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No Episódio De Hoje:
Neste episódio especial com a presença do Rodrigo Polesso, Dr. Souto e Paty Ayres:
- Novo editorial revisa evidências científicas e enfaticamente diz: “Gorduras saturadas não entopem as artérias!”.
- Sal/sódio, as diretrizes atuais de consumo limitado são infundadas em evidências e são potencialmente danosas a população geral.
Espero que aproveite este episódio ?
Ouça o Episódio De Hoje:
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Referências
Editorial do Malhotra no British Medical Journal
Matéria no Huffington Post sobre o editorial acima
Matéria sobre o consumo de sal
Calculadora do risco coronário de Framingham
Transcrição do Episódio
Rodrigo Polesso: Olá, bem-vindo. Você está ouvindo o episódio número 60 do podcast da Tribo Forte. É um podcast semanal para você. Toda semana nós trazemos as melhores informações que conseguimos achar. Algo de valor para você colocar sua saúde em ordem e seus hábitos alimentares de acordo com a ciência e faz sentido e não mais com balelas. Hoje é um podcast um pouco especial. Nós temos a presença ilustre de alguém que já participou do podcast. Estamos hoje com o Dr. Souto e com a Paty Ayres. Pessoal, tudo tranquilo?
Dr. Souto: Tudo tranquilo.
Paty Ayres: Tudo bem, gente?
Rodrigo Polesso: Tudo ótimo. Na última vez que fizemos nós três o pessoal curtiu a dinâmica. Espero que o pessoal curta esse também. Hoje falaremos sobre dois temas bastante quentes, do momento. Não são assuntos novos, são assuntos velhos. Tem novas evidências científicas sobre isso. A gente vai falar de gorduras saturadas de novo. A gente não cansa de falar de gorduras saturadas. Gorduras saturadas não entopem suas artérias. Se é a primeira vez que você ouve isso, pode estar com o olho esbugalhado. Mas a gente fala isso há bastante tempo já. Tem um editorial bacana novo e queremos falar sobre ele. E também mais evidências de que o medo do sal é sim infundado e pode ser até perigoso. Já falamos desse assunto, mas tem um novo corpo de evidência. Estão prontos para começar esse assunto quente?
Paty Ayres: Prontíssima, vamos lá.
Dr. Souto: Tudo pronto.
Rodrigo Polesso: Maravilha. Então, vamos lá. Saiu um editorial novo do nosso cardiologista favorito, o Assem Malhotra do Reino Unido. Foi também bastante divulgado na mídia mundial. Isso é bastante bacana. O título do editorial é o seguinte: “Gordura saturada não entope suas artérias. Doença coronária é uma inflamação crônica. Esse risco pode ser efetivamente reduzido com intervenções de estilo de vida alimentar saudável.” Vou ler alguns nuggets importantes desse artigo para a gente abrir a discussão porque acho que vale a gente bater um papo sobre isso. Eu traduzi a parte principal que ele escreveu. “O tratamento e o entendimento da doença coronária precisa de uma mudança urgente de paradigma. Apesar da crença popular entre médicos e o público, o conceito de que as gorduras saturadas entopem as artérias está simplesmente errado. Uma importante revisão sistemática e metanálise de estudos observacionais mostrou nenhuma associação entre o consumo de gordura saturada e morte por todas as causas, doenças coronárias, mortalidade por doenças coronárias, infartos ou diabetes tipo 2 em adultos. Similarmente, como prevenção secundária de doenças coronárias, não existe benefício em reduzir gorduras, inclusive gorduras saturadas, na mortalidade por todas as causas, infarto do miocárdio ou morte por problemas cardiovasculares. É interessante notar que num estudo feito com mulheres pós-menopausa com problemas coronários, uma maior ingestão de gorduras saturadas foi associada com uma menor progressão de arteriosclerose. O consumo de carboidrato e gorduras poliinsaturadas foi associado a uma maior progressão. O processo inflamatório que seja placa nas artérias é mais parecido como uma espinha na parede arterial e não como um entupimento, como se imaginam. A maioria dos eventos cardíacos acontece com um entupimento menor do que 70% das artérias. Inclusive, existem ensaios clínicos randomizados provando que se desentupir as artérias (retirando lesões que já são estáveis) não ajuda na prevenção de infarto de miocárdio ou de forma alguma reduz mortalidade.” Então, a questão toda o colesterol tem sido exagerada, em particular a questão do LDL. Mas antes de partir para outros pontos menores… É novamente um corpo de evidência. Um artigo sucinto e bem escrito e suculento, na minha opinião. Dr. Assem Malhotra trazendo à tona novamente… Revisando novas e velhas evidências sobre gordura saturada e o mito de que elas impactam negativamente na saúde coronária. Mas é um assunto que não morre nunca.
Dr. Souto: Na realidade, não tem nenhum estudo novo. Ele está repercutindo metanálises. Todos os estudos que ele cita já estão resenhados e revisados no meu blog. O que é novo é a coragem e a força com que foi escrito esse editorial. Esse editorial não é assinado apenas pelo Dr. Assem Malhotra mas também pela Rita Redberg, que é a editora-chefe do JAMA Internal Medicine. Para quem não é da área médica, o JAMA é The Journal of the American Medical Association. É uma revista muito importante, de peso. Ela é editora-chefe do JAMA e assina esse editorial junto. E o terceiro editorialista que assina junto é o editor do British Medical Journal.
Rodrigo Polesso: Olha só que peso.
Dr. Souto: A novidade não está nos dados. Como eu disse, se você olharem em 2014 e acho que em 2013 tem artigos resenhados no blog. Só que aí é o Rodrigo e o Souto falando. Agora não, são três editorialistas de revistas grandes assinando um editorial bombástico. Não estou com ele aqui na minha frente, nós estamos viajando. Estamos em Viçosa, né Patrícia? Em Viçosa, Minas Gerais nos preparando para um simpósio de low carb na Faculdade de Nutrição amanhã. Não estou com o artigo na minha frente, mas se eu me lembro, na primeira frase ele já diz assim… Que a ideia de que a gordura saturada entope artérias é uma coisa completamente sem fundamento. Essa é a primeira frase ou a segunda, se não me engano.
Rodrigo Polesso: O título diz que gordura saturada não causa entope as artérias. São as primeiras palavras do título do artigo.
Paty Ayres: Quando o Souto mandou esse artigo, a primeira coisa que eu fiz foi postar no Instagram e colocar, “Olhem os autores!”
Dr. Souto: A gente sempre comenta que a gente não faz essa falácia da autoridade… Só porque o sujeito é famoso eu vou acreditar no que ele diz. Não. Mas evidência é o que não falta. As evidências estão todas listadas e citadas nesse editorial. Não deixa de ser interessante ter pessoas com esse peso escrevendo isso num editorial. E isso repercutiu na mídia lá fora. Eu não vi repercutir na mídia aqui dentro. Você viu, Patrícia?
Paty Ayres: Não.
Dr. Souto: Curioso, né? Quando sai aquela bobagem, aquela coisa bisonha… Nós falamos há um tempo atrás sobre a relação observacional do glúten com diabetes…
Paty Ayres: O Face fica enlouquecido.
Dr. Souto: Aquilo foi repercutido em todos os portais de notícia poucas horas depois de sair nos Estados Unidos. Saiu repercutido no UOL, no G1, no Terra e em cada um dos jornais de cada cidade desse país. Agora, esse editorial saiu há dois ou três dias… Portanto deu tempo mais do que suficiente. Como o Rodrigo disse, é fácil de se traduzir. E cadê na mídia? Não está. Porque, sabe como é, né?
Rodrigo Polesso: Primeiro, é uma negativa de resultado. E outra, quem vai meter a cara a tapa?
Paty Ayres: Quem é que vai dar a cara a tapa?
Dr. Souto: Na mídia lá fora repercutiu.
Rodrigo Polesso: Repercutiu bastante. O que que falta hoje para o médico do dia a dia, o médico de família, o clínico geral, até um cardiologista começar a tomar isso para si e começar a mudar suas recomendações na opinião de vocês?
Dr. Souto: Ela é uma luta ladeira acima. Ainda que temos a cada semana mais um ganho desses… Boas notícias seguidas… O fato é que isso não penetrou na maioria. Se não engano foi o artigo do The Guardian que mostrou umas respostas meio iradas de alguns outros cardiologistas da Grã-Bretanha comentando sobre esse editorial. Mas acho que a gente está caminhando. Eu vejo as evidências e todo lugar. Eu frequentemente tenho atendido médicos no consultório. A pessoa trabalha num outro hospital que não é o meu. “Olha, lá no hospital todo mundo só fala de low carb.” “Todo mundo” são outros médicos. Embora o pessoal não dê a cara a tapa para falar isso publicamente, os médicos estão seguindo para melhorarem as suas saúdes, perder aquela barriguinha… Isso é sintomático, né?
Paty Ayres: Eu tenho visto que os médicos parecem aceitar com uma certa facilidade quando a gente leva essas notícias para eles. Mas o meio acadêmico eu acho mais complicado. Bem mais complicado. A gente vai com evidências, a gente mostra os ensaios. Os professores não gostam, não aceitam. Os alunos também. Eu acho bem mais difícil. Os médicos… Eu vejo muitas pessoas falando, “Sabe aqueles discursos que vocês ensinam para a gente? Coma comida de verdade, não coma açúcar…” As pessoas acham ótimo. Os médicos acham muito bom. Mas vão reclamar do que? Comida com densidade nutricional boa… Enfim, eles não reclamam. O meio acadêmico eu acho mais resistente.
Dr. Souto: Por paradoxal que seja, o meio acadêmico está mais imbuído dessa questão da autoridade e do dogma. Deveria ser o contrário. Deveria ser um ambiente de crítica, discussão aberta, novas ideias… Derrubar mitos para avançar. Mas, infelizmente, não é.
Rodrigo Polesso: Essa é a ideologia de uma universidade decente. É como deveria ser. Eu acho que você sabe muito bem como funciona o meio acadêmico, Patrícia. Você faz isso toda semana. Você está dentro do meio acadêmico de nutrição, especificamente. Na sua opinião, quem você acha que é mais resistente às ideias novas? Os médicos ou os nutricionistas tendem a resistir um pouco mais? No geral, é claro.
Paty Ayres: Eu acho que os nutricionistas. Eles saem com uma coisa formada das sociedades, das universidades. É bem complicado.
Dr. Souto: Eu acho que atacar determinados dogmas é quase que ataca-los pessoalmente.
Paty Ayres: Exato. Eles tomam de forma pessoal. “Mas como você pode estar dizendo isso?” Não sou eu que está dizendo isso. Essa que é a questão.
Dr. Souto: Para terminar num tom positivo, reforço. Nós estamos aqui em Viçosa, onde amanhã nós vamos fazer um workshop dentro da faculdade de nutrição. O curso de nutrição aqui de Viçosa, a partir de sua coordenadora, já compreendeu e entende que é interessante oferecer para os alunos essa nova perspectiva. As coisas avançam. Elas podem não avançar na velocidade em que a gente gostaria, mas elas avançam.
Paty Ayres: E olhe que fantástico, Rodrigo. Você sabe onde foi que essa coordenadora nos viu?
Rodrigo Polesso: Não.
Paty Ayres: Foi no evento da Tribo Forte.
Rodrigo Polesso: Ela estava lá?
Dr. Souto: Ela estava lá.
Rodrigo Polesso: Que legal. Espero que ela esteja de novo nesse ano também. Fiquei feliz demais. Vai ser um grande desafio. Vai ser um desafio não aceitar as ideias para o pessoal que vai assistir vocês. Eu quero que vocês depois compartilhem no próximo episódio qual foi a receptividade do pessoal no geral. Mas como veio da coordenação, acho que todo mundo vai sentar quietinho e para prestar atenção.
Dr. Souto: Não sei. A gente já foi avisado que… “Se preparem para uma plateia que talvez vocês não estão acostumados.”
Paty Ayres: Bem mineiramente falando, vai ter chumbo grosso.
Rodrigo Polesso: Não tendo tomate, está bom. Mas como você disse, não são vocês que estão falando. É o peso da evidência. Para a pessoa refutar, ela tem que mostrar uma evidência mais forte.
Dr. Souto: Se esses três médicos que eu falei puderam fazer esse editorial, nós podemos também.
Rodrigo Polesso: Um outro ponto sobre esse mesmo assunto que ele menciona no editorial é toda a questão do LDL. O medo do LDL é uma coisa incrível. Ele menciona que tem sido exagerado a relação do LDL com o risco cardíaco. Ele inclusive fala do risco da razão do colesterol total por HDL como sendo o melhor predito do que usar simplesmente o LDL. O que vocês tem a dizer sobre esse medo do LDL?
Dr. Souto: Ele teve uma grande sacada quando ele escreveu nesse editorial. A razão entre o colesterol total e HDL tem um poder preditivo muito maior do que o LDL. Tanto é verdade que as calculadoras de risco… Por exemplo a calculadora de risco de Framingham, que é tão usada pelos cardiologistas, não tem LDL como um dos seus inputs. É colesterol total e HDL que entra ali. E a calculadora de risco atual da Associação Americana de Cardiologia do Colégio Americano de Cardiologia também não tem LDL como input. É só colesterol total e HDL. Se vocês olharem a calculadora de risco cardiovascular que está vigendo agora, entra idade, sexo, etnia, pressão arterial, se usa remédio para diabetes, se usa remédio para pressão e colesterol total e HDL. LDL não entra. Podia ter se faz atividade física ou não. Não tem. Poderia ter circunferência abdominal. Não tem. É incompleta. Mas essa é a calculadora que todos os cardiologistas usam. O LDL nem entra ali. Não é dizer que ele não é importante, mas é dizer que ele é secundário a essas outras coisas que citamos. Então, por que ele é tão salientado se não tem o poder preditivo tão grande? Por que, Patrícia?
Paty Ayres: Por que não salientar o HDL?
Dr. Souto: Eu tenho a resposta. É porque é uma das variáveis que é facilmente manipulável pelo ponto de vista farmacológico.
Rodrigo Polesso: Exatamente. O pessoal raramente fala do LDL e quebra ele em suas partes o LDL A, o B, o C. Eles colocam tudo como sendo o mesmo e assumem que o LDL é o colesterol ruim. Esse é o poder da inércia do conhecimento errado. A gente aceita que é o HDL é bom e o LDL é ruim. Para quebrar essa ideia… Tem até gente que coloca o HDL como uma nuvem dando risada e o LDL com um demônio nas apresentações. Isso é difícil de quebrar.
Dr. Souto: Muito difícil.
Paty Ayres: É muito difícil. Ainda tem gente que olha colesterol total. E não é pouca gente. “Estou com o colesterol alto.”
Dr. Souto: Eu sempre dou a explicação para as pessoas. Acho interessante nosso ouvinte também pensar nisso. Imagine uma situação de alguém que tinha o colesterol de 180 e tinha um HDL de 30. Aí a pessoa muda o estilo de vida, muda a dieta… E agora o colesterol está 220 e o HDL está 70. O risco está muito menor. Mas o colesterol está acima de 200. Se era 30 e agora está 70, subiu 40 de HDL. Mas o HDL está dentro do total. O nome já diz… Colesterol “total”, inclui todos. Se o HDL subiu 40 pontos, o total que era 180 agora é 220. E isso é bom. Não é ruim. Nessas coisas que as pessoas têm que pensar. Por incrível que pareça, tem profissionais prescrevendo remédios porque o colesterol total passou de 200.
Paty Ayres: Eu enfrentei isso com os médicos. Eu já ia com meus exames ciente de que eu teria que chamar a atenção do médico por meu HDL. É sempre acima de 90. E meu colesterol é muito alto.
Dr. Souto: A maioria das pessoas não viu um HDL de 90.
Paty Ayres: Eu chamava a atenção. “Olhe meu HDL, Doutor. Meu HDL está alto. Está 90.”
Dr. Souto: Uma sugestão que acho boa para todo mundo é entrar na calculadora de risco da Associação Americana de Cardiologia. Bote lá “AHA” (American Heart Association) “Calculator” no Google. Imprima seu risco. Aí vai dizer se, segundo os critérios da associação se você deveria usar uma estatina ou não. A grande maioria das pessoas não precisa, mesmo com o colesterol acima de 200. Isso dito pela Associação Americana. É bom imprimir e levar na consulta. Ajuda a subsidiar.
Rodrigo Polesso: Legal ver a cara do médico. Ele vai quebrar toda a racionalidade. “Quem é o médico aqui, eu ou você?”
Dr. Souto: Se a atitude for essa…
Paty Ayres: É melhor ir para outro médico.
Dr. Souto: Falando sério. Nesse tipo de coisa o que se recomenda é a chamada decisão compartilhada. O médico deve discutir com o paciente os prós e os contras de usar a medicação e de não usar a medicação baseado no risco calculador da pessoa. Se a pessoa não tomar fazer uma decisão compartilhada baseada em risco, procure outro médico.
Rodrigo Polesso: Muito bom. Para fechar de vez o assunto… A sugestão com a qual o Malhotra fecha o artigo dele é que… De novo, comer comida de verdade para a reversão rápida dos problemas. E claro, não menos importante, é movimentar-se diariamente por 22 minutos.
Dr. Souto: Ele diz que 22 minutos de uma caminhada vigorosa basta.
Rodrigo Polesso: Não 21. 22 minutos.
Paty Ayres: Não era 22 e meio, não? Você tem certeza?
Rodrigo Polesso: Então, coma alimentos de verdade. Alimentos nutritivos. E se movimente. Na verdade, é tudo senso comum. Isso é tudo senso comum e todo mundo já sabe desse tipo de coisa. Vamos partir para o segundo assunto, que é sal. O estudo parte do Framingham Offspring Data. Os dados que eles pegaram desse estudo de Framingham Offspring. Eles estão refutando as diretrizes a respeito do sódio. O título é o seguinte. É um título forte. “Indivíduos tendem a ter uma menor pressão sanguínea se o consumo de sódio for maior do que o recomendado atualmente.” Já de começo é forte. Aqui eles falam que as diretrizes oficiais americanas de 2015 recomendam um limite de ingestão de sódio de 2.3 gramas por dia. A American Heart Association (AHA) recomenda ainda menos: não mais do que 1.5 gramas por dia de sódio para adultos saudáveis. No Brasil é similar… 2.3, se me lembro…
Paty Ayres: Acho que é por aí. Acho que é mais ou menos isso.
Dr. Souto: É lamentável. Nenhuma população moderna consome tão pouco sal e nenhum lugar do mundo.
Paty Ayres: Acho que não poderia salgar nada.
Dr. Souto: Isso é basicamente consumir o sódio presente naturalmente nos alimentos. A questão é: de onde saiu essa recomendação? Vocês querem saber? Eu digo. Nos anos 70 teve um pesquisador que começou a testar grandes quantidades de sódio em roedores. Sempre roedores. A quantidade de sal que ele dava para o roedor seria o equivalente a um humano adulto consumir 500 gramas de sal. Aí o ratinho ficou hipertenso. Mas, detalhe: só se tirasse um dos rins dele. O rato com os dois rins, mesmo com o equivalente a meio quilo de sal não ficava hipertenso. Então, deixando-o com metade da função renal, finalmente ele ficava hipertenso. Aí o sujeito disse que o sódio causa hipertensão. Isso aí é mais ou menos como aquela ideia de que tem que tirar a gordura da dieta porque isso vai reduzir o colesterol e doença cardíaca. E ninguém tinha testado para ver se era verdade. Virou dogma. No sódio também virou dogma. Estudos observacionais dão resultados super divergentes. Muitos deles têm mostrado que quando o sódio fica abaixo da média populacional o risco de morte – e inclusive os riscos de problemas cardíacos – começam a aumentar. Também quando ele é muito elevado, também aumenta. Mas quando as pessoas usam o paladar como guia, elas acabam consumindo sódio num nível que nesse estudo que você está lendo é o nível que teve menor mortalidade.
Rodrigo Polesso: Quem diria que confiar na própria vontade era uma coisa boa?
Dr. Souto: Quem diria que o paladar possa ter evoluído por milhões de anos para acetar na mosca o ponto de equilíbrio.
Paty Ayres: Quem diria que a sede que avisa que você tem que beber água? Quem diria que a vontade de ir ao banheiro avisa que você tem que ir?
Dr. Souto: Quem diria que é o frio que é a hora de botar um casaco?
Rodrigo Polesso: Quem diria que a gente não precisa controlar nem calorias. É só seguir a fome…
Dr. Souto: Só para o pessoal saber. O estudo de Framingham. Volta e meia a gente fala. Falei um pouco ali atrás. Framingham é uma pequena cidade perto de Boston. Lá nos anos 60 o pessoal começou a acompanhar as pessoas e perguntar o que elas comem, o que elas bebem, fazer exames. Agora já o estudo dos filhos daqueles lá. É o Framingham Offspring. E eles escolheram nesse povo 2632 pessoas que não eram hipertensas. E os estão acompanhando, questionando, medindo pressão, vendo o que comem há 16 anos. Passados os 16 anos, é isso que o Rodrigo falou. Os que comiam menos sódio foram os que tenderam a ficar mais hipertensos. Qual é a explicação? A gente já conversou disso em algum podcast. Estamos no podcast 60, tem gente que não via ter saco de ouvir lá no início. O corpo precisa de sódio. Quando a gente restringe muito o sódio, o corpo secreta determinados hormônios para ajudar os rins a reterem o sódio no corpo, para impedir que esse sódio seja perdido – para evitar uma situação grave chamada hiponatremia. Esses hormônios… O primeiro deles se chama renina, que atua num outro chamado angiotensina, que atua num outro chamado androsterona… Esse trio causa, entre outras coisas, a elevação da pressão. E tem mais… Isso está citado nesse estudo. Os pacientes que restringiam mais o sódio tendiam a ter triglicerídeos mais altos, tendiam a ter mais resistência à insulina. Tudo o que a gente não quer. Não significa que as pessoas precisem derrubar toneladas… É o de sempre. É que nem na história da gordura. Não estamos dizendo para você comer a carne mais gorda que você encontrar. Significa que não precisa ter medo total da gordura, mas não também não precisa ter medo do sódio. A gente ouve gente perguntando se pode tomar uma marca específica de água mineral porque ela tem um pouco mais de sódio… Sendo que a quantidade de sódio que estamos tratando é de 100 miligramas por litro. E as pessoas se recusam a beber aquela marca específica de água, tal a paranoia com o sódio – que nós acabamos de ver que é uma paranoia que acaba causando malefícios em vez de benefícios.
Paty Ayres: Acho que até já conversamos sobre isso também. As pessoas desaprenderam de ouvir o corpo, o paladar. Tem gente que fala “eu não gosto de sal”. Aí eu falo, “Não gosta mesmo? Ou é só a questão da lavagem cerebral do não coma sal? Tente colocar um pouco mais de tempero.” “É verdade. Está mais gostoso.” É complicado essa lavagem cerebral. Muitos anos de lavagem cerebral.
Rodrigo Polesso: O pessoal que faz pecuária colocam um bloco de sal para as vacas darem uma lambida. É como se você fosse lá e falasse, “Uma lambida só de cada um.” A vaca vai lamber o quanto ela achar que é necessário. É ridículo. O pessoal que quer saber mais sobre as evidências sobre o sal… Eu fiz um vídeo há um tempo atrás chamado “O Mito do Sal”. Coloque no YouTube “O Mito do Sal Emagrecer de Vez”. Eu coloquei as evidências mostrando que um consumo baixo é problemático, mas que um consumo muito alto também é problemático. O consumo não é nem muito alto… A partir de 4, 5 ou 6 gramas eles começam a ver uma associação com problemas. Eu acho que é muito difícil as pessoas comerem sal demais, a não ser que esse sal não seja percebido pelo nosso paladar – ou seja, através de comida processada, fast food e etc.
Paty Ayres: Aí sim.
Dr. Souto: Para passar desse limite fisiológico para ele voltar a ser um risco… Acima de provavelmente 7 gramas… A pessoa não consegue colocar isso com um saleiro na comida, porque fica salgado demais. Mas se for em batata Pringles, consegue.
Paty Ayres: Aí fica hiperpalatável.
Dr. Souto: Se for em alimentos ultra processados, em salgadinhos, em Cheetos… É fácil. Comendo comida de verdade e salgando a gosto tem inúmeros estudos mostrando que as pessoas vão ficar em torno de 3 a 4 gramas de sal – que é o sweet spot. É o ponto ideal. O ponto com os melhores desfechos de saúde. Lembre que conversamos sobre outro grande estudo que mostrou a mesma coisa, que foi aquele do Dr. Yusuf. O presidente da Federação Nacional de Cardiologia que fez aquela palestra sensacional na Suíça. Está disponível o link num podcast anterior. Além de ele mostrar que a gordura estava inversamente associada com desfechos de mortalidade… Enquanto os carboidratos estavam diretamente associados… Ele também mostrou exatamente isso que falamos. A restrição excessiva de sal estava associada com desfechos ruins. Que existia uma faixa boa que era até em torno de 5 gramas e que isso coincide com o que os americanos normalmente consomem. Não estamos falando de um estudo que foi uma exceção. Às vezes os cardiologistas citam alguns ensaios clínicos randomizados onde houve restrição de sal e os pacientes realmente diminuíram a pressão. Sim, diminuíram quanto? Em média de 2 a 4 milímetros de mercúrio. Mas isso, basicamente, os pacientes que já são hipertensos. Os pacientes que não são hipertensos não têm mudança significativa ou podem até elevar sua pressão com a restrição de sódio, e a gente já explicou porque. Isso também está demonstrado nos ensaios clínicos. Esses ensaios clínicos não tiveram desfecho duro; não tiveram desfecho concreto. O pessoal não observou se restringir o sal diminuía a mortalidade. Eles observavam que diminuía de forma absolutamente patética em 2 a 4 milímetros de mercúrio a pressão arterial das pessoas. Diminuir em 2 milímetros de mercúrio a pressão arterial é como usar a escada em vez do elevador. Está resolvido. Vou diminuir muito mais do que isso. O exemplo do sal serve para os ouvintes refletirem sobre como determinados mitos que são baseados em ciência fraca viram dogmas potentes. E como realmente a nutrição é afligida por esse mal.
Rodrigo Polesso: O Andrew Mente, da Universidade de McMaster aqui do Canadá comentou sobre esse artigo. Ele sugere como um objetivo apropriado de consumo de sódio em adultos saudáveis seria entre 3 e 4 gramas. Eu falei no vídeo do mito do sal. Eu mostro evidências científicas mostrando que a faixa ótima é realmente entre isso. Abaixo disso é ruim e acima disso é ruim. Mas vamos deixar claro uma coisa. As diretrizes brasileiras, as diretrizes americanas e a própria Associação do Coração Americana sugerem um consumo de sal que se enquadra justamente para baixo do mínimo desejado – sugerem o que a ciência mostra que é associado com problemas. É bom deixar isso em perspectiva. Estão sugerindo uma coisa que está comprovado que é associado com problemas.
Dr. Souto: É mais um exemplo de um dogma incorreto que foi criado por desfecho substituto. O desfecho substituto no caso é pressão arterial. O que interessa é mortes, infartos, derrames. Sim, pressão arterial está associada com infartos e derrames. Mas na grande maioria das vezes é acima de 159 por 99. A partir da hipertensão moderada que essas coisas realmente começam a subir. Uma intervenção que baixa de 2 a 4 milímetros de mercúrio… Tem pouquíssima chance de mexer naquilo que realmente interessa. Mas o argumento deles é o argumento de sempre. Para o indivíduo não vai fazer muita diferença, mas deverá fazer diferença para a população. Então, se eu diminuir em 1% o risco do indivíduo… Se forem 100 mil pessoas, eu vou estar melhorando o desfecho de mil pessoas. Eles cometem sempre o esmo erro. Eles esquecem de multiplicar os efeitos adversos por mil. E esses que vão morrer a mais, que vão ficar hipertensos porque restringiram o sódio, vão ter resistência à insulina e hipertrigliceridemia… Esses aí também têm que ser multiplicados por mil.
Paty Ayres: Parecem que andam com uma viseira.
Dr. Souto: É impressionante. Quando se fala em pressão arterial, só se enxerga a pressão arterial. Não se enxerga desfecho concreto, que é morte, infarto, derrame. Quando se fala em alimentação, só se enxerga LDL. Não importa que os estudos mostrem que os carboidratos estão muito mais associados com esses desfechos do que as gorduras. Porque os carboidratos não atuam sobre o LDL e a gordura sim.
Rodrigo Polesso: É dureza. Outra bola que foi levantada, para fechar esse assunto… O próprio Andrew Mente falou… Ele mencionou sobre o potássio. O potássio tem um poder muito maior do que o do sódio para baixar a pressão arterial. O potássio anda junto com comidas minimamente processadas, como frutas, vegetais, laticínios e nozes. Ele também pode ajudar a controlar a pressão sanguínea. Eu não vejo muitos médicos por aí falando sobre o potássio, mas sim focando mais na questão do sódio.
Dr. Souto: Porque ele faz parte do dogma. Só para lembrar, pessoal. Sempre que se fala em potássio, 11 de cada 10 pessoas fala “banana”. O abacate tem o dobro do potássio, tem magnésio junto. Todas as plantas têm potássio. Então, encha o prato de salada e você está comendo potássio e magnésio. Quem for bem nerd e quiser olhar a forma estrutural da hemoglobina e da clorofila… São muito parecidas. Só que a hemoglobina tem o ferro no meio. E a hemoglobina tem magnésio no meio. Tudo o que for verde tem magnésio por definição. É o magnésio que deixa a clorofila verde.
Rodrigo Polesso: Aula de biologia em química. Muito bom. Vocês tiveram um dia de viagem, mas acho que vou fazer a pergunta mesmo assim. O que vocês degustaram? A gente estava brincando antes. Eles estão em Minas Gerais agora. Estão sendo movidos a queijo hoje e por isso o podcast está andando tão bem. Movidos a queijo de qualidade. O que vocês comeram ao longo desse dia? Imagino que vocês não tenham tido um almoço.
Paty Ayres: Não.
Dr. Souto: Poderíamos não ter comido nada, sem nenhuma dificuldade.
Rodrigo Polesso: Blasfêmia.
Paty Ayres: Você tomou café da manhã?
Dr. Souto: Não. Era antes das cinco da manhã quando eu estava saindo de casa. No aeroporto tomamos um cafezinho. Eu tinha uns amendoins que a gente partilhou. A Patrícia não comeu.
Paty Ayres: Só tomei café.
Dr. Souto: Quando chegamos em Viçosa…
Paty Ayres: Em Juiz de Fora.
Dr. Souto: Em Juiz de Fora. A coisa teve escalas. Na van que nós pegamos a gente recebeu uma caixa com nozes sortidas. Depois, quando chegamos no hotel, como o evento é de low carb, os organizadores deixaram na geladeira algumas frutas de baixo índice glicêmico… Uma dedo de dama… Queijo… Kiwi.
Paty Ayres: Queijo, morango… Precisa de mais alguma coisa?
Rodrigo Polesso: Maravilha. Ótimo. Hoje eu comi uma carne moída orgânica com legumes. Nada tão fancy que nem vocês. Ninguém me deixou pronto nada, eu tive que fazer eu mesmo. Bom, acho que é isso. Episódio 60. Acho que foram dois assuntos bem grandes… Bem revolucionários…
Paty Ayres: Como sempre, polêmicos.
Rodrigo Polesso: Muito polêmicos, essa é a palavra. Acho que a gente soube tratar mais uma vez. Acho que com a repetição o pessoal vai ficar careca… Vai cansar de ouvir até virar um dogma novo… Até o pessoal começar a refutar essas ideias falsas automaticamente. Podemos usar o poder da inércia ao nosso favor, pelo menos com o pessoal que nos escuta… Na nossa bolha positiva que a gente consegue influenciar. Pessoal que quer fazer parte da Tribo Forte, é só entrar em TriboForte.com.br. Você pode fazer parte e ter acesso àquele monte de informação privilegiada só para membros. A Paty está lá dentro respondendo, colaborando, colocando receitas. Tem agora artigos exclusivos que são colocados mais de uma vez por semana lá dentro da Tribo Forte. Você pode usar o sistema de busca se tiver dúvida sobre qualquer assunto. Digite lá e achará uma fonte de informação de confiança sempre embasada em evidência científica. É uma coisa positiva mesmo, com um custo bastante baixo por mês. Você pode assinar e se tornar um membro em TriboForte.com.br. Pessoal, muito obrigado pela participação. Tenham um ótimo evento. Doutrine esse pessoal. Espero que vocês não recebam muitos tomates e que dê tudo certo.
Dr. Souto: Tomate é low carb.
Rodrigo Polesso: Grande abraço.