela é uma cozinheira extremamente talentosa que ela tem uma capacidade de transformar coisas que assim você diz: Ah, mas isso aqui não tem gosto de nada, Chuchu e tal… e aí ela transforma aquilo no suflê, numa coisa maravilhosa, sempre com o ingrediente simples, com coisas que você obtém na feira, no açougue… Então, ela é uma boa dica de como fazer a sua alimentação forte simples, barata, com ingredientes comuns, o que falta para a maioria de nós é criatividade e claro falta as mãos mágicas também…

Rodrigo Polesso: Falta as mãos mágicas! Já que eu não tenho essas mãos mágicas, acho que eu vou transformar hoje filé de peixe em filé de peixe grelhado, essa é a mágica que eu , na frigideira já tá suficiente, mas é isso aí, isso que eu vou fazer hoje aqui um filé de peixe eu sempre falo para o pessoal: “Ah, mas peixe é caro” “Ah, mas salmão é caro” Bom, primeiro vê o que tem disponível na tua região, se você tem algum corpo de água na tua região você provavelmente vai ter algum tipo de peixe e provavelmente vai ter algum tipo de peixe mais barato também que você pode pegar e provar. Então, eu peguei aqui um peixe , mais do lugar, e vou fazer isso também é um custo-benefício ótimo é uma carne extremamente saborosa. Se só tem carneiro barato, mora no nordeste, ótimo, faça isso também, enfim, tente priorizar o que você tem ao redor de você, patrocinar os pequenos produtores perto de você, você acaba alimentando a sua região também, patrocinando a sua região e tirando proveito de um alimento nutritivo e mais fresco também né. Só o que a gente não pode comer no almoço ou na janta são desculpas né! Pessoal, sempre falo isso, sempre tem um meio de fazer as coisas acontecerem!

 Dr. Souto: É que como eu sempre digo né Rodrigo, a gente pode gourmetizar qualquer tipo de dieta, mas a gente também pode torná-la acessível. Então, se você tiver buscando realmente o atum dos Mares do Norte, postas de peixes exóticos, claro que você vai pagar muito caro, mas eu garanto que você encontra peixe mais barato do que carne nos dias de hoje…

Rodrigo Polesso: É, pois é, é verdade! Sempre tem um jeito né pessoal, quando a gente quer não tem obstáculo para isso! Faça o melhor que você puder!  É isso! Siga a gente: o doutor Souto já falou DrSouto no telegram dele, quer me seguir também eu sempre posto o que que eu como no Rodrigo Polesso no Instagram, tem um monte de coisa para você seguir: tem a triboforte.com.br , com quase 600 receitas lá para você explorar e também a ablc.org.br lá no Instagram, enfim é muita coisa pessoal, sigam, se conecte, vamos seguir com essa energia positiva em frente, elevando a ciência aí e continuando sendo inteligentemente céticos e críticos também né. No mais é isso. Espero que tenha sido útil para você, recomende o podcast da Tribo Forte para o pessoal por aí para eles terem conhecimento 100% gratuito, que a gente vem falando aqui há vários anos já né. Então, é isso Dr Souto, obrigado aí! Aproveite lá o seu banquete e a gente vai se falando né!

Dr. Souto: Isso aí! Um abraço! Até a próxima!