TRIBO FORTE #072 – DIETA ALCALINA, ESTATINAS E MÁ CIÊNCIA

Bem vindo(a) hoje a mais um episódio do podcast oficial da Tribo Forte!

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No Episódio De Hoje:

Neste podcast SUPER recheado vamos atacar de frente 3 grandes temas:

  • Dieta alcalina. O que você precisa saber sobre isso antes de se frustrar?
  • Uma resposta bombástica a AHA e sua condenação da gordura saturada
  • Estatinas, o cerco está fechando. “Mais benefícios existirão ao se retirar este medicamento do que se tomar ele.”

Você precisa saber destas coisas! Por favor compartilhe! Saúde é assunto SÉRIO!

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Ouça o Episódio De Hoje:

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Referências

Dieta Paleolítica Ganha Mais Adeptos a Cada Dia e Vira Estilo De Vida

Estudo Sobre Proteínas e Densidade Óssea

Dieta Alcalina

Resposta Escrita Pela Nina Teicholtz e Eric Thorn (cardiologista) Àquele Papelão que a AHA fez ao Publicar Aquele Monte de Besteiras Condenando Ainda a Gordura Saturada e Defendendo Óleos Vegetais

Gráfico do Framingham Heart Study, Mostrando a Relação Entre HDL, LDL e Problemas Cardíacos

As Hipóteses de Colesterol e Calorias Estão Mortas

 

Transcrição do Episódio

Rodrigo Polesso: Olá bom dia, boa tarde. Pegue seu chá de camomila ou seu magnífico caldo de ossos de peru. Você pode degustar isso nesse momento. Você está prestes a iniciar a jornada do Episódio número 72 do podcast oficial da Tribo Forte. O podcast número um do país em saúde. Episódio de hoje está recheado de informações super importantes das quais você precisa saber. É o nosso dever fazer você vir aqui dissecar essa informação para que você tenha acesso absoluta melhor a informação sobre saúde e estilo de vida emagrecimento. Assim você pode tomar as suas decisões. Fique à vontade para passar adiante e compartilhar esse episódio da Tribo Forte com todo mundo que você acha que pode tirar proveito. Se você não é um membro da Tribo Forte… A Tribo Forte é muito mais do que esse podcast. Você pode se tornar um membro assinante da Tribo Forte e ter acesso ao mar de informação privilegiada. Eu prefiro que você veja isso com seus próprios olhos no TriboForte.com.br. Se você ainda não é um membro anote para entrar agora ou depois do episódio em TriboForte.com.br. Dr. Souto já está aquecido e preparado para compartilhar informação com pessoal?

Dr. Souto: Preparadíssimo. Boa tarde, Rodrigo. Boa tarde aos ouvintes.

Rodrigo Polesso: Ótimo. Hoje basicamente falaremos sobre os seguintes temas. Vamos falar de dieta alcalina. Vamos falar sobre isso. Para você se proteger e saber o que é verdade. O que faz sentido e o que não faz. Também falaremos sobre a falácia da autoridade. O que importa não é o jaleco branco. É a pessoa por trás dele. A pessoa que está vestindo ele. Mas é muito forte ainda essa questão do jaleco branco, da autoridade. Recentemente quando eu estava em São Paulo, algumas semanas atrás, eu fui falar ao vivo na TV Gazeta sobre alimentação forte. Eles me fizeram colocar o jaleco. Eu não consegui não usar o bendito do jaleco. É muito forte essa questão da autoridade. Mas mais importante do que o jaleco é a pessoa que está o vestindo. Temos uma resposta oficial que a Nina Teicholz e o Erick (cardiologista) deram para a AHA (Associação Americana do Coração). Foi basicamente um roundhouse kick na cara da AHA para você que curte o Chuck Norris. Você entender um pouco mais o que é isso e ficar de boca aberta. Como que pode uma organização tão importante falar tanta besteira. Para fechar, vamos falar sobre estatinas. Um exemplo de péssima ciência e interesses financeiros. Para você se proteger e proteger pessoas ao seu redor. Você vai querer saber tudo isso que estamos falando hoje. Acho que podemos começar com primeiro tema, Dr. Souto. Vamos falar sobre dieta alcalina. Eu vou começar com uma introdução. Aí nós vamos discutindo à medida que o pessoal fique na mesma página. Por que eu resolvi falar sobre dieta alcalina? Uma coisa antiga, mas persistente. É muita besteira sendo dita a respeito disso. O doutor Souto recentemente postou um link no grupo que temos. É um link da GazetaOnline.com.br. Vou colocar o link na referência do podcast. No EmagrecerDeVez.com  tem todas as referências. E a transcrição do podcast também. Era o antigo exatamente sobre a dieta alcalina. Tenho médico famoso que falou algumas coisas sobre a dieta alcalina. Uma parte do que ele falou é a seguinte… “Só para termos uma ideia, o PH natural do ser humano está em torno de 7.4, levemente alcalino.  Com consumo elevado de produtos de pH alto o homem atinge até 4, o que equivale ao índice de um indivíduo com câncer, por exemplo. ” Alerta médico, nesse caso as pessoas se tornam mais suscetíveis a doenças autoimunes e degenerativas. Se você é da área da saúde, você pode até pular do seu assento ao ouvir esse tipo de coisa. Mas você já entenderá porque isso que foi dito aqui um absurdo. Primeiramente, vamos ver um pouco da ciência por trás. Se você nunca ouviu falar sobre a dieta alcalina… Alguns alimentos como carne, quando ingeridos, quando digeridos, baixam o PH, por gerarem compostos mais ácidos na digestão. Outros alimentos, como folhas geram compostos que aumentam o pH, ou seja, mais alcalinos. Essa é a ideia defendida por todo mundo que defende dieta alcalina. O que não se fala muito é que os alimentos mais ácidos não é a coitada da carne, mas sim cereais, farináceos, pães, tudo derivado do trigo, macarrão, álcool. O PH do sangue é entre 7.38 e 7.42.  Ou seja, a variação é muito pequena. É extremamente bem regulado. Se o PH do sangue variar mais do que isso, o corpo entra em caos. As proteínas começam a se desnaturalizar. A pessoa pode facilmente morrer, caso essa condição não seja tratada imediatamente. Ou seja, o PH do sangue está sempre nessa faixa, assumindo que você esteja vivo. Exceto caso ele vale mais por causa de um problema mais sério. Mas não tem nada a ver com a comida que você come. Resumindo… Os alimentos que você come não alteram o PH do sangue. Isso é um fato. Mas os alimentos podem alterar sim o PH da urina. porém, outras coisas também podem alterar o PH da urina. O próprio estresse por exemplo. Logo, o PH da urina não é um bom indicador do PH Geral do corpo. Resumindo toda essa conversa de dieta alcalina… Todos esses filtros de milhares de reais vendendo água alcalina… Dietas que falam para você comer isso e não comer aquilo… Falando que carne alcalina e que tem que comer mais não sei o quê… Tudo isso é baseado na falsa ideia de que o que você come influencia no PH do sangue. A gente viu que o PH da urina não tem nada a ver com PH do sangue. Essa é uma solução rápida. Doutor Souto, eu queria ouvir de você quais são as suas impressões iniciais sobre essa filosofia toda da dieta alcalina. O que você acha que faça sentido e o que não faz? O que as pessoas precisam saber antes de embarcar numa dessas?

Dr. Souto: Bom, rodrigo. Quem ainda não se deu conta, é um bom momento de se dar conta… O meu blog, a Tribo Forte, esse podcast… Não tem nada a ver com que é chamado de medicina alternativa. Eu, pessoalmente, abomino medicina alternativa. Para mim, existe boa medicina e má medicina. Boa medicina é medicina baseada em ciência, baseado em evidência. Evidência aquilo que a gente obtém na literatura científica, nos chamados estudos peer-review. Ou seja, estudos revisados pelos pares. Não é coisa publicada em mídia. Não é coisa é publicada em revista leiga. Não é coisa publicada em YouTube. São revistas científicas. Dentro dessas revistas existem uma hierarquia da evidência. Quem já nos ouve a mais tempo, está acostumado. Mas não custa reforçar. Tem um relato de caso, que é só uma curiosidade. Tem a série de casos, que é um pouco mais do que uma curiosidade. Tem os estudos observacionais, que geram hipóteses. E tem os experimentos, os ensaios clínicos randomizados, que são níveis de evidência mais elevados. Quando a gente fala que uma coisa boa ou que alguma coisa é ruim, não é porque eu penso isso, ou porque o Rodrigo pensa aquilo. É porque agente verificou na literatura que tem o ensaio randomizado que mostra aquilo ali. E a gente sempre cita as contas aqui. Esse assunto da dieta alcalina esbarra em coisas bem mais primitivas do que essa questão da evidência biomédica. Ele esbarra em coisas que são conteúdos de ensino secundário. Do tipo… Saber que o PH do sangue pouco oscila ou nada oscila dependendo do que comemos.  Saber que um PH é incompatível com a vida…

Rodrigo Polesso: Quantos segundos uma pessoa viveria se o PH caísse para 4?

Dr. Souto: Não sei, mas acho que é em segundos.

Rodrigo Polesso: Iria virar uma sopa de ossos, basicamente.

Dr. Souto: Um PH abaixo de 7… Até a pessoa está viva, mas em geral ela está mal. Está numa UT, tentando reverter aquela situação. Aquilo não foi porque ela comeu carne ontem. Ela está sim porque tenho insuficiência renal. Os rins não estão funcionando para regular o PH. Ou ela está assim porque tem uma infecção generalizada, e o sangue não consegue levar oxigênio para os órgãos. Coisas graves. Coisas que podem levar à morte no mesmo dia. Eu estou contando que esse texto que você leu talvez realmente tenha tido algum erro do jornalista ao entrevistar. Isso acontece com certa frequência. Evidente que talvez a pessoa não queria dizer PH 4. O que que pode ter um PH 4… Talvez um refrigerante com gás. Talvez o refrigerante tenha um PH 4. ” Mas se tomar um refrigerante com PH 4 você vai ficar ácido!” Não.  O limão tem um PH muito mais ácido do que isso. O PH do estômago é tipo 2. Nosso próprio estômago nos mataria se fosse esse o caso. A coisa não funciona sim. Qualquer alimento que a gente consuma não vai alterar significativamente nosso PH. Nós temos mecanismos de controle para isso. Os rins excretam o excesso de ácido se o alimento for ácido. Eles estão o excesso de bicarbonato se o alimento for alcalino.  isso evoluiu por milhões de anos para regular. Essa história do câncer que foi mencionado ali… Também advinde uma série de equívocos. São equívocos históricos. São equívocos antigos. Na realidade, a maioria dos tipos de câncer metaboliza bem mais glicose do que os tecidos normais. Eles metabolizam essa glicose de forma anaeróbia muitas vezes. O que significa que eles geram ácido lático, pela fermentação. Nos arredores de um tumor… No líquido intersticial que cerca com aquele tumor ocorre uma queda do PH. O PH fica mais ácido naquele local, não no corpo do indivíduo. Mas naquele local. Como acontece por exemplo se você fizer o exercício intenso, uma musculação. Se você for medir o PH no músculo naquele momento, também estará baixo, estará ácido. Porque o músculo estará gerando ácido lático pelo exato mesmo motivo. Ele estará fazendo a fermentação anaeróbia da glicose. Não é a acidez que produz o câncer. é o câncer que produz a acidez. E ele produz acidez só no microambiente que o cerca. Daí a dizer que o câncer não cresce em ambiente alcalino… Que precisa ter acidez para ele crescer… Esse é um erro muito primário. Os tumores como costumam ter áreas que não são perfeitamente vascularizadas, acabam fazendo mais metabolismo anaeróbio, portanto produzem mais ácido lático, portanto geram um PH mais ácido ao redor de si. Mas eles crescem com muita felicidade e alegria em PH neutro, o mesmo não PH levemente alcalino. Quem já trabalhou com cultura de células sabe disso. A gente pega as células de tumor, bota no meio de cultura com ph 7,35, bota na estufa e ele cresce maravilhosamente bem. Não precisa acidificar o meio. Aliás se acidificar o meio ele vai crescer pior. Se alcalinizar o meio, ele também vai crescer pior. Qualquer célula, seja ela de tumor ou célula normal, não cresce bem no meio alcalino. Qualquer célula, seja ela de tumor ou seja ela normal, também não cresce bem no ambiente ácido. O que acontece é que o microambiente local é ácido porque o tumor está produzindo mais ácido láctico. Esse ácido lático é constantemente removido pela circulação. Se não fosse removido o tumor iria morrer de acidose.

Rodrigo Polesso: É uma casualidade invertida, então. O câncer não cresce por causa do ambiente ácido. É o próprio câncer que causa acidez. Tem uma revisão, só para mencionar. Uma revisão mais completa está disponível agora sobre a  relação entre uma dieta que induz a acidose e o câncer. Essa revisão concluiu que não existe nenhum link direto entre as duas coisas. Então é meio que fato que esse medo todo não tem base.

Dr. Souto: É. O que acontece é o seguinte. Se você procurar na literatura… Alguns estudos que mostram bons desfechos demarcador substitutos de saúde… A pessoa melhora na resistência à insulina… Melhora nisso ou naquilo com dieta alcalina. Mas não é porque ela é alcalina. É porque uma dieta alcalina tende a ser uma dieta que é pobre em açúcar, pobre em grãos e rica em vegetais. Ela acaba sendo uma dieta pobre em alimentos processados. Mas é porque ela é pobre em alimentos processados, não porque ela é alcalina. Só deixando bem claro, pessoal. Não caiam em coisa de medicina alternativa. Ou então, troquem de blog, troquem de podcast. É incompatível. A gente não faz questão de ser o podcast de saúde mais ouvido do Brasil, mas ouvido por pessoas que não entendem nada do que a gente está falando. Se a gente passa a 70 episódios falando coisas baseadas em evidências, citando estudos com alto nível de evidência… E ao mesmo tempo ouvir e dar bola para coisas que têm zero evidência, que tem tanta evidência quanto horóscopo o jogo de búzios… Então, não perca o seu tempo. Vão escutar outro tipo de podcast. Ler outro tipo de literatura. Isso daqui não é medicina alternativa. Qualquer coisa que se identifique como medicina alternativa… Desconfiem muito. Botem o chapéu do ceticismo completamente. Não existe medicina alternativa. Existe boa medicina e má medicina. E boa medicina é baseada em alto nível de evidência. Coisa que esse encontra em artigo científico de revista científica e não em coisas vibracionais, coisas alcalinas, em cristais. Volto a dizer. Na minha opinião, é preferível que você troque de podcast.

Rodrigo Polesso: A gente não vai tratar disso. É claro que a gente não está tirando todo o crédito dessas coisas que muitas pessoas gostam. Mas aqui nossa filosofia é defender como evidência. Está menor risco de está errado, com certeza. Estou imaginando o que o pessoal vai falar já. A dieta alcalina e os ossos. Só para mencionar. Vou colocar link depois bem legal que o site Authority Nutrition fez sobre isso. Bastante bacana e com bastante referência. Eles falam que existe zero estudo observacional que encontre qualquer relação entre o ácido que você come através do alimentos e densidade dos ossos o risco de fratura.  na verdade não tem relação nem mesmo entre o PH da urina e a saúde dos Ossos. Olhando ensaios clínicos, que a ciência de verdade, várias revisões grandes concluíram que essas dietas ácidas têm Impacto nenhum nos níveis de cálcio no corpo. Ao contrário do que as pessoas acreditam, uma dieta mais alta em proteínas de qualidade, que teoricamente seriam mais formadoras de ácido segundo os Defensores da dieta, está associada a maior saúde dos ossos. A melhor saúde de ossos. Esse é outro para derrubar.

Dr. Souto: Esse é um belíssimo exemplo para aceitar aquilo que a gente sempre diz. Não baseie as coisas em mecanismo. A gente ouve das pessoas da “medicina alternativa” a história de que se você consumir alimentos ácidos seu PH no sangue até não vai mudar, mas o que o manterá equilibrado é o fato de que o fosfato sairá dos ossos, portanto o cálcio sairá dos ossos a fim de tamponar essa acidez. Tudo isso é muito bonito. Isso até poderia ser verdade. Mas nada disso importa, quando os ensaios clínicos randomizados mostram que isso não acontece. A realidade tem primazia sobre os mecanismos. A gente usa o mecanismo para explicar porque algo aconteceu. A gente não pode descobrir que algo não acontece e dizer que deve acontecer porque acreditamos no mecanismo. Isso não é racional. Saiu uma metanálise recente. Eu até incluir no curso que a gente deu em Blumenau. É uma metanálise de 2017 da Sociedade Internacional de Osteoporose. O pessoal, e até um certo tempo atrás, tinha receio de que uma dieta de carga ácida maior pudesse causar perda de massa óssea. Esta metanálise deles admite que não apenas não existe nenhuma evidência, mas o foco dela é discutir o quanto que uma dieta com mais proteína e, portanto, maior acidez, pode contribuir para reforçar os ossos. E prevenir fraturas de osteoporose. É uma discussão em 2017 baseada em evidência e não é misticismo. A discussão em 2017 é:  o quanto que uma dieta rica em proteína pode realmente prevenir problemas ósseos ou se simplesmente ela não interfere. Ninguém quero discutir mais o fato de que não há nenhuma dúvida de que não prejudica. Isso está superado na medicina baseada em evidências. Evidência é ensaio clínico randomizado, metanálise. Evidência não é aquilo que o Fulano que é conhecido, que falam na internet… Diz baseado no mecanismo. Eu posso ter mecanismos para qualquer coisa. Mas o que vai dizer se nossa hipótese baseada em mecanismos é verdadeira ou falsa é a realidade. A realidade é o árbitro da coisa. Não é o que eu quero, o que eu desejo. É uma metanálise bem recente. A gente vai botar o link para quem quiser.

Rodrigo Polesso: Maravilha. Para fechar esse assunto da dieta alcalina, o único benefício que consigo pensar da dieta alcalina não vem do PH dos alimentos. Mas sim da ideia de você limitar as substâncias comestíveis, das quais a gente tanto fala. E priorizar alimentos reais. Ou seja, você acaba limitando grãos comidas processadas, carnes processadas, álcool, trigo, farinhas e et cetera. Você começa a priorizar folhas, legumes, frutas e comida de verdade. Uma dica bônus: Se você quer água alcalina em casa de qualquer forma… Em vez de você pagar milhares de reais em um filtro lindo de água alcalina, adicione meia colher de bicarbonato de sódio em 3 litros de água está feita sua água alcalina. A mensagem final é que ácidos são nossos amigos. Eles constroem a vida. Incluindo os aminoácidos. Tem os ácidos graxos. Ambos são essenciais. O próprio DNA é ácido desoxirribonucleico. Ácido amigo da vida. Não sei quem criou essa ideia de que eles são inimigos. Mais uma vez… A gente pode complicar o quanto a gente quiser. Mas a gente pode focar na questão dos desfechos substitutos da qual já falamos aqui no podcast. A verdade continua sendo a mesma. Foque na qualidade do que você come, pratique alimentação forte como estilo de vida… Ou seja, uma filosofia alimentar baseada em alimentos de verdade, nutritivos e limitada em substâncias comestíveis. Parece que tudo volta nesse ponto. Vamos migrar para o Segundo assunto que também é quente. Está recheado. Você que está ligado aí, tem dois assuntos grandes vindo pela frente. O assunto de agora é uma resposta escrita pela Nina Teicholz. Ela é autora do “Gordura Sem Medo”, um livro que foi traduzido para o português bem recentemente. E o Eric Thorn, que é um cardiologista que resolveu praticar medicina baseada em evidências. Ele falou sobre aquele papelão que a AHA (Associação Americana do Coração) fez a publicar aquele monte de besteira condenando a bendita gordura saturada, e defendendo óleos vegetais. Vou colocar o artigo original nas referências. No blog do doutor Souto tem uma tradução que foi feita voluntariamente desse mesmo artigo se você não lê em inglês. Tem alguns pontos que são legais de mencionar. Vou ler um parágrafo aqui. Para o pessoal começar a ficar esperto. “Um aspecto mistificador da maioria dos estudos com dieta é que eles fizeram com sucesso a redução do colesterol total em uma média de 29 MG por decilitro. Ou seja, a dieta que eles promovem consegue baixar o colesterol total. Isso é um sinal de que, apesar de suas falhas, os participantes conseguiram atingir mudanças dietéticas significativas através das recomendações. No entanto, reduzir o colesterol total não reduziu a mortalidade. No estudo de coração de Minnesota, na realidade, os pesquisadores descobriram que quanto mais os homens conseguiram diminuir o colesterol maior era a probabilidade de eles morrerem de um ataque cardíaco. Uma possível explicação disso é que embora seja verdade que as gorduras saturadas elevem o colesterol LDL um pouco, elas também aumentam o colesterol HDL, anulando o efeitos risco de doenças cardíacas.” isso se a gente quiser focar em LDL e HDL. Inclusive tem aquele gráfico bem bonito do Framingham Heart Study que mostra a relação entre HDL e LDL e problemas cardíacos também.

Dr. Souto: Esse artigo é maravilhoso. Aproveito para reforçar. Que não comprou ainda esse livro da Nina Teicholz…  isso é leitura obrigatória. A gente não recebe royalties da editora. É só porque vocês tem que ler mesmo. Gordura Sem Medo.  Tem nas livrarias. Dá para comprar. Espetacular. É interessante porque este livro da Nina  foi escrito 2014. Neste livro, ela disseca vários dos estudos que foram feitos no passado sobre gordura. É fascinante. Quem quiser pode ler no livro da Nina a crítica que ela faz justamente aos estudos que a AHA escolheu para seu artigo. A AHA não fez uma revisão justa. Ela não pegou todos os artigos sobre gordura saturada e doença cardíaca. Eles escolheram a dedo apenas 4. Esses quatro eram antigos com problemas metodológicos complicados. Por que eu salientei que a Nina escreveu em 2014? Por que alguém poderia ter dito “Agora que a AHA escreveu estes artigos, vocês estão achando defeitos.” Não. A Nina já tinha achado o defeito nestes quatro artigos anos atrás. Eles são sabidamente ativos problemáticos. A gente já discutiu não podcast anterior.

Rodrigo Polesso: Podcast número 67.

Dr. Souto: Isto. Só para salientar. Não é depois que a Associação Americana de Cardiologia fez a sua revisão que a gente começou a achar defeitos. Os efeitos já foram achados e estão bem descritos no livro da Nina Teicholz, Gordura Sem Medo, escrito em 2014. Este artigo do Medscape está perfeito para quem quiser compartilhar nas redes sociais. Todo mundo que segue uma alimentação baseada em comida de verdade passou a receber essas manchetes falando que o óleo de coco vai matar, que a gordura vai matar. É bom ter um artigo bem embasado, com várias referências bibliográficas para compartilhar nas suas redes sociais como resposta para quem fica incomodando com essas coisas.

Rodrigo Polesso: Um desses estudos… A AHA começou com a premissa e depois foram procurar coisas para corroborar. Eles escolheram muitos poucos estudos. Um deles é até engraçado. É um estudo finlandês. É tão ruim tem tantos pontos de falha que todas as revisões posteriores a ele ou excluem. Não consideram ele. Para vocês entenderem, eles pegaram o estudo finlandês… Tiveram dois grupos… Mas o grupo controle, consumir gordura saturada normalmente… No outro grupo, estavam tentando substituir por óleos vegetais… Para provar que gordura saturada fazia mal e óleo vegetal fazia bem. Mas o grupo controle… Era bem comum tomar esta medicação específica para problemas mentais. Depois descobriram que essa medicação causava morte súbita do coração. As pessoas do grupo controle estavam morrendo por causa desta medicação que causava morte súbita do coração. Como você vai avaliar um estudo desse depois de acabar e concluir que a gordura saturada faz mal se a bendita medicação estava matando o pessoal? Mas adivinha? A AHA escolheu esse estudo como um dos poucos que a levou em consideração para falar esse monte de besteira.

Dr. Souto: Não é apenas um dos quatro, é o maior dos quatro. Ele é um dos que mais dá peso para a conclusão estatística da revisão da AHA. E surpresa, surpresa. Eles alegam que usaram só ensaios clínicos randomizados. Escolheram apenas 4. Ignorar todos os randomizados que vão contra o que eles pensam, que são muito mais. Escolheram apenas 4. Todos os problemáticos. Este, que é o maior deles, dos hospitais mentais da Finlândia… Adivinha? Não é um ensaio clínico randomizado. Não é. Na realidade, ele tinha um hospital no qual as pessoas recebiam uma dieta e outro hospital no qual eles recebiam outra dieta. Na realidade, eram dois hospitais. Para ser um ensaio clínico randomizado, teria que randomizar todos os pacientes. Ou seja, teria que sortear em cada um dos dois hospitais quem receberia a dieta e quem receberia outra. O fato de que havia muito mais fumantes no grupo dos pacientes que comeram a gordura saturada explica, juntamente com fato de que mais pacientes que comiam gordura saturada consumiam esse tal antipsicótico… Não se usa mais e causaram mortes… Isso por si só já explica a diferença de mortes independentemente da dieta. Se fosse um ensaio clínico randomizado, a randomização, o sorteio, asseguraria que o mesmo número de pessoas nos dois grupos usassem este remédio. Que o mesmo número de pessoas nos dois grupos fumasse ou não fumasse. Como não foi randomizado, acontece essas coisas. É absolutamente bizarro que isso tenha sido incluído como ensaio clínico randomizado. Sabidamente não é. São erros muito primários. Mas, como sai como imprimatur da Associação Americana de Cardiologia… Como sai no Circulation… Ganha as manchetes.  Essa resposta da Nina Teicholz junto com o Eric Thorne foi publicada no Medscape. Medscape, para quem não sabe, é um agregador de notícias médicas extremamente conhecido. Talvez o mais famoso do mundo. Todos os médicos assinam as notícias do Medscape para ficar atualizados. Foi uma resposta importante publicada num local de muito peso.

Rodrigo Polesso: Para a gente fechar essa ideia da AHA, a gente pode falar mais sobre a credibilidade da AHA. Segurem-se na cadeira. Vou ler parte da resposta da Nina. “Acreditamos que um dos motivos da resistência da AHA a esta evidência seja sua dependência significativa e duradoura de financiamento de indústrias interessadas, como a fabricante de óleo vegetal, Procter & Gamble. É a fabricante original da Crisco Oil. Praticamente lançou a AHA como potência nacional em 1948. Apenas recentemente a Bayern, proprietária da LibertyLink Soybeans (óleo de soja) empenhou mais de 500 mil dólares com a AHA, sem dúvida encorajada pelo contínuo apoio do grupo ao óleo de soja, que é de longo o tipo de óleo consumido hoje na América. É espantoso que os autores dos três artigos de revisão que apoiam a posição da AHA sobre óleos vegetais relatem receber financiamento de uma ou mais empresas de óleo vegetal. Na realidade, os artigos de revisão que mais favoreceram esses óleos foram escritos por pesquisadores que declaram atuar no conselho consultivo da Unilever, um dos maiores fabricantes de óleo do mundo.” Ou seja, tem muito buraco nesse queijo. É difícil acreditar.

Dr. Souto: É dureza. As pessoas não se dão conta do seguinte. A Associação Americana de Cardiologia, Associação Americana de Diabetes… Estas instituições não são públicas. Não estamos falando do Ministério da Saúde. Não estamos nos referindo à Organização Mundial da Saúde. Estamos nos referindo a instituições privadas. A AHA é uma empresa. É uma instituição completamente privada que vive do dinheiro arrecadado nos seus sócios, mas fundamentalmente do dinheiro que ela arrecada da indústria alimentícia e da indústria farmacêutica. Eu já tive mais respeito por este tipo de instituição quando era mais ingênuo. Mas a gente vai vendo este tipo de coisa e vai se dando conta de que já se foi a época (se é que existiu) em que estas instituições tinham como real interesse diminuir incidência de doença cardíaca, ou o bem dos pacientes. Elas hoje são instituições de lobby que arrecadam dinheiro com a indústria e beneficiam a indústria. A gente tem que consumir estas notícias com um grão de sal (como se diz em inglês). Tem que ter um ceticismo.

Rodrigo Polesso: Com certeza. Antes de partir para o próximo assunto, que será estatinas… É abismal a quantidade de coisa perigosa que é tida por aí sobre isso. Saiu um artigo muito bom e quero falar algumas coisas importantes sobre ele. Antes de partir para este assunto, vamos deixar o pessoal dar uma respirada. O que degustamos no almoço? Dr. Souto, quer começar?

Dr. Souto: Hoje tinha uma carne moída misturada com moranga e mais um repolho refogado com cebola e alho. E mais um ovo frito com a gema mole. A gema mole a gente fura e penetra nesse repolho. Fica um negócio muito bom. Já se vão quase seis horas desse almoço. Nem me passaria comer alguma coisa até o momento. Ainda está fazendo efeito, este almoço.

Rodrigo Polesso: Com certeza. A minha resposta será muito rápida. O que eu comi hoje de almoço foi jejum. Não comi absolutamente nada de almoço. Estou fazendo um jejum hoje para dar uma desintoxicada. Acabei de chegar de viagem. Acho que vem bem-vindo. Eu tenho o poder de decidir quando quero comer e quando não quero. Não fico mais refém da alimentação. Tomamos controle disso. Nos alimentamos quando quisermos. De preferência, obviamente, de qualidade.

Dr. Souto: Rodrigo, quer dizer que você está fazendo a dieta do jejum intermitente?

Rodrigo Polesso: Exatamente. A dieta do jejum intermitente. Isso é brincadeira. Se você está ouvindo pela primeira vez, a gente tira sarro dessa questão de dieta do jejum intermitente desde o começo. Dieta tem a ver com se alimentar. Jejum tem a ver com não se alimentar. Então, é um absurdo falar em “dieta do jejum intermitente”. Vamos falar sobre as estatinas, então. Tem um estudo que é uma obra de arte, na minha opinião. É um artigo publicado num jornal farmacêutico. Até fiquei surpreso, na verdade. Dr. Souto pode explicar um pouco mais sobre isso. Tem dois parágrafos que quero traduzir simultaneamente. O assunto é estatinas. Sim, estatina. Essa indústria multibilionária mundial. É um dos remédios mais vendidos do mundo. É para prevenção de problemas cardíacos e tratamento. Estamos falando de uma coisa muito importante, muito difundida. Vou traduzir o parágrafo simultaneamente. “Existem 44 ensaios clínicos randomizados das estatinas e intervenções dietéticas para baixar o LDL como prevenção primária e secundária. Eles mostraram nenhum benefício em mortalidade. A maioria desses ensaios não reduziu eventos cardiovasculares e nenhum diminuiu o perigo eminente nesse sentido. Ainda, estes estudos não receberam muita atenção pública. O estudo chamado Accelerate…” É um estudo novo, controlado, um ensaio clínico randomizado, duplamente cego e etc… “Demonstrou nenhum benefício em eventos cardiovasculares ou mortalidade independentemente do aumento de 130% no HDL e uma diminuição de 37% no LDL. Este resultado deixou muitos experts boquiabertos e deu um novo gás ao ceticismo sobre a veracidade dessa hipótese do colesterol ter ligação com problemas cardíacos. O que é alarmante é o número de ensaios clínicos randomizados que são patrocinados pela indústria que mostram um aumento em expectativa de vida para pacientes em prevenção secundária, que já tomam estatinas todos os dias. Mas estes estudos que mostram este benefício de prevenção secundária (pessoas que já tiveram algum evento cardíaco) é de aumentar a expectativa de vida dessas pessoas em 4 dias. Dado que estatinas provem uma ilusão de prevenção de doenças cardiovasculares e predispõem as pessoas ao desenvolvimento de diabetes tipo 2 em até 1 pessoa a cada 50 pacientes que tomam estatinas… E também causam efeitos colaterais em até 29% dos usuários… Parar de tomar estatinas pode salvar mais vidas e aumentar a qualidade de vida do que tomar as estatinas.” Dr. Souto, é muito forte essa mensagem. É um estudo muito bem embasado. Eles falam muitas outras coisas também. Mas como que pode estarem tão errados novamente a ponto das pessoas verem mais benefício à população geral ao pararem de consumir esse medicamento do que continuar o tomando?

Dr. Souto: É. É um editorial, na verdade. É um editorial muito bem escrito, muito bem embasado, muito bem referenciado. A gente vai deixar à disposição, especialmente para quem for da área da saúde. Vale a pena ler e quem sabe acessar as referências que são citadas ali. É um estudo que faz a gente pensar. Ele entra forte em algumas coisas que inclusive são tidas como consenso. A questão do uso de estatinas em prevenção secundária, por exemplo. Mas eu acho que quando a gente lê um editorial destes, reforça a ideia de que esse número muito grande usa em prevenção primária (aquela pessoa que nunca teve nada no coração e simplesmente tem o colesterol elevado). Aí está usando o remédio na esperança de diminuir o risco de morrer do coração. A evidência simplesmente não está ali. As poucas metanálises que são feitas patrocinadas pela indústria que sugere que possa haver algum benefício em prevenção primária… São benefícios milimétricos. São medidos como 1%, menos de 1%. Enquanto que metanálises feitas por outros grupos, olhando os mesmos dados, chegam a conclusões diferentes. Uma coisa muito interessante é que… Um dos autores desse editorial é o Dr. Assem Malhotra. O outro é o Dr. Robert Lustig. São nossos conhecidos. Quem escuta nossos podcasts já ouviu estes nomes várias vezes. Mas tem dois comentários que foram feitos, um pela Dra. Ster Van Zuren e outro pelo Professor Sbiz Fedrovichs. Estou citando essas pessoas porque são duas pessoas ligadas à Cochrane. Vamos situar para o pessoal o que é isso. A Cochrane é uma instituição que faz revisões sistemáticas baseadas em evidência que não recebe nenhum centavo da indústria. Eles são completamente independentes. Por este motivo eles são extremamente respeitados. A Cochrane é muito respeitada. Então, não dá para a gente dizer que a Cochrane concorda com este editorial. Mas duas pessoas importantes dentro da Cochrane estão apoiando este editorial. Vou ler para vocês o que um dos diretores da Cochrane disse. “As hipóteses do colesterol e das calorias estão ambas mortas. Uma ordem de não ressuscitar já deveria ter sido dada há muito tempo para estas hipóteses, que têm sido a fonte de eterna controvérsia, criando um grande dreno dos recursos da saúde e têm envolvido uma massa de muita pesquisa, provavelmente desnecessária.” Uma afirmação forte para caramba. A ordem de não ressuscitar… Para quem não é da área médica… É para quando temos um paciente terminal no hospital. Não tem mais chance. Um câncer avançado. Não tem mais o que fazer. Então, a gente dá a ordem de não ressuscitar. Se parar o coração, não é para ir lá fazer massagem cardíaca, porque isso seria crueldade. Ele não vai se curar da doença, vai viver mais um dia. Então, está aí o Professor Sbiz, um dos diretores da Cochrane dizendo que essas hipóteses… De que as calorias são tudo o que importa e de que o colesterol é tudo o que importa estão ambas mortas e que deveria ter uma ordem de não ressuscitar. “Os autores destes editorial devem ser congratulados por sucinta e sistematicamente demostrar as complexidades e os erros de compreensão ao redor dessas hipóteses que têm confundido e tem sido uma praga para os médicos e pacientes por já muito tempo. Eles apresentam a totalidade da evidência de uma forma clara e não ambígua com recomendações baseadas em evidência robusta e sem vieses.” Ele é um editorial tão forte que até para mim me deixou chocado. É muito interessante ver pessoas como estes membros da Cochrane dando seu suporte e concordando. Colocaremos isto nos links também.

Rodrigo Polesso: Com certeza. Absolutamente sensacional. Está fechando cerco do pessoal que ainda defende o outro lado da moeda… Má ciência… Está fechando cerco. Uma hora ou outra cairá o bendito do meteoro para esses dinossauros. A coisa vai começar a mudar. Se depender de nós, acontecerá muito rápido. Este episódio ficou bem recheado como prometi no começo. Espero que tenha sido bastante útil para você. Que você possa ter tirado bastante proveito. Torne-se um membro da Tribo Forte. TriboForte.com.br. Torne-se um membro lá dentro. A gente vai se falar no próximo episódio como sempre. Dr. Souto, obrigado pela conversa de hoje. A gente se vê, com certeza, na semana que vem.

Dr. Souto: Obrigado. Obrigado, Rodrigo. Obrigado aos ouvintes.